segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O Pilar da minha família, há 52 anos nesta data

Há 52 anos nesta data, o Senhor, pensava eu então do alto da minha soberba que tinha sido eu, perdoa-me Jesus por tamanha arrogância, ofereceu-me quem foi e é o Pilar da minha família e da minha vida terrena, união que concretizámos perante Deus muitos anos mais tarde no dia da Imaculada Conceição.

Com o passar dos anos e perante as dificuldades da vida tem-me aumentado este sentimento de gratidão para conTigo e para com ela, pelo que Te rogo a protejas e faças aproximar-se todavia mais de Ti e da Tua Igreja.

JPR

(texto escrito em 2012 apenas com o aumento do número de anos e que peço a Deus me permita republicá-lo por muitos e bons anos)

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Há nove anos, última Audiência de Bento XVI

Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado!
Ilustres Autoridades!
Amados irmãos e irmãs!

Agradeço-vos por terdes vindo em tão grande número a esta minha última Audiência Geral.

De coração, obrigado! Sinto-me verdadeiramente comovido e vejo a Igreja viva! E acho que devemos dizer obrigado também ao Criador pelo bom tempo que nos dá agora, ainda no Inverno.

Como fez o Apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto em meu coração que devo sobretudo agradecer a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra e assim alimenta a fé no seu Povo. Neste momento, alarga-se o horizonte do meu espírito e abraça toda a Igreja espalhada pelo mundo; e dou graças a Deus pelas «notícias» que pude receber, nestes anos de ministério petrino, acerca da fé no Senhor Jesus Cristo, da caridade que circula realmente no Corpo da Igreja e o faz viver no amor, e da esperança que nos abre e orienta para a vida em plenitude, para a pátria do Céu.

Sinto que tenho a todos comigo na oração, num presente que é o de Deus, onde reúno cada encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Reúno tudo e todos na oração, para os confiar ao Senhor, pedindo-Lhe que tenhamos pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, e possamos comportar-nos de maneira digna d’Ele, do seu amor, dando frutos em toda a boa obra (cf. Col 1, 9-10).

Neste momento, reina em mim uma grande confiança, porque sei, sabemos todos nós, que a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O Evangelho purifica e renova, dá frutos por todo o lado onde a comunidade dos fiéis o escuta e acolhe a graça de Deus na verdade e na caridade. Esta é a minha confiança, esta é a minha alegria.

Quando, no dia 19 de Abril de quase oito anos atrás, aceitei assumir o ministério petrino, uma certeza firme se apoderou de mim e sempre me acompanhou: esta certeza de que a Igreja vive da Palavra de Deus. Naquele momento, como já disse várias vezes, as palavras que ressoaram no meu coração foram: Senhor, porque me pedis isto…, uma coisa imensa!? Este é um grande peso que me colocais sobre os ombros, mas se Vós mo pedis, à vossa palavra lançarei as redes, seguro de que me guiareis, mesmo com todas as minhas fraquezas. E, oito anos depois, posso dizer que o Senhor me guiou verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude diariamente notar a sua presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve momentos de alegria e luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor.

Estamos no Ano da Fé, que desejei precisamente para reforçar a nossa fé em Deus, num contexto que parece colocá-Lo cada vez mais de lado. Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão. Numa bela oração, que se recita diariamente pela manhã, diz-se: «Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo com todo o coração. Agradeço-Vos por me terdes criado, feito cristão...». Sim! Estamos contentes pelo dom da fé; é o bem mais precioso, que ninguém nos pode tirar! Agradeçamos ao Senhor por isso mesmo todos os dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama, mas espera que também nós O amemos!

Mas não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora recaia sobre ele a primeira responsabilidade. Eu nunca me senti sozinho, ao carregar as alegrias e o peso do ministério petrino; o Senhor colocou junto de mim tantas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram e estiveram ao meu lado. E em primeiro lugar vós, amados Irmãos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram preciosos para mim; os meus Colaboradores, a começar pelo meu Secretário de Estado que me acompanhou fielmente ao longo destes anos; a Secretaria de Estado e a Cúria Romana inteira, bem como todos aqueles que, nos mais variados sectores, prestam o seu serviço à Santa Sé: são muitos rostos que não sobressaem, permanecem na sombra, mas precisamente no silêncio, na dedicação quotidiana, com espírito de fé e humildade, foram para mim um apoio seguro e fiável. Um pensamento especial para a Igreja de Roma, a minha diocese! Não posso esquecer os Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, as pessoas consagradas e todo o Povo de Deus: nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre senti grande solicitude e profundo afecto; mas também eu amei a todos e cada um sem distinção, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Todos os dias tinha presente cada um de vós na oração, com o coração de pai.

Depois, queria que a minha saudação e o meu agradecimento chegassem a todos: o coração de um Papa abraça o mundo inteiro. E queria expressar a minha gratidão ao Corpo Diplomático junto da Santa Sé, tornando presente a grande família das nações. Aqui penso também a todos aqueles que trabalham por uma boa comunicação, e agradeço-lhes o seu serviço importante.

Neste momento, queria agradecer verdadeiramente do coração também às inúmeras pessoas, de todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram comoventes sinais de atenção, amizade e oração. Sim! O Papa nunca está sozinho, pude experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos, e muitíssimas pessoas se sentem estreitamente unidas a ele. É verdade que recebo cartas dos grandes do mundo – dos Chefes de Estado, dos líderes religiosos, dos representantes do mundo da cultura, etc. –, mas recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente com o seu coração e me fazem sentir o seu afecto, que brota do facto de estarmos unidos com Jesus Cristo, na Igreja. Estas pessoas não me escrevem como se faz, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece; mas escrevem-me como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o sentido de um vínculo familiar muito afectuoso. Aqui pode-se tocar com a mão o que é a Igreja: não uma organização, uma associação para fins religiosos ou humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos. Poder experimentar a Igreja deste modo e quase tocar com as mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, num tempo em que muitos falam do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja está viva hoje!

Nestes últimos meses, senti que as minhas forças tinham diminuído, e pedi a Deus com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja . Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos.

Permiti-me, aqui, voltar mais uma vez àquele 19 de Abril de 2005 . A gravidade da decisão esteve precisamente no facto de que, daquele momento em diante, me comprometera sempre e para sempre com o Senhor. Sempre: quem assume o ministério petrino deixa de ter qualquer vida privada. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja. A sua vida fica, por assim dizer, totalmente despojada da dimensão privada. Pude experimentar, e estou a experimentá-lo precisamente agora, que um recebe a vida precisamente quando a dá. Eu disse, antes, que muitas pessoas que amam o Senhor, amam também o Sucessor de São Pedro e estão-lhe afeiçoadas; que o Papa tem verdadeiramente irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e que se sente seguro no abraço da vossa comunhão; é assim, porque deixou de se pertencer a si mesmo, pertence a todos e todos pertencem a ele.

Mas o «sempre» é também um «para sempre»: não haverá mais um regresso à vida privada. E a minha decisão de renunciar ao exercício activo do ministério não revoga isto; não volto à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro. Nisto, ser-me-á de grande exemplo São Bento, cujo nome adoptei como Papa. Ele mostrou-nos o caminho para uma vida, que, activa ou passiva, está votada totalmente à obra de Deus.

Agradeço a todos e cada um ainda pelo respeito e compreensão com que acolhestes esta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, através da oração e da reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que procurei diariamente viver até agora, e quero viver sempre. Peço que me recordeis diante de Deus, e sobretudo que rezeis pelos Cardeais, chamados a uma tarefa tão relevante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Que o Senhor o acompanhe com a luz e a força do seu Espírito!

Invocamos a materna intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, pedindo-Lhe que acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a Ela nos entregamos, com profunda confiança.

Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a Bênção Apostólica.

Preparemo-nos desde já para a Quaresma

O segundo mês do calendário litúrgico, o mês de Fevereiro, assinala, como data fundamental para a nossa piedade, o dia 2 de março, 4ª Feira de Cinzas. Principia a Quaresma, tempo de expectativa e de preparação da Páscoa, que neste ano calha a 17 de Abril. 

É certamente um período em que devemos estar mais atentos à penitência e à oração. A Páscoa assinala-nos a gloriosa Ressurreição de Jesus. Mas para que ela se realizasse, foi preciso primeiro que Nosso Senhor tivesse oferecido a sua vida, por todos e cada um de nós, no doloroso sacrifício da Cruz. 

Deste modo, não podemos viver os acontecimentos alegres do domingo de Páscoa, sem primeiro termos experimentado, com Jesus, as dores do Calvário, onde nos encontraremos bem acompanhados por Maria, que passa a ser, pouco antes da morte do seu Filho, nossa Mãe. 

Ora, as situações difíceis da vida, são bem aproveitadas por nós, quando sabemos suportar as suas agruras, pedindo a Deus ajuda para as aceitarmos como uma participação mais estreita no sacrifício de Jesus. Daí a necessidade da penitência e da oração. 

A primeira leva-nos a arrepender do mal que fazemos, pedindo perdão ao Senhor; a segunda, familiariza-nos no diálogo com Cristo, sabendo o que Ele nos pede e como devemos fazer a sua vontade. No final, nasce a alegria de sermos seus discípulos, porque n’Ele, com Ele e por Ele descobriremos a paz e a alegria verdadeiras. 

Para que a nossa relação com Deus não conheça muitas interrupções ao longo dia a dia, a Igreja propõe-nos muitas sugestões extremamente apelativas, que a sua enorme tradição foi concretizando ao longo dos tempos. Uma entre muitas, muito simples e acessível, consiste no convite que nos faz de dedicarmos cada dia da semana a uma devoção concreta. Fixando nela a nossa atenção e o nosso esforço, poderemos dialogar melhor com Deus. 

Assim, aos domingos, dia do Senhor, podemos louvar com mais intensidade a Santíssima Trindade, cobrindo as nossas horas e os nossos passos com jaculatórias ao Deus Uno e Trino. Por exemplo: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...; ou então: Deus Pai protegei-me; Deus Filho auxiliai-me; Deus Espírito Santo iluminai-me. 

Às 2ªs Feiras, como dever de caridade, recordaremos de um modo especial as almas do Purgatório. Começando por aquelas por quem temos mais obrigação de pedir, a nossa oração cobrirá todas. "Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso..." 

Os Anjos da Guarda ocuparão a nossa atenção devota nas 3ªs Feiras. Esse ajudante precioso que Deus nos dá, lembrar-nos-á a singela oração que aprendemos em crianças: "Anjo da Guarda, minha companhia...". Tentaremos cumprimentar o anjo de cada pessoa com quem falarmos e o nosso, que não deve ficar esquecido. 

S. José, o santo do silêncio e da disponibilidade para cumprir sem regateios a vontade de Deus, poderá transformar-se no centro da nossa devoção nas 4ªs Feiras. Faremos um propósito de só opinarmos se for absolutamente necessário e não protestaremos perante as contrariedades, contando com o auxílio do marido de Nossa Senhora. 

Nas 5ªs Feiras, estará presente o nosso amor à Eucaristia. Quantas comunhões espirituais seremos capazes de dizer ao Senhor, com que amor nos abeiraremos do Santíssimo Sacramento e leremos a cena evangélica da sua instituição, na 5ª Feira Santa. 

Às 6ªs, a Paixão e Morte do Senhor serão o fulcro dos nossos pensamentos e das nossas relações com Deus. Queremos estar com Maria no Calvário, seremos mais mortificados na imaginação, nos sentidos, não sairemos duma refeição sem termos feito um sacrifício que nos custe e faremos o propósito de aceitar as humilhações desse dia de forma calada e discreta. 

Honrámos até agora a Trindade, o Filho na Eucaristia e no Calvário, os anjos da guarda, S. José e pedimos pelas almas do Purgatório. Falta-nos recordar que, na agonia da Cruz, Cristo pediu e aceitou da Virgem Santíssima a nossa maternidade. Não sejamos filhos distraídos em relação a este bem esplêndido com que o Senhor nos quis presentear. Nossa Senhora, medianeira de todas as graças, é nossa Mãe. Dediquemos-lhe este dia da semana, rezando melhor o Terço e tantas outras orações. Maria deve tornar-se senhora dos nossos sábados.

(Pe. Rui Rosas da Silva – antigo Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Fevereiro de 2010, seleção do título da responsabilidade do autor do blogue)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

São Policarpo – bispo e mártir

Policarpo, bispo de Esmirna, conheceu são João Apóstolo e outras testemunhas oculares da vida de Cristo. Ele é contemporâneo dos apóstolos. Escreveu uma carta aos cristãos de Macedônia, a pedido deles para saberem algo mais sobre o santo bispo Inácio. Policarpo e Inácio eram grandes amigos.

Policarpo era antes de tudo homem de governo e não bom escritor, como Inácio. Não tinha aqueles ímpetos inacianos de ser triturado nos dentes das feras para chegar a Deus. Policarpo tem humilde desconfiança de si mesmo. Teve bastante coragem para o martírio.

Conhecemos o comovente fim de sua vida graças a documento que tem a data de 23 de fevereiro de 155. É uma carta da “Igreja de Deus peregrina em Esmirna à peregrina Igreja de Deus em Filomélio e a todas as paróquias da Igreja santa e católica” (trecho da carta). É narração muito importante do ponto de vista histórico, hagiográfico e litúrgico. Ao procônsul Estácio Quadrato, que o exorta a renegar Cristo, Policarpo responde: “Faz 86 anos que o sirvo e nunca me fez mal algum: como poderia blasfemar o meu Redentor?” O procônsul o ameaça: “Posso fazer-te queimar vivo!” Ele responde: “O seu fogo queima por um momento, depois passa; eu temo é o fogo eterno da condenação”.

Enquanto no meio do anfiteatro de Esmirna é queimado vivo, “não como uma carne que assa, mas como um pão que coze”, o mártir eleva ao Senhor uma súplica maravilhosa, breve e intensa: “Sede para sempre bendito, Senhor, que vosso nome adorável seja glorificado em todos os séculos, por Jesus Cristo, pontífice eterno e onipotente, e que toda a honra vos seja dada com ele e o Espírito Santo, por todos os séculos”. Logo seu corpo se transformou em cinzas. Diz o autor da carta: “Nós conseguimos recolher alguns ossos que conservamos como ouro e pedras preciosas”.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

(Fonte: Paulus)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

"Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16)

O que era difícil aceitar, para as pessoas às quais Jesus falava? O que continua a sê-lo também para muitas pessoas de hoje? Difícil de aceitar é o facto de que Ele pretende ser não somente um dos profetas, mas o Filho de Deus, e reivindica para si a mesma autoridade de Deus. Ouvindo-o pregar, vendo-o curar os doentes, evangelizar os pequeninos e os pobres e reconciliar os pecadores, gradualmente os discípulos conseguiram compreender que Ele era o Messias, no sentido mais elevado deste termo, ou seja, não apenas um homem enviado por Deus, mas o próprio Deus que se fez homem. Claramente, tudo isto era maior do que eles, ultrapassava a sua capacidade de compreender. Podiam expressar a sua fé com os títulos da tradição judaica: "Cristo", "Filho de Deus", "Senhor". Mas para aderir verdadeiramente à realidade, aqueles títulos deviam de alguma forma ser redescobertos na sua verdade mais profunda: o próprio Jesus, com a sua vida, revelou o seu significado integral, sempre surpreendente, até mesmo paradoxal em relação às concepções correntes. E a fé dos discípulos teve que se adaptar progressivamente. Ela apresenta-se-nos como uma peregrinação que tem o seu momento fontal na experiência do Jesus histórico, encontra o seu fundamento no mistério pascal, mas depois deve progredir ainda mais, graças à ação do Espírito Santo. Esta foi também a fé da Igreja ao longo da história; além disso, esta tem sido inclusive a nossa fé, de nós cristãos de hoje. Solidamente alicerçada na "rocha" de Pedro, é uma peregrinação rumo à plenitude daquela verdade que o Pescador da Galileia professou com uma convicção apaixonada: "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16).

Caros irmãos e irmãs, na profissão de fé de Pedro, podemos sentir-nos e ser todos um só, não obstante as divisões que, ao longo dos séculos, dilaceraram a unidade da Igreja, com consequências que perduram até aos dias de hoje. Em nome dos Santos Pedro e Paulo, renovemos hoje, juntamente com os nossos Irmãos provenientes de Constantinopla aos quais volto a agradecer a presença nesta nossa celebração o compromisso a cumprir até ao fim o desejo de Cristo, que nos quer plenamente unidos. Com os Arcebispos concelebrantes, acolhamos o dom e a responsabilidade da comunhão entre a Sé de Pedro e as Igrejas Metropolitanas confiadas aos seus cuidados pastorais. Que nos oriente e nos acompanhe sempre com a sua intercessão a Santa Mãe de Deus: a sua fé indefectível, que sustentou a fé de Pedro e dos outros Apóstolos, continue a apoiar também a fé das gerações cristãs, a nossa própria fé: Rainha dos Apóstolos, rogai por nós!

Amém.

Bento XVI - Excerto homilia pronunciada na Basílica de São Pedro a 29 de Junho de 2007

Cátedra de São Pedro

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela." Mt 16,18

Hoje é o Dia da Cátedra de São Pedro. Não sabemos bem como se originou essa festa. Mas é certo que existe uma inscrição, datada de 370 - portanto, há mais de 1.600 anos - atribuída ao Papa São Dâmaso, falando de uma cadeira portátil, dentro do Vaticano, e que é considerada a "cátedra" do Apóstolo Pedro.

Hoje, dessa cadeira restam apenas algumas relíquias de madeira, conservadas e honradas, num lugar onde o grande artista Bernini levantou um monumento grandioso, em honra do primeiro Papa, a Basílica de São Pedro.

Escavações, feitas por cientistas de diversas nações, também provam que os restos mortais de São Pedro se encontram debaixo do mesmo Vaticano, que se torna, assim, símbolo de unidade da Igreja. A celebração de festa da Cátedra de São Pedro tem o significado e o apelo à unidade dos cristãos, sob a guia do Papa, representante visível de Cristo.

O Evangelho nos une a Pedro, mas também a todos os apóstolos e membros da Igreja.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

S. Pedro Damião, bispo, Doutor da Igreja, †1072

"Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim, nunca mais terá sede" (Jo 6,35).

O Santo de hoje foi muito célebre na sua época. São Pedro Damião tornou-se notável, quer pela austeridade de vida, quer pela apurada sensibilidade de que era dotado. Como Bispo de Óstia, na Itália, e depois como Cardeal da Igreja, lutou para torná-la Esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, santa e imaculada. Foi por isso mesmo o melhor auxiliar dos Papas, para reformar a Igreja do século XI.

A Eucaristia une-nos a Cristo e a todos os irmãos. Mas, simultaneamente, torna-nos finos e delicados no tratamento com os pobres e os amigos.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto, videntes de Fátima

Francisco Marto

Francisco, nascido numa povoação chamada Aljustrel, pertencente à paróquia de Fátima, em Portugal, no dia 11 de Junho de 1908, era filho de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus Marto, modestos agricultores e bons cristãos; no dia 20 do mesmo mês, recebido o baptismo, tornou-se membro do povo da nova aliança.

De carácter dócil e condescendente, recebeu com fruto a boa educação que os pais lhe deram. Em casa, começou a conhecer e a amar a Deus, a rezar, a participar nas sagradas funções paroquiais, a ajudar o próximo necessitado, a ser sincero, justo, obediente e diligente. Viveu em paz com todos, quer adultos quer da mesma idade. Não se irritava quando o contrariavam e nos jogos não encontrava dificuldades em se adequar à vontade dos outros. Era sensível à beleza da natureza, que contemplava com sensibilidade e admiração; deleitava-se com a solidão dos montes e ficava extasiado perante o nascer e pôr do sol. Chamava ao sol «candeia de Nosso Senhor» e enchia-se de alegria ao aparecerem as estrelas que designava «candeias dos Anjos». Era de tal inocência que dizia que ao chegar ao céu havia de colocar azeite na candeia da Virgem Maria.

Logo que pôde, quando atingiu a idade de cerca de seis anos, foi-lhe confiada a guarda do rebanho, que diariamente pastoreava; segundo o costume, saía de manhã cedo com a sacola levando o alimento e a flauta, com a qual se divertia, e tornava a casa ao pôr do sol. Muitas vezes era acompanhado pela irmãzinha Jacinta e ambos se reuniam com a prima Lúcia de Jesus dos Santos, que guardava também as suas ovelhas. Estas crianças declararam ter visto três vezes um anjo no ano de 1916. Este acontecimento inesperado e imprevisto constitui para Francisco o início duma experiência espiritual mais generosa, mais eficaz e mais intensa de dia para dia. De repente começou a tornar-se mais piedoso e taciturno; recitava frequentemente a oração ensinada pelo anjo; estava disposto a oferecer sacrifícios pela salvação dos que não acreditam, não esperam e não amam.

Do dia 13 de Maio até ao dia 13 de Outubro de 1917, algumas vezes, juntamente com a Jacinta e a Lúcia, foi-lhe concedido o privilégio de ver a Virgem Maria na Cova da Iria. A partir daí, inflamado cada vez mais no amor a Deus e às almas, tinha uma só aspiração: rezar e sofrer de acordo com o pedido da Virgem Maria. Se extraordinária foi a medida da benignidade divina para com ele, extraordinária foi também a maneira como ele quis corresponder à graça divina na alegria, no fervor, e na constância. Não se limitou apenas a ser como que um mensageiro do anúncio, da penitência e da oração, mas, mais do que isso, com todas as suas forças, conformou a sua vida com a mensagem que ele anunciou mais com a bondade das obras do que com palavras.

Costumava dizer: «Que belo é Deus, que belo! mas está triste por causa dos pecados dos homens. Eu quero consolá-lo, quero sofrer por seu amor».

Manteve este propósito até ao fim. Durante as aparições suportou com espírito inalterável e com admirável fortaleza as más interpretações, as injúrias, as perseguições e mesmo alguns dias de prisão. Resistiu respeitosa e fortemente à autoridade local que tudo tentou para conhecer o «segredo» revelado pela Virgem Santíssima às três crianças, infundindo coragem simultaneamente à irmã e à prima. Todas as vezes que o ameaçavam com a morte respondia: «se nos matarem não importa: vamos para o céu».

Já antes das aparições rezava, porém depois, movido por um espírito de fé mais vivo e amadurecido, tomou consciência de ser chamado e de se entregar zelosa e constantemente ao dever de rezar segundo as intenções da Virgem Maria. Procurava o silêncio e a solidão para mergulhar totalmente na contemplação e no diálogo com Deus.

Participava na missa dos dias festivos e quando podia também nos feriais. Nutriu uma especial devoção à Eucaristia e passava muito tempo na igreja, adorando o Sacramento do altar a que chama «Jesus escondido». Recitava diariamente os quinze mistérios do Rosário e muitas vezes mais, a fim de satisfazer o desejo da Virgem; para isso gostava de juntar orações e jaculatórias, que tinha aprendido no catecismo e que o Anjo, a Virgem Santíssima e piedosos sacerdotes lhe tinham ensinado. Rezava para consolar a Deus, para honrar a Mãe do Senhor, que muito amava, para ser útil às almas que expiam as penas no fogo do purgatório, para auxiliar o Sumo Pontífice no seu importante múnus de pastor universal; rezava pelas necessidades do mundo transtornado pelo pecado; rezava pela Igreja e pela salvação eterna das almas. Rezava sozinho, com os familiares, com os peregrinos, manifestando um profundo recolhimento interior e uma confiança segura na bondade divina.

Como tivesse sabido da Virgem Maria que a sua vida iria ser breve, passava os dias na ardente expectativa de entrar no céu. E de facto tal expectativa não foi longa. Com efeito, apesar de ser robusto e de gozar de boa saúde, em Outubro do ano de 1918 foi atingido pela grave epidemia bronco-pulmonar chamada «espanhola». Do leito em que caiu não chegou a levantar-se; pelo contrário, no ano de 1919, o seu estado de saúde agravou-se. Sofreu, com íntima alegria, a sua enfermidade e as suas enormes dores, em oblação a Deus. À Lúcia que lhe perguntava se sofria, respondeu: «Bastante, mas não me importa. Sofro para consolar Nosso Senhor e em breve irei para o céu». No dia 2 de Abril, recebeu santamente o sacramento da Penitência e no dia seguinte foi finalmente alimentado com o Corpo de Cristo, como Santo Viático. Ao despedir-se dos presentes prometeu rezar por eles no céu.

Entrou piedosamente na vida eterna, que veementemente desejara, no dia 4 de Abril de 1919. Foi sepultado no cemitério de Fátima, mas depois as suas relíquias foram transladadas para o Santuário, que entretanto fora construído onde a Virgem aparecera.

Jacinta Marto

Jacinta, a sétima filha do casal Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus dos Santos, nasceu no lugar de Aljustrel, paróquia de Fátima, no dia 11 de Março de 1910. No dia 19 do mesmo mês recebeu a graça do Baptismo.

Os seus pais, que eram humildes agricultores e piedosos cristãos, deram-lhe uma sã educação moral e religiosa. Desde tenra idade mostrou o gosto pela oração, a preocupação pelas verdades da fé, prudência na escolha das amizades e um sereno espírito de obediência. De índole vivaz, expansiva e alegre, gostava de brincar e bailar; cativava a simpatia dos outros, se bem que tivesse certa inclinação a dominar e a não ser contrariada tanto que facilmente amuava e era ciosa do que lhe pertencia. Todavia, depois mudou completamente e tornou-se um modelo esplêndido de humildade, de mortificação e de generosidade.

Logo que pôde, começou a trabalhar; em particular foi encarregada de acompanhar o irmão Francisco, um pouco mais velho do que ela, no pastoreio do rebanho. Ambos gostavam de se juntar com a prima Lúcia de Jesus dos Santos, que era também pastora de ovelhas. Deste modo as três crianças, unidas por uma grande amizade, passavam o dia inteiro nesta actividade, que, apesar de custosa, eles executavam diligentemente e com prazer, porque lhes deixava tempo para brincar e para rezar e lhes permitia usufruir das belezas da natureza.

O que inesperadamente lhes mudou a vida, deu-se no ano de 1916: eles disseram ter visto três vezes um anjo que os exortava a rezar e a fazer penitência pela remissão dos pecados e para obter a conversão dos pecadores. A partir deste momento; a pequena Jacinta aproveitava todas as ocasiões para fazer o que o anjo lhe pedira.

Desde o dia 13 de Maio até ao dia 13 de Outubro de 1917, juntamente com Francisco e Lúcia, teve o privilégio de ver várias vezes a Virgem Maria no lugar chamado Cova da Iria, perto de Fátima. Cheia de alegria e gratidão pelo dom recebido, quis imediatamente responder com todas as forças à exortação da Virgem Maria que lhes pedia orações e sacrifícios em reparação dos pecados que ofendem a Deus e o Imaculado Coração de Maria e pela conversão dos pecadores.

Ao mesmo tempo dócil à acção da graça, separou-se das coisas terrenas, a fim de se voltar para as coisas celestes e voluntariamente consagrou a sua vida para entrar um dia no paraíso. Estava constantemente mergulhada na contemplação de Deus, em colóquio íntimo com Ele. Procurava o silêncio e a solidão e de noite levantava-se da cama para rezar e livremente expressar o seu amor ao Senhor. Em pouco tempo, a sua vida interior se notabilizou por uma grande fé e por uma enorme caridade.

A propósito disto dizia: «Gosto tanto de Nosso Senhor! Por vezes julgo ter um fogo no peito, mas que não me queima». Gostava muito de contemplar Cristo Crucificado e comovia-se até às lágrimas ao ouvir a narração da Paixão. Então afirmava já não querer cometer pecados para não fazer sofrer Jesus. Alimentou uma ardente devoção à Eucaristia, que visitava frequentemente e durante longo tempo na igreja paroquial, escondendo-se no púlpito, onde ninguém a pudesse ver e distrair.

Desejava alimentar-se do Corpo de Cristo mas isso não lhe foi permitido por causa da idade. Encontrava contudo consolação na comunhão espiritual. De igual modo honrou a Virgem Maria, com um amor terno, filial e alegre e constantemente correspondeu às suas palavras e desejos; muitas vezes honrava-a com a recitação do rosário e com piedosas jaculatórias.

O seu desejo de sofrer tornou-se mais notório durante a longa e grave doença que a atingiu a partir de Outubro do ano de 1918. Contaminada pela epidemia bronco-pulmonar, a que chamavam «espanhola», o seu estado de saúde agravou-se a pouco e pouco, de tal forma que teve de suportar a ideia de ter de ser operada. Sabendo que lhe restava pouco tempo de vida, multiplicou os sacrifícios, as penitências e as privações de forma a cooperar até ao máximo das suas possibilidades na obra da Redenção. Porém, o que lhe custou mais foi o ter de deixar a família a fim de ser tratada num hospital. Prevendo morrer sozinha, isto é, longe dos seus queridos familiares, disse: «Ó meu Jesus, agora podes converter muitos pecadores, porque este sacrifício é muito grande!».

No dia 20 de Fevereiro do ano de 1920 pediu os Sacramentos. Apenas recebeu o Sacramento da Penitência: consciente de estar próxima da morte, pediu o Sagrado Viático, mas o sacerdote, não obstante as suas insistências, adiou-o para o dia seguinte.

Naquele mesmo dia à noite, longe dos pais e dos conhecidos, morreu no hospital de Lisboa, onde desde há algum tempo se encontrava internada. Alcançara finalmente a meta dos seus desejos: a vida eterna.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Um “não” e um “sim”

Tem corrido nestes últimos dias pela internet a notícia de um «Responsum» da Congregação para a Doutrina da Fé datado de Agosto de 2020. O Papa aprovou-o no início de Junho de 2020, a Congregação demorou duas semanas a enviá-lo para publicação e os encarregados da publicação «esqueceram-se» dos papéis durante um mês e meio. Finalmente, o documento adormeceu nas pastas confusas dos arquivos, até alguém o descobrir num endereço difícil de encontrar no «site» da Congregação para a Doutrina da Fé.

Os «Responsi» desta Congregação conservam, desde há muitos séculos, uma estrutura curiosa. Alguém —normalmente um bispo ou uma Conferência Episcopal— dirige uma pergunta muito concreta à Congregação e esta limita-se a responder «sim» ou «não». Às vezes, junta uma breve «Nota doutrinal» a justificar a resposta.


Neste caso, havia duas perguntas. « É válido o Baptismo conferido com a fórmula “nós te baptizamos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”? » e é preciso baptizar validamente as pessoas para quem o baptismo foi celebrado dessa maneira?


A resposta à primeira questão é «negativo». A segunda resposta é «afirmativo».


A maior parte das pessoas tem dificuldade em compreender a linguagem binária da Congregação para a Doutrina da Fé e este duplo «Responsum» pode soar tão inesperado que alguns duvidam se perceberam correctamente a mensagem. Por isso, a «Nota doutrinal» que a acompanha é imprescindível e a parte mais valiosa do «Responsum».


O problema teve origem numa prática pastoral que substituiu as palavras «Eu te baptizo…» pela expressão «em nome da comunidade, nós te baptizamos…». De facto, o «Ritual do Baptismo das Crianças», promulgado por Paulo VI por decreto do Concílio Vaticano II, mostra que os pais da criança, os padrinhos e a comunidade inteira desempenham um papel activo no ofício litúrgico (números 4-7), embora o Concílio Vaticano II também seja explícito ao declarar «que cada um, ministro ou fiel, desempenhando o próprio ofício, realize somente e tudo aquilo que, segundo a natureza do rito e das normas litúrgicas, é da sua competência» (Constituição «Sacrosanctum Concilium» sobre a liturgia, 28).


No caso do Baptismo, como recorda o Concílio Vaticano II, «quando alguém baptiza, é o próprio Cristo que baptiza» e este é o ponto-chave.


Diz a nota: «No caso específico do sacramento do Baptismo, o ministro não só não tem autoridade para dispor à vontade da fórmula sacramental (…), como não pode sequer declarar que age em nome da assembleia (…). Quando o ministro diz «Eu te baptizo…», não fala como um funcionário que cumpre um papel que lhe foi confiado, mas actua ministerialmente como sinal-presença de Cristo».


«É por isso fundamental —explica a nota— que a acção sacramental seja realizada não em nome próprio, mas na pessoa de Cristo, que age na sua Igreja, e em nome da Igreja».


O abuso de mudar a fórmula do Baptismo tornou o sacramento inválido e daí a segunda parte do «Responsum»: a cerimónia não foi válida e as pessoas precisam de ser baptizadas correctamente e receber validamente todos os sacramentos posteriores.


Comenta a «Nota doutrinal» que muitas destas motivações pastorais mascaram, ainda que inconscientemente, uma deriva subjectivista e uma vontade manipuladora. Na oração pessoal cada um segue o impulso do seu coração, mas na acção litúrgica «deve abrir-se a um outro impulso, de origem mais potente e profunda, vindo do coração da Igreja, que bate através dos séculos. Não conta aquilo que pessoalmente lhe agrada, ou naquele momento lhe parece desejável…».


A gravidade lacónica deste «não» e deste «sim» faz-nos reflectir profundamente, recordando a advertência severa do Concílio Vaticano II: ninguém, «mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica»! («Sacrosanctum Concilium», 22).

Como custa a alguns obedecer! Todas as desculpas servem para seguir outra liturgia. Mas os bons cristãos mostram o seu amor a Cristo e à Igreja obedecendo rigorosamente não só no que é mais importante, como em todos os pormenores do que a Igreja estabelece em cada momento.

José Maria C.S. André 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

São Josemaria em Lourdes

São Josemaria esteve várias vezes em Lourdes. Em Au pas de Dieu, de François Gondrand, vem um breve relato de uma das suas visitas à gruta, no dia 3 de Outubro de 1972


O avião em que o Padre viaja acaba de aterrar no aeroporto de Tarbes e alguns dos seus filhos franceses e espanhóis vieram para o cumprimentar antes de continuar a sua viagem até Hendaia, a caminho de Espanha. Pensa estar várias semanas na Península Ibérica e ver muitas pessoas. Antes disso, a 7 de Outubro, irá presidir a uma cerimónia em Pamplona durante a qual concederá o título de doutor honoris causa pela Universidade de Navarra a um alemão, Erich Letterer, professor de Medicina; a um espanhol, historiador de Arte, o Marquês de Lozoya; e a um francês, o professor Ourliac, catedrático de História do Direito e membro do Institut de France.

Diante da basílica de Lourdes, para onde foi logo de seguida, Mons. Escrivá fala dos “milagres” que começaram a acontecer em Torreciudad, do outro lado dos Pirinéus, apesar de o novo santuário e de os edifícios anexos não estarem ainda concluídos: confissões, conversões, decisões de entrega mais plena ao Senhor… todos esses milagres da graça com que sonhava quando deu luz verde ao começo das obras.

Com passo decidido, o Padre dirige-se à gruta. Como sempre que visita Lourdes, detém-se a beber água na fonte milagrosa; depois, encaminha-se para o lugar das aparições, onde vai começar um acto de culto e, logo que divisa a imagem de Nossa Senhora, ajoelha-se por terra. Depois de uns momentos de oração intensa, atravessa de novo a esplanada.

Logo a seguir, o Padre despede-se dos seus filhos franceses e entra no carro.

Antes de beber a água milagrosa, disse aos que o rodeavam que não queria pedir nada de ordem pessoal à Virgem Maria, nem sequer a saúde. Não ficam estranhados, porque os seus filhos conhecem bem o motivo desta visita a Lourdes, onde a 11 de Novembro de 1937 tinha celebrado missa depois de uma dramática travessia dos Pirinéus. O motivo é o mesmo que o das outras peregrinações a este mesmo santuário, e ao de Sonsoles, em Ávila, e ao Pilar de Saragoça, e à basílica de Nossa Senhora das Mercês, em Barcelona, e aos santuários de Einsielden, na Suiça, e do Loreto, na Itália… E Torreciudad, em 1970, e Fátima, em Portugal, e Guadalupe, no México…

O que pede à Senhora nesses famosos lugares de peregrinação é a paz da Igreja, a paz do mundo, a perseverança dos seus filhos e filhas, a fecundidade dos apostolados da Obra…

Agora mais que nunca, a sua principal preocupação é a situação da Igreja. Isso leva-o a intensificar as suas ânsias de reparação e a reforçar a fé dos seus filhos, quer dos que o visitam em Roma quer dos que encontra nas suas deslocações. Anteriormente reunia-se com grupos não muito numerosos, agora sente a urgência de falar de Deus de modo directo ao maior número de pessoas para que aprofundem na sua vida cristã. Mas, como para ele, o apostolado tem de ser – como havia escrito em Caminho – fruto da oração, que vai a par com o sacrifício, repete com frequência as palavras de uma oração litúrgica que já utilizava desde a sua juventude: “Ure igne Sancti Spiritus…” Senhor, abrasa-nos com o fogo do teu Espírito Santo, queima as nossas entranhas e os nossos corações…

Nele este desejo nutre-se com a procura de uma maior intimidade com a Sagrada Família de Nazaré, a quem invoca como a trindade da terra. Se nós queremos ganhar intimidade com Nosso Senhor e com a nossa Mãe do Céu, temos de aprender de José.

Ao lado de São José, a sua alma sente-se mais perto de Maria, e também de Jesus, o Deus feito Homem, que, por sua vez, o introduz no mistério da Santíssima Trindade. É assim que vai, segundo as suas próprias palavras, da trindade da terra à trindade do Céu, seguindo esse caminho de infância espiritual de que os grandes místicos falaram. Um caminho que, pela sua difícil facilidade, a alma deve começar e continuar, pela mão de Deus, e que requer a submissão do entendimento, mais difícil que a submissão da vontade.

François Gondrand, Au pas de Dieu, Paris, 1982

Nossa Senhora de Lourdes

"Cristo morreu por todos a fim de que aqueles que vivem, não vivam mais para si, mas por Aquele que morreu e ressuscitou por eles" 2Cor 5,15

Hoje, o mundo inteiro venera Nossa Senhora, sob o título de Nossa Senhora de Lourdes. Lembramos o que se chama "aparição de Nossa Senhora", ou aparições que se repetiram de 11 de Fevereiro até 16 de Julho.

O grande teólogo e pesquisador de Lourdes, o Padre Laurentin, examinou as 14 aparições centrais e as mensagens sobre Nossa Senhora, "toda cheia de graça e concebida sem pecado original", pelos méritos de Cristo.

O hino "Louvando a Maria" ressoa em quase todas as peregrinações do mundo, atraindo pessoas que queiram levar, como Nossa Senhora, Cristo aos homens.

Há nove anos nesta data - "Meu querido e amado Papa …"

Ainda que com profunda tristeza humana sei que o anúncio da sua resignação está certamente inspirada pelo Divino Espírito Santo e que esta visa o bem da Santa Madre Igreja, a Igreja de Jesus Cristo que também é de todos os que nela se revêem.

Com muito amor e confesso que lavado em lágrimas, prostro-me diante do Senhor e em oração suplico-Lhe que proteja Joseph Ratzinger, aliás como todos os dias o fazia, pedindo a intercessão da Virgem Maria.

Hoje Dia Mundial do Doente entrego as minhas orações pelo Papa Bento XVI, hoje Emérito, e pelo Papa Francisco a Nossa Senhora de Lourdes confiante na Sua intercessão por eles e por toda a Igreja.

Termino repetindo a palavra que me enche a mente neste momento, GRATIDÃO, GRATIDÃO, GRATIDÃO, … 

Louvado seja Deus Nosso Senhor pelo extraordinário Papa que nos ofereceu!

JPR
11.02.2013 com adaptação relativa ao atual Pontificado

«Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor» 

(Bento XVI - Enc. Spe salvi, 37)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Cultivar a amizade

Não há dúvidas de que o tema da solidão é muito importante no mundo actual. É conhecido que em Inglaterra existe uma Secretaria de Estado especializada na solidão, uma vez que este problema nesse país é considerado – e bem! – como um problema de saúde pública. 

Numa das iniciativas desse órgão do governo inglês, suscitavam-se perguntas que são muito actuais e que permitem chegar ao cerne da questão: Porque é que já não falamos uns com os outros? Será que nos esquecemos de como fazer amigos e de como isso é essencial na nossa vida? 

Convém distinguir entre solidão (que é uma percepção) e isolamento (que é uma atitude). Viver sozinho não é necessariamente sentir-se sozinho. Uma pessoa pode sentir-se sozinha ─ isolada, sem companhia ─ e viver com outras pessoas. 

E também não convém pensar que este tema é exclusivo das pessoas mais velhas. De facto, em vários países, constatam-se sentimentos de solidão em adolescentes e jovens com implicações directas na sua saúde mental. 


Robert Waldinger possui uma TED Talk que foi vista por mais de 30 milhões de pessoas e que recomendo vivamente. É psiquiatra e é o 4º director de um estudo, que começou em 1938 e ainda continua nos dias de hoje, feito pelo Harvard Study of Adult Development sobre o modo como vivemos. 

A equipa de Harvard tirou muitas conclusões desse estudo, mas Waldinger destaca isto: «Para saber como envelhecerás, é mais relevante o grau de satisfação que possuis aos 50 anos com as tuas relações interpessoais do que o teu nível de colesterol». 


Segundo ele, há três características importantes que se podem resumir assim: 

1) As conexões sociais beneficiam a saúde, e a solidão prejudica-a.
2) O que importa não é a quantidade das relações, mas sim a sua qualidade.
3) As boas relações protegem o nosso cérebro da deterioração. 

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Santa Escolástica, virgem, †543

Santa Escolástica era irmã gémea do grande São Bento, pai do monaquismo. Nasceu numa região do centro da Itália em 480; tristemente perdeu sua mãe no parto.

Gémea de Bento, tornou-se também gémea de busca de santidade e missão, já que ambos deram testemunho de santos fundadores. A vida totalmente consagrada a Deus de Escolástica começou até antes do irmão; porém, foi aprofundada quando seguiu o irmão até que ele se instalou em Cassino. Desta forma, Escolástica, fundadora das irmãs beneditinas, sempre esteve ligada a Bento.

Relata-nos o Papa São Gregório Magno que Escolástica e Bento embora morassem pertinho, apenas se encontravam para diálogos santos uma vez ao ano. Daí que, no encontro que seria o último, Santa Escolástica pediu ao irmão que desta vez ficasse, a fim de se enriquecerem em conversas santas até ao amanhecer, mas foi repreendida pelo irmão, pois seria causa de transgressão da Regra.

Diante da resposta negativa do irmão e com o coração pulsando de amor fraterno, Santa Escolástica entrelaçou as mãos, abaixou a cabeça e rapidamente conversou com Deus. De repente, levantou-se um tamanha tempestade que São Bento ficou impedido de sair com seus irmãos.

Vendo o irmão zangado, Santa Escolástica esclareceu: "Pedi-te a ti e tu não me ouviste; pedi ao Senhor e ele me ouviu. Vai-te embora, se puderes, volta para o teu mosteiro". Depois daquela providencial partilha de graça e oração, São Bento regressou ao mosteiro e passados três dias percebeu numa visão a morte de sua irmã que o antecedeu 40 dias no céu.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A evasão estratégica

Nunca na História da Humanidade estivemos tão expostos a notícias trágicas como durante a pandemia do coronavírus. Diversas investigações analisaram as mudanças relacionadas com o consumo de notícias neste período.

Destacam o já conhecido como doomscrolling (consumo tóxico de notícias negativas) e a evasão estratégica (um modo mais racional de estar informado).

Um estudo sobre os hábitos de consumo de notícias durante o primeiro confinamento na Noruega analisou essa tendência, que surgiu precisamente como uma reação lógica ao excesso informativo e ao consequente desgaste emocional: a evasão estratégica.

Um grupo importante de pessoas, embora procurando manter-se bem informadas, procuram momentos de desconexão e usam estratégias para evitar os efeitos adversos da já conhecida “avalanche” informativa.

A estratégia consiste em estabelecer rotinas diárias em que dedicam um tempo razoável a estar informados e outros momentos em que desconectam totalmente do infindável mundo das notícias. A este tipo de pessoas começou-se a chamar na Noruega evasores estratégicos.

Antes da pandemia, a decisão de não querer estar informado era vista como uma conduta irresponsável. Agora, não é bem assim: este novo tipo de “evasores” são vistos como pessoas razoáveis.

Porque, no fundo, não é que não queiram estar informados. O que querem é evitar os efeitos adversos da sobreabundância de informação que, nos momentos actuais, se tornou um alude com resultados muitas vezes catastróficos.

Actividades como ler bons romances, conversar com familiares e amigos, cozinhar, cuidar do jardim, fazer desporto são vistas como verdadeiros antídotos contra o excesso de informação.


Trata-se, como alguém dizia, de melhorar a própria higiene informativa, escolhendo meios de comunicação de alta qualidade e consumindo menos conteúdos.

E, assim, de acordo com a experiência na Noruega, mediante o uso dessa “dieta” informativa, a qualidade de vida de várias pessoas melhorou substancialmente.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria