Orígenes (185-253), presbítero e teólogo
Tratado dos príncipes, livro 2, cap. 6, 2: PG 11, 210-211 (a partir da trad. Orval)
«Ninguém Lhe deitou a mão»
Encontramos em Cristo características tão humanas, que não têm nada que as distinga da fraqueza comum a nós, os mortais, e ao mesmo tempo características tão divinas, que só podem pertencer à soberana natureza divina. Perante isto, a inteligência humana, demasiado restrita, sente uma admiração tão grande, que não sabe o que pensar nem que direcção tomar. Pressente Deus em Cristo, mas no entanto vê-O morrer. Toma-O por homem, e eis que Ele ressuscita dos mortos com o Seu espólio de vitória, após ter destruído o império da morte. Deste modo, a nossa contemplação deve ser exercida com muita reverência e temor, no sentido em que considera no mesmo Jesus a verdade das duas naturezas, evitando atribuir à inefável essência divina coisas que são indignas dela e que não lhe pertencem, mas também evitando ver nos acontecimentos da História apenas aparências ilusórias.
Na verdade, fazer com que os ouvidos humanos ouçam estas coisas, tentar exprimi-las por palavras, ultrapassa largamente as nossas forças, o nosso talento e a nossa linguagem. Penso mesmo que ultrapassa a medida dos apóstolos. Mais, a explicação deste mistério transcende provavelmente toda a ordem dos poderes angélicos.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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