São destes dias as palavras do Cardeal Angelo Bagnasco, presidente da importante Conferência Episcopal Italiana, a incitar a um novo compromisso dos católicos com a política: “sonho com uma nova geração de italianos e de católicos que estejam dispostos a dar o melhor do seu pensamento e projectos, o melhor dos seus dias ao serviço da coisa pública”. Esta não é uma declaração solitária, bem pelo contrário. Diferentes vozes em diversos países europeus, e mesmo entre nós, têm convergido no estimular de uma nova estação política, que conte também com a inscrição activa e o protagonismo de católicos. E, mais projectuais ou mais concretizadas, multiplicam-se já as experiências concretas no terreno.
O que há de novo neste regresso? A uma época de militância política, entre os anos 50 e 70, seguiram-se décadas de silêncio e ausência.
Os movimentos cristãos, nomeadamente a Acção Católica, constituíram uma espécie de laboratório de compromisso com o mundo e de empenho político. Era normal a circulação entre
a vivência mística e o envolvimento na acção política. A própria teologia passou a incluir uma leitura política da condição cristã, tentando uma conciliação plena dos seus vários aspectos.
Foram anos de grande efervescência criativa, onde a paixão ideológica acreditou ser possível transformar e impregnar a história de uma tensão utópica.
Depois, ou isso de todo não aconteceu ou aconteceu, mas não da forma que se esperava, e sucederam-se tempos distanciados em relação à política, olhada agora com desencanto e pragmatismo.
A própria Igreja sentiu necessidade de uma clarificação, recentrando-se no seu domínio religioso
específico e criticando experiências que podiam enfermar de algum hibridismo (recorde-se a gestão do dossier “Teologia da Libertação”).
As palavras recentes do Cardeal Bagnasco mostram, por isso, que se está a construir, efectivamente, um novo modelo. Os Católicos voltam à política. E, sobre isso, há um debate necessário e aberto a realizar, também em Portugal.
José Tolentino Mendonça - Teólogo
(Fonte: ‘Página 1’, grupo Renascença na sua edição de 28.02.2010)
Sem comentários:
Enviar um comentário