Precariedade persistente

Precários nos querem, rebeldes nos terão." Esta frase, que há meses aparece nas nossas paredes, surpreende. Não se costumam ler por cá afirmações tão ameaçadoras. Noutros países, coisas destas são habituais, mas nós somos um povo pacato, sereno, que raramente se entrega a emoções agressivas. Nas tabernas e blogs dizem-se coisas até mais graves, mas desde os turbulentos tempos da revolução não surgem na praça pública.

Antes de mais, a frase manifesta a gravidade do problema laboral. Não só o desemprego chegou ao máximo da história nacional, envolvendo quase 600 mil pessoas, mas, além dos 71 mil inactivos disponíveis que, desanimados na busca de emprego, não contam nas estatísticas, ainda há quase 900 mil trabalhadores sem contrato permanente. O total representa milhão e meio, 28% da população activa, que pretende emprego estável sem conseguir.

O fenómeno da precariedade tem passado em Portugal por fases diferentes. Nos anos 1980 e 90 sofreu uma flutuação marcada, evoluindo em simetria aos desempregados. Enquanto o desemprego subia, a precariedade descia e vice-versa. Era evidente que constituía a válvula de escape do sistema. Eram os precários que ganhavam ou perdiam emprego quando este subia ou descia.
Isso manifesta aquele que é o contributo mais forte, e mais oculto, da integração europeia para a nossa força laboral: a dualidade. A legislação comunitária, pensada para países ricos, só parcialmente pode ser aplicada por cá. Nasceu então uma elite de trabalhadores com direitos europeus, ficando o resto à margem. É essa margem precária que dá flexibilidade e permite ao mercado funcionar com desemprego muito inferior ao comunitário. Assim se finge adoptar o sistema dos parceiros, mantendo o equilíbrio à custa da injustiça.

Como é costume na hipocrisia nacional, todos sabem mas ninguém diz. Os trabalhadores desprotegidos, indispensáveis à viabilidade económica, são usados como argumento retórico mas ficam sempre à margem das políticas sociais. Entretanto, os sindicatos vão reivindicando mais direitos para os associados, esquecendo de facto quem não atinge os mínimos. Esses, incapazes de pagar quotas e sempre ameaçados de despedimento, passam ao lado dos interesses dos que os dizem representar.

Na última década, a evolução mudou, mesmo se o quadro de fundo se manteve. A partir de 2001, com o desemprego a subir, o peso dos trabalhadores a prazo, em vez de descer, aumentou todos os anos excepto nas crises de 2002-03 e 2008. Há dez anos que se situa em máximos históricos, acima de 20% do emprego por conta de outrem. Isto mostra as profundas mudanças no mercado de trabalho, não apenas por transformação estrutural, mas pela entrada de 250 mil emigrantes na década, que elevou o total de estrangeiros em Portugal a 450 mil.

Se a referida frase revela este terrível problema, falha redondamente no diagnóstico e na terapia. Inspirada no antigo mito da luta de classes e na ilusão ingénua e cómoda de um grupo de "maus" que "quer" a precariedade, anuncia rebeldia que, não só não resolveria nada, mas agravaria tudo.

É urgente uma reforma séria, profunda e realista do mercado de trabalho. Como os 900 mil precários sabem bem, garantir direitos no papel bloqueia o crescimento, única forma de criar empregos sólidos. A ilusória rigidez legal impede o ajustamento, sobretudo em época de turbulência, e prejudica todos. Pelo contrário, como se vê lá fora, uma flexibilização justa e moderada das regras, preservando os direitos essenciais, assegurando forte vigilância social e acudindo aos mais afectados, permite a justiça laboral e fomenta empregos de qualidade.

Mas, apesar de anos de fiasco evidente, os obstáculos à reforma permanecem formidáveis. Contra o realismo estão as retóricas dos autoproclamados defensores dos trabalhadores, a ilusão das seguranças aparentes e, sobretudo, os interesses dos privilegiados. É mais cómodo acusar o vácuo e prometer rebeldia. Mas a alternativa é a continuação deste marasmo social. Se rígidos se quiserem, precários continuarão

João César das Neves

(Fonte: DN online)

S. Josemaría nesta data em 1958

Durante uma estadia em Londres, em 1958, experimenta o peso da sua debilidade pessoal. “Josemaría, aqui não podes fazer nada”. Depois comentaria: “Tinha razão: eu sozinho não conseguiria nada; sem Deus, não conseguiria sequer levantar uma palha do chão. (…) De repente, no meio de uma rua por onde iam e vinham pessoas de todas as partes do mundo, dentro de mim, no fundo do meu coração, senti a eficácia do braço de Deus; tu não podes nada, mas Eu posso tudo; tu és a incapacidade, mas Eu sou a Omnipotência. Eu estarei contigo, e, haverá eficácia! levaremos as almas à felicidade, à unidade (…)! Também aqui semearemos paz e alegria abundante!”.

(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)

A ECONOMIA DOS DEVERES – Mons. Hugo de Azevedo

No número 43 da encíclica «Caritas in Veritate», Bento XVI sublinha uma ideia muito importante: «Os direitos pressupõem deveres, sem os quais o seu exercício se transforma em arbítrio». Talvez nos baste recordar a definição clássica de justiça, que é: «dar o seu a seu dono»; e não «reivindicar o que é meu». Muitas vezes posso renunciar ao que é meu sem faltar à justiça; mas falto sempre à justiça quando não dou aos outros o que é deles. Logo, a justiça é primariamente um dever para com os outros; só secundariamente um direito meu: tenho direito ao trabalho, porque devo trabalhar; o direito à vida, porque devo conservá-la para pagar o que recebi de Deus, da família, da sociedade; o direito a educar os filhos, por serem os pais os primeiros responsáveis pela sua vinda ao mundo; o direito aos livros, para quem deve estudar; etc.

Se reconheço o meu dever para com os outros, logo sei quais os meus direitos. Mas quando parto de mim, dos meus interesses, a lista dos direitos torna-se tão longa e confusa como a dos meus apetites. Como diz o Santo Padre, «os direitos individuais, desvinculados de um quadro de deveres, (…) enlouquecem e alimentam uma espiral de exigências praticamente ilimitada e sem critério» (ibid.). Os deveres aparecem-nos então apenas como simples compensação social dos tais direitos, e levam-nos, naturalmente, a regatear essa «paga» o mais possível, convertendo a moralidade em habilidade legalista. A sociedade começa a «funcionar» ao contrário: em vez da solidariedade, um clima de egoísmo, agressividade e até de corrupção, que conhecemos bem, infelizmente.

Se os direitos individuais procedem dos deveres, os direitos da família, do Estado, das autarquias, das empresas – de todos os «corpos intermédios», afinal - procedem e medem-se por critério idêntico. Muitas das nossas crises se explicam por vivermos para os direitos e não para os deveres. Já me dizia o velho porteiro: - «Éramos catorze filhos, de pais pobres, e nunca passámos fome. É o que eu digo a esta gente: olhem para os passarinhos; cada um a picar para comer… Cada um de nós procurava um serviço qualquer, e havia para todos! Mas esta gente nova fica para aí parada, à espera de subsídios!» Porque a verdade é que, se me dedico a servir as necessidades dos outros, não me falta trabalho; se me dedico a «realizar-me», nunca mais me aparece o trabalho ideal, por mais que o reclame do governo.

Ao esperarmos tudo do Estado, estamos a cavar a nossa própria sepultura. E, de facto, o Estado a que nos habituámos - e que supera muitos absolutismos passados – manda em tudo e muda a seu bel-prazer as próprias regras que estabeleceu, mas continuamos a esperar dele o que os servos da gleba esperavam dos velhos barões, encostando as casas às muralhas protectoras do seu senhor. Um encosto maior por cada crise… e temos a nação subjugada, e o Estado tornado presa de todos os problemas do país.

Pe. Hugo de Azevedo

Publicada por ontiano em NUNC COEPI - http://amexiaalves-nunccoepi.blogspot.com/

Cristiano Ronaldo e a cláusula de rescisão do seu filho

Não há muito tempo, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo anunciou através da Internet a sua recente paternidade e com ela a intenção de tomar a seu cargo "em exclusivo" o seu filho, libertando de toda a responsabilidade a mãe, que ao que parece preferiu manter o seu anonimato.

Apesar dos títulos da imprensa sensacionalista anglo-saxónica, não existe uma certeza absoluta de que o jogador tivesse planificado o feliz acontecimento recorrendo a uma "mãe de aluguer" ou executando aquilo que agora é denominado uma "subrogação gestacional", procedimento, por outro lado, somente permitido nalguns estados dos Estados Unidos -onde teve lugar o parto e na Europa em países como a Grã-Bretanha ou a Grécia. Muito menos fica claro que o desejo de anonimato da mãe tenha sido precedido por uma transferência milionária, estratégia por outro lado bastante imprudente por ser inviável, como se pode comprovar diariamente nos programas televisivos do "coração".

Não existe tal certeza, mas se algo deixou claro o dianteiro do Real Madrid é que ele irá tomar conta da educação do seu filho, para o que contará com a inestimável ajuda da sua mãe e da sua irmã, não recorrendo à sua actual noiva, a modelo russa Irina Shayk. Trata-se portanto de um projecto pessoal do próprio Ronaldo em que retira ao seu filho desde o seu nascimento o direito de ter uma mãe, um direito acolhido no Princípio n. 6 da declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela ONU em 1959, onde se afirma que a criança "sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade dos seus pais e (...) salvo circunstâncias excepcionais, a criança de tenra idade não deverá ser separada da sua mãe".

É possível que a estrela dos relvados pense que o dinheiro consegue tudo. Mas a história recente do seu actual clube deveria bastar-lhe para chegar à conclusão de que se as contratações milionárias não asseguram o sucesso, no caso do seu filho muito menos substituem a importância da figura materna. E se não for assim, que pergunte à sua própria mãe se ela teria aceite abdicar do seu filho da mesma maneira.

Aceprensa

Nota de JPR: Parabéns Aceprensa por haverdes colocado o dedo na ferida, Cristiano Ronaldo infelizmente em contra-corrente aos bonitos testemunhos dos colegas de profissão Wayne Rooney, Káká e Sneijder, deu um triste exemplo ao mundo daquilo que nunca deveria ser feito, desde criança que ouvia na minha família dizer-se ‘o dinheiro não trás felicidade e portanto esta não se compra’.

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

Edith Stein nasceu em Breslau, actualmente Wroclaw, capital da Silésia, na Alemanha (cidade que, depois da Segunda Guerra Mundial, passou a pertencer à Polónia), no dia 12 de Outubro de 1891, quando se celebrava a grande festa judaica do Yom Kippur, o Dia da Reconciliação.

Seus pais, Sigefredo e Augusta, eram comerciantes judeus. Edith foi a última de onze filhos. O pai faleceu em 1893. A mãe encarregou-se dos negócios da família e da educação dos filhos.

A pequena Edith, segundo o seu próprio testemunho, foi muito dinâmica, sensível, nervosa e irascível. Aos sete anos, começou a possuir um temperamento mais reflexivo.

Em 1913, ingressou na Universidade de Gottingen e dedicou-se ao estudo da Fenomenologia. Aí encontrou a sua verdadeira vida: livros, companheiros e, sobretudo, o célebre professor E. Husserl. Durante este tempo chega a um ateísmo quase total.

Em 1914, eclode a Primeira Guerra Mundial. Edith vai trabalhar num hospital com quatro mil camas. Entrega-se a este trabalho de corpo e alma.

Estuda com seriedade a Fenomenologia, até se encontrar com a doutrina católica. Encontra definitivamente a sua nova fé em 1921, quando lê a autobiografia de Santa Teresa de Jesus. O amor a Deus, o Absoluto, toma conta de sua alma: “Cristo elevou-se radiante ante meus olhos: Cristo no mistério da Cruz”. Sob a direcção do Padre jesuíta Erich Przywara, começa a estudar a teologia de São Tomás de Aquino.

Baptiza-se no dia 1 de Janeiro de 1922, recebendo o nome de Teresa Edwig. Desde então sente-se evangelizadora: "Sou apenas um instrumento do Senhor. Quem vem a mim, quero levá-lo até Ele”. "Deus não chama ninguém a não ser unicamente para Si mesmo”.

Aos 42 anos, no dia 15 de Abril de 1934, festa do Bom Pastor, veste o hábito carmelita no Convento de Colónia.

A sua conversão, que não a impede de continuar a sentir-se filha de Israel, enamorada de sua santa progenitura, separa-a, contudo, de sua família e de sua amada mãe: “Minha mãe opõe-se com todas as suas forças à minha decisão. É difícil ter que assistir à dor e ao conflito de consciência de uma mãe, sem poder ajudá-la com meios humanos”. (26-01-1934).

No dia 21 de Abril de 1935, domingo de Páscoa, faz seus votos religiosos e três anos depois, no mesmo dia, seus votos perpétuos. Sua vida será uma “Cruz” transformada em “Páscoa”.

Na Alemanha, os nazis começam a semear o ódio ao povo judeu. Ela pressagia o destino que a aguarda. Tentam salvá-la, fazendo-a fugir para a Holanda, para o Carmelo de Echt. Membros das SS não tardam a invadir o convento e prendem Irmã Benedita e sua irmã Rosa, também convertida ao catolicismo.

Três dias antes de sua morte, Edith dirá: “Aconteça o que acontecer, estou preparada. Jesus está aqui connosco”. (06-08-1942).

Após vários tormentos, no dia 9 de Agosto de 1942, na câmara de gás do “inferno de Auschwitz", morria a mártir da Cruz, Irmã Teresa Benedita. Foi beatificada no dia 1 de Maio de 1987, em Colónia, e canonizada em 1999 pelo papa João Paulo II, que mais tarde a declarou conjuntamente com Santa Catarina de Sena e Santa Brígida da Suécia, padroeira da Europa.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

Tema para breve reflexão - Prudência

Para ser prudentes é necessário ter luz no entendimento; assim poderemos julgar com rectidão os factos e as circunstâncias.

(R GARRIGOU-LAGRANGE, Las três edades de la vida interior, vol. 11, pgs. 625 ss., trad. AMA)

Publicada por ontiano em NUNC COEPI - http://amexiaalves-nunccoepi.blogspot.com/

Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir co-padroeira da Europa
A mulher e o seu destino (a partir da trad. Amiot-Dumont 1956, p. 124)

«Eis o Esposo! Ide ao Seu encontro»

A união da alma com Cristo não é o mesmo que a comunhão entre duas pessoas humanas: começa com o baptismo e é constantemente reforçada com os outros sacramentos, é uma integração e um impulso de seiva – como nos diz o símbolo da videira e dos ramos (Jo 15). Este acto de união com Cristo provoca uma aproximação membro a membro entre todos os cristãos. Assim, a Igreja toma a figura do Corpo Místico de Cristo. Este corpo é um corpo vivo e o espírito que o anima é o Espírito de Cristo que, partindo da cabeça, se comunica a todos os membros; o espírito que emana de Cristo é o Espírito Santo, e por conseguinte a Igreja é o templo do Espírito Santo (cf 1Co 6, 19).

Mas, apesar da real unidade orgânica da cabeça e do corpo, a Igreja encontra-se ao lado de Cristo como uma pessoa independente. Enquanto Filho do Pai Eterno, Cristo vivia antes do início dos tempos e antes de qualquer existência humana. Pelo acto da criação, a humanidade vivia antes de Cristo tomar a natureza humana e ser integrado nela. Pela Sua incarnação, Ele trouxe à humanidade a Sua vida divina. Pela Sua obra de redenção, tornou a humanidade capaz de receber a graça. [...] A célula primitiva desta humanidade resgatada é Maria: é nela que se realiza pela primeira vez a purificação e a santificação operadas por Cristo, é Ela a primeira a ser cheia do Espírito Santo. Antes de nascer da Santíssima Virgem, o Filho de Deus criou esta Virgem cheia de graça e, nela e com ela, a Igreja. É por isso que, sendo uma criatura distinta d'Ele, a Igreja se encontra a Seu lado, embora indissoluvelmente ligada a Ele.

Qualquer alma purificada pelo baptismo e elevada ao estado de graça é, por essa mesma razão, criada por Cristo e nascida para Cristo. Mas é criada na Igreja e nasce pela Igreja. [...] Assim, a Igreja é a mãe de todos aqueles a quem se destina a redenção É-o pela sua união íntima com Cristo, e porque se realiza a Seu lado na qualidade de Esposa de Cristo, para colaborar na Sua obra de redenção.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 9 de Agosto de 2010

São Mateus 17,22-27

22 Enquanto andavam pela Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens,23 eles Lhe darão a morte, e ressuscitará ao terceiro dia». Eles entristeceram-se em extremo.24 Quando entraram em Cafarnaum, chegaram-se a Pedro os que recebiam a didracma, e disseram-lhe: «Vosso Mestre não paga a didracma?».25 Ele respondeu-lhes: «Sim». Quando Pedro entrou em casa, Jesus adiantou-Se, dizendo: «Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o imposto? De seus filhos, ou dos estranhos?».26 Ele respondeu: «Dos estranhos». Disse-lhe Jesus: «Logo os filhos estão isentos.27 Todavia, para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro peixe que vier, toma-o e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estáter. Toma-o, e dá-lho por Mim e por ti»