O escritor e ensaísta Paolo Gulisano publica detalhes da sua vida
Apesar da sua fama, muitos aspectos da personalidade de Oscar Wilde (1854-1900) são pouco conhecidos dos seus seguidores.
Este escritor irlandês, autor de célebres obras como “O retrato de Dorian Gray” e de contos como “O rouxinol e a rosa” e “O gigante egoísta”, foi ao mesmo tempo um buscador inesgotável do Belo, do Bom, mas também daquele Deus a quem nunca se opôs e a quem abraçou plenamente após a dramática experiência da prisão.
O genial dramaturgo, ícone do mundo gay, morreu em Paris em comunhão com a Igreja Católica, assim como havia escrito vários anos antes de sua partida: “O catolicismo é a religião na qual morrerei”.
Paolo Gulisano, escritor e ensaísta, especialista no mundo britânico e autor de diversos livros sobre Tolkien, Lewis, Chesterton e Belloc, publicou recentemente em italiano Il Ritratto di Oscar Wilde (“O retrato de Oscar Wilde”) pela editora Ancora.
Trata-se de uma radiografia do escritor que representa toda a sua complexa personalidade, descreve alguns dos cenários nos quais recitou no grande teatro da vida, das suas paixões, dos seus interesses, do seu imaginário, da sua atenção aos problemas sociais e do seu sentimento religioso.
Gulisano, em diálogo com Zenit, assegurou que Wilde “representa um mistério que não foi ainda descoberto, um homem e um artista de personalidade poliédrica, complexa, rica”.
“Não somente um inconformista que queria surpreender a sociedade conservadora da Inglaterra vitoriana, mas também um lúcido analista da Modernidade, com os seus aspectos positivos e sobretudo inquietantes”, diz o escritor.
Por exemplo, a sua novela “O retrato de Dorian Gray” narra como o homem moderno procura desesperadamente uma eterna juventude, com um profundo medo da morte, a qual se propõe vencer ou pelo menos enganar.
O autor permite ver em Wilde uma alma que vai além dos salões de Londres, “um homem que, atrás da máscara da anormalidade, perguntava-se e convidava a fazer-se a pergunta sobre o que era correcto ou errado, verdadeiro ou falso”.
O autor destaca também outros valores de Wilde: “Amou profundamente a sua esposa, com quem teve dois filhos, a quem sempre amou ternamente e a quem, desde crianças, dedicou algumas das mais belas fábulas que já existiram, como “O gigante egoísta” e “O príncipe feliz”.
Gulisano se refere também ao processo judicial no qual foi acusado devido a seus actos homossexuais. Wilde foi condenado a realizar trabalhos forçados durante dois anos. “O processo foi uma confusão à qual chegou por ter demandado por difamação o marquês de Queensberry, pai do seu amigo Bosie – com quem teve uma íntima amizade – que o acusou de agir como sodomita.”
“À frente do processo de Wilde esteve o advogado Carson, que odiava os irlandeses e os católicos e a sua condenação não foi o resultado somente da homofobia vitoriana”, esclareceu Gulisano.
A conversão de Wilde
O autor indica que a busca espiritual de Wilde “pode também ser vista como um longo e difícil itinerário de conversão ao catolicismo”.
Gulisano assegura que o escritor pensou e inclusive adiou por muito tempo sua adesão à fé católica. Também fez alusão a um dos seus paradoxos. “Wilde afirmou um dia a quem lhe perguntava se não se estaria a aproximar perigosamente da Igreja Católica: ‘Eu não sou um católico, eu sou simplesmente um papista apaixonado.”
“Por trás da batuta, está a complexidade da vida, que pode ser vista como uma longa e difícil marcha de aproximação do Mistério, de Deus”, indica o escritor.
Inclusive amigos próximos de Wilde também acabaram por se converter. “Amigos como Robbie Ross, Aubrey Beardsley e inclusive John Gray, que o inspirou para a figura de Dorian Gray”, esclarece.
Gray entrou no seminário em Roma, foi ordenado sacerdote e exerceu o seu ministério na Escócia, contando com a estima de grande parte dos seus paroquianos.
“Também o filho menor de Wilde se tornou católico”, recorda o escritor.
Gulisano conclui seu diálogo dizendo que, apesar da cultura secularizada e anticatólica da Inglaterra, em autores como Newman, Chesterton, Tolkien e no próprio Wilde, pode encontrar-se “uma vacina útil contra os males espirituais da nossa época”.
(Fonte: Zenit em http://www.zenit.org/article-22059?l=portuguese )
Agradecimento: CAA
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