D. José Policarpo (Cardeal Patriarca de Lisboa) defendeu esta Terça-feira em Lisboa que o desconhecimento do texto bíblico é uma “forma de iliteracia cultural”.
“Desconhecer a Bíblia não é apenas uma carência do ponto de vista religioso, mas é também uma forma de iliteracia cultural, pois significa perder de vista uma parte decisiva do horizonte onde historicamente nos inscrevemos”, assegurou.
Numa conferência intitulada "Literatura e o drama da Palavra”, proferida no âmbito da exposição Weltliteratur, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, o Patriarca de Lisboa indicou que “a Bíblia não é um livro, é uma biblioteca, comporta dezenas de livros e de autores distintos, de diversas épocas e em variados estilos literários, que vão da narrativa histórica ou simbólica, ao género epistolar e à poesia”.
Na sua conferência, o Cardeal referiu que “a palavra da Bíblia pretende dizer-nos Deus e o que Deus tem para nos dizer, o que desencadeia no leitor a busca do acolhimento de Deus e descoberta da própria vida, à luz do que Deus procura dizer-nos acerca de nós e do conjunto da história da humanidade”.
Num tom intimista, o Cardeal-Patriarca assinalou que “procurei respostas na literatura, mais do que em modelos vivos de pessoas que conhecia. Mais tarde, vim a perceber que estes dois caminhos de procura de respostas se entrecruzam inevitavelmente e se iluminam mutuamente”.
D. José Policarpo considera que “os textos mais apaixonantes são aqueles em que o autor deixa um vasto espaço para o leitor”.
Falando numa “crise da palavra”, o Patriarca de Lisboa quis “implorar a todos os que falam ou escrevem, na Igreja e fora dela, nos palcos da política, da cultura, da comunicação social, que salvem a Palavra, não a matem sufocada pelas «vozes», pois só a Palavra maturada no silêncio será ouvida e desencadeará nos outros caminhos de vida”.
Este responsável lembra que, na Igreja Católica, “a dimensão comunitária garante a objectividade da recepção da mensagem através das gerações. A comunidade crente, que escuta a Palavra e que, escutando-a, se põe a caminho é a mesma que, há muitas gerações, se congrega para escutar”.
“A maneira como receberam a Palavra defende-nos do subjectivismo radical na captação da sua mensagem, embora essa objectividade de sentido, apoiada no ensinamento progressivo da Igreja, nunca feche o texto a novos desafios e a novas descobertas da exigência da caminhada da vida”, acrescenta.
Em conclusão, o Cardeal-Patriarca disse que “um só modelo me atrai e me interpela: Jesus Cristo morto e ressuscitado. Só Ele me desinstala de todos os presentes humanamente conseguidos e me convida a encetar sempre um caminho novo”.
(Fonte: site Ecclesia e foto da Lusa a partir do mesmo site)
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