sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Frei Tomás: o "boi mudo" ou "grande boi siciliano"

Para evitar atrair a estima pública e os louvores que recebera em Nápoles por seu saber Tomás, fechou-se num mutismo mal interpretado pelos seus condiscípulos. Ao que se acresce, "um grande corpo, lento e pesado, e uma placidez um pouco bovina servem-lhe de espesso envoltório para uma alma benigna e generosa, mas retraída; ele é tímido para além da humildade, e distraído para além da  contemplação" (G.K.Chesterton, Saint Thomas d'Aquin, versão francesa de Maximilien Vox, Librairie Plon, Paris, p. 20). Isso tudo leva a que o chamem de "boi mudo" ou "grande boi siciliano".

Sucedeu um dia que um condiscípulo, tomando a concentração de Tomás como sinal de que não entendera o que dissera o mestre, começou caridosamente a lhe explicar a matéria. Mas em determinado momento embaralha-se todo e não consegue ir adiante. Calmamente o "boi mudo" começou então a desenvolver a tese obscura, com muito mais clareza do que o fizera o próprio mestre. Os papéis então inverteram-se, e o condiscípulo suplicou a Tomás que sempre o ajudasse em suas dúvidas. Daí para frente não foi mais possível esconder aquele talento superior e fabulosa memória.

(Fonte: ‘Lepanto’ AQUI)

União entre o Rei santo e o Doutor santo

Detalhe do fresco “Triunfo de São Tomás de Aquino sobre os hereges, de Filippino Lippi 
A fama de São Tomás tornou-se universal, e todos queriam ouvi-lo. São Luís IX — o Rei Cruzado — consultava-o sobre todos os assuntos importantes. Certo dia convidou-o para sua mesa, o frade estava muito silencioso. De repente, dando um murro na mesa, Tomás exclamou: "Encontrei um argumento concludente contra os maniqueus". O rei, temendo que Tomás pudesse esquecer-se do argumento, chamou depressa o secretário para anotá-lo. "Edificante quadro medieval, bem demonstrativo da perfeita unidade que liga, nesse período nobilíssimo da História, os Reis e os Sábios, nos mesmos ideais da conquista da verdade e do serviço de Deus!" (João Ameal, op. cit., p. 115)

São Tomás de Aquino e a Paixão do Senhor

São Tomás de Aquino (1225-1274) é provavelmente o maior teólogo de toda a história da Igreja. Chamado pelo Magistério o «doutor comum» por sobressair às disputas de escola ou de tendência, escreveu numerosas obras entre as quais o seu Comentário ao Credo.

«Que necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla: para remédio contra o pecado e para exemplo daquilo que devemos fazer.

Foi em primeiro lugar um remédio, porque na paixão de Cristo encontramos remédio para todos os males em que incorremos por causa dos nossos pecados.

Mas não é menor a utilidade que tem como exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar toda a nossa vida. Quem quiser viver em perfeição, basta que despreze o que Cristo desprezou na Cruz e deseje o que Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude está ausente da Cruz.

Se queres um exemplo de caridade: Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos seus amigos. Assim fez Cristo na Cruz. E se Ele deu a vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por Ele.

Se procuras um exemplo de paciência, encontras na Cruz o mais excelente. Reconhece-se uma grande paciência em duas circunstâncias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora Cristo suportou na Cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque sofrendo não ameaçava; e como ovelha levada ao matadouro, não abriu a boca. É grande portanto a paciência de Cristo na Cruz: corramos com paciência à prova que nos é proposta, pondo os olhos em Jesus, autor e consumador da fé, que em lugar da alegria que Lhe era proposta suportou a Cruz, desprezando-lhe a ignomínia.

Se queres um exemplo de humildade, olha para o crucifixo: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer.»

(Collatio 6 super Credo in Deum - SÃO TOMÁS DE AQUINO – texto recolhido do Boletim Mensal de Março de 2013 da Paróquia de Nossa Senhora da Porta do Céu)