domingo, 26 de julho de 2020

O mundo, lugar de encontro com Deus

Necessitas de formação, porque tens de ter um profundo sentido de responsabilidade, que promova e anime a atuação dos católicos na vida pública, com o respeito devido à liberdade de cada um, e recordando a todos que têm de ser coerentes com a sua fé. (Forja, 712)

Um homem sabedor de que o mundo – e não só o templo – é o lugar do seu encontro com Cristo, ama esse mundo, procura adquirir uma boa preparação intelectual e profissional, vai formando – com plena liberdade – os seus próprios critérios sobre os problemas do meio em que vive; e toma, como consequência, as suas próprias decisões que, por serem decisões de um cristão, procedem também de uma reflexão pessoal que tenta humildemente captar a vontade de Deus nesses aspectos, pequenos e grandes, da vida.

Mas esse cristão não se lembra nunca de pensar ou de dizer que desce do templo ao mundo para representar a Igreja, e que as suas soluções são as soluções católicas daqueles problemas. Isso não pode ser, meus filhos! Isso seria clericalismo, catolicismo oficial, ou como quiserdes chamar-lhe. De qualquer modo, seria violentar a natureza das coisas. Tendes de difundir por toda a parte uma verdadeira mentalidade laical, que há-de levar os cristãos a três consequências: a serem suficientemente honrados para arcarem com a sua responsabilidade pessoal; a serem suficientemente cristãos para respeitarem os seus irmãos na fé que proponham – em matérias discutíveis – soluções diversas das suas; e a serem suficientemente católicos para não se servirem da Igreja, nossa Mãe, misturando-a com partidarismos humanos. (...).

Interpretai, portanto, as minhas palavras como o que são: um chamamento a exercerdes – diariamente!, não apenas em situações de emergência – os vossos direitos; e a cumprirdes nobremente as vossas obrigações como cidadãos – na vida política, na vida económica, na vida universitária, na vida profissional –, assumindo com coragem todas as consequências das vossas decisões, arcando com a independência pessoal que vos corresponde. E essa mentalidade laical cristã permitir-vos-á fugir de toda a intolerância, de todo o fanatismo. Di-lo-ei de um modo positivo: far-vos-á conviver em paz com todos os vossos concidadãos e fomentar também a convivência nos diversos sectores da vida social. (Temas Actuais do Cristianismo, 117–118)

São Josemaría Escrivá

Bom Domingo do Senhor!

Sigamos a sugestão que o Senhor nos fala no Evangelho de hoje (Mt 13, 44-52) e demos-Lhe tudo certos que Ele nos chamará para a Felicidade Eterna no Reino do Céu.

Obrigado Senhor pela Tua infinita bondade!

50 anos da conquista da Lua (1969/2019)

Um amigo escreveu-me por WhatsApp: «O mais grandioso não é que o homem tenha pisado a Lua, mas que Deus tenha pisado a Terra».

Paulo VI juntava as duas coisas, porque, quando Cristo Se fez Homem, Deus passou a fazer parte da história dos homens como protagonista, não só como Criador. Na noite de 20 para 21 de Julho de 1969, do observatório astronómico de Castel Gandolfo, próximo de Roma, enviou uma mensagem pessoal aos astronautas, poucos minutos depois de eles pisarem a Lua. Saudou-os poeticamente como «conquistadores da Lua, luz pálida das nossas noites e dos nossos sonhos» e encarregou-os de entregar, nesse local de beleza e de sonho, uma mensagem a Deus: «Levai aí, com a vossa presença viva, a voz do Espírito, o hino a Deus, nosso Criador e nosso Pai».

Às vezes, o homem esquece-se de que é a voz da criação inteira, de que «foi constituído senhor de todas as criaturas terrenas, para as dominar e se servir delas, dando glória a Deus» – como diz o Concílio Vaticano II («Gaudium et spes», 12). De que serve ao homem dominar a natureza se não souber captar nela a voz de Deus? Se não fizer dela instrumento de louvor a Deus?

S. Paulo descreveu aos romanos esta expectativa do Universo: «A criação aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus. De facto, a criação foi submetida à vaidade (...), na esperança de ser libertada da escravatura da corrupção, em ordem à liberdade da glória dos filhos de Deus» (Rom 8, 19-21).
Os últimos Papas têm-se referido muitas vezes a esta tensão, considerando-a especialmente actual. João Paulo II comentava, na sua Encíclica programática: «Não nos convencem a nós, homens do século XX, as palavras do Apóstolo das Gentes, pronunciadas com uma arrebatadora eloquência, acerca da “criação inteira que geme e sofre, em conjunto, as dores do parto, até ao presente” e “espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus”, acerca da criação que “foi submetida à caducidade”? O imenso progresso (...) no domínio sobre o mundo não revela acaso (...) em grau nunca dantes conhecido aquela multiforme submissão à caducidade? (...) O mundo das conquistas científicas e técnicas, jamais alcançadas, não será ao mesmo tempo o mundo que “geme e sofre” e “espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus”? » («Redemptor hominis», 8).

Esta vaidade ou caducidade da natureza é toda a máquina decadente que oprime os homens: as armas de guerra que matam, os egoísmos que roubam às crianças uma família de amor em que possam crescer, a ganância que descarta os pobres, os doentes, os imigrantes e suja a água e a atmosfera. S. Paulo diz que, por causa desta corrupção, «toda a natureza geme e sofre em conjunto as dores do parto, até ao presente» (Rom 8, 22).

Numa audiência aos peregrinos, naquele Julho de 1969, a propósito da corrida à Lua, Paulo VI aludiu a este drama cósmico que corre o risco de oprimir o homem. «Toda esta eficácia traz vantagem ao homem? Fá-lo melhor, mais humano? Ou o instrumento aprisiona o homem que o produz e torna-o escravo de um sistema de vida que o instrumento impõe ao seu senhor? Tudo depende do coração do homem». Quanta amargura, nestes gemidos lancinantes do Universo!

Resta-nos a consolação de que Cristo entrou na nossa história «em ordem à liberdade da glória dos filhos de Deus» (Rom 8, 21). Ao fazer-Se homem e ao redimir-nos, Cristo abriu a porta. Tornou-se, como escreveu S. Paulo aos romanos e aos colossenses, o «Primogénito de muitos irmãos» (Rom 8, 29), o «Primogénito de toda a criação» (Col 1, 15).

No regresso da viagem, os três astronautas que pisaram a Lua (Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins) conseguiram uma audiência com Paulo VI no Vaticano. Disse-lhes que lhe lembravam «os Reis Magos, viajando atrás de uma estrela, até encontrarem Jesus, Deus feito Homem».

José Maria C.S. André

São Joaquim e Santa Ana


Ouvimos as palavras do Salmo 131, sobre a fidelidade de Deus à sua promessa: "O Senhor jurou a David: verdade da qual nunca se afastará "o fruto do teu ventre hei-de colocar sobre o teu trono!" [...] Realmente, o Senhor escolheu Sião, desejou-a para sua morada: "Este será para sempre o lugar do meu repouso, aqui habitarei, porque o escolhi" (vv. 11.13).

Sem dúvida, Ana e Joaquim pertenciam ao grupo daqueles judeus piedosos que esperavam a consolação de Israel, e precisamente a eles foi dada uma tarefa especial na história da salvação: foram escolhidos por Deus, para gerar a Imaculada que, por sua vez, é chamada a gerar o Filho de Deus.

Conhecemos os nomes dos pais da Bem-Aventurada Virgem através de um texto não canónico, o Protoevangelho de Tiago. Eles são citados na página que precede o anúncio do Anjo a Maria. Esta sua filha não podia deixar de irradiar aquela graça totalmente especial da sua pureza, a plenitude da graça que a preparava para o desígnio da maternidade divina.

Cardeal Tarcisio Bertone – excerto Homilia de 26 de Julho de 2007 na Festa Litúrgica dos Santos Pais de Nossa Senhora

«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro»

É lógico que o fim de todos os nossos desejos, isto é, a vida eterna, seja indicado no fim de tudo o que nos é dado a crer no Credo, com estas palavras: «A vida eterna. Ámen.» [...] Na vida eterna acontece a união do homem com Deus [...], o louvor perfeito [...] e a perfeita saciedade dos nossos desejos, pois cada bem-aventurado ainda possuirá mais do que esperava e pensava. Nesta vida ninguém pode saciar os seus desejos; nunca nada criado poderá saciar os desejos do homem. Só Deus sacia, e fá-lo infinitamente. É por isso que só podemos repousar em Deus, como disse santo Agostinho: «Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração anda inquieto até que repouse em Ti».

Uma vez que, na pátria, os santos  possuirão a Deus de um modo perfeito, é evidente que, não apenas o seu desejo será saciado, mas ainda transbordará de glória. É por isso que o Senhor diz: «Entra no gozo do teu Senhor» (Mt 25,21). E Santo Agostinho diz, a esse respeito: «Não é que toda a alegria entrará naqueles que se alegram, mas que aqueles que se alegram entrarão inteiramente na alegria». Diz um salmo: «Quero contemplar-Te no santuário, para ver o Teu poder e a Tua glória» [63 (62),3], e outro: «Ele satisfará os desejos do teu coração» [Sl 37 (36),4]. [...] Porque, se desejamos as delícias, é aí que encontraremos a satisfação suprema e perfeita, pois ela consistirá no bem soberano que é o próprio Deus: «delícias eternas, à Tua direita» [Sl 17 (16),11].

São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Homilia sobre o Credo