O texto que o Papa entregou aos presidentes das Conferências Episcopais nacionais e regionais de África e Madagáscar elenca os efeitos devastadores da globalização sobre a economia, os costumes políticos e a sociedade do continente mais pobre do planeta, o mais atingida pela crise económica e mundial.
No documento fala-se da perda de valores como o respeito pelos anciãos e pela vida ou a cultura de entreajuda.
Duras críticas às multinacionais que “invadem” África para apropriar-se dos recursos naturais, deixando danos significativos no meio ambiente: esta é uma das questões levantada pelo documento de trabalho do próximo Sínodo de Bispos africanos, que o Papa entregou hoje nos Camarões.
A destruição da “identidade africana” por causa da globalização é outra das preocupações manifestadas, num texto que apresentada as linhas orientadoras da futura assembleia sinodal, subordinada ao tema “A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”.
No documento lamenta-se a cumplicidade dos dirigentes africanos diante destas situações e fala-se num “processo organizado de destruição da identidade africana” pelo fenómeno da globalização, “sob o pretexto da modernidade”.
Esta manhã, na homilia da Missa a que presidiu em Yaoundé, o Papa afirmara que “pessoas sem escrúpulos procuram impor o reino do dinheiro, desprezando os mais miseráveis”, obrigando-os muitas vezes a emigrar, e que “a África em geral, e os Camarões em particular, correm perigo”.
O texto que o Papa entregou aos presidentes das Conferências Episcopais nacionais e regionais de África e Madagáscar elenca os efeitos devastadores da globalização sobre a economia, os costumes políticos e a sociedade do continente mais pobre do planeta, o mais atingida pela crise económica e mundial.
As potências militares e económicas são acusadas de “impor a sua lei”, fomentando o tráfico de armas, as guerras e a exploração dos recursos da terra africana.
As próprias instituições financeiras internacionais são colocadas em causa pelos efeitos “funestos” dos programas de desenvolvimento impostos a muitos países.
O documento nasce de uma ampla consulta aos Bispos africanos – que responderam a um questionário com 32 perguntas – e do trabalho do o conselho especial para a África da secretaria-geral do Sínodo dos Bispos, um grupo mais restrito de prelados.
Para o Papa, este «Instrumentum laboris» reflecte o grande dinamismo da Igreja na África, mas também os desafios que a mesma deve enfrentar e que o Sínodo deverá examinar”. Conflitos armados, corrupção, violações dos direitos humanos, tribalismos exacerbados – que atingem a própria Igreja – são algumas das questões assinaladas, num texto que sublinha ainda “evoluções positivas” como a aparição de uma sociedade civil activa ou a preocupação por uma resolução interafricana dos problemas do continente.
O documento tem quatro capítulos, precedidos por um prefácio, que passam pela situação actual da Igreja, os temas da reconciliação, justiça e paz, a missão da Igreja Católica e o testemunho de vida dos seus membros em diversos âmbitos.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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