O Prof. Hans-Ludwig Kröber, director do Instituto de Psiquiatria Forense da Universidade Livre de Berlim, é um dos mais prestigiados académicos da sua especialidade na Alemanha. Interrogado sobre os abusos de menores cometidos por clérigos ou religiosos, dos quais se fala nas últimas semanas, nega que o problema tenha a sua origem no celibato. A probabilidade de que um celibatário cometa um abuso sexual é de um contra 40, disse. O problema está mais em que os culpados são homossexuais incontinentes.
Kröber ensina e investiga na "Charité", que é uma clínica em parceria com a Universidade Livre de Berlim e da Universidade Humbold. Mais de metade dos prémios Nobel alemães procedem desta instituição.
As suas declarações têm particular interesse porque Kröber, que na sua juventude militou na juventude comunista, intitula-se ateu, ainda que as suas investigações sejam altamente apreciadas na Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano. O Instituto Kröber leva a cabo estudos permanentes sobre antigos casos de pedofilia, todos os anos publica pareceres sobre os autores e as vítimas de delitos de abuso sexual de menores. O professor ocupou-se pessoalmente da problemática dos eclesiásticos quando fez parte em 2003 de uma comissão de peritos criada pelo Vaticano.
No decurso das suas declarações, Kröber assegura que "o verdadeiro problema da Igreja Católica são sobretudo os sacerdotes homossexuais que não são capazes de viver ou que não querem viver a abstinência sexual e que aos mesmo tempo tentam dissimulá-lo, de forma que às vezes mantêm relações com homossexuais de sectores socialmente marginalizados". As investigações levadas a cabo pelo professor convenceram-no também de que "outra fonte de problemas são os sacerdotes que mantém relações heterossexuais", se bem que reconheça que as comunidades paroquiais da Alemanha tendam a ter mais compreensão face aos sacerdotes que têm uma concubina.
"Naturalmente que sempre é possível combater o celibato e defender o ponto de vista de Lutero; mas, uma vez que os delinquentes de abusos sexuais com menores são extraordinariamente raros entre pessoas celibatárias, de modo algum se pode dizer que o celibato é a causa da pedofilia". "O pedófilo típico não é em nenhum caso uma pessoa que se esforça por viver a abstinência sexual", conclui Kröber.
"Depois de oito semanas de debate público, nenhum meio de comunicação apresentou um só caso dos últimos anos".
A atenção centra-se nos menos perigosos
O que mais preocupa o professor alemão, que emitiu pareceres em julgamentos famosos - por exemplo, sobre o terrorista Christian Klar da Rote Armee Fraktion (RAF) - é que se chame a atenção da opinião pública para o sector menos perigoso para os menores, pelo menos na Alemanha. "Postos a emitir hipóteses de suspeita teríamos que ter em conta que o risco é maior num clube desportivo e que o novo companheiro de uma mãe solteira ou divorciada pode ser um perigo maior para o menor, tanto pelo que se refere à violência como ao abuso sexual".
"Não seria necessário demonstrar estatisticamente que o celibato não causa a pedofilia (se bem que, naturalmente, alguns pedófilos optem pelo celibato), da mesma maneira que também não é necessário fazê-lo no caso de um treinador de futebol ou de um cabeleireiro" diz Kröber, argumentando que "se trata de um facto provado pela medicina do sexo, do mesmo modo que o beijar não causa a gravidez e a masturbação não produz um enfraquecimento da coluna vertebral".
Os autênticos pedófilos são pessoas que tiveram já uma actividade sexual precoce e viva e não pessoas adultas com uma "superprodução hormonal" por falta de companheiro. A crença que a falta de companheiro tarde ou cedo resulta na perda de orientação sexual original é "cientificamente uma tolice".
Segundo Kröber, que baseia as suas afirmações em estatísticas procedentes dos tribunais alemães e da Igreja, ninguém se torna pedófilo por não ter contactos sexuais com uma pessoa adulta. "Depois de uma fase de abstinência sexual, um homem não começa de repente a sonhar com menores e deixa de sonhar com mulheres atraentes: para um homem heterossexual as crianças não têm nem terão interesse". Num minucioso estudo estatístico, Kröber demonstra que a probabilidade de que um celibatário cometa um abuso sexual na Alemanha é de 1 para 40. Desde 1995 só 0,045 dos autores em casos de suspeita por abusos sexuais registados na Alemanha são sacerdotes ou religiosos. Em concreto e no caso de abusos sexuais de menores, o estudo demonstra que a proporção de delinquentes celibatários eclesiásticos em comparação com pessoas não celibatárias é de um para 40 (partindo da suspeita de delito) e de um contra 22 no caso de casos sentenciados.
Kröber fica surpreendido porque, depois de oito semanas de debate público não se tenha verificado nenhuma suspeita de delito registado nos últimos anos. O facto de que agora se documentem factos ocorridos em 1952 demonstra as dificuldades com que se debatem os que falam de um epidemia de pedofilia (actual) de eclesiásticos. No Colégio de S. Pedro Canísio da Alemanha foi preciso recuar vinte anos para detectar três casos suspeitos. De 9.500 delitos deste tipo registados em Berlim desde 1995 não há nenhum caso relacionado com colégios de jesuítas.
Ricardo Estarriol, correspondente em Viena
Aceprensa
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