No passado dia 4 de Agosto, um
depósito de fertilizante agrícola (nitrato de amónio) explodiu no porto de
Beirute, destruindo grande parte da zona portuária da cidade. Morreram quase
duas centenas de pessoas e umas 6000 ficaram feridas. O transporte de nitrato
de amónio exige precauções de segurança que não foram tidas em conta, em parte
porque os contentores tinham sido deixados ali a título provisório, embora tenham
ficado lá esquecidos durante seis anos.
A explosão pôs em causa a
serenidade da sociedade libanesa, já de si muito provada pelos conflitos
intermináveis nos países vizinhos, Israel, a Palestina, a Síria... e em países
próximos, como o Iraque, a Turquia, a Jordânia... Costuma dizer-se que o Líbano
é um oásis de paz no Médio Oriente, um caso único na região:
– «Há mais de cem anos, o Líbano
tem sido um país de esperança», disse o Santo Padre, porque «os libaneses
mantiveram a sua fé em Deus e foram capazes de fazer da sua terra um lugar de
tolerância, de respeito e de coexistência, único na região. Para o bem do país,
mas também do mundo, não podemos permitir que este património se perca».
Apesar de toda a violência que
circunda o Líbano e que às vezes lhe invade as fronteiras, as várias
comunidades cristãs e muçulmanas têm conseguido conviver. Isso deve-se à
capacidade da maioria cristã de acolher os muçulmanos que se juntaram ao país
por iniciativa dos colonizadores franceses, por volta de 1942, mas também à
abertura das populações muçulmanas, que souberam respeitar o país que as recebeu.
Em 1976, a Síria invadiu o Líbano, com o apoio dos Estados Unidos da América e
de Israel, mas o Líbano conseguiu recuperar a independência e a paz. Outro
desafio foram as multidões de refugiados palestinianos, expulsas do seu país quando
os israelitas ocuparam a Terra Santa para formar o Estado de Israel. Mais uma
vez, o Líbano resistiu.
Depois de tantas convulsões, a
situação social e económica do país está fragilizada e a explosão dos
contentores agrícolas veio acrescentar as tensões. No entanto, a Igreja e todos
os que prezam a paz compreendem que esta experiência de convivência pacífica
não se pode perder. O Líbano tem de ser apoiado, porque o seu povo
extraordinário o merece e porque o Líbano faz imensa falta ao Médio Oriente e ao
mundo.
– «O Líbano não pode ser
abandonado na sua solidão», disse o Santo Padre
Neste último mês, o Vaticano e
várias organizações da Igreja orientaram ajudas económicas e humanas para o
Líbano, mas, segundo o Papa, não é isto o mais importante, nem é suficiente. A
grande ajuda é rezar e jejuar:
– «Convido todos a viverem um dia
universal de oração e jejum pelo Líbano, na próxima sexta-feira, 4 de Setembro.
(...) Vamos oferecer a nossa oração por todo o Líbano e por Beirute. Estejamos
também próximos no compromisso concreto da caridade».
Quem não conhece a Igreja
católica arregala os olhos de espanto: Rezar?! Passar um pouco de fome?! Isso ajuda
alguma coisa?!
Quem acompanha a Igreja sabe que
é assim desde há séculos, a Igreja confia realmente em Deus (ter fé é viver
assim...).
Como líder supremo da Igreja, o
Papa acrescentou uma orientação concreta à oração pelo Líbano: «Peço que
confiem a Maria os nossos medos e as nossas esperanças».
José Maria C.S. André