domingo, 17 de maio de 2020

Nada vale a pena se não estamos junto do Senhor

Maria, tua Mãe, levar-te-á ao Amor de Jesus. E aí estarás "cum gaudio et pace", com alegria e paz, sempre "levado" – porque sozinho cairias e encher-te-ias de lodo – pelo caminho fora, para crer, para amar e para sofrer. (Forja, 677)

Maria e José perguntaram por ele a parentes e conhecidos. E, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura. A Mãe de Deus, que procurou com afã o seu Filho, perdido sem sua culpa e que sentiu a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a voltar atrás, a rectificar o que for preciso, quando, pelas nossas leviandades ou pecados, não consigamos descobrir Cristo. Teremos assim a alegria de o abraçar de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos.

Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais importa: que nada vale a pena se não estamos junto do Senhor, que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se no nosso peito não arde a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor interminável, na nossa Pátria definitiva. (Amigos de Deus, 278)

São Josemaría Escrivá

MISTÉRIOS DO EVANGELHO Segundo Mistério

Perfeição

«Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito.» (Cfr. Mt 5, 48)
Como podes Tu, Senhor meu, mandar-me tal coisa!
Como cumprir tal mandato?
Não será, Senhor, que mandas algo impossível?
Tu, que sabes tudo, conheces as minhas fraquezas e limitações, como me mandas tal coisa tão grande! Sim, Tu, sabes tudo e, por isso sabes que Te amo e que, nesse amor, ponho toda a minha esperança e confiança em Ti. Esperança que me ajudarás com o que me falta. Confiança em que, sabendo o que preciso, providenciarás o necessário para poder cumprir o que mandas. Da quod iube et iube quod vis! (Stº Agostinho)
Jesus Cristo enuncia um ideal de conduta humana. Como todos os ideais, também este é difícil de atingir. Mas não impossível, porque o Senhor nunca pede impossíveis aos Seus filhos. Como interpretar, então, o que diz? Faltará, talvez, acrescentar: Este é - deve ser - o teu ideal; esforça-te por consegui-lo.
A mim, pobre homem, que de ideais percebo muito pouco, não me resta fazer senão o que Jesus sugere: Fazei o possível! E, com a segurança do Seu auxílio e apoio, sei muito bem que, para Ele, nada é impossível. 
Os perfeitos só se encontram no Céu(Cfr. São Josemaria, Sulco, 758)
Assim as coisas ficam mais claras e, parece-me que encontrei a solução: tenho de ser santo! E, para tanto, só existe um caminho seguro: Fazer, em tudo, a Vontade de Deus.
Docere me facere voluntatem tuam quia Deus meus es tu!” Este, quero que seja o meu lema diário, constante. Ajuda-me, Senhor, a concretizá-lo, minha Mãe, Maria Santíssima, São José meu Pai e Senhor, Anjo da Minha Guarda, tomai-me pela mão para que não me desvie do meu caminho.» (AMA, Orações diárias)
A dificuldade principal – julgo – está em que, muitas vezes, desejamos que a Vontade de Deus se “conforme” com a nossa própria vontade o que, corresponderá de certo modo, termos Deus como que ao “nosso serviço”, quando deverá ser exactamente o contrário. Não há outro remédio nem caminho para solucionar este assunto: Pedir, com insistência perseverante: ‘Senhor, ajuda-me a fazer sempre a Tua Vontade’.

(AMA, 2019)

Bom Domingo do Senhor!

Deixemos que o Pai e o Senhor façam morada em nós como Ele nos fala no Evangelho de hoje (Jo 14, 15-21) para assim acolhermos o Espírito Santo de d’Eles procede.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo…

O retrato da aviadora

Guadalupe é a jovem à direita
O melhor retrato de Guadalupe Ortiz de Landázuri é ao lado de um avião, com uma amiga, em 1932. Um biplano da época, com um motor enorme e pesadíssimo, de 8 cilindros em V, mas com uma potência realmente pequena, como se fosse quase toda empregue a fazer barulho. A estrutura do biplano vibrava sonoramente, de modo que tudo emanava decibéis. Um jogo de cabos e roldanas manobrava as superfícies alares, outros cabos controlavam o motor. Se tudo corresse bem, o grande pássaro começava a rolar inclinado na terra batida, arrastando a cauda, saltava para a horizontal e continuava a acelerar, até que um puxão decisivo da manche o erguia ligeiramente do chão, flutuando no ar a oscilar lateralmente como um pêndulo. Uns cabos e roldanas trabalhavam para estabilizar estas oscilações, outros cabos mantinham o motor a roncar à rotação máxima. No auge da velocidade, o avião cortava os ares a 200 km/h! Um dos divertimentos era entrar numa nuvem e deixar de ver a paisagem até sair do outro lado. A viagem terminava aos saltos na terra batida. O trem rígido transmitia à fuselagem os impactos e os cabos, esticados ao máximo, a custo conseguiam que as asas mantivessem o aparelho horizontal. Cada salto era uma incógnita mas, a cada salto o avião perdia velocidade. Em certo momento, a cauda caía, arrastava-se pelo chão e o avião fazia piões levantando poeira – para a esquerda ou para a direita, nunca se podia adivinhar para que lado rodaria de cada vez – até finalmente as rodas se encravarem numa irregularidade do terreno. Este último choque, que fazia estremecer toda a estrutura, era o sinal de que a viagem tinha terminado bem. Fechava-se uma válvula e, passado pouco tempo, o motor sufocava por falta de combustível. O silêncio regressava ao campo mas os pilotos, neste caso as duas amigas, continuavam ensurdecidas pelos barulhos anteriores.

Esta fotografia de Guadalupe em 1932, com a amiga que pilotava o avião, é o símbolo perfeito de uma rapariga aventurosa e independente. Também existem imagens dela na universidade, no laboratório em que investigava e na época do doutoramento, ou mais tarde quando dava aulas. Existem fotografias de Guadalupe a divertir-se com amigas em várias cidades do mundo onde viveu. Existe uma fotografia dela, sorridente, sentada no cimo da torre da granja mexicana de Montefalco, então em escombros, que recuperou para um extraordinário trabalho de promoção social dos camponeses da zona. Pelo interior dessas terras mexicanas, foi mordida por um lacrau e esteve às portas da morte. Quantas andanças e experiências radicais!

No entanto, a razão que levou o Papa Francisco a decretar que Guadalupe fosse beatificada neste sábado, 18 de Maio de 2019, passa desapercebida nas fotografias. A razão é que Guadalupe foi santa. Mulher de oração intensa, no meio das peripécias da vida, também nos trabalhos profissionais e nas relações de amizade. No início de 1944, Guadalupe deu-se conta de que Deus a chamava a santificar-se dessa maneira, sem nada de especial, procurando servir os outros e transformando cada momento numa contemplação enamorada de Deus. Esta vocação à santidade concretizava-se em ser do Opus Dei e Guadalupe aceitou tudo o que Deus lhe pedia.

A sua vida não podia ter sido mais simples, nem mais intensamente feliz. O processo de canonização iniciou-se poucos anos depois da morte, a pedido de milhares de pessoas que a conheceram e de muitos bispos de vários países do mundo que, de uma forma ou de outra, tiveram contacto com ela. Seguiram-se todos os passos usuais, examinou-se cuidadosamente o milagre requerido pelo Direito Canónico para a beatificação e tudo culminou com a cerimónia de beatificação, neste sábado, por decisão do Papa Francisco.
José Maria C.S. André

O essencial é Jesus Cristo

No amor a Cristo, à Igreja e no respeito à Sagrada Eucaristia e no Evangelho deveremos estar unidos com as mesmas intenções, mas tal não implica que os católicos tenham de se apresentar e participar na Santa Missa em coreografia universal, provavelmente muito bonita de se ver, mas que em nada asseguraria a devoção, o verdadeiro envolvimento dos fiéis e os respeito pela cultura religiosa de cada país.

Há regras base de comportamento dos celebrantes e dos fiéis bem definidas pela Igreja, mas outras variam segundo a tradição de país para país. Porque é que um católico que não faça a genuflexão durante a consagração, há-de ser menos devoto do que eu que a faço, se na tradição da sua comunidade tal não se pratica?

Com tanta coisa relevante com que nos preocupar e que merecem toda a nossa atenção e esforço, e.g.: a defesa da vida, a defesa da família, a violência física e moral sobre os cristãos, a falta de valores éticos e morais, apegarmo-nos a criticar por que A celebra assim, B não se ajoelha é certamente uma forma muito ineficaz de servir o Senhor.

Pessoalmente gosto de participar na Santa Missa aonde haja, por exemplo, um crucifixo no centro do altar, mas se tal não suceder, estar com o Senhor, celebrar a Sua Paixão e Ressurreição é de facto o mais importante, ou seja, desde que nada seja herético ou desvirtue o preceituado pela Igreja a minha concentração está praticamente na sua totalidade em Deus e na Sua presença no Corpo e Sangue de Cristo.

Que Deus nos ajude a não ser fundamentalistas e a amá-Lo sem preconceitos em relação ao próximo, participando e vivendo a Santa Missa sobretudo com amor, respeito e entrega.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo…

JPR

«Deixar Deus actuar»

Sempre me chamou a atenção o sentido que Josemaria Escrivá dava ao nome Opus Dei; uma interpretação que poderíamos chamar biográfica e que permite entender o fundador na sua fisionomia espiritual. Escrivá sabia que devia fundar algo, e ao mesmo tempo estava convencido de que esse algo não era obra sua: ele não tinha inventado nada: simplesmente o Senhor tinha-se servido dele e, em consequência, aquilo não era obra sua, mas sim a Obra de Deus. Ele era somente um instrumento através do qual Deus tinha actuado.

Ao considerar esta atitude vêm-me à mente as palavras do Senhor recolhidas no evangelho de São João 5, 17: «O Meu Pai trabalha sempre». São palavras pronunciadas por Jesus no curso de uma discussão com alguns especialistas da religião que não queriam reconhecer que Deus pode trabalhar no dia de Sábado. Um debate todavia aberto e actual, de certo modo, entre os homens – incluindo os cristãos – do nosso tempo. Alguns pensam que Deus, depois da criação, se «retirou» e já não mostra nenhum interesse pelos nossos assuntos diários. Segundo este modo de pensar, Deus não poderia intervir no tecido da nossa vida quotidiana; todavia, as palavras de Jesus Cristo indicam-nos antes o contrário. Um homem aberto à presença de Deus dá-se conta que Deus trabalha sempre e de que também actua hoje; por isso devemos deixa-lo entrar e facilitar-lhe que actue em nós. É assim que nascem tantas coisas que abrem o futuro e renovam a humanidade.

Tudo isto ajuda-nos a compreender porque Josemaria Escrivá não se considerava «fundador» de nada, e porque se via somente como um homem que quer cumprir uma vontade de Deus, secundar essa acção, a obra - com efeito – de Deus. Neste sentido, constitui para mim uma mensagem de grande importância o teocentrismo de Escrivá de Balaguer: está em coerência com essas palavras de Jesus essa confiança em que Deus não se retirou do mundo, porque está actuando constantemente; e que a nós apenas nos corresponde pormo-nos à sua disposição, estar disponíveis, sendo capazes de responder à sua chamada. É uma mensagem que também ajuda a superar o que pode considerar-se como a grande tentação do nosso tempo: a pretensão de pensar que depois do big bang, Deus se retirou da história. A acção de Deus «não se deteve» no momento do big bang, antes continua no curso do tempo, tanto no mundo da natureza como no dos homens.

O fundador da Obra dizia: eu não inventei nada; é outro que fez tudo; eu procurei estar disponível e servi-lo como instrumento. a palavra e toda a realidade que chamamos Opus Dei está profundamente enxertada com a vida do Fundador, que ainda que procurando ser muito discreto neste ponto, dá a entender que permanecia em diálogo constante, em contacto real com Aquele que nos criou e actua por nós e connosco.

De Moisés diz-se no livro de Êxodo (33,11) que Deus falava face a face com ele, como um amigo fala com um amigo». Parece-me que, se bem que o véu da discrição esconde alguns pequenos sinais, há fundamento suficiente para muito bem por aplicar a Josemaria Escrivá isso de «falar como um amigo fala com um amigo», que abre as portas do mundo para que Deus possa tornar-se presente, fazer e transformar tudo.

Nesta perspectiva compreende-se melhor o que significa santidade e vocação universal à santidade. Conhecendo um pouco da história dos santos, e sabendo que nos processos de canonização se procura a virtude «heróica» podemos ter, quase inevitavelmente, um conceito errado da santidade porque tendemos a pensar: «isto não é para mim»; «eu não me sinto capaz de praticar virtudes heróicas»; «é um ideal demasiado alto para mim». Nesse caso a santidade estaria reservada para alguns «grandes» dos quais vemos as imagens nos altares e que são muito diferentes de nós, normais pecadores. Essa seria uma ideia totalmente errada da santidade, uma concepção errónea que foi corrigida – e isto parece-me um ponto central – precisamente por Josemaría Escrivá.

Virtude heróica não quer dizer que o santo seja uma espécie de «ginasta» da santidade, que realiza uns exercícios inexequíveis para as pessoas normais. Quer dizer, pelo contrário, que na vida de um homem se revela a presença de Deus, e fica mais patente tudo quanto o homem não é capaz de fazer por si mesmo. Talvez, no fundo, se trate de uma questão terminológica, porque o adjectivo «heróico» foi com frequência mal interpretado. Virtude heróica não significa exactamente que alguém faz coisas grandes por si mesmo, mas que na sua vida aparecem realidades que ele não fez, porque ele só esteve disponível para deixar que Deus actuasse. Por outras palavras, ser santo não é outra coisa que falara com Deus como um amigo fala com o amigo. Isto é a santidade.

Ser santo não implica ser superior aos outros; pelo contrário, o santo pode ser muito débil, e contar com numerosos erros na sua vida. A santidade é o contacto profundo com Deus: é fazer-se amigo de Deus, deixara o Outro operar, o Único que realmente pode fazer com que este mundo seja bom e feliz. Quando Josemaría Escrivá diz que todos os homens são chamados a ser santos, parece-me que, no fundo, está a referir-se à sua experiência pessoal, porque nunca fez, por si mesmo, coisas incríveis, antes se limitou a deixar Deus operar. E, por isso, nasceu uma grande renovação, uma força de bem no mundo, ainda que continuem presentes todas as debilidades humanas.

Verdadeiramente todos somos capazes, todos somos chamados a abrir-nos a essa amizade com Deus, a não nos desprender-mos das suas mãos, a não nos cansarmos de voltar e regressar ao Senhor falando com Ele como se fala com um amigo sabendo, com certeza, que o Senhor é o verdadeiro amigo de todos, também de todos os que não são capazes de fazer por si mesmos coisas grandes.

Por tudo isto compreendi melhor a fisionomia do Opus Dei: a forte ligação que existe entre uma fidelidade absoluta à grande tradição da Igreja, a sua fé, com simplicidade desarmante, e abertura incondicional a todos os desafios deste mundo, seja no âmbito académico, no do trabalho ordinário, na economia, etc. Quem tem este vínculo com Deus, quem mantém com Ele um colóquio ininterrupto, pode atrever-se a responder a novos desafios., e não tem medo; porque quem está nas mãos de Deus, cai sempre nas mãos de Deus. É assim que o medo desaparece e nasce a valentia de responder aos desafios do mundo de hoje.

(Transcrição de uma intervenção oral do Cardeal Joseph Ratzinger publicada no suplemento especial do «Osservatore Romano» de 6 de Outubro de 2002 editado por ocasião da canonização de Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei)

Aniversário da Beatificação de São Josemaría Escrivá (1992)

Josemaría Escrivá de Balaguer, nasceu numa família profundamente cristã, já na adolescência percebeu a chamada de Deus a uma vida de maior entrega. Poucos anos depois de ser ordenado sacerdote, iniciou a missão fundacional a que dedicaria 47 anos de amorosa e infatigável solicitude em favor dos sacerdotes e leigos do que é hoje a Prelatura do Opus Dei.

A vida espiritual e apostólica do novo Beato esteve fundamentada em saber-se, pela fé, filho de Deus em Cristo. Dessa fé se alimentava o seu amor ao Senhor, o seu ímpeto evangelizador, a sua alegria constante, mesmo nas grandes provas e dificuldades que teve de suportar. "Ter a cruz é encontrar a felicidade, a alegria, – diz-nos numa das suas meditações –; ter a cruz é identificar-se com Cristo, é ser Cristo e, por isso, ser filho de Deus".

Com sobrenatural intuição, o Beato Josemaría pregou incansavelmente o chamamento universal à santidade e ao apostolado. Cristo convoca todos a santificar-se na realidade da vida quotidiana; por isso o trabalho é também meio de santificação pessoal e de apostolado quando se vive em união com Jesus Cristo, pois o Filho de Deus, ao encarnar, se uniu de certo modo a toda a realidade do homem e a toda a criação (cfr. Dominum et vivificantem, 50). Numa sociedade em que o afã desenfreado de possuir coisas materiais, as converte num ídolo e motivo de afastamento de Deus, o novo Beato recorda-nos que essas realidades, criaturas de Deus e do engenho humano, se se usam rectamente para Gloria do Criador e ao serviço dos irmãos, podem ser caminho para o encontro dos homens com Cristo. "Todas as coisas da terra – ensinava –, também as actividades terrenas e temporais dos homens, têm de ser levadas a Deus" (Carta, 19-III-1954).

"Bendirei para sempre o Teu nome, meu Deus e meu Rei". Esta aclamação que fizemos no Salmo responsorial é como o compêndio da vida espiritual do Beato Josemaría. O seu grande amor a Cristo, por quem se sente fascinado, leva-o a consagrar-se para sempre a Ele, e a participar no mistério da sua paixão e ressurreição. Ao mesmo tempo, o seu amor filial à Virgem Maria, leva-o a imitar as suas virtudes. "Bendirei o Teu nome para todo o sempre": eis o hino que brotava espontaneamente da sua alma e que o impelia a oferecer a Deus tudo aquilo que era seu e quanto o rodeava. De facto, a sua vida reveste-se de humanismo cristão com o selo inconfundível da bondade, da mansidão de coração, o sofrimento escondido com que Deus purifica e santifica os seus eleitos.

João Paulo II - excerto homilia da Missa do dia 17 de Maio de 1992

«vós é que O conheceis, porque permanece junto de vós, e está em vós»

São Paulo VI (1897-1978), papa de 1963 a 1978
Audiência Geral de 1972/05/17


«O Espírito sopra onde quer», diz Jesus na sua conversa com Nicodemos (Jo 3,8). Não podemos pois traçar, no plano doutrinal e prático, normas restritas no que respeita à intervenção do Espírito Santo na vida dos homens. Ele pode manifestar-Se nas formas mais livres e mais inesperadas: «Ele brinca sobre a superfície da terra» (Prov 8,31). […] Mas, para aqueles que querem captar as ondas sobrenaturais do Espírito Santo, há uma regra, uma exigência que é habitualmente imposta: a vida interior. É dentro da alma que se dá o encontro com este hóspede inexprimível, «doce hóspede da alma», como diz o maravilhoso hino litúrgico de Pentecostes. O homem torna-se «templo do Espírito Santo», rediz São Paulo (1Cor 3,16; 6,19).

O homem de hoje, e também o cristão, incluindo aqueles que são consagrados a Deus, tende a secularizar-se. Mas não pode, não deve nunca esquecer esta exigência básica da vida interior, se quer que a sua vida continue a ser cristã e animada pelo Espírito Santo. O Pentecostes foi precedido por uma novena de recolhimento e de oração. O silêncio interior é necessário para escutar a palavra de Deus, para sentir sua presença, para ouvir o chamamento de Deus.

Hoje, o nosso espírito está muito voltado para o exterior […]; não sabemos meditar, não sabemos orar; não sabemos silenciar todo o barulho que fazem em nós os interesses externos, as imagens, as disposições de ânimo. Não há no coração um espaço tranquilo e sagrado para a chama do Pentecostes. […] A conclusão é óbvia: temos de dar à vida interior o seu lugar próprio no programa da nossa vida, um lugar privilegiado, silencioso, puro; temos de nos reencontrar para que o Espírito vivificante e santificante possa habitar em nós.