Com o mês de Junho, no nosso país, dá-se a particular situação contrastante de se iniciarem, para muitos que estudam, as suas férias e para outros, que também estudam, de se verem obrigados a aplicar-se mais nas suas obrigações escolares, porque iniciam a sua época de exames ou a realizam integralmente nestes 30 dias.
As famílias, que acompanham com especial atenção este período, têm, muitas vezes, de repartir os seus esforços de atenção entre as duas situações assinaladas, procurando ocupar utilmente o tempo dos que acabaram as aulas e se encontram desocupados e sem tarefas rotineiras e os que se sentem nervosos e mais sensíveis com os exames que devem enfrentar.
Duas virtudes cardeais entram em jogo nestes lares de uma forma mais incisiva; a prudência e a fortaleza. A primeira para planear os tempos dos que podem cair no ócio, que é um vício improdutivo e nefasto, porque pode deitar por terra todo o esforço educativo, perseverante e oportuno, de um ano escolar. O regresso de férias de muitos estudantes, nomeadamente se entraram na adolescência, manifesta com frequência os vícios adquiridos por um lazer inoperante, onde se habituaram a nada fazer. Tratam o tempo como um bem material de um novo-rico, que o expõe sem medida e sem decoro, como se fosse seu dono absoluto. Recordo dos tempos já longínquos de infância os volframistas super e rapidamente enriquecidos, com várias canetas ostensivas no bolso exterior do casaco (sem saberem escrever) e os anéis de oiro em vários dedos da mão como afirmação da sua pujança económica. Eram ridículos!
A fortaleza para exigir que se cumpra o que se estabeleceu para os que terminaram as actividades escolares. Deixá-los ao abandono, ou melhor, sem quaisquer exigências quanto aos deveres que assumiram de realizar as actividades em que se inscreveram ou que se comprometeram a executar é um convite para a desordem e a falta de sentido de responsabilidade. E também para acalentar positivamente os que se encontram imersos nos seus exames, facilitando-lhes um ambiente de serenidade e de rigor. Interessar-se por eles, pelo modo como decorrem, animar à sua boa preparação com estudo aturado, eis um panorama educativo que as famílias podem desenvolver com proveito.
É este mês também um tempo para concretizar as férias familiares, que se efectuam entre Julho e Agosto de um modo habitual. Lembrar-se de que são momentos de maior intimidade entre os pais e os filhos, onde todos podem realizar tarefas de ajuda mútua, de partilha e de amizade em circunstâncias únicas que une todos os membros de uma forma agradável.
Ter consciência de que nem todos os ambientes são próprios para uma vivência cristã. E há deveres que não podem esquecer-se nem pôr de parte. Por exemplo, o cumprimento do preceito dominical de participar na Santa Missa. Deus não pode ser o grande esquecido do período de férias, como se não existisse ou fosse uma referência incómoda para quem pretende descansar. Descansar sem Deus é um falso descanso, porque é pôr de parte o que o fiel confessa no primeiro mandamento: "Adorar e amar a Deus sobre todas as coisas".
É este mês ainda um tempo que a Igreja dedica a sua atenção ao Coração de Jesus, pelo que Ele significa de exemplo para todos nós. "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração", disse o Senhor. No Amor que se derrama do Coração de Cristo, de Nazaré ao Calvário, nós entendemos melhor como Deus nos ama. E compreendemos também que a nossa atitude de vida deve fundamentar-se na humildade e na mansidão do coração, que tantas vezes se impacienta com ninharias, se irrita com o comportamento alheio e se fecha sobre si mesmo, não querendo compartilhar com os outros as nossas alegrias e tristezas. Não esqueçamos ainda que entre o Coração de Jesus e o de Maria existe a relação de um Filho com a sua Mãe. Quantas vezes, a mansidão e a humildade do Coração de Jesus não reflectirão o modelo de conduta que Ele descobriu na simplicidade da vida de Maria Santíssima.
Lembramos ainda que neste mês se encerram as comemorações do Ano Paulino, com que toda a Igreja quis sublinhar a importância da vida e da doutrina que S. Paulo, o Apóstolo das gentes, legou a toda a humanidade e, em particular, ao mundo cristão.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Junho, selecção do título da responsabilidade do autor do blogue)
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