sábado, 13 de novembro de 2010

Defendendo as crianças da cultura adulta erotizada

Chegou a altura de os pais contestarem a cultura de sexualização das crianças

Quem poderia ter previsto - mesmo que há uma década atrás - que um dos assuntos urgentes que os pais e psicólogos iriam enfrentar neste século havia de ser a promoção da sexualidade adulta às crianças? Alguns optimistas podem argumentar que produzir sapatos pequeninos de salto alto para crianças de 2 anos jamais significaria tal coisa; mas cuecas "fio-dental", soutiens e kits de dança erótica para crianças de 7 anos são sinais claros de uma tendência que levou governos e grupos profissionais a tomarem uma atitude.

Quem poderia ter previsto - mesmo que há uma década atrás - que um dos assuntos urgentes que os pais e psicólogos iriam enfrentar neste século havia de ser a promoção da sexualidade adulta às crianças? Alguns optimistas podem argumentar que produzir sapatos pequeninos de salto alto para crianças de 2 anos jamais significaria tal coisa; mas cuecas "fio-dental", soutiens e kits de dança erótica para crianças de 7 anos são sinais claros de uma tendência que levou governos e grupos profissionais a tomarem uma atitude.

Em 2007 a American Psychological Association emitiu um relatório acerca da sexualização de meninas, fazendo notar que esta forma de se auto-objectificarem está relacionada com "três dos problemas mais comuns de saúde mental de raparigas e mulheres: desordens alimentares, baixa auto-estima e depressão ou humor deprimido".

Logo depois, um comité do Senado Australiano promoveu um inquérito e reportou em 2008 que "a inapropriada sexualização das crianças na Austrália é de preocupação crescente" e representa um "desafio cultural significativo".

No início deste ano um relatório levado a cabo pelo British Home Office confirmou que a sexualização dos mais novos (e não só raparigas) é um assunto grave.

Contudo, a sexualização de crianças diz mais acerca das nossas atitudes face ao sexo do que das nossas atitudes face às crianças.

A questão do problema é que as crianças - pessoas que são culturalmente, fisicamente e mentalmente demasiado novas para se iniciarem sexualmente como adultos - estão a ser moldadas e modeladas para corresponder a uma cultura adulta erotizada.

Apesar de este problema estar espelhado em produtos e marketing dirigido a crianças, os activistas anti-sexualização criticam igualmente o material de sexo dirigido habitualmente ao público adulto. São alvos da campanha anti-sexualização os anúncios de lingerie, "revistas de homens", e o princípio universal "o sexo vende" que se encontra presente em muita publicidade. Os activistas reconhecem que os conceitos censuráveis e material que está a ser promovido às crianças são uma extensão daquilo que está igualmente disponível para adultos.

Até os críticos da campanha anti-sexualização implicitamente confirmam que é uma questão de introdução das crianças na cultura e sociedade adulta:

"Tentar impedir que as crianças satisfaçam a sua vontade natural de pôr o batôn da mãe, ler as revistas das irmãs mais velhas, brincar com a Barbie - que afinal de contas parece uma mulher crescida -..., não vejo como é que isso vai ter um efeito mais prejudicial do que teve em mim e na minha geração dos anos 50 e 60."

Há alguma verdade nesta argumentação, tal como há no refrão dos marketeers de que não são eles que determinam os valores de uma cultura, mas simplesmente empregam os meios mais eficazes para vender um produto. Os media e o marketing constituem a vanguarda duma cultura sexualizada, e são eles os legítimos alvos da preocupação dos pais. Mas, a ser bem visto, os exemplos mais ofensivos do "marketing do sexo" dirigido a crianças não emergiram dum vazio cultural.

A sexualização dos media e do marketing encontra-se alimentada pela crescente sexualização da sociedade e da sua cultura, o que por sua vez pode estar relacionado com alterações do comportamento sexual. Nas últimas décadas, a vida da pessoa adulta sofreu mudanças significativas no âmbito da sexualidade. Três factores importantes são: o aumento da idade do primeiro casamento, o aumento da idade dos pais e a descida da idade da primeira relação sexual.

A média de idades do primeiro casamento na Austrália subiu de 23.8 anos para homens e 21.2 anos para mulheres em 1966, para 29.6 anos para homens e 27.7 anos para mulheres em 2008.

A idade mediana dos progenitores também aumentou: de 29.7 para homens e 26.9 anos para mulheres em 1983, para 33.1 anos para homens e 30.7 anos para mulheres em 2008.

É difícil de encontrar informação fiável relativamente à idade da primeira relação sexual, mas em 2003 um estudo denominado "Sexo na Austrália" descobriu que a idade mediana para o homem desceu de 18 anos entre homens nascidos entre 1941 e 1950, para 16 anos entre homens nascidos entre 1981 e 1986. Para as mulheres nascidas nos mesmos períodos, a idade mediana da primeira relação sexual desceu dos 19 anos para os 16 anos. Nos E.U.A e Inglaterra o padrão é muito similar.

Estes números revelam uma crescente separação entre a experiência sexual e o seu contexto tradicional, como o casamento e nascimento dos filhos. Se um jovem espera ter o seu "debute sexual" aos 16 anos, e o casamento e nascimento de filhos 11 a 17 anos mais tarde, então claramente o sexo deixa de estar limitado ao contexto de casamento e procriação. Então, a que contexto pertence agora o sexo?

Quando o sexo é parte do pacote de casar e ter filhos, encontra-se necessariamente sujeito a um apertado conjunto de condições e responsabilidades. Considerações práticas como rendimento, habitação e estabilidade aplicam-se necessariamente. O sexo torna-se apenas num aspecto do compromisso duradouro assumido entre ambos.

Mas se o sexo está divorciado de tais condições, então resta-nos um acto meramente natural e agradável que é limitado apenas pelas escolhas e oportunidades de cada um. Esta é a forma idealizada do sexo no mundo moderno. Tudo o que interessa é maximizar o potencial sexual, cultivando atributos sexuais considerados desejáveis na nossa sociedade actual.

No cenário mais alargado destes pontos de vista opostos sobre o sexo, a sexualização das crianças emergiu como um ponto de conflito. O conflito emerge porque a visão do sexo que é promovida pela nossa cultura é tão livre de constrangimentos e responsabilidades, que não há nada em princípio que dissuada ou previna que as crianças sejam introduzidas nessa mesma cultura.

Quais são, afinal, os requisitos para o sexo nesta forma idealizada? Consentimento, e oportunidade. Como podem as crianças preparar-se para este aspecto da cultura dos adultos? Maximizando o seu potencial sexual, de acordo com os atributos sexuais considerados desejáveis na nossa sociedade.

A verdade desconcertante é que a nossa cultura está a fazer o que é suposto fazer: preparar as crianças para o seu futuro papel de adultos. O problema é que no que diz respeito ao sexo, este papel requer nada mais do que alcançar alguma semelhança com os ideais do sexo promovidos na nossa cultura - a moda, o físico, e a atitude. Os indivíduos não precisam do planeamento de longo prazo habitualmente necessário para fazer compromissos que implicam uma mudança de vida. Eles não precisam de independência financeira para sustentar uma família. Eles não precisam de considerar como é que se vão relacionar com o seu parceiro sexual dentro de dez, vinte ou trinta anos. A nossa cultura não precisa que eles sejam pessoas adultas mas meramente que se pareçam com pessoas adultas.

Se a sexualização das crianças é uma extensão lógica da nossa actual cultura sexual, então a defesa do princípio que é inocência da infância é na verdade um verdadeiro movimento contra-cultural. Como campanha de base, promete destacar tanto o fenómeno chamado "pedofilia corporativa" como a hiper-sexualização da cultura circundante.

Esta vaga de opinião pública pode não resolver os problemas culturais implícitos, mas oferece aos pais a oportunidade, e - esperemos - a coragem de levar para a frente a cultura em defesa das suas crianças.

Zac Alstin trabalha no Southern Cross Bioethics Institute em Adelaide, South Australia.

O original do artigo está em www.mercatornet.com
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Zac Alstin

Aceprensa

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