sábado, 11 de julho de 2020

Não te esqueças da figueira amaldiçoada

Aproveita o tempo. Não te esqueças da figueira amaldiçoada. Já fazia alguma coisa: dar folhas. Como tu... – Não me digas que tens desculpas. De nada valeu à figueira – narra o Evangelista – não ser tempo de figos, quando o Senhor lá os foi buscar. – E estéril ficou para sempre. (Caminho, 354)

Voltemos ao Santo Evangelho e detenhamo-nos no que refere S. Mateus, no capítulo vigésimo primeiro. Conta-nos que Jesus, quando voltava para a cidade, teve fome. Vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela. Que alegria, Senhor, ver-te com fome, ver-te também sedento, junto do poço de Sicar!. (...)

Como te fazes compreender bem, Senhor! Como te fazes amar! Mostras-te igual a nós em tudo, excepto no pecado, para que sintamos que contigo poderemos vencer as nossas más inclinações e as nossas culpas. Efectivamente, não têm importância o cansaço, a fome, a sede, as lágrimas... Cristo cansou-se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a luta – uma luta amável, porque o Senhor permanece sempre a nosso lado – para cumprir a vontade do Pai que está nos céus. (...)

Abeirou-se da figueira, mas não encontrou senão folhas . É lamentável. Não acontecerá assim também na nossa vida? Não haverá nela, infelizmente, falta de fé e de vibração de humildade, ausência de sacrifícios e de obras? Não será que apresentamos um cristianismo só de fachada e sem frutos? É terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais nasça fruto de ti. E, imediatamente, secou a figueira. Entristece-nos esta passagem da Sagrada Escritura, ao mesmo tempo que, por outro lado, nos anima a avivar a fé, a viver conformes à fé, para que Cristo receba sempre algum lucro da nossa parte. (Amigos de Deus 201–202)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho de Domingo dia 12 de julho de 2020

Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-Se à beira do mar. E juntou-se em volta d'Ele uma grande multidão de gente, de tal modo que foi preciso entrar numa barca e sentar-Se nela; e toda a multidão estava em pé na praia. E disse-lhes muitas coisas por parábolas: «Eis que um semeador saiu a semear. Quando semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho; e vieram as aves do céu e comeram-na. Outra parte caiu em lugar pedregoso, onde não havia muita terra; e nasceu logo, porque não tinha profundidade de terra. Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra parte, enfim, caiu em boa terra, e frutificou; uns grãos deram cem por um, outros sessenta, outros trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». Chegando-se a Ele os discípulos, disseram-Lhe: «Por que razão lhes falas por meio de parábolas?». Ele respondeu-lhes: «Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem lhe será dado ainda mais, e terá em abundância, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo não vêem e ouvindo não ouvem nem entendem. E cumpre-se neles a profecia de Isaías, que diz: “Ouvireis com os ouvidos e não entendereis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se insensível, os seus ouvidos tornaram-se duros, e fecharam os olhos, para não suceder que vejam com os olhos, e oiçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os cure”. Ditosos, porém, os vossos olhos, porque vêem e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram. «Ouvi, pois, vós, o que significa a parábola do semeador: A todo aquele que ouve a palavra do reino e não lhe presta atenção, vem o espírito maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. O que recebeu a semente no lugar pedregoso, é aquele que ouve a palavra, e logo a recebe com gosto; porém, não tem em si raiz, é inconstante; e, quando lhe sobrevém a tribulação e a perseguição por causa da palavra, logo sucumbe. O que recebeu a semente entre espinhos, é aquele que ouve a palavra; porém, os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra e fica infrutífera. O que recebeu a semente em boa terra, é aquele que ouve a palavra e a compreende; esse dá fruto, e umas vezes dá cem, outras sessenta, e outras trinta por um».

Mt 13, 1-23

O rosto da Europa

"A Europa jaz, posta nos cotovelos" - escrevia Fernando Pessoa, no primeiro poema da Mensagem, dando assim início à descrição heráldica do primeiro quartel, "o dos castelos", em "os campos" do "brasão" nacional. Não será por acaso que, na primeira referência à identidade cultural da Europa, se alude ao seu passado helénico: "olhos gregos, lembrando". A Europa não é uma evidência geográfica, nem histórica e, portanto, só um elemento de carácter cultural a poderá individuar e diferenciar dos restantes continentes. Se o pensamento especulativo foi a grandeza da Grécia e o primeiro elemento da matriz civilizacional europeia, a Europa não se teria realizado sem a organização política de Roma. O império romano dotou a Europa de um sistema político e jurídico que, embora reconhecendo as singularidades das suas diferentes nações, lhe deu unidade. Se o corpo da Europa é a terra em que assenta e os povos que a habitam, o seu espírito foi, para além da cultura greco-latina, a religião cristã. O Cristianismo, durante mais de dois milénios, deu alma à Europa, unindo as suas gentes nos ideais cristãos, que tiveram depois expressão nas declarações dos direitos humanos. Também os princípios da revolução francesa, embora laica, têm uma raiz cristã, porque a liberdade e a igualdade são consequências da fraternidade universal dos filhos de Deus.

O Cristianismo foi também um factor de expansão. Os descobrimentos deram feição a essa ânsia universal, mais espiritual do que mercantil, porque mais alto do que os intuitos comerciais de especiarias ou de possessões ultramarinas, se ergueu sempre a cruz. No concerto das nações europeias, cabe a Portugal a missão de recordar ao continente a sua vocação universal. Porque o rosto com que a Europa fita o mundo, "com olhar esfíngico e fatal", é Portugal.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada