domingo, 26 de abril de 2009

“O Papa e o mistério da lua” - importante Editorial do Director


Inicia o quinto ano de pontificado de Bento XVI, eleito com uma rapidez quase sem precedentes pelo conclave mais numeroso que jamais se reuniu. E contudo o novo Papa não celebrou a sua eleição com tons triunfais, e na homilia da missa inaugural do seu serviço como Bispo de Roma pronunciou uma frase surpreendente: "Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos". Uma imagem forte, cujo significado se compreende sobretudo nestes últimos meses atormentados.

Conhecedor da tradição, o Pontífice sabe que as vicissitudes da Igreja neste mundo são como as fases alternadas da lua, que continuamente cresce e decresce, cujo esplendor depende da luz do sol, ou seja, de Cristo. Assim, o mistério da lua descrito pelos antigos autores cristãos é o da Igreja, muitas vezes perseguida, com frequência obscurecida pela sujidade por causa dos pecados de muitos dos seus filhos como Joseph Ratzinger denunciou pouco antes da sua eleição mas que cresce sempre de novo, iluminada pelo seu Senhor.

Levar e mostrar a luz de Cristo à obscuridade do mundo como fez várias vezes o Bispo de Roma no escuro inicial da vigília pascal, com um gesto repetido em todos os recantos da terra é a tarefa essencial do Papa. Consciente de que em muitos Países, também nos de longa tradição cristã, esta luz corre o risco de se apagar, como escreveu na última carta aos bispos. Confirmando, com tonalidades de dolorosa admiração perante o falseamento dos factos, as prioridades menosprezadas do seu pontificado.

Antes de tudo, o testemunho e o anúncio de que Deus não está distante de cada pessoa humana e que é verdadeiramente, como repetem incessantemente as liturgias orientais, amigo dos homens. Por isso Bento XVI pede para não excluir o transcendente do horizonte da história, por isso pede com a mesma confiança dos seus predecessores para não se fechar pelo menos à possibilidade, razoável, de Deus. Que não é um deus qualquer ou, pior, um ídolo em sociedades materialistas nas quais a idolatria é semelhante à da antiguidade mas o Deus que se revelou a Moisés, isto é, a Palavra que se fez carne em Jesus.

Para falar de Deus, Bento XVI celebra-o na liturgia e explica-o como poucos bispos de Roma souberam fazer, solícito da paz na Igreja que deseja restabelecer, como fez com uma oferta de misericórdia e de reconciliação que está em perfeita continuidade com o Vaticano II em relação aos bispos lefebvrianos. Por isso o Papa deseja progredir no caminho ecuménico, por isso confirmou a vontade de amizade e de busca religiosa comum com o povo judaico, por isso acelera o confronto com as outras grandes religiões, com a atenção dirigida sobretudo às raízes culturais; de forma que este confronto dê frutos reais sobre temas concretos, do respeito da liberdade religiosa ao da dignidade da pessoa humana, como acontece agora com os muçulmanos.

Então fere que este proceder límpido seja ignorado e se continue a representar, sobretudo nalguns Países europeus, Bento XVI e os católicos em chave negativa e hostil. Como aconteceu com o obscurecimento da viagem em África e com o silêncio mediático face às homilias pascais. Mas o Papa não tem medo dos lobos. E não está sozinho porque é apoiado pelas orações da Igreja. Que, como a lua, sempre tira a sua luz do sol.


Giovanni Maria Vian

Saudação do Papa aos portugueses presentes na Praça de São Pedro para a canonização de S. Nuno de Santa Maria



No final da celebração, imediatamente antes da bênção, Bento XVI saudou especialmente, em diversas línguas, os peregrinos presentes. Estas as palavras pronunciadas em português, e dirigidas aos cerca de dois mil portugueses que se encontravam na Praça de São Pedro.

“Dirijo a minha saudação grata e deferente à Delegação oficial de Portugal e aos Bispos vindos para a canonização de Frei Nuno de Santa Maria, com todos os seus compatriotas que guardam no coração o testemunho do «Santo Condestável»: deste modo lhe chamavam já os pobres do seu tempo, vendo o sentido de compaixão e o despojamento de quem deu os seus bens aos mais desfavorecidos. Deixou-nos assim uma nobre lição de renúncia e partilha, sem as quais será impossível chegar àquela igualdade fraterna característica duma sociedade moderna, que reconhece e trata a todos como membros da mesma e única família humana.

Em particular saúdo os Carmelitas, a quem um dia se prendeu o olhar e o coração deste militar crente, vendo neles o hábito da Santíssima Virgem e no qual depois ele próprio se amortalhou. Ao desejar a abundância dos dons do Céu para todos os peregrinos e devotos de São Nuno, deixo-lhes este apelo: «Considerai o êxito da sua carreira e imitai a sua fé» (Heb 13, 7).”


(Fonte: site Radio Vaticana)

São Nuno de Santa Maria já foi canonizado por Bento XVI. Louvado seja o Senhor!



Nuno de Santa Maria tornou-se este Domingo, 26 de Abril, o primeiro português a ser canonizado desde que Paulo VI, a 3 de Outubro de 1976, declarou Santa a religiosa Beatriz da Silva. Foi no decorrer da celebração eucarística que Bento XVI preside esta manhã, na Praça de São Pedro. São cinco os novos Santos que o Papa proclama: para além do Condestável, os beatos italianos Arcangelo Tadini, Bernardo Tolomei, Gertrude (Caterina) Comensoli e Caterina Volpicelli.

Do novo Santo português, a breve biografia esboçada no livro distribuído aos participantes na celebração destaca o espírito contemplativo, a pobreza, a humildade e a caridade, a devoção à Eucaristia e a Nossa Senhora, citando-se Bento XV, que o beatificou em 1918.O rito de canonização, em latim, teve lugar na parte inicial da Missa, logo a seguir ao acto penitencial. O Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, D. Angelo Amato, acompanhado pelos postuladores das causas, pede que os cinco beatos sejam inscritos no “álbum dos Santos” e “como tal sejam invocados por todos os cristãos”.

Nessa altura, procedeu-se à leitura da breve biografia de cada um dos novos Santos e canta-se a Ladainha de todos os santos. Bento XVI proferiu, em seguida, a Fórmula de canonização. Foram então colocadas junto ao altar as relíquias dos novos Santos e a assembleia repete “Aleluia”. O Arcebispo Amato e os postuladores agradeceram ao Papa. O prefeito da Congregação para as Causas dos Santos pediu que fosse redigida a Carta Apostólica a respeito das canonizações que acabaram de ter lugar. Bento XVI respondeu “Decernimus”, ou seja, “ordenamo-lo”. As Leituras são as deste III Domingo do Tempo pascal. A primeira foi proclamada em português e a segunda em inglês. Como nas mais solenes celebrações presididas pelo Papa, o Evangelho foi cantado duas vezes, primeiro em latim e depois em grego.



Seguiu-se, na homilia, a referência do Papa, em português, ao Beato Nuno, partindo das palavras do Salmo Responsorial – “Sabei que o Senhor fez em mim maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo”:

“Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus –, abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo.

Características dele são uma intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o convento do Carmo por ele mandado construir.

Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélica, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.”

A concluir a homilia, a referência a duas novas Santas, ambas italianas. Antes de mais Gertrudes Comensóli (de Bréscia, norte de Itália, no século XIX), que “desde pequenina sentiu uma particular atracção por Jesus presente na Eucaristia”. “A adoração de Cristo eucarístico tornou-se o objectivo principal da sua vida, poderíamos quase dizer a condição habitual da sua existência”.

“Foi de facto diante da Eucaristia que santa Gertrudes compreendeu a sua vocação e missão na Igreja: dedicar-se sem reservas à acção apostólica e missionária, especialmente a favor da juventude”.

Finalmente, evocada Caterina Volpicelli, que viveu em Nápoles, em finais do século XIX, “tempo de crise espiritual e social”:

“Também para ela o segredo foi a Eucaristia. Às suas primeiras colaboradoras recomendava que cultivassem ma oração uma intensa vida espiritual e sobretudo o contacto vital com Jesus eucarístico”.

O Papa concluiu dando graças a Deus pelo dom da santidade que refulge nos cinco novos canonizados:

Deixemo-nos atrair pelo seu exemplo, deixemo-nos guiar pelos seus ensinamentos, para que também a nossa existência se torne um cântico de louvor a Deus, seguindo os passos de Jesus, adorado com fé no mistério eucarístico e servido com generosidade no nosso próximo”.


(Fonte: site Radio Vaticana com edição [tempo dos verbos de futuro para passado] de JPR)

Amar o planeta e o próximo, também é sabermos respeitar e defender os nossos recursos naturais

«No corrente ano, presta-se atenção sobretudo à água, um bem extremamente precioso que, se não for compartilhado de maneira equitativa e pacífica, infelizmente vai tornar-se um motivo de tensões duras e conflitos ásperos.»


Bento XVI – Excerto homilia proferida perante meio milhão de jovens na Esplanada de Montoroso no Loreto a 2 de Setembro de 2007

São Josemaría Escrivá nesta data em 1934

Escreve ao P.e. Francisco Morán, Vigário da diocese de Madrid, e fala-lhe da próxima recolecção para jovens que frequentam a Academia DYA: “Com a ajuda de Deus, espero que seja fecunda, porque os jovens universitários corresponderam muito bem às recolecções anteriores (...) Peço-lhe, Sr. Vigário, que reze por esta rapaziada na Santa Missa”.


(Fonte: http://www.pt.josemariaescriva.info/showevent.php?id=1438 )

Visita televisiva guiada dos tesouros do Vaticano


Uma nova série de televisão permite aos telespectadores explorar a riqueza da arte nos Museus do Vaticano sem viajar até Roma. A maior rede de televisão religiosa do mundo, EWTN, em colaboração com a Fundação de Belas Artes Primavera e os patrocinadores de arte dos Museus do Vaticano criou Catholic Canvas, uma série de dez episódios que leva a audiência a fazer uma visita profissional guiada através da arte sacra.

A produtora Mary Shovlain disse que o objectivo dos programas é deixar para trás as más interpretações da arte sacra por parte de historiadores de arte seculares e se centra na mensagem evangelizadora dos artistas mais talentosos da história. As séries são apresentadas pela professora Liz Lev da Universidade Duquesne na Itália, que presta especial atenção ao significado religioso de cada obra.

Os episódios estão divididos em temas teológicos como os anjos, Maria, a Paixão, a Ressurreição e o Juízo Final. Cada episódio se conclui com a mensagem do Reverendo Mark Haydu, diretor internacional dos Patronos de arte dos Museus do Vaticano, sobre como se está ajudando a restaurar e preservar as valiosas obras de arte nos museus. Algo sobressaliente nas séries é a cobertura detalhada da Capela Sistina.

EWTN pôde filmar por quatro dias o interior da capela para esta séria, uma oportunidade que nunca se tinha concedido a nenhuma rede de televisão. Catholic Canvas será apresentado pela primeira vez na EWTN em Novembro. Serão feitas várias reprises desta transmissão cada semana.


(Fonte: H2O News)

S. Nuno Álvares Pereira


Nuno Álvares Pereira é canonizado hoje em Roma na Praça de S. Pedro em cerimónia presidida por Bento XVI

O novo Santo português

Nuno de Santa Maria será o oitavo santo do catolicismo português. Às virtudes da sua vida, assumidas segundo a experiência católica de olhar os outros e as coisas, acrescenta-se o facto do seu percurso biográfico estar intimamente relacionado com a História de Portugal, a sua independência e consolidação da nacionalidade.

No limiar da celebração de canonização, em Roma, a 26 de Abril, a Agência ECCLESIA apresenta um amplo dossier/destacável com informação sobre a sua vida, o processo de canonização e, por último, as representações iconográficas do Santo Condestável, pela pena de D. Carlos Azevedo. Acrescenta-se a análise a esta canonização pelo Cardeal Saraiva Martins e a opinião de António Bagão Félix, Inês Dentinho e Guilherme d’Oliveira Martins. Incluem-se ainda o testemunho do vice-postulador da causa, do Geral da Ordem do Carmo e de Guilhermina de Jesus, a mulher miraculada por intercessão do Condestável.

Nascido a 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bonjardim (actual distrito de Castelo Branco), o novo santo português foi um dos portugueses que mais profundamente marcaram a história do nosso país. Filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior dos Hospitalários de Portugal, e de D. Iria Gonçalves de Carvalhal, dama da Infanta Dona Beatriz (filha de D. Fernando), Nuno Álvares Pereira foi 3º conde Ourém, 7º de Barcelos e 2º de Arraiolos. Falecido em 1431, no Carmo de Lisboa, sabe-se que D. Duarte pediu para que se organizasse o seu processo de canonização em 1437, ou seja, apenas seis anos após a sua morte.

Primórdios

Adquiriu o título de «Condestável do Reino» devido aos méritos na guerra de 1385 entre Portugal e Castela. No Arquivo da Casa de Bragança existia, até ao terramoto de 1755, o diploma original no qual o Mestre de Avis, D. João I, lhe concedia o título de «Condestabre» do reino e, para lhe agradecer, o rei faz-lhe a doação do Condado de Ourém e de outras terras nomeadas. (Cf. Tarouca, Carlos da Silva – O «Santo Condestável» pode ser canonizado?. Brotéria. Lisboa. XLIX (1949) 129-140.) Na Torre do Tombo (Lisboa) existe também um documento – a cópia coeva, em pública forma, da carta do mesmo rei, com a qual, no Porto, a 8 de Novembro faz a doação ao mesmo D. Nuno Álvares Pereira, Condestável e Conde de Ourém, do Condado de Barcelos (Cf. Tarouca, Carlos da Silva).

Com esta documentação fica excluída qualquer dúvida a respeito da sua identidade e dos mais importantes feitos da sua vida. Para provar que D. Nuno e o Condestável eram a mesma pessoa basta recorrer a uma carta do Papa Urbano VI para o bispo de Viseu, a 8 de Dezembro de 1386, cujo original existia até ao referido terramoto no Carmo de Lisboa. Nela, o Papa chama Nuno, Conde de Barcelos, ao fundador do convento. Esta não é a única carta de Urbano VI ao Condestável. Segundo o cronista do Carmo, Pereira de Sant´Anna, o Papa envia-lhe dois documentos – assinados a 26 de Novembro de 1387 – onde realça: “Revalidava o que antes obtivera, para contrair matrimónio com a senhora D. Leonor de Alvim, sem embargo de parentesco” e a outra concede-lhe privilégios de missas para o conde, esposa e família.

Recorrendo ao artigo de Carlos da Silva Tarouca, encontram-se provas que D. Duarte pediu a canonização de D. Nuno Álvares Pereira. No Códice Ashburnham 1792 da Biblioteca Laurenziana de Florença existem dois volumes de originais, pertencentes à correspondência original que ao abade beneditino D. João Gomes chegava de Portugal. Neste códice encontra-se a carta original (publicada pelo Pe. Domingos Maurício: Brotéria VII-1928) de D. Duarte ao abade de Florença e seu conselho. Assinado a 21 de Julho de 1437, neste documento o rei português queixava-se de ainda não ter recebido “O desembargo que saiu do canonizamento do Santo Condestabre per que se tire a inquirição que sobre isto se costuma fazer”. Conclui-se que o Papa mandou começar o processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira.

O documento contém também mais informações que ajudam a compreender o início deste processo. Nele, D. Duarte envia a D. João Gomes (abade beneditino) a oração litúrgica – feita pelo infante D. Pedro (faleceu em 1449) – e o esboço do panegírico que devia ser pronunciado por ocasião da canonização. Tanto D. Duarte como os irmãos tomavam a sério o processo de canonização do condestável. Para prová-lo, existe uma cópia, tirada pelo cronista-mor do reino, Gomes Eanes Azurara, onde são elencados os milagres atribuídos à sua intercessão.

A «oração litúrgica» do Infante D. Pedro é um documento de importância capital, sendo a única fonte coeva, que fala claramente da santidade de vida. Este Códice da Cartuxa de Évora – actualmente está na Torre do Tombo – é a única fonte que conservou a data da morte do Beato Nuno: Dia de Páscoa de 1431, isto é, 1 de Abril.

Nascimento do culto

Em relação ao início do culto que se prestava ao Santo Condestável, Jorge Cardoso no «Hagiológia Lusitano» (Cardoso, George – Agiologio Lusitano III. Lisboa, 1666) e, sobretudo, José Pereira de Sant´Ana na sua «Crónica dos Carmelitas» (Sant´Anna, Joseph Pereira – Chronica dos Carmelitas da Antiga e Regular Observância I. Lisboa, 1745) relatam, longamente, além da sua vida virtuosa, os altares e imagens que lhe eram dedicados, as missas que se celebravam em sua honra, as trasladações das suas relíquias, as peregrinações ao seu túmulo, e as muitas graças e milagres que eram atribuídas à sua intercessão.

Perante tais relatos pensou-se logo em obter do Papa a confirmação deste culto pela beatificação e canonização. Sabe-se que D. Duarte estimava muito o condestável. Quando era infante visitava-o com frequência no Convento do Carmo e tomou a iniciativa de pedir a sua canonização (Cf. Maurício, Domingos – Para a história do culto do B. Nun´Alvres. Brotéria. Lisboa. VII. 1928).

Como o desejo não foi realizado, nos reinados de D. João IV e D. Pedro II, os prelados da corte enviaram uma súplica ao Papa a pedirem a canonização de D. Nuno Álvares Pereira, súplica que foi corroborada pelos monarcas.

«Ventilou-se esta questão nas Cortes de 1674, as últimas que se reuniram antes da revolução de 1820. Privado el-rei D. Afonso VI do governo em 1667, o regente seu irmão convocou Cortes que se reuniram em 20 de Janeiro de 1674, na sala dos Tudescos do Paço da Ribeira. O braço da nobreza reuniu separadamente, no dia 22, no Mosteiro de Santo Elói, para eleger os trinta na forma costumada; e eleitos os trinta, passaram a ter as suas sessões ás segundas, quartas e sextas-feiras em S. Roque, na Capela de Nossa Senhora do Pópulo. Foi na 12ª Sessão, segunda-feira, 22 de Março, que se discutiu a questão da canonização de Nuno Álvares Pereira.» (Martins, Oliveira – A vida de Nun`Alvares. Lisboa: Guimarães Editores, 1955)

O processo não teve o andamento desejado. Somente nos fins do século XIX, as diligências ganharam novo fôlego com as instâncias do Postulador Geral da Ordem dos Carmelitas. Em 1894, o então Cardeal Patriarca, D. José Sebastião Neto, nomeou juiz da causa o arcebispo de Mitilene, D. Manuel Baptista da Cunha, futuro arcebispo de Braga. Dadas as vicissitudes “dos últimos tempos da Monarquia e princípios da República, o processo só terminou no tempo do Patriarca D. António Mendes Belo” (Leite, António – A caminho da canonização do beato Nun´Álvares. Brotéria. Lisboa. LXX (1960). 617-627).

Enviado o processo para Roma, e feitas as diligências na Sagrada Congregação dos Ritos (actual Congregação para as Causas dos Santos), Bento XV, pelo decreto «Clementissimus Deus» da mesma congregação, com data de 23 de Janeiro de 1918, confirmava o culto prestado a Nun´Álvares, increvendo-o no número dos beatos (O texto do decreto encontra-se na «Acta Apostolicae Sedis», 10 (1918) 102 - 196).

Como é natural, a beatificação do santo condestável trouxe um grande incremento no seu culto. Em todas as dioceses começou a celebrar-se a sua festa litúrgica, 6 de Novembro.

Nas comemorações do VIII centenário da fundação da nacionalidade, em 1940, o governo português e os bispos das dioceses pediram ao Papa para que fosse reassumida a causa da canonização do Beato Nuno. Pio XII satisfez o pedido através de um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, com data de 28 de Maio de 1941 (O texto do decreto encontra-se na «Acta Apostolicae Sedis», 33 (1941) 399 - 400).

O número de testemunhos episcopais acerca da santidade de Nuno Álvares é considerável, sendo vários os tornados públicos a seguir à beatificação, nos centenários do nascimento e da morte, e na peregrinação das Relíquias pelo País, em 1960, atura em que foi publicada uma Pastoral Colectiva do Episcopado.

O processo de canonização do Beato Nuno foi reaberto a 13 de Julho de 2003, nas ruínas do Convento do Carmo, com sessão presidida por D. José Policarpo. O cardeal Patriarca definiu nessa celebração o Beato Nuno de Santa Maria como um modelo a seguir por todos os que exercem funções de responsabilidade. “Ele é um exemplo de um cristão que exerceu as suas missões civis com a coerência de um cristão” – sublinhou.

A 1 de Maio de 2004, nas comemorações dos 150 anos do Dogma da Imaculada Conceição, o Santuário de Vila Viçosa recebeu as relíquias do beato. Na homilia da celebração, D. Maurílio de Gouveia, então arcebispo de Évora, disse aos peregrinos que, nas constantes deslocações e correrias por caminhos de Portugal, D. Nuno dava “um testemunho inquebrantável da fé cristã; norteavam-no os critérios do Evangelho; alimentava-o a oração e, sobretudo, a Eucaristia”. E acrescentou: “Trabalhou, como poucos, talvez como ninguém, pela defesa e pelo progresso do seu torrão natal”.

A notícia esperada surgiu a 21 de Fevereiro de 2009, quando Bento XVI anunciou a canonização do «Condestabre». Um caminho longo – cerca de 578 anos - que culmina, a 26 deste mês, com a inscrição de Nuno Álvares Pereira no álbum dos santos.


Luis Filipe Santos


Dossier Luís Filipe Santos 22/04/2009 10:47 10058 Caracteres 1586 Santo Condestável


(Fonte: site Agência Ecclesia)