segunda-feira, 14 de novembro de 2011

'Seta' de Vitorino Nemésio

Tu me deste a palavra, noz de fogo:
Se o miolo te ficou, tenho os dedos queimados.
Dá Deus nozes, Senhor... Sem dentes desde logo
teu Banquete revolta os desdentados.

O Pão esperou na Voz fome e saliva,
Ninguém comeu da própria suficiência:
Ao menos o menino tem gengiva.
Saboreia a inocência.

Tende piedade dos Críticos,
dai-lhes o Best-Seller:
Engrossarão seu coro,
tudo o que for Sentido-desterrado
e oculto no choro!
Fazei guardar por Anjos
a Significação,
e em nossa carne "eles" tenham
ceva e consolação.

À entrada do Verbo, imo da Morte,
ponde uma folha a espada.
Podem roê-la, é certo; mas com sorte
a Lição do Sentido fora dada.

Tende piedade dos Críticos,
perdão para os seus juízos,
mãos largas aos somíticos,
com muitos guizos, com muitos guizos!
E, sobretudo, meu Senhor,
humildade de alma seja o poeta:
quando se fere por amor,
o sangue é teu, que é tua a seta.

Vitorino Nemésio

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