Presente na audiência geral desta quarta-feira, sua Santidade Aram I, Catholicos da Cilícia dos Arménios, com a respectiva delegação, vindos a Roma em visita oficial ao Papa e à Sede Apostólica. Aram I deu entrada na Aula Paulo VI ao lado de Bento XVI, tendo-lhe sido reservado um lugar de destaque, ao lado do Papa, que o saudou muito cordialmente, referindo com apreço e gratidão o “seu empenho pessoal” no ecumenismo, particularmente na comissão teológica bilateral católico ortodoxa. Esta visita – sublinhou Bento XVI – é uma “significativa ocasião para reforçar os elos de união já existentes entre nós, no caminho percorrido conjuntamente para aquela plena comunhão que é “o objectivo de todos os cristãos”, como “dom do Senhor a implorar dia a dia”. O Papa exaltou “o testemunho de fidelidade e de coragem da Igreja Apostólica Arménia”.
Invocando “a graça do Espírito Santo sobre a peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo” do Catholicos Arménio e sua delegação, Bento XVI convidou os peregrinos presentes a rezarem para que esta visita e estes encontros venham a “marcar mais um passo a caminho da plena unidade”.
Na sua intervenção, o Catholicos Aram I referiu a “origem apostólica” de ambas as Igrejas. Num período de decadência dos valores morais” e de “marginalização dos valores religiosos”, considerou que a Igreja Arménia e a Igreja Católica estão ambas chamadas a “traduzir em vocação apostólica a sua origem apostólica”, através da re-evangelização das respectivas comunidades e famílias – obra considerada uma “prioridade fundamental”.
Na catequese desta audiência geral, Bento XVI retomou o tema da justificação, em São Paulo, já iniciado na semana passada, detendo-se desta vez sobre as consequências que derivam do facto de ser justificado pela fé, assim como da acção do Espírito Santo na nossa vida.
O Papa considerou sem fundamento a contraposição entre a teologia de São Paulo sobre a salvação pela fé e a de São Tiago sobre as obras necessárias para sermos salvos. Bento XVI considerou “desastrosas as consequências de uma fé que não se incarne no amor, porque se reduz ao arbítrio e ao subjectivismo, para nós e para os irmãos”. O Evangelho – recordou – “leva cada um de nós a viver já não para si mesmo, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós”. Assim, “a ética cristã não nasce de um sistema de mandamentos, mas é uma consequência da nossa amizade com Cristo, que nos mostra o caminho da Vida”. Precisamente porque fomos e somos “justificados por Cristo, já não nos pertencemos a nós próprios: tornámo-nos templos do Espírito Santo e somos portanto chamados a glorificar a Deus no nosso corpo”. “Seria menosprezar o valor inestimável da justificação se, comprados a caro preço pelo sangue de Cristo, não o glorificássemos com o nosso corpo”.
Para Bento XVI, os “mal-entendidos” de uma contraposição entre a fé e as obras não provêm dos tempos de Lutero, mas remontam à época apostólica: já na comunidade de Corinto havia quem se julgasse no direito de criar divisões na Igreja celebrando a Eucaristia descuidando os irmãos mais necessitados e aspirando aos melhores carismas sem tomar em conta que somos membros uns dos outros. Ora – advertiu o Papa – “a que coisa se reduziria uma liturgia dirigida ao Senhor que se não tornasse ao mesmo tempo serviço aos irmãos? Que coisa seria uma fé que não se exprimisse na caridade?” Daqui a insistência de Bento XVI em sublinhar que “a centralidade da justificação sem as obras, objecto primário da pregação de Paulo, não entra absolutamente em contradição com uma fé que age no amor”. Pelo contrário “justificados pelo dom da fé em Cristo, somos chamados a viver no amor de Cristo pelo próximo, porque é com base neste critério que seremos julgados, no termo da nossa existência”. “Deixemo-nos envolver pelo amor louco de Deus por nós – exortou Bento XVI, em palavras improvisadas, recordando aos presentes que “nada nem ninguém nos poderá jamais separar do amor de Deus. Seja esta a força para vivermos realmente a fé que age no amor” – concluiu.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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