Amar a Cristo...

A tristeza, amado Jesus Cristo, a grande aliada das trevas quando nos assola torna-nos medíocres perante Ti que por nós sofreste a morte de cruz.

Andarmos de cabisbaixo, só serve para nos exibirmos perante o próximo e darmos um mau exemplo como cristãos, ajuda-nos a proceder como recomendaste e fazer da nossa tristeza um jejum, e portanto a não nos mostrarmos tristes.

Senhor Jesus só Tu és fonte de vida e de alegria, a Ti queremos entregar-nos sem vacilar. Ajuda-nos a ser sempre fiéis cumpridores da Tua Palavra!

JPR  

Apostolado

Cada pessoa com quem nos relacionamos, seja por que motivo for, há-de suscitar em nós verdadeiros desejos de apostolado, de ajudar a que se aproxime mais de Jesus Cristo. Sobre nós recai o dever de contagiar a todos o fogo do amor de Deus que nos há-de consumir. Por isso, ao entrar em contacto com alguém, imediatamente, temos que perguntar-nos: Como animá-lo a situar-se mais perto de Deus? Que lhe posso sugerir? Que tema de conversa sei procurar, que lhe sirva para conhecer melhor a doutrina cristã?

Este modo de proceder é lógico. O Papa Bento XVI explica que «quem descobriu Cristo deve levar outros até Ele. Uma grande alegria não pode guardar-se só para nós. É preciso transmiti-la» [15]. Assim se comportaram os seguidores fiéis do Senhor em todas as épocas. «Quando descobris que alguma coisa vos foi proveitosa – pregava S. Gregório Magno – procurais atrair os outros. Tendes, pois, que desejar que outros vos acompanhem pelos caminhos do Senhor. Se fordes ao foro ou aos banhos, e encontrais alguém que está desocupado, convidai-o a acompanhar-vos. Aplicai ao campo espiritual este costume terreno e, quando fordes até Deus, não o façais sós» [16].

[15] Bento XVI, Homilia, 21-VIII-2005.
[16] S. Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos 6, 6, (PL 76, 1098).


(D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Deis na sua carta do mês de setembro de 2010)

"Oração não é só pedidos, mas louvor a Deus"

O Papa Bento XVI retomou esta quarta-feira as Audiências Gerais no Vaticano, já que as últimas foram realizadas em Castel Gandolfo, onde se encontra sua residência de verão.
 
Na Sala Paulo VI, o Pontífice prosseguiu suas catequeses sobre a “escola de oração”, comentando o Livro do Apocalipse, o último do Novo Testamento. “Um Livro difícil, mas que contém uma grande riqueza”, disse o Papa.
 
Um leitor apresenta à assembleia uma mensagem confiada pelo Senhor ao Evangelista João. O leitor e a assembleia constituem, por assim dizer, os dois protagonistas do desenvolvimento do livro; deles, já no início, se diz: “Feliz o leitor e os ouvintes das palavras desta profecia, se observarem o que nela está escrito, pois o Tempo está próximo”. 
 
Do diálogo constante entre eles, brota uma sinfonia de oração, que se desenvolve com grande variedade de formas até a conclusão. “Ouvindo o leitor que apresenta a mensagem, ouvindo e observando a assembleia que reage, a oração deles se torna a nossa”, explicou Bento XVI. 
 
O Apocalipse nos apresenta uma comunidade reunida em oração, porque é justamente na oração que sentimos de modo sempre mais crescente a presença de Jesus connosco. Quanto mais e melhor rezarmos com constância, com intensidade, mais nos parecemos com Ele, e Ele entrará realmente na nossa vida, doando alegria e paz. E quanto mais conhecermos, amarmos e seguirmos Jesus, mais sentiremos a necessidade de nos deter em oração com Ele, recebendo serenidade, esperança e força na nossa vida. 
 
Ao final da catequese, o Papa fez um resumo em várias línguas. Em português, disse:
  
Queridos irmãos e irmãs, no âmbito da «escola de oração», que vos tenho vindo a propor, quero hoje falar da oração no Apocalipse, o último livro do Novo Testamento. Na primeira parte deste livro, vemos a oração viva e palpitante da assembleia cristã reunida no domingo, «no dia do Senhor». Envolvida pelo amor do Senhor, a assembleia sente-se livre dos laços do pecado e proclama-se como «reino» de Jesus Cristo: isto é, pertence só a Ele. Reconhece a grande missão, recebida no Baptismo, de levar ao mundo a presença de Deus. Conclui esta sua celebração de louvor, fixando o olhar diretamente em Jesus e, com entusiasmo crescente, reconhece que Ele detém a glória e o poder para salvar a humanidade. O «amém» final conclui o hino de louvor a Cristo Senhor. Tudo isto nos ensina que a nossa oração, feita muitas vezes só de pedidos, deve, pelo contrário, ser sobretudo louvor a Deus pelo seu amor, pelo dom de Jesus Cristo, que nos trouxe força, esperança e salvação.
  
Amados fiéis brasileiros de Nossa Senhora das Dores e de São Bento e São Paulo, a graça e a paz de Jesus Cristo para todos vós e demais peregrinos de língua portuguesa. Quanto mais e melhor souberdes rezar, tanto mais sereis parecidos com o Senhor e Ele entrará verdadeiramente na vossa vida. É na oração que melhor podereis dar conta desta presença de Jesus em vós, recebendo serenidade, esperança e força na vossa vida. Tudo isto vos desejo, com a minha Bênção”.
                            
Rádio Vaticano na sua edição para o Brasil

Vídeo em italiano


Imitação de Cristo, 3, 10, 1 - Como, desprezando o mundo, é doce servir a Deus


A alma: De novo, Senhor, vos falarei, e não me calarei; direi aos ouvidos de meu Deus, meu Senhor e meu Rei, que está nas alturas: Quão grande, Senhor, é a abundância da doçura que reservastes aos que vos temem! (Sl 30,20). Mas que será para os que vos amam e de todo o coração vos servem? É verdadeiramente inefável a doçura da contemplação que concedeis aos que vos amam. Nisto particularmente me manifestastes a doçura de vosso amor: quando não era, vós me criastes e quando andava longe de vós, perdido no erro, me reconduzistes a vos servir e me destes o preceito de vos amar.

A Missa é acção divina

Não é estranho que muitos cristãos – pausados e até solenes na vida social (não têm pressa), nas suas pouco activas actuações profissionais, na mesa e no descanso (também não têm pressa) – se sintam apressados e apressem o Sacerdote na sua ânsia de encurtar, de abreviar o tempo dedicado ao Santíssimo Sacrifício do Altar? (Caminho, 530)  

A Santa Missa – insisto – é acção divina, trinitária, não humana. O sacerdote que celebra serve o desígnio divino do Senhor pondo à sua disposição o seu corpo e a sua voz. Não age, porém, em nome próprio, mas in persona et in nomine Christi, na Pessoa de Cristo e em nome de Cristo.

O amor da Trindade pelos homens faz com que, da presença de Cristo na Eucaristia, nasçam para a Igreja e para a humanidade todas as graças. Este é o sacrifício que profetizou Malaquias: desde o nascer do sol até ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todo o lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura. É o Sacrifício de Cristo, oferecido ao Pai com a cooperação do Espírito Santo, oblação de valor infinito, que eterniza em nós a Redenção, que os sacrifícios da Antiga Lei não conseguiam alcançar. (Cristo que passa, 86)
 

São Josemaría Escrivá

OS CONTEÚDOS ESSENCIAIS DA NOVA EVANGELIZAÇÃO – Conversão (continua)

No que diz respeito aos conteúdos da nova evangelização, convém antes de tudo ter presente que o Antigo e o Novo Testamentos são inseparáveis. O conteúdo fundamental do Antigo Testamento está resumido na mensagem de São João Baptista: Convertei-vos.

Não se pode chegar a Jesus sem o Baptista; não é - possível chegar a Jesus sem corresponder ao chamado do Precursor; mais ainda, Jesus inseriu a mensagem de João na síntese da sua própria pregação: Convertei-vos e crede no Evangelho (Mc 1, 15). A palavra grega para "converter-se" significa mudar de mentalidade, pôr em confronto o modo comum de viver e o nosso próprio modo de viver, deixar Deus entrar nos critérios da nossa vida, já não julgar apenas segundo as opiniões correntes.

Por conseguinte, converter-se significa deixar de viver como todos vivem, deixar de agir como todos agem, deixar de sentir-se justificado em actos duvidosos, ambíguos, maus, pelo facto de todos fazerem o mesmo: começar a ver a própria vida com os olhos de Deus. Portanto, é começar a fazer o bem, mesmo que seja incómodo; é não depender do juízo da maioria, dos outros, mas do juízo de Deus. Em outras palavras, é buscar um novo estilo de vida, uma vida nova.

Isto não significa moralismo. Quem reduz o cristianismo à moralidade perde de vista a essência da mensagem de Cristo: o dom de uma nova amizade, o dom da comunhão com Jesus e, portanto, com Deus. Quem se converte a Cristo não quer ter autonomia moral, não pretende construir a sua bondade com as próprias forças.

"Conversão" (metánoia) significa precisamente o contrário: sair da auto-suficiência, descobrir e aceitar a própria indigência, a necessidade dos outros e a necessidade de Deus, do seu perdão, da sua amizade. A vida sem conversão é autojustificação ("eu não sou pior do que os outros"); a conversão é a humildade de nos entregarmos ao amor do Outro, amor que se transforma em medida e critério da nossa própria vida.

Aqui também devemos ter presente o aspecto social da conversão. Certamente, a conversão é sobretudo um acto personalíssimo, é personalização. Eu renuncio a "viver como todos"; já não me sinto justificado pelo facto de todos fazerem o mesmo que eu, e encontro diante de Deus o meu próprio eu, a minha responsabilidade pessoal. Mas a verdadeira personalização é sempre também uma socialização nova e mais profunda. O eu abre-se de novo ao tu, em toda a sua profundidade, nascendo assim um novo nós. Se o modo de vida comum no mundo implica o risco da despersonalização, de viver não a minha vida mas a dos outros, na conversão deve surgir um novo nós no caminhar comum com Deus.

Junto com o anúncio da conversão, devemos oferecer também uma comunidade de vida, um espaço comum para o novo estilo de vida. Não se pode evangelizar apenas com palavras. O Evangelho cria vida, cria comunidade de caminho. Uma conversão puramente individual não tem consistência.

(Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore romano’ de 19.01.2001)

A HUMILDADE

Já escrevi por aqui várias vezes que sou vaidoso e orgulhoso!

Sinto-me bem, (ou melhor orgulhoso), quando elogiam aquilo que eu escrevo, embora reconheça, (ou queira reconhecer), que as palavras que escrevo não são minhas, mas daqu’Ele que as inspira.

Curiosamente, até quando digo isto mesmo ou escrevo, (que a escrita não é minha mas de Quem ma inspira), me parece estar a ser orgulhoso, vaidoso, pois quem sou eu para que Ele me inspire seja o que for, a não ser a minha conversão para me encontrar com a sua vontade.

Vem este introito a propósito do livro sobre a Beata Teresa de Calcutá, “Vem, sê a minha luz”, que acabei recentemente de ler.

Senti-me esmagado, (no sentido de me achar um nada), perante a grandeza da humildade daquela “pequena” mulher!

Transcrevo três passagens das suas cartas, para que possamos entender como esta mulher levou até ao fim, verdadeiramente, a frase de João Batista:
«Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Jo 3, 30

«O Padre (Van Exem) também tem muitas cartas que eu lhe escrevi sobre – a obra quando ainda estava em Loreto. Agora que o plano que Jesus nos confiou – ficou escrito nas Constituições (da Obra) – essas cartas deixaram de ser necessárias. Agradecia que mas devolvessem – porque eram a expressão da minha alma naqueles momentos. Gostaria de queimar todos os papéis que revelem seja o que for acerca de mim. – Peço-lhe por favor, Excelência, suplico-lhe que satisfaça este desejo – quero que o segredo que Deus me confiou continue a ser um segredo nosso – o mundo não o conhece e é assim que eu quero que seja.» (1)

«Tenho um grande pedido a fazer-lhe. – Nunca lhe pedi nada pessoalmente. – Fiquei a saber, …, que o Cardeal Spellman deseja escrever sobre mim & sobre a obra. O Bispo Morrow irá pedir a Vossa Excelência todos os documentos. – A si e ao Pe. Van Exem confiei os meus pensamentos mais profundos – o meu amor a Jesus – e o Seu terno amor por mim – por favor, não lhe dê nada de 1946. Quero que a obra continue a ser inteiramente Dele. Quando os começos se tornarem conhecidos, as pessoas passaram a pensar mais em mim – e menos em Jesus. Por favor, por amor a Nossa Senhora, não conte nem dê coisa alguma. … Ele que escreva sobre «a obra» e a nossa gente sofredora. … Nada reclamo como meu. Foi-me dada. …» (2)

«Excelência. Agora que tem nas mãos o ficheiro da nossa Sociedade – peço-lhe que destrua quaisquer cartas que eu tenha escrito a Vossa Excelência – que não estejam relacionadas com a Sociedade. - «O Chamamento» foi um delicado presente que Deus me ofereceu – a mim, indigna – não sei porque foi que Ele me escolheu – calculo que tenha sido como as pessoas que nós apanhamos na rua – porque são aqueles que ninguém quer. Desde o primeiro (dia) até hoje – esta minha nova vocação foi um prolongado «Sim» a Deus – sem olhar sequer ao preço a pagar. – A minha convicção de que «a obra é Dele» - é mais do que realidade. – Nunca duvidei. Só me magoa que as pessoas me tratem como fundadora, porque sei com certeza que Ele me pediu - «Queres fazer isto por Mim?» Tudo foi Dele – eu apenas tive que me render aos Seus planos – à Sua vontade. – Hoje, a obra Dele cresceu porque é Ele, e não eu, que a faz através de mim. Estou de tal maneira convencida disto – que de boa vontade daria a minha vida para o demonstrar.» (3)

Não se ficam por estes textos os pedidos de destruição de cartas e documentos em que a Madre Teresa de Calcutá descreve a sua vivência da fé e o chamamento que Deus lhe fez para levar a cabo a obra das Missionárias da Caridade.

Realmente ela insiste permanentemente com os seus Directores Espirituais, bem como com os Bispos sucessores do Arcebispo Périer, (a quem dirigiu as cartas acima citadas), para que todas as cartas e documentos que “chamem a atenção” para si, sejam queimados, destruídos.

Podem calcular, (por aquilo que escrevo logo no início), como a “descoberta” desta humildade “específica” de Madre Teresa, me tocou, me questionou, me colocou perante tantas mudanças que preciso fazer ainda e sempre na minha vida.

O livro é todo ele a exortação de uma humildade e de uma fé inabaláveis, numa completa entrega a Jesus Cristo e à Sua vontade.

Quando este livro foi publicado, vieram alguns dizer que Madre Teresa tinha tido dúvidas de fé.

Nada mais errado, (quanto a mim), pois o que o livro, ou aliás os seus escritos demonstram, é uma fé inabalável, que mesmo atravessando um deserto de anos, mesmo vivendo em permanência a “noite escura” da “ausência de Deus”, não deixa de acreditar que, sendo essa a vontade de Deus, Ele acaba por estar presente nesse deserto, nessa “ausência”.
Voltarei a este tema da “noite escura” de Madre Teresa, que por vezes nos toca a todos em momentos, (graças a Deus), mais ou menos rápidos, mas que nela e noutros Santos, foi um viver constante, constituindo assim um testemunho de fé intocável.

E recomendo a todos a leitura deste livro, sem mais considerações, que as não tenho, porque ficariam muito aquém da beleza do que nele está escrito, beleza essa que me faz lembrar as palavras de D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, referindo-se à «Beleza do Rosto de Deus.»

Por vezes, ao lermos livros sobre as Santas e Santos, quedamo-nos pelo “maravilhoso”, ou seja, pelos milagres que Deus por sua intercessão operou nos homens, quando realmente o mais maravilhoso, é aquilo que Deus fez na vida daquelas mulheres e daqueles homens, (em tudo iguais a nós), transformando o seu viver num constante testemunho da presença de Deus no meio de nós, “apenas” porque elas e eles foram capazes de se abrir inteiramente à vontade de Deus, “apenas” porque foram capazes de “desaparecer” para Ele aparecer!

Tanto caminho a percorrer!

Assim nós nos saibamos entregar inteiramente a Deus, (em todos os estados de vida a que formos chamados), para podermos por Sua graça, viver a Sua vontade, e assim testemunharmos verdadeiramente a Sua presença nas nossas vidas, a Sua presença no meio de nós.

Joaquim Mexia Alves

Notas:
1,2,3 – Cartas de Madre Teresa de Calcutá ao Arcebispo Périer entre 1956 e 1960.

A perda do perdão

Nos últimos 500 anos o Ocidente viveu o maior ataque cultural da história. Seguindo o magno processo contra a cultura cristã, nas suas três fases, entende-se a situação actual. Primeiro atacou-se a Igreja em nome de Deus. Depois descartou-se a divindade mantendo a moral cristã. Hoje desmantela-se a ética.
 
A primeira fase seguiu dois passos. Primeiro, com Lutero, Calvino e outros reformadores, agrediu-se a estrutura eclesial conservando o Cristianismo. A fé em Cristo era preciosa, apesar dos perversos eclesiásticos. Depois, através de Hume, Voltaire e outros teístas, o cientifismo deísta rejeitou a doutrina e ritos, acenando à divindade longínqua e apática d'"O Grande Arquitecto" e distorcendo a História para apagar o papel da Igreja.
 A segunda fase do ataque dirigiu--se ao transcendente. Recusava-se Deus e a eternidade, pretendendo conservar as regras cristãs de comportamento social. O primeiro passo, de Feuerbach, Comte e outros ateus, quis demonstrar filosoficamente a inexistência formal de Deus na sociedade humanista ideal. O falhanço dos esforços teóricos levou Thomas Huxley, Bertand Russell e outros agnósticos ao ateísmo prático simplesmente desinteressado da questão religiosa.
 
A fase actual é de ataque frontal à moral cristã. Primeiro, com Saint-Simon, Marx e outros revolucionários, visou-se uma moral exclusivamente humana. Mas, como Nietzsche e Sartre tinham explicado, eliminando a referência metafísica, vivemos "Para lá do Bem e do Mal".
 
Para compreender os traços essenciais da atitude moral dominante é preciso lembrar o elemento novo e original que o Cristianismo trouxe à civilização há 2000 anos. Aí se situa o núcleo da luta moral da nossa era. Quando Cristo nasceu, a sociedade ocidental já possuía uma estrutura ética sofisticada. Homero, Zoroastro, Sócrates, Zenão, Epicuro e tantos outros tinham estabelecido um sistema complexo de virtudes, regras e comportamentos. No campo estrito da ética, a revelação cristã trouxe apenas um contributo: a misericórdia.
 
Para Aristóteles e seus contemporâneos, o perdão era uma injustiça inaceitável. A visão cristã do mundo tornou-o indispensável: "todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, todos são justificados pela Sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus" (Rm 3, 23-24).

Aquilo que a moral de hoje perdeu é a misericórdia. Em jornais, novelas, televisão e cinema encontramos valores e atitudes elevados. Mantêm-se virtudes, guardam-se mandamentos, pululam os exemplos honestos, sensatos, equilibrados. Tolera-se tudo. Só se despreza a caridade cristã.

Existem duas formas de destruir a misericórdia: eliminando o pecado e eliminando o perdão. Estas são precisamente as duas atitudes mais comuns nos dias que correm. Numa enorme quantidade de situações não se vê nada de mal. Naquelas em que se vê, não há desculpa possível. As acções do próximo ou são indiferentes ou intoleráveis. O que nunca são é censuradas e perdoadas. O que nunca se faz é combinar o repúdio do pecado com a compaixão pelo pecador.
 
O resultado está à vista. A moral oficial, em filmes, romances, séries e telejornais, é uma amálgama de regras, princípios e procedimentos, sem fundamento, coerência ou justificação. Do libertarismo mais acéfalo salta-se ao moralismo totalitário sem lógica ou razão. Aborto e adultério tornavam-se de crimes em direitos, enquanto tabaco e touradas passaram de hábitos a infâmias. Os enredos da moda exaltam os valores pagãos, mágicos, bárbaros, orientais, ocultistas, libertinos, vampiros. Todos, menos cristãos.
 
Após 500 anos de ataques à Igreja, este é o estado do Ocidente. Qual a situação da fé, com cinco séculos de agressões? Está igual a si mesma. A moral cristã perdura, 100 anos depois de Nietzsche. A fé em Cristo mantém-se, 250 anos depois de Hume. A Igreja Católica permanece, cinco séculos após Lutero. O último meio milénio não foi mais duro para os discípulos de Cristo que os anteriores. Desde o Calvário, a Igreja é atacada. Ressuscitando ao terceiro dia.
 
João César das Neves in DN online

Encontro cultural e humano

A cooperação no desenvolvimento não deve limitar-se apenas à dimensão económica, mas há-de tornar-se uma grande ocasião de encontro cultural e humano. Se os sujeitos da cooperação dos países economicamente desenvolvidos não têm em conta — como às vezes sucede — a identidade cultural, própria e alheia, feita de valores humanos, não podem instaurar algum diálogo profundo com os cidadãos dos países pobres. Se estes, por sua vez, se abrem indiferentemente e sem discernimento a qualquer proposta cultural, ficam sem condições para assumir a responsabilidade do seu autêntico desenvolvimento [139]. As sociedades tecnologicamente avançadas não devem confundir o próprio desenvolvimento tecnológico com uma suposta superioridade cultural, mas hão-de descobrir em si próprias virtudes, por vezes esquecidas, que as fizeram florescer ao longo da história. As sociedades em crescimento devem permanecer fiéis a tudo o que há de verdadeiramente humano nas suas tradições, evitando de lhes sobrepor automaticamente os mecanismos da civilização tecnológica globalizada. Existem, em todas as culturas, singulares e variadas convergências éticas, expressão de uma mesma natureza humana querida pelo Criador e que a sabedoria ética da humanidade chama lei natural [140].

[139]
 Cf. Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 10.41: AAS 59 (1967), 262.277-278.[140] Cf. Bento XVI, Discurso aos membros da Comissão Teológica Internacional (5 de Outubro de 2007): Insegnamenti III/2 (2007), 418-421; Discurso aos participantes no Congresso internacional sobre « Lei moral natural » promovido pelo Pontifícia Universidade Lateranense (12 de Fevereiro de 2007): Insegnamenti III/1 (2007), 209-212.


Caritas in veritate [59] – Bento XVI

Carta do Papa João Paulo II à Madre Teresa de Calcutá

À dilecta Filha
Irmã Teresa de Calcutá

Com vivo apreço fui informado de que, por ocasião do XX aniversário da inauguração da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade Católica do Sagrado Coração, as Autoridades Académicas decidiram unanimemente conferir-Lhe o doutoramento "honoris causa" em Medicina e Cirurgia, como reconhecimento pelos méritos excepcionais por Si adquiridos levando o alívio da medicina aplicada e da assistência às várias formas de sofrimento humano.

A iniciativa parece particularmente feliz. Ela assume, de facto, o valor de um gesto simbólico, mediante o qual a Faculdade de Medicina e Cirurgia pretende indicar o sentido último do próprio esforço de estudo e de pesquisa nos diversos campos da ciência: isto é, o sentido de um serviço ao homem, serviço que, animado pelo amor, não se limita ao corpo, mas atinge o espírito, para nele suscitar a chama da esperança no mundo transcendente dos valores cristãos.

Com esta finalidade foi fundada há 20 anos esta Faculdade. Desejou-se, nessa ocasião, criar um Centro no qual, quem se sentisse chamado à nobre arte da Medicina, pudesse receber não só uma profunda preparação científica mas também uma sólida formação cristã, que o tornasse capaz de testemunhar Cristo mesmo no exercício da profissão sanitária. Quis-se, então, dar vida a uma Instituição na qual — para empregar as palavras do próprio Fundador da Universidade Católica — o jovem fosse orientado a "imprimir à própria actividade uma fisionomia bem característica, a do crente que julga e valoriza cada coisa e cada acontecimento do ponto de vista cristão" (cf. Vita e Pensiero XLI, 1958, n. 1).

À luz destes ideais, a Faculdade de Medicina da Universidade Católica procurou caminhar com constante empenho e dedicação nestes 20 anos de vida. E a celebração hodierna é-me propícia para exprimir — ao mesmo tempo que me uno de coração à comemoração desta data — vivo apreço pelas metas alcançadas e sinceros votos de progresso crescente na irradiação da sua obra, inspirada e apoiada pelo amor fraterno e pela fé profunda.

A fé cristã, aliás — a caríssima Irmã oferece dela amplo testemunho com a sua vida — não altera nem reprime, mas pelo contrário ilumina com reflexos superiores aquele serviço à vida humana, que é tarefa específica da Medicina. De facto, como não reconhecer a nova riqueza de motivações, que a tal serviço propicia a capacidade de descobrir, na fé, o fulgor da imagem divina, impressa na face de cada homem, que  dela extrai a intangibilidade do próprio ser e a dignidade transfigurada das próprias enfermidades?
Sei bem como tal conhecimento tenha animado constantemente o seu empenho e o das pessoas generosas que, em número crescente, se foram unindo a Si, compartilhando o ideal de doação total a cada categoria de doentes, de pobres, de marginalizados, de pessoas que trazem no corpo e no espírito o sinal ardente do sofrimento. Com o seu exemplo demonstra, Madre Teresa, como as palavras evangélicas: "Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo" (Mt 25, 35 s.) valem para abrir, perante o coração do crente, horizontes novos, nos quais a realidade do sofrimento humano se põe como "sacramento" da presença transcendente de Cristo.

Renovo, portanto, a expressão do meu apreço pela oportuna iniciativa académica, que A vê hoje merecidamente premiada e, ao mesmo tempo que invoco sobre Si e sobre a sua actividade copiosa efusão de favores celestes, concedo-Lhe de coração a propiciadora Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos Professores e aos Alunos da querida Universidade Católica e a todos os que participaram na significativa cerimónia.

Do Vaticano, 10 de Dezembro de 1981, quarto de Pontificado

JOÃO PAULO PP. II

Beata Madre Teresa de Calcutá

Agnes Gonxha Bojaxhiu nome de baptismo da que ficou mundialmente conhecida por Madre Teresa de Calcutá, nasceu na Albânia (então Macedónia) e tornou-se cidadã indiana, em 1948. Prémio Nobel da Paz em 1979. Oriunda de uma família católica, aos doze anos já estava determinada a ser missionária. Começou por fazer votos na congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, aos 18 anos, na Irlanda, onde viveu. A sua vida na Índia começou como professora. Só ao fim de dez anos sentiu necessidade de criar a congregação das Irmãs da Caridade e dedicar a sua longa vida aos pobres abandonados e mais desprotegidos de Calcutá. Entre as suas prioridades estava matar a fome e ensinar a ler aos "mais pobres entre os pobres", bem como a leprosos, portadores de SIDA/AIDS e mulheres abandonadas. Depois do Prémio Nobel, em 1979, passou a ser muito conhecida e as Irmãs da Caridade estão em centenas de países do Mundo. O seu exemplo de dedicação sem temer contrair doenças contagiosas, a sua vida exemplar, sempre na sua fé católica deram-lhe, em vida, a certeza de que era santa. Aguarda-se a sua canonização.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

«Ora a sogra de Simão estava com muita febre»

Catecismo da Igreja Católica 
§§ 309-310


Se Deus Todo-Poderoso, criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as Suas criaturas, por que existe o mal? Não existe nenhuma resposta rápida para esta pergunta tão urgente quanto inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas Suas alianças, pela Encarnação redentora do Seu Filho, pela dádiva do Espírito, pela reunião da Igreja, pela força dos sacramentos, pelo apelo a uma vida bem-aventurada à qual as criaturas livres são antecipadamente convidadas a consentir, mas à qual também antecipadamente podem escusar-se. Não há uma linha da mensagem cristã que não seja em parte uma resposta à questão do mal.

Porque não terá Deus criado um mundo tão perfeito que nenhum mal aí conseguisse existir? Segundo o Seu poder infinito, Deus poderia sempre criar qualquer coisa melhor (São Tomás de Aquino). Porém, na Sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo «a caminho» da sua perfeição. No desígnio de Deus, este devir comporta o aparecimento de certos seres e o desaparecimento de outros, com o mais perfeito mas também o menos perfeito, com as construções da natureza mas também as destruições. Com o bem físico existe também o mal físico enquanto a criação não atingir a sua perfeição.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 5 de setembro de 2012

Saindo Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão. Ora a sogra de Simão estava com febre muito alta. Pediram-Lhe por ela. Ele, inclinando-Se para ela, ordenou à febre, e a febre deixou-a. Ela, levantando-se logo, servia-os. Quando foi sol-posto, todos os que tinham doentes de diversas moléstias, traziam-Lhos. E Ele, impondo as mãos sobre cada um, curava-os. De muitos saíam os demónios, gritando: «Tu és o Filho de Deus». Mas Ele repreendia-os severamente e impunha-lhes silêncio, porque sabiam que Ele era o Cristo. Quando se fez dia, tendo saído, foi para um lugar solitário. As multidões foram à Sua procura e, tendo-O encontrado, tentavam retê-l'O para que não se afastasse deles. Mas Ele disse-lhes: «É necessário que Eu anuncie também às outras cidades a boa nova do reino de Deus, pois para isso é que fui enviado». E andava pregando nas sinagogas da Judeia.

Lc 4, 38-44