segunda-feira, 18 de maio de 2020

Que em cada um de vós esteja a alma de Maria

– Minha Mãe! As mães da terra olham com maior predilecção para o filho mais débil, o mais doente, o menos esperto, o pobre defeituoso... Senhora!, eu sei que tu és mais Mãe que todas as mães juntas... E como sou teu filho... E como sou débil, e doente..., e defeituoso..., e feio... (Forja, 234)

As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos. Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam. Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus permaneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo. Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém... Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra... Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância! E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele. As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus. Por isso, a Mãe – e, depois dela, José – conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.

Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus. (Amigos de Deus, 280–281)

São Josemaría Escrivá

MISTÉRIOS DO EVANGELHO Terceiro Mistério

A Família de Jesus Cristo

Todo aquele que escuta e faz a Vontade de Meu Pai, que está nos céus, é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe”. (Cfr. Mt 12, 46-50)
Porque é que Cristo tratou, piedosamente, com indiferença a sua Mãe? Não se tratava de uma mãe qualquer, mas de uma Mãe virgem. Maria, com efeito, recebeu o dom da fecundidade sem prejuízo da sua integridade: foi virgem ao conceber, no parto e perpetuamente. No entanto, o Senhor relegou uma Mãe tão excelente para que o afecto materno não o impedisse de realizar a obra começada. Que fazia Cristo? Evangelizava as gentes, destruía o homem velho e edificava um novo, libertava as almas, libertava os presos, iluminava as inteligências obscurecidas, realizava todo o tipo de boas obras. Todo o seu ser se abrasava em tão santa empresa. E nesse momento anunciaram-lhe o afecto da carne. Já ouvistes o que respondeu, para que o vou repetir? Estejam atentas as mães, para que com o seu carinho não dificultem as boas obras dos seus filhos. E se pretendem impedi-las ou põem obstáculos para atrasar o que não podem anular, sejam desprezadas pelos filhos. Mais ainda, atrevo-me a dizer que sejam desdenhadas, desdenhadas por piedade. Se a Virgem Maria foi assim tratada, porque há-de aborrecer-se a mulher — casada ou viúva — quando o seu filho, disposto a fazer o bem, a despreze? Dir-me-ás: então, comparas o meu filho com Cristo? E respondo-te: Não, não o comparo com Cristo, nem a ti com Maria. Cristo não condenou o afecto materno, mas mostrou com o seu exemplo sublime que se deve postergar a própria mãe para realizar a obra de Deus (...). Como podemos interpretar que também somos mães de cristo?  Atrever-me-ei a dizer que o somos? Sim, atrevo-me a dizê-lo. Acaso a Virgem Maria — eleita para que d’Ela nos nascesse a salvação e criada por Cristo antes que Cristo fosse n’Ela criado — não cumpria la vontade do Pai? Sem dúvida que a cumpriu, e perfeitamente. Santa Maria, que pela fé acreditou e concebeu, teve em mais ser discípula de Cristo do que Mãe de Cristo. Recebeu maiores ditas como discípula do que como Mãe. Maria era já bem-aventurada antes de dar à luz, porque levava no seu seio o Mestre. Repara se não é verdade o que digo. Ao ver o Senhor que caminhava entre a multidão e fazia milagres, uma mulher exclamou: “bem-aventurado o ventre que Te trouxe!”. Mas o Senhor, para que não procurássemos a felicidade na carne, o que é que responde? “Antes bem-aventurados, os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. Depois, Maria é bem-aventurada porque ouviu a palavra de Deus e guardou-a: conservou a verdade na mente melhor do que a carne no seu seio. Cristo é Verdade, Cristo é Carne. Cristo Verdade estava na alma de Maria, Cristo Carne encerrava-se no seu seio; mas o que se encontra na alma é melhor do que o que se concebe no ventre. Maria é Santíssima e Bem-aventurada. No entanto, a Igreja é mais perfeita do que a Virgem Maria. Porquê? Porque Maria é uma porção da Igreja, um membro santo, excelente, supereminente, mas afinal membro de um corpo inteiro. O Senhor é a Cabeça, e o Cristo total é Cabeça e corpo. Que direi então? A nossa Cabeça é divina: temos Deus como Cabeça. Vós, caríssimos, também sois membros de Cristo, sois corpo de Cristo. Vede como sois o que Ele disse: “Eis Minha mãe e Meus irmãos”. Como sereis mãe de Cristo? O próprio Senhor nos responde: “Todo aquele que escuta e faz a Vontade de Meu Pai, que está nos céus, é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe”. Olhai, entendo o de irmão e o de irmã, porque única é a herança; e descubro nestas palavras a misericórdia de Cristo: sendo o Unigénito, quis que fossemos herdeiros do Pai, co-herdeiros com Ele. A sua herança é tal, que não pode diminuir ainda que participe dela uma multidão. Entendo, pois, que somos irmãos de Cristo, e que as mulheres santas e fiéis são suas irmãs. Mas como podemos interpretar que também somos mães de Cristo? Atrever-me-ei a dizer que o somos? Sim, atrevo-me a dizê-lo. Se antes afirmei que sois irmãos de Cristo, como não vou a afirmar agora que sois sua mãe? Porventura poderia negar as palavras de Cristo? Sabemos que a Igreja é Esposa de Cristo, e também, embora seja mais difícil de entender, que é sue Mãe. A Virgem Maria adiantou-se como tipo da Igreja. Porquê — pergunto-vos — é Maria Mãe de Cristo, mas porque deu à luz os membros de Cristo? E a vós, membros de Cristo, quem vos deu à luz? Ouço a voz do vosso coração: a Madre Igreja! Semelhante a Maria, esta Mãe santa e honrada, ao mesmo tempo dá à luz e é virgem. Vós mesmos sois prova do primeiro: nascestes d’Ela, como Cristo, de quem sois membros. Da sua virgindade não me faltarão testemunhos divinos. Adianta-te ao povo, bem-aventurado Paulo, e serve-me de testemunha. Eleva a voz para dizer o que quero afirmar: “Desposei-vos para vos apresentar como virgem pura, a um único esposo, a Cristo; mas temo que assim como a serpente seduziu Eva com a sua astúcia, assim também percam as vossas mentes a castidade que está em Cristo Jesus”. Conservai, pois, a virgindade nas vossas almas, que é a integridade da fé católica. Aí onde Eva foi corrompida pela palavra da serpente, aí deve ser virgem a Igreja com a graça do Omnipotente. Portanto, os membros de Cristo dêem à luz na mente, como Maria iluminou Cristo no seu seio, permanecendo virgem. Desse modo sereis mães de Cristo. Esse parentesco não vos deve estranhar nem repugnar: fostes filhos, sede também mães. Ao ser baptizados, nascestes como membros de Cristo, fostes filhos da Mãe. Trazei agora ao lavatório do Baptismo aqueles que possais; e assim como fostes filhos pelo vosso nascimento, podereis ser mães de Cristo conduzindo os que vão renascer. (Santo Agostinho, Sermão 72 A, 3. 7-8)
Eu, pobre homem, sou da Família de Cristo!
Que honra!
Que dignidade!
(AMA, 2019)

‘Caderno de encargos’ para se ser Sacerdote

"Um padre deve ser
 Ao mesmo tempo grande e pequeno,
 Nobre de espírito, como de sangue real,
 Simples e natural, como de estirpe  camponesa,
 Um herói na conquista de si próprio,
 Um homem que se bateu com Deus,
 Uma fonte de santificação,
 Um pecador perdoado por Deus,
 O mestre dos seus desejos,
 Um servidor para os tímidos e os fracos,
 Que não se rebaixa diante dos poderosos
 Mas se curva diante dos pobres,
 Discípulo do seu Senhor,
 Chefe do seu rebanho,
 Um mendigo de mãos largamente abertas,
 
S. João Maria Vianney, Padroeiro dos
Sacerdotes (não é o autor do texto)
Um portador de inumeráveis dons,
 Um homem no campo de batalha,
 Uma mãe para reconfortar os doentes,
 Com a sabedoria da idade


 E a confiança de uma criança,
 Voltado para o Alto,
 Os pés sobre a terra,
 Feito para a alegria,
 Conhecendo o sofrimento,
 Longe de toda a inveja,
 Clarividente,
 Falando com franqueza,
 Um amigo da paz,
 Um inimigo da preguiça,
 Sempre constante...
 Tão diferente de mim!"

De um manuscrito medieval encontrado em Salzburgo

N. Spe Deus: título da responsabilidade do blogue. Muito obrigado!

A regra de ouro

O Sermão da Montanha não corresponde necessariamente às ideias tradicionais. Opõe-se até às nossas definições de sorte, grandeza, poder, êxito ou justiça.

E, no seu final, oferece aos ouvintes um resumo, quase que uma lei das leis, a "regra de ouro" da vida. Diz assim: "Portanto, tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas".

A regra de ouro já existia antes de Cristo, embora formulada de maneira negativa: "Não faças a ninguém o que não queres que te façam". Jesus supera-a com uma formulação positiva que, como é lógico, é muito mais exigente.

Na minha opinião, o que assombra pela sua grandiosidade é que se deixam de lado as comparações - quem fez o quê, quando, como, a quem -; que a pessoa já não se perde em distinções, mas compreende a missão essencial que lhe foi confiada: abrir bem os olhos, abrir o coração e encontrar as possibilidades criativas do bem. Já não se trata de  perguntar o que é que eu quero, mas de transpor para os outros o meu querer. E esta entrega autêntica, com toda a sua fantasia criativa, com todas as possibilidades que abre diante de nós, está recolhida numa regra muito prática, para que não fique reduzida a um sonho idealista qualquer.

(Cardeal Joseph Ratzinger em entrevista a Jaime Antúnez Aldunate)