sábado, 29 de outubro de 2011

Deus na história (Editorial)

Com uma reflexão fora do comum sobre a presença de Deus na história e o papel importante de quem o procura Bento XVI ofereceu em Assis uma grande contribuição para facilitar, segundo a imagem bíblica, o caminho da paz. Um caminho irregular e cheio de dificuldades, muitas vezes sangrentas - indignas do homem e que ultrajam a Deus - que no entanto grande parte da humanidade sonha e quer percorrer. Como as muitíssimas pessoas apinhadas nas estações de Terni, Spoleto e Foligno para saudar o Papa e as delegações que o acompanharam. Para a construção da paz o Pontífice pronunciou palavras importantes, certamente não circunstanciais. Desde o encontro desejado por João Paulo II e realizado na cidade de são Francisco, alter Christus, passou-se um quarto de século. O que aconteceu desde então, a que ponto está a causa da paz, interrogou-se o Papa. Três anos mais tarde, em 1989, a paz pareceu mais próxima com a queda do muro de Berlim: com efeito, então foi derrotada, sem derramamento de sangue, a divisão do mundo em dois blocos opostos, eliminando os sonhos maus da guerra nuclear sobre os quais Paulo VI tinha falado perante as Nações Unidas. 


Uma vitória da liberdade e da paz, em parte também da liberdade de crer, uma vitória - analisou com lucidez Bento XVI - devida a muitas causas, mas realizada sobretudo porque "por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual". Depois, o olhar do Papa sobre a história alcançou o hoje, a liberdade sem orientação e as novas faces da discórdia e da violência. Daqui a denúncia do terrorismo, com frequência motivado e justificado religiosamente. Mas "esta não é a religião verdadeira" entoou com força pacata o Pontífice, repetindo palavras pronunciadas muitas vezes nestes anos. E se é verdade que na história também em nome da fé cristã se recorreu à violência, isto foi um abuso, reconheceu Bento XVI no sulco dos seus predecessores, confirmando o desejo de purificação incessante da qual em nome da Igreja católica, e com a humildade que o caracteriza, mais uma vez dá o exemplo repetindo a antiga convicção: Ecclesia semper reformanda. Com a confiança de que este processo possa ampliar-se às outras religiões e ser compreendido por todos através da razão. Inclusive por quantos não se reconhecem em religião alguma, mas estão em busca da verdade, como pareceu claro pela presença deles em Assis, a qual constituiu a grande novidade deste encontro. 


A purificação é também a resposta mais clara a dar à crítica - nascida do iluminismo e que hoje é continuamente apresentada pelos "inimigos da religião" - segundo a qual nada poderia vir das religiões senão violência. Ao contrário, são precisamente a ausência e a negação de Deus que originam a violência, como demonstram os horrores dos campos de concentração e a adoração ao dinheiro e ao poder: um exemplo é a difusão global das drogas, chaga assustadora que destrói a paz e que Bento XVI denunciou muitas vezes. Desmentindo mais uma vez estereótipos infundados, o Papa vai em frente e repropõe com vigor a causa da paz. Que se constrói procurando o único Deus. Por isso Bento XVI quis que estivessem presentes em Assis também intelectuais não crentes, deixando sem argumentos os "ateus combativos" e exigindo que os fiéis purifiquem a própria fé e não dêem escândalo, ofuscando assim a transparência de Deus. Cujo nome, segundo as palavras do apóstolo Paulo, é "Deus de amor e de paz", o Senhor da história que se encarnou para salvar o mundo. 


GIOVANNI MARIA VIAN – Director 


(© L'Osservatore Romano - 29 de Outubro de 2011)

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