domingo, 19 de julho de 2009

As “Confissões” do braço direito do Papa


Como Santo Agostinho nas suas “Confissões”, o cardeal Tarcisio Bertone, o principal colaborador do Papa abriu o coração para revelar experiências e momentos nunca antes contados num diálogo que teve lugar no Palácio Apostólico.

Cardeal Bertone: Como disse anteriormente, tive algumas dificuldades no caminho da formação, por causa de alguma nostalgia do passado, da vida com meus amigos, porém mantive-me firme no seguimento da vocação. Mas os meus amigos, que não pensavam que eu seguiria aquele caminho, sobretudo os meus amigos de liceu, porque frequentei o liceu já como salesiano, mas com cerca de trinta companheiros, que agora são profissionais na vida e desempenham um belo papel na sociedade italiana, eles ajudaram-me. Diziam-me: "Se se tornar um padre, torne-se um sacerdote como Francesco Amerio”. Era o nosso grande professor do liceu, de História e Filosofia, e também de Religião. Foi um modelo para mim que me sustentou e de quem guardei as anotações das aulas de Religião. Até hoje. Para se ter ideia da influência e do impacto deste sacerdote, deste professor, que os meus companheiros me indicavam como modelo.

Depois enfrentei algumas dificuldades, especialmente durante o período de 1968 a 1972, porque estava aqui em Roma, era professor na Universidade Salesiana, formador dos candidatos ao sacerdócio, quando tivemos, no então Pontifício Ateneu Salesiano, 140 estudantes de Teologia, que enfrentaram as pressões e sentiram a influência do movimento de 1968, dos debates, da agitação pública. Estávamos na época pós Concílio. Vivi como estudante, como jovem sacerdote, este belo tempo do Concílio. Mas houve momentos de grande atrito e conflitos de opinião e de pessoas; como superior, eu tinha de dar o parecer para a ordenação desses estudantes. Tivemos um diálogo próximo com os alunos. Aquele era o tempo das grandes assembleias de estudantes, com discussões que duravam horas, até mesmo o fim da tarde ou pela noite... Então eram momentos de tensão, mas também de superar as tensões.

Depois, como Bispo, e como Arcebispo das duas Arquidioceses que guiei, as duas por encargo do Papa João Paulo II, houve algum momento de confronto, por vezes difícil, às vezes com problemas que surgiram no âmbito da Igreja local. Já quando eu era secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, havia questões doutrinárias para nossa análise, o nosso juízo, e eram problemas muito graves, doutrinais, morais, disciplinares. Mas tinha no desempenho desse papel uma grande satisfação. Há o facto de ter guiado e de integrar uma comunidade fraterna, viver em comunhão fraterna, de forte amizade, que continua até agora, quando me encontro com ex-alunos ou bispos do mundo. Vivi momentos de verdadeira comunhão, de amizade fraterna na alegria e na fidelidade ao Papa, na alegria do cumprimento do nosso ministério sacerdotal e episcopal, e pelo facto de ter conduzido muitos jovens para o sacerdócio.

E depois há a paternidade episcopal nas ordenações sacerdotais e nas ordenações episcopais, que agora naturalmente multiplicam-se ainda mais, no meu cargo de Secretário de Estado, com a ordenação de muitos colaboradores do Papa e de muitos bispos locais. É uma grande satisfação: este grande povo de Deus formado organicamente pelos pastores da Igreja, com suas diversas responsabilidades, diferentes papéis, de acordo com sua vocação e de acordo com os carismas que o Espírito Santo distribui. Este povo que caminha junto em profunda unidade é realmente um belo sinal da bondade de Deus para a Igreja e para toda humanidade, que eu vivo nos encontros que tenho agora com as Igrejas locais, seja como representante pontifício ao redor do mundo, e também com os chefes de Estado que vêm visitar o Vaticano e demonstrar seu apreço, sua gratidão pelo trabalho da Igreja, pelo testemunho da Igreja, tanto no campo formativo, especialmente na educação, seja no âmbito da promoção humana, da promoção social, da assistência particular para com os mais fracos da sociedade.

Tenho de agradecer ao Senhor pelo dom do sacerdócio e pelo dom do episcopado. Desejo a todos um bom Ano Sacerdotal!




(Fonte: H2O News com adaptação de JPR)

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