A realidade número três está relacionada com a situação da mulher moderna. A contracepção, afirmava-se constantemente e ainda hoje se afirma, tornará as mulheres mais livres e felizes do que alguma vez no passado. Será que sim? Os dados, obtidos pelas ciências sociais, sugerem o contrário. A felicidade feminina nos Estados Unidos e na Europa diminuiu com o tempo, ao som dos recorrentes lamentos proferidos pelo feminismo académico e popular e da crescente preocupação entre mulheres seculares de que o matrimónio tornou-se impossível e de que é tempo de seguir caminho sozinhas. Dez anos depois de se ter documentado esta tendência, há muitos mais dados a suportar a ideia de que a Humanae Vitae estava correcta ao indicar um aumento iminente na divisão entre os sexos. Vejamos dois exemplos. Consideremos brevemente duas imagens ilustrativas.
Em 2012, a Amazon Uk, anunciou que as Cinquenta sombras de Grey, de E. L. Jame, tinha superado a venda de livros do Harry Potter da J. K. Rowling, e se tinha convertido no livro mais vendido da sua história. Este fenómeno mostra o extraordinário interesse comercial demonstrado por mulheres, por uma história de um homem rico e poderoso, que humilha, faz bulling e comete actos de violência contra as mulheres uma e outra vez.
O sadomasoquismo é um tema destacado de outros âmbitos da cultura popular, também da feminina. Sobre a sua conexão com a indústria da moda, John Leo observou: “Apercebi-me pela primeira vez da ligação entre a pornografia e a moda em 1975, quando a Vogue publicou sete fotos de um desfile de moda em que aparecia um homem em roupão que golpeava uma modelo enquanto esta gritava, estando ela vestida num lindo macacão cor-de-rosa (marca Saks, 140 dólares; foto: Avedon)”. Bazaar, de Harper, reforçava o mesmo ponto desta forma: “Muito antes da Cinquenta Sombras serem um sucesso, designers inspiraram-se em BDSM. Desde verdadeiros chicotes a fitas para os pulos, tornozelos ou cintura, já para não falar da abundância do uso do couro enquanto material: sem dúvida Christian Grey ficaria orgulhoso.” A violência contra a mulher, tanto implícita como explicita, sobeja nos jogos de consolas e, obviamente, na pornografia. Também na música pop o estilo sadomasoquista se tem estendido amplamente. O número de cantoras globalmente famosas que não prestaram homenagem à pornografia e ao sadomasoquismo é cada vez mais diminuto. Por que razão tantas mulheres aderem a esta imagem feminina de submissão e inferioridade numa época em que a sua liberdade é maior do que nunca? Será que o êxito das Cinquenta Sombras sugere que os homens se têm tornado tão difíceis de se conquistarem que qualquer meio para os atrair é lícito, independentemente de quão degradante este possa ser?
Mary Eberstadt (excerto artigo sobre a encíclica Humanae Vitae publicado pela Aciprensa)