Cavaco Silva avisou. Há sete anos, um confronto entre o então professor de economia Cavaco Silva e o já governador Vítor Constâncio ficou célebre: Cavaco avisava para o desequilíbrio externo, que o euro escondia. Sete anos depois, o texto parece premonição. Constâncio discordava.
Leia o texto de Cavaco Silva na íntegra AQUI.
Estávamos a 23 de Maio de 2003 e, numa conferência de homenagem a José Silva Lopes, o então professor de economia lançou fortes avisos ao Governo de Durão Barroso, que tinha como ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite.
Dizia, por exemplo, Cavaco: "Um país, mesmo que seja uma região num espaço monetário unificado, não pode endividar-se sem limites. No médio ou longo prazo, um défice continuado das contas externas acaba por manifestar-se sob a forma de aumento do prémio de risco, racionamento do crédito ou transferência de activos das mãos nacionais para as mãos de estrangeiros. O ajustamento torna-se inevitável, i.e., a despesa das famílias, das empresas e do Estado tem de ser contida."
O Negócios recupera hoje o texto, intitulado “Dores de cabeça”. Lidos à distância de sete anos, o texto parece uma premonição do desequilíbrio externo para o qual Portugal caminhava.
Um texto que avisa que o défice das contas externas vai aumentar risco do País; que o euro não nos protegia disso; que o ajustamento seria penoso; que a subida de salários seria um problema; que o PEC tinha de ser respeitado; que o Banco de Portugal já não perdia o sono; que o ministro das Finanças está isolado entre ministros que não estão dispostos a serem impopulares.
“Embate entre titãs”
“Embate entre titãs”. Assim titulava o Negócios no dia seguinte à Conferência de Homenagem a José Silva Lopes, a 23 de Maio de 2003.
Vítor Constâncio alterou então a sua apresentação original para contestar Cavaco Silva, numa detalhada análise que questionava os seus pontos de vista.
Como noticiava nesse dia este jornal, Constâncio afirmou que a referida restrição “não está a ser operativa”, pois o financiamento externo continua a existir, e que o País está tão-só a viver uma “crise conjuntural” de ajustamento no balanço dos agentes económicos internos, agravada pela redução da procura externa.
Silva Lopes, o homenageado, também se intrometeu: “O problema da competitividade é muito mais sério do que o Dr. Vítor Constâncio fez crer”. E se no passado o apoiara, quando o governador do Banco de Portugal propusera que os salários crescessem nos anos seguintes “ao nível da média da União Europeia corrigidos pela produtividade”, Silva Lopes achava agora que isso não chegava: “É preciso menos que a UE, corrigidos pela produtividade”.
Na altura, o discurso de Cavaco Silva foi entendido como uma crítica ao Governo de Durão Barroso, alertando para a falta de coordenação da política económica, que comprometeria a saída da crise.
Foi em Maio de 2003.
(Fonte: Jornal de Negócios online)
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