sábado, 16 de maio de 2020

Recorre com confiança a Nossa Senhora

Quando te vires com o coração seco, sem saber o que hás-de dizer, recorre com confiança a Nossa Senhora. Diz-Lhe: "Minha Mãe Imaculada, intercede por mim!". Se a invocares com fé, Ela far-te-á saborear – no meio dessa secura – a proximidade de Deus. (Sulco, 695)

Contemplemos agora a sua Mãe bendita, também nossa Mãe. No Calvário, junto ao patíbulo, reza. Não é uma atitude nova em Maria. Assim se conduziu sempre, cumprindo os seus deveres, ocupando-se do seu lar. Enquanto estava nas coisas da terra, permanecia pendente de Deus. Cristo, perfectus Deus, perfectus homo , quis que também a sua Mãe, a criatura mais excelsa, a cheia de graça, nos confirmasse nesse afã de elevar sempre o olhar para o amor divino. Recordai a cena da Anunciação: desce o arcanjo para comunicar a divina embaixada – a mensagem de que seria Mãe de Deus – e encontra-a retirada em oração. Maria está totalmente recolhida no Senhor, quando S. Gabriel a saúda: Deus te salve, oh cheia de graça! O Senhor é contigo. Dias depois, irrompe na alegria do Magnificat – esse cântico mariano que nos transmitiu o Espírito Santo pela delicada fidelidade de S. Lucas – fruto da intimidade habitual da Virgem Santíssima com Deus.

A nossa Mãe meditou longamente as palavras das mulheres e dos homens santos do Antigo Testamento, que esperavam o Salvador, e os acontecimentos de que foram protagonistas. Admirou o cúmulo de prodígios e o excesso da misericórdia de Deus com o seu povo, tantas vezes ingrato. Ao considerar esta ternura do Céu, incessantemente renovada, brota o afecto do seu Coração imaculado: a minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque lançou os olhos para a baixeza da sua escrava. Os filhos desta boa Mãe, os primeiros cristãos, aprenderam com Ela, e nós também podemos e devemos aprender. (Amigos de Deus, 241)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho de Domingo dia 17 de maio de 2020

«Se Me amais, observareis os Meus mandamentos; e Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco, o Espírito de verdade, a Quem o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós. «Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós. Ainda um pouco, e depois já o mundo não Me verá. Mas ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai e vós em Mim e Eu em vós. Aquele que aceita os Meus mandamentos e os guarda, esse é que Me ama; e aquele que Me ama, será amado por Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele».

Jo 14, 15-21

Preocupações

No Sermão da Montanha, fala-se literalmente de verdadeiras e falsas preocupações. Cristo diz que não devemos preocupar-nos com a comida ou com o que vestiremos, porque a vida é mais importante que o alimento ou a roupa. Soa bem, mas quem seguisse essas recomendações provavelmente morreria em pouco tempo.

Num mundo baseado no planeamento do futuro e na pretensa melhora mediante a previsão, isto é, mediante a "preocupação", essas recomendações tornaram-se inteiramente incompreensíveis. Penso que é preciso ler o texto com muita atenção, e então encontramos a chave dentro dele mesmo. Pois Jesus também diz: "Buscai primeiro o reino de Deus, e tudo o mais vos será dado por acréscimo". Ou seja, há uma ordem de prioridades. Se excluirmos a primeira, concretamente a presença de Deus no mundo, por mais que façamos e por mais útil que seja [o que fizermos], de certa forma há-de escorrer-nos dentre as mãos.

Penso que o importante é: primeiro, o reino de Deus. Esta deve ser a preocupação essencial que estruture a partir de dentro, a partir do reino de Deus, as demais preocupações. Como é natural, não é que simplesmente nos nasçam asas.

Preocupamo-nos pelo dia seguinte, de que o mundo continue a progredir, etc. Mas essas preocupações tornam-se mais leves quando se subordinam à primeira. E vice-versa.

Em certa ocasião, Jesus disse: "Entrai pela porta estreita, porque larga é a entrada e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela; mas como é estreita a entrada e como é apertado o caminho que leva à vida, e quão poucos são os que o encontram!"

Dessas palavras, seria preciso deduzir que o inferno está repleto e o céu meio vazio.

Elas representam, na realidade, uma advertência muito pragmática: quando se faz o que todos fazem, quando se segue o caminho da comodidade, o caminho amplo, de momento isso pode parecer mais agradável, mas a pessoa afasta-se da verdadeira vida.

Ou seja, a decisão correcta é escolher o caminho difícil. O mero deixar-se levar, o mero nadar a favor da corrente, o submergir na massa, em última análise sempre nos conduz à massa e depois ao vazio. É o valor da ascensão, daquilo que é árduo, o que me põe no bom caminho.

(Cardeal Ratzinger em ‘La fe, de tejas abajo’)

O RIO DO TEU AMOR

Uma lágrima cai sobre a terra,
empapando-a de água,
água viva,
que fará germinar a semente da árvore da vida,
que crescerá e dará fruto,
fruto de vida,
e vida em abundância.

É a gota de água que cai do teu lado,
Senhor,
depois de vertido todo o teu Sangue,
dado à e pela humanidade,
gota de água repassada do teu amor,
que lava, perdoa e purifica
e assim faz brotar a vida nova,
dada ao homem na tua Cruz e Ressurreição.

Essa água do teu lado,
Senhor,
corre agora como um rio caudaloso,
manso e humilde,
cruzando os caminhos da terra
e recebendo como afluentes o sangue dos mártires,
que por teu amor se entregaram,
e entregam,
dando testemunho da vida nova.

E é esse rio que faz crescer a Igreja,
fruto da tua graça,
testemunho dos teus Apóstolos,
fidelidade dos teus discípulos,
entrega dos teus irmãos na humanidade,
anónimos no mundo,
mas com nome inscrito no Céu.

E eu,
Senhor,
pobre de mim,
peregrino no mundo à tua procura,
quero banhar-me nesse rio,
para que se for de tua vontade,
também eu,
por tua graça,
engrosse com o sangue da vida que me deste,
o caudal do rio do teu amor.

Pelos meus irmãos,
Senhor,
para tua glória,
só para tua maior glória!

Monte Real, 13 de Maio de 2013


Joaquim Mexia Alves

Santo Rosário - Quinto Mistério Gozoso

Jesus Com os Doutores no Templo


A primeira prova! A primeira dor! Como o teu coração amantíssimo de Mãe estaria angustiado e compungido com a ausência do teu Filho! E a demora em encontrá-lo?

Ao teu espírito deveriam acorrer as palavras de Simeão e, mesmo sabendo que Ele tinha uma missão a cumprir, não deixavas de sentir aquele aperto no coração que uma mãe sente quando um filho pequeno desaparece sem explicação e não conseguimos encontrá-lo.

Onde poderia estar?


Eu, que ando por esta vida, tantas vezes, à procura de Jesus que, por vezes, parece que se afasta de mim para bem longe, também me sinto triste angustiado. Porquê? Porque Te afastaste, Senhor, de mim?

E mergulho dentro de mim mesmo, única forma séria de reflectir, e chego sempre à triste conclusão que, não foste Tu quem se afastou mas, sim, eu que me ausentei da Tua presença.

Tenho tantas coisas em que pensar; enormes preocupações que me consomem por dentro; inúmeros desejos por satisfazer; caminhos que quero tanto percorrer embora saiba que não interessam e não conduzem a nada que valha a pena. E, depois, são estas coisas todas que possuo – que julgo possuir – e as muitas outras que anseio vir a ter, que me mantêm agarrado ao meu lugar, estático e imóvel enquanto, Tu, caminhas sempre, esperando que Te siga. Vou ficando para trás, preso a tudo isto que não vale nada e para nada interessa e vejo-te esfumar no horizonte e, em vez de correr pressuroso atrás de Ti, fico-me inerte e como que morto.

Parece-me que Te oiço com as palavras de Tua Mãe: Filho, porque procedeste assim comigo? Porque te deténs no caminho? Anda que, eu, estou á tua espera!

E fico-me sem reposta, pois que Te hei-de eu dizer a não ser, confessar a minha fraqueza, a mostrar-te humildemente o pouco que sou, a pedir-te que esperes por mim, que não Te afastes mais, que quero ir ter contigo.

Sou tão feliz porque me ouves e deténs o passo e ficas, num gesto acolhedor, de amigo íntimo, à espera que eu, finalmente, volte para o pé de ti.

É então que me dou conta da enorme desventura que é a Tua ausência, o não Te ter presente bem ao pé de mim e, como compreendo a Tua Mãe na sua procura ansiosa pelas ruas de Jerusalém durante esses três dias de alvoroço.

Digo-lhe, então, com o coração nas mãos:

Minha Mãe, não deixes que me afaste nunca do teu Filho, do nosso Jesus. Ensina-me a procurá-lo onde Ele deverá estar à minha espera, em vez de andar perdido tentando encontrá-lo onde Ele não pode estar. Leva-me pela tua mão – também sou teu filho, um filho pequeno – ao encontro dele para que, juntos, possamos sossegar na Sua companhia.