sexta-feira, 19 de março de 2010

MENSAGENS PERIGOSAS PARA A JUVENTUDE

Relatório pede que esta seja defendida

As imagens sexuais e as mensagens dos media incentivando um comportamento promíscuo são uma ameaça para os jovens, afirma um relatório publicado pelo Ministério do Interior do Reino Unido.

O Ministério encarregou uma psicóloga independente, Dr. Linda Papadopoulos, de examinar o impacto de uma cultura invadida pelo sexo, no contexto dos esforços do governo britânico para reduzir a violência contra as mulheres.

“Mudar as atitudes irá levar muito tempo, mas isso é essencial, se quisermos deter a violência contra as mulheres e jovens”, comentou o Ministro do Interior, Alan Johnson, em comunicado de imprensa, dia 26 de Fevereiro.

Tanto o governo do Partido Trabalhista como a oposição do Partido Conservador estão preocupados com o impacto da cultura contemporânea sobre os jovens. Antes da publicação do relatório, o líder dos conservadores, David Cameron, disse que estava a favor de restringir a publicidade irresponsável dirigida às crianças, relatou a BBC dia 26 de Fevereiro.

No mesmo relatório - chamado “Sexualization of Young People: Review” (Sexualização dos jovens: Análise) - Papadopoulos explicava que a sua pesquisa fazia parte de uma consulta que visa aumentar a consciência sobre o problema da violência contra as mulheres. Investigava em particular a questão de se saber se há uma ligação entre a sexualização da cultura e a violência.
“As mulheres são veneradas - e recompensadas - por seus atributos físicos, e tanto as jovens como os rapazes são pressionados a imitar estereótipos dos respectivos géneros cada vez mais novos”, comenta o relatório.

O relatório define a sexualização como “imposição da sexualidade adulta às crianças e jovens antes que estas sejam capazes de lidar com isso, mental, emocional e fisicamente”.

Crianças como adultos, adultos como crianças

O uso de imagens sexuais nos media não é precisamente um fenómeno recente. Há bem pouco tempo, nos últimos anos em particular, houve um aumento de seu volume sem precedentes. Além disso, os rapazes são apresentados cada vez mais como se fossem adultos, enquanto que as meninas são infantilizadas”.

“Isso mistura as linhas entre maturidade e imaturidade sexual e, na prática, legitima a noção de que as crianças podem ser tratadas como objectos sexuais”, afirma o texto.

Ao tratar de crianças, uma das preocupações destacadas no relatório é que, em idade jovem, as capacidades cognitivas necessárias para fazer frente a essas imagens persuasivas dos media não se desenvolveram. Junto com essa falta de capacidade para lidar com tais imagens, a capacidade de difusão de uma cultura sexualizada resulta que as crianças estejam frequentemente expostas à materiais que não são apropriados para sua idade.

O relatório observa que um dos temas dominantes nos programas populares é que as meninas devem apresentar-se como sexualmente desejáveis, se quiserem ser populares entre os rapazes. Isso está presente até mesmo para crianças mais novas, que são incentivadas a se vestir de forma que chamem atenção por seus atributos sexuais ainda que não possuam.

Muitas bonecas, por exemplo, são apresentadas de uma forma notoriamente sexualizada. Objectos como caixas de lápis e outros artigos de escola para crianças ostentam logótipo da Playboy. Roupa íntima com enchimento é comercializada e vendida para crianças até os oito anos.

E assim, a mensagem predominante para os meninos é que devem ser sexualmente dominantes e tratar o corpo feminino como objecto.

Televisão, filmes, músicas, junto com os meios impressos, todos apresentam aos jovens essa mensagem com conteúdos com excessivamente sexuais, observou o relatório.

Transtorno adolescente

Posto que as crianças recebem contínuos apelos a adequarem-se a tais imagens, um dos resultados que pode ocorrer é o descontentamento com o próprio corpo e uma baixa auto-estima que, por sua vez, pode provocar depressão e transtornos alimentares. Junto a esses transtornos como a anorexia, as mulheres jovens recorrem em grande parte à cirurgia plástica, sob pressão de se transformar em uma imagem idealizada.

As crianças e adolescentes também se encontram nos media com uma grande quantidade de conteúdo que é explicitamente sexual ou pornográfico, acrescentou Papadopoulos. A facilidade do acesso à internet, junto com o material enviado por correio electrónico e os telefones celulares, resulta na difícil restrição desses conteúdos aos pequenos.

De facto, observa o relatório, a indústria do sexo está liberalizada e tornou-se parte da cultura quotidiana. Os anúncios publicitários tornaram-se rotina na televisão, com conteúdos de casas nocturnas, salas de conversa e canais de sexo na TV.

“O facto de que as celebridades são habitualmente apresentadas como realizadas e cobiçadas pela sua atracão sexual e a sua aparência - com pouca referência à inteligência ou às suas capacidades - lança uma poderosa mensagem para as jovens sobre que é o que vale a pena, e é o que elas devem ter como objectivo”, diz o relatório.

Os pesquisadores comprovaram, ao examinar o conteúdo das páginas da web dos jovens, que muitos adolescentes colocam imagens sexualmente explícitas de si próprios, e entre seus amigos a linguagem depreciativa e humilhante é comum, afirma o relatório.

A sexualização das jovens também está contribuindo para um mercado de imagens de abusos pedófilos, relata o estudo. Muitas meninas jovens se apresentam de forma provocadora e abertamente sexual para a visualização de outros jovens através de redes sociais ou por telemóveis.

“Os próprios jovens estão produzindo e trocando o que não é nada mais que ‘pornografia infantil’ - um facto confirmado pelo crescente número de adolescentes que estão sendo condenados pela posse desse material”, comentava o estudo.

Sexualização e violência

Ao tratar a questão da relação entre sexualização e violência contra as mulheres, o relatório citava investigações que mostram que os adultos que viram imagens de mulheres como objectos sexuais tendem a aceitar mais a violência.

“As evidências reunidas sugerem um contexto claro entre o consumo de imagens sexualmente explícitas, uma tendência a ver mulheres como objectos, e a aceitação de atitudes e comportamentos agressivos como norma”, dizia o relatório.

Papadoupoulos também se referiu a uma recente pesquisa que mostrava que para muitos jovens a violência dentro das relações é algo comum. No grupo de idade entre 13 e 17 anos, uma de cada três jovens adolescentes havia sido submetida a actos não consentidos durante uma relação, e uma de cada quatro havia sofrido violência física.

Os investigadores citados no relatório também sugeriram que, para incentivar os espectadores masculinos a perceber as mulheres como objectos sexuais, a publicidade promove uma mentalidade em que as mulheres são vistas como subordinadas e, portanto, esse é o motivo de sofrerem violência sexual.

“A repetida apresentação dos homens como dominantes e agressivos e das mulheres como subordinadas está sem dúvida perpetuando a violência contra as mulheres”, refere o estudo.

Rebelião

O relatório conclui apelando às pessoas que se dêem conta de que a sexualização é um tema de profunda importância, com graves consequências para os indivíduos, famílias e sociedade. Estudos semelhantes nos Estados Unidos e Austrália chegaram às mesmas conclusões. Ao mesmo tempo, pede que se pesquise esse fenómeno. O relatório terminava com uma lista de 36 recomendações específicas sobre como tratar a sexualização.

Além dos relatórios como o recentemente publicado pelo Ministério do Interior britânico, a oposição à sexualização da cultura contemporânea cresce entre as pessoas comuns.

Um exemplo disso vem da Austrália, com o website Collective Shout, que fornece uma plataforma interactiva para indivíduos e grupos para actuar contra as empresas e os meios de comunicação que apresentam as mulheres como objectos e a sexualização de jovens para vender produtos e serviços.

No final, talvez, a solução desses problemas como a degradação da sexualidade não consista em estabelecer mais regulamentos governamentais. O que é preciso de verdade é uma mudança básica da opinião pública que seja resultado de uma revolta contra a exploração das mulheres, uma revolta que surja de pessoas conhecidas, cansadas de ver como a dignidade humana está sendo degradada.

Por Padre John Flynn, L.C.

(Fonte: ‘Zenit’ em português com edição e adaptação de JPR)

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