sábado, 25 de dezembro de 2021

Quem aponta a Luz do Mundo?

No século XVI, a descoberta do alçapão de entrada para umas catacumbas esquecidas, na via Salaria, ofereceu à Igreja um olhar novo sobre a comunidade cristã dos primeiros séculos. Foi o frade Alfonso Ciacconio quem primeiro se adentrou pelos quilómetros e quilómetros de labirintos estreitos destas catacumbas, em percursos sinuosos, em três níveis sobrepostos, escavados no subsolo da cidade de Roma. A capital do antigo Império Romano já conhecia muitas catacumbas, mas estas são particularmente importantes.


Numa das muitas capelinhas destas catacumbas, hoje conhecidas pelo nome de catacumbas de Santa Priscila, existe um fresco com a imagem de Nossa Senhora com o Menino. Os primeiros que exploraram este mundo novo compreenderam imediatamente a raridade e importância do achado: este fresco é a mais antiga representação de Nossa Senhora que chegou até nós.


Em 1992, as intervenções de limpeza e consolidação do fresco, permitiram datá-lo com rigor, entre os anos 130 e 140 depois de Cristo. Alguns outros frescos da mesma zona, de tema cristológico, também são desta data, nomeadamente a imagem de Cristo Bom Pastor, com uma ovelha aos ombros. Em paredes próximas, há representações de defuntos, pintadas por volta do ano 160, durante os anos mais terríveis da perseguição de Diocleciano.


Neste fresco, por cima da figura de Maria com o Menino, situa-se uma estrela e, ao lado de Nossa Senhora, uma figura masculina, de pé, a apontar a estrela. Desde o princípio, essa personagem foi identificada como S. José, atribuição que prevaleceu até ao século XIX, quando começaram a multiplicar-se as teorias. Ninguém se lembraria de pintar S. José num presépio! Concluiu-se assim que o homem a apontar a estrela deveria ser um profeta do Antigo Testamento, a indicar com o gesto que o Messias seria a Luz do Mundo. É essa, hoje, a convicção dos especialistas.


Seguindo este raciocínio, Giovanni Battista de Rossi concluiu que esse profeta era Isaías, que fala do Messias como Luz do Mundo. Pelo contrário, Raffaelle Garrucci pensou que o profeta seria Balaão, que também fala na estrela. Joseph Wilpert voltou a Isaías, embora citando uma passagem diferente da de Rossi, mas depois reviu a teoria e considerou que afinal o Profeta seria Miqueias, que também fala na estrela. Giorgio Otranto pensou que a enigmática figura seria o Rei David, que se refere à estrela nos seus salmos. As hipóteses sucedem-se, porque muitos profetas mencionam a estrela e anunciam o Messias como Luz do Mundo. Quando já parecia impossível propor ideias novas, Pasquale Testini desenterrou mais uma: a figura seria a personificação colectiva de todos os profetas e não um deles em particular.


Chegados a este ponto, as alternativas parecem esgotadas, para quem sonhe em imortalizar o seu nome com uma hipótese original. A não ser... Sim! Que, em vez de procurar no Antigo Testamento, olhemos para os Evangelhos: os Reis Magos! Óbvio! Como é que ninguém se lembrou? Infelizmente, a ideia não é inteiramente original, porque houve quem dissesse que os Reis Magos estavam implícitos, ocupando a posição do espectador, a olharem o profeta apontar a estrela de Belém para que, seguindo-a, encontrassem Maria com o Menino. Resta-nos Zacarias, pai de João Baptista, que aclama o Messias que «há-de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz» (Lc 1, 68), ou os Pastores que viram uma grande claridade, ou Simeão que louva Deus pelo Menino, «luz para iluminar as nações» (Lc 2, 28), ou... Há ainda esperança para uma proposta original?


Desisto. Os que nasceram primeiro esgotaram as possibilidades.


Que pena, não sermos nós a descobrirmos quem acompanha a mais antiga imagem de Nossa Senhora. Decerto ficaríamos célebres e talvez ricos. Porque é uma imagem a vários títulos invulgar. Uma imagem simultaneamente arcaica e cheia de movimento, com o Menino irrequieto a saltar do colo da Mãe. Uma imagem com o sabor do tempo dos Mártires, que morreram confiantes em que o Jesus Menino vale mais que o Imperador. Mas é inútil, já se exploraram todas as alternativas.


Nesse caso, prefiro a solução dos que primeiro entraram nesta catacumba, a solução que vigorou indiscutida durante três séculos: é S. José quem está junto de Maria e do Menino.


Por mim, está decidido. É S. José quem aponta a Luz do Mundo nas catacumbas de Priscila. Por alguma coisa, o Papa dedicou este ano ao santo Patriarca.

José Maria C.S. André

O NATAL DA VACA E DO BURRO

A conversa ia fiada quando, de repente, um relâmpago iluminou toda a gruta. Depois, ouviu-se o choro de um bebé: tinha nascido Jesus, a luz do mundo!


Foi há mais de dois mil anos que se encontraram, no presépio, a vaca de Belém com o burro de Nazaré. Quando Maria e José entraram no estábulo, o burro disse à vaca:


- Boa noite, Dona Vaca, e obrigado por nos receber! Com tantos estrangeiros em Belém, não encontrámos alojamento na pousada!


- Seja bem-vindo, Senhor Burro! Pois, se esta jovem família tem que se hospedar num estábulo, nesta fria noite de inverno, é porque a hospitalidade já não é o que era!


- A quem o diz, Dona Vaca, a quem o diz!  José foi a casa de vários familiares e amigos e ninguém nos recebeu! Todos, de uma forma ou outra, se desculparam, ou por hospedarem parentes, ou por ser pequena a sua casa, ou por outras razões sem razão, que não seja a razão do seu egoísmo e falta de coração.


- Então fiquem neste estábulo! – disse, prazenteira, a vaca, que acrescentou: É pouco o que tenho para oferecer: apenas um pouco de palha fresca e uma manjedoura, mas sempre é melhor do que ficarem ao relento.


- Sem dúvida! – respondeu o jerico, que exclamou, suspirando:  Depois de tantos dias a trotar, já nem os cascos sinto!


- Não me diga que carregou com o casal durante toda a viagem!?



- Não! José veio sempre a pé, para que fosse Maria a vir montada!


- Mas, egoístas como são as pessoas, devem ter passado todo o caminho a discutir quem vinha no burro! Já não há respeito pelos animais!


- Pelo contrário, Dona Vaca! Discutiam, é certo, mas era porque cada um queria o melhor para o outro!


- A sério?! Nos tempos que correm é de estranhar tanta caridade!


- Pode crer, Dona Vaca! Veja só isto: em tantos dias de viagem, nunca os ouvi zangados e olhe que se alguma coisa tenho grande são, precisamente, as orelhas!


- De facto, são um casal muito especial!


- São incapazes de pensar em si próprios! José é de poucas falas mas, quando se trata do bem de Maria, não cede: é mais teimoso do que eu, que sou burro! Escusado será dizer que veio sempre ela montada e ele, a pé, levando-me pela arreata.


- E porque vieram de Nazaré, estando Maria neste estado?!


- Acho que tem a ver com um recenseamento, mas disso não percebo muito porque, valha a redundância, nós os burros somos mesmo burros!


- Olhe que muita sabedoria tem um asno em dizer que o é! O que mais abunda por aí são burros que julgam que são sábios, quando todos os verdadeiros sábios sabem que, por muito que saibam, não passam de burros!


- É verdade, Dona Vaca! Tenho colegas burros que gostariam de ser cavalos de corrida, ou de alta escola, mas eu sinto-me muito bem na minha pele de asno!


- Eu também, se quer que lhe diga, nunca fui levada a nenhum concurso de gado, mas dou mais leite do que essas vacas todas aperaltadas que se fartam de ganhar prémios de beleza mas, a bem dizer, não servem para mais nada. Talvez não seja tão bonita como uma charolesa, mas acredite que o meu leite e carne não são piores do que os delas!


- Claro, Dona Vaca, o importante é servir! Uma vez o meu dono, José, quando eu estava com preguiça para trabalhar – coisa de burro! – sussurrou-me ao ouvido uma frase que nunca mais esqueci: quem não vive para servir, não serve para viver!


- Ora aí está! É o que eu também digo aos meus vitelinhos, sobretudo quando só querem correr e brincar …


- Eu cá sei que sou um jumento de carga, não um cavalo de cortesias! Mas, para mim, trabalhar não é nenhum sacrifício, mas uma honra! Tenho um tio que anda todo o dia à nora, à volta do poço, mas nunca se farta de fazer sempre a mesma coisa. Sabe o que me disse uma vez, que me queixei da minha vida?!


- Pois não sei, mas diga lá, Senhor Burro!


- Disse-me, com um sorriso que ia de orelha a orelha, que é verdade que era cansativo o seu trabalho, aparentemente tão monótono, mas que, quando esse pensamento o entristecia, olhava para as flores e frutos do horto, regado pela água que tirava do poço e enchia-se de alegria, por saber que toda aquela beleza era fruto do seu trabalho!


- Nem mais! Às vezes também me custa sair de manhã cedo, para ir pastar, mas se o não fizer, não tenho leite para amamentar os meus bezerros e, por isso, é sempre com alegria que vou por esses montes e vales …


A conversa ia fiada quando, de repente, um relâmpago iluminou toda a gruta. Depois, ouviu-se o choro de um bebé: tinha nascido Jesus, a luz do mundo!


A vaca e o burro, muito de mansinho, aproximaram-se da manjedoura, onde Jesus sorria. A vaca ainda tentou dar um beijinho ao Menino, mas José não deixou pois, decerto, O iria assustar. Quando ambos voltaram para o seu canto, a vaca comentou:


- Que Menino tão bonito! Se eu pudesse, dava-lhe cá cada lambidela!


- Pois eu hei-de ser sempre o seu burro! E, um dia, quando for adulto, entrará em Jerusalém montado em mim, como se fosse eu o seu corcel! É como se já ouvisse os miúdos e os graúdos a aclamarem Jesus, dizendo: Hossana, ó filho de David!


- Ó Senhor Burro, que grande burrice a sua: que rei escolhe um pobre asno para seu trono real?!


- Pode crer, Dona Vaca, porque quem não desdenha nascer num curral, também não despreza um pobre jumento como eu!


P. Gonçalo Portocarrero de Almada

«Nascido do Pai antes de todos os séculos [...] fez-Se homem [...] e nasceu da Virgem Maria (Credo)

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo
Sermão 10, sobre o Natal do Senhor, PL 57, 24

Caríssimos irmãos, há dois nascimentos em Cristo, e tanto um como o outro são a expressão de um poder divino que nos ultrapassa absolutamente. Por um lado, Deus gera o Seu Filho a partir de Si mesmo; por outro, Ele é concebido por uma virgem por intervenção de Deus. [...] Por um lado, Ele nasce para criar a vida; por outro, para eliminar a morte. Ali, nasce de Seu Pai; aqui, é trazido ao mundo pelos homens. Por ter sido gerado pelo Pai, está na origem do homem; por ter nascido humanamente, liberta o homem. Uma e outra formas de nascimento são propriamente inexprimíveis e ao mesmo tempo inseparáveis. [...]

Quando ensinamos que há dois nascimentos em Cristo, não queremos com isto dizer que o Filho de Deus nasça duas vezes; mas afirmamos a dualidade de natureza num só e mesmo Filho de Deus. Por um lado, nasceu Aquele que já existia; por outro, foi produzido Aquele que ainda não existia. O bem-aventurado evangelista João afirma isto mesmo com as seguintes palavras: «No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus»; e ainda: «E o Verbo fez-Se homem».

Assim, pois, Deus, que estava junto de Deus, saiu Dele, e a carne de Deus, que não estava Nele, saiu de uma mulher. Assim, o Verbo fez-Se carne, não de maneira que Deus Se diluísse no homem, mas para que o homem fosse gloriosamente elevado em Deus. É por isso que Deus não nasce duas vezes; mas, por estes dois géneros de nascimentos – a saber, o de Deus e o do homem –, o Filho único do Pai quis ser, a um tempo, Deus e homem na mesma pessoa: «E quem poderá contar o Seu nascimento?» (Is 53, 8 Vulg)

Natal do Senhor Jesus

A história do Natal começou na véspera do nascimento de Jesus, quando, segundo nos testemunha a Bíblia, os anjos anunciaram a chegada do menino.

Oficialmente, faz agora 2014 anos. Nessa altura, o imperador Augusto determinou o registo de toda a população do Império Romano por causa dos impostos, tendo cada pessoa, para o efeito de inscrever na sua localidade.

Segundo o Novo Testamento, José partiu de Nazaré para Belém, para esse efeito, e levou com ele a sua esposa, Maria, que esperava um Filho. Ao longo da viagem, chegou a hora de Maria dar à luz, e como a cidade estava com os albergues completamente cheios, tiveram de pernoitar numa gruta. Foi nessa região da Judeia, que Jesus nasceu.

Diz a Bíblia que um Anjo desceu sobre os pastores que guardavam os seus rebanhos durante a noite e disse-lhes: «Deixai o que estais a fazer e vinde adorar o menino, que se encontra em Belém e é o vosso Redentor». Os pastores foram apressados, procurando o lugar indicado pelo Anjo, e lá encontraram Maria, José e o menino. Ao vê-lo, espalharam a boa nova.

Os primeiros registos da celebração do Natal têm origem na Turquia, a 25 de Dezembro, em meados do sec II.

No ano 350, o Papa Júlio I levou a efeito uma investigação pormenorizada e proclamou o dia 25 de Dezembro como data oficial e o Imperador Justiniano, em 529, declarou-o feriado nacional.

O período das festas alargou-se até à Epifania, ou seja vai desde 25 de Dezembro até 6 de Janeiro. O dia 6 de Janeiro é o chamado dia dos Reis Magos.

A religião Cristã foi, depois, abraçando toda a Europa, dando a conhecer a outros povos a celebração do Natal. Em Inglaterra, o primeiro arcebispo de Cantuária foi responsável pela celebração do Natal. Na Alemanha, foi reconhecido em 813, através do sínodo de Mainz. Na Noruega, pelo rei Hakon em meados de 900. E em finais do séc. IX, o Natal já era celebrado em toda a Europa.

Os Evangelhos de S. Lucas e S. Mateus relatam a história do nascimento de Jesus. Só que, ao contrário do que julgávamos, Jesus não teria nascido no Inverno e sim na Primavera ou no Verão - os pastores não guardariam os rebanhos nos montes com o rigor do Inverno...

Em relação à data do nascimento de Jesus, existem algumas dúvidas. A estrela que guiou os Magos até à gruta de Belém deu lugar a várias explicações.

Alguns cientistas afirmam que deverá ter sido um cometa. No entanto, nessa altura não há registo que algum cometa tivesse sido visto.

Outros dizem que, no ano 6 ou 7 a. C., houve um alinhamento dos planetas Júpiter e Saturno mas também não é muito credível, para que se considere esse o ano do nascimento de Jesus.

Por outro lado, a visita dos Reis Magos é comemorada 12 dias depois do Natal (Epifania) sendo tradicional festejar este acontecimento em pleno Inverno, a 6 de Janeiro.

De qualquer forma, para além da certeza histórica de uma data, é o mistério do Nascimento de Jesus Cristo que os cristãos celebram. E esse é eterno

(Fonte: Evangelho Quotidiano)