quarta-feira, 6 de maio de 2020

O Santo Rosário é arma poderosa

O Santo Rosário é arma poderosa. Emprega-a com confiança e maravilhar-te-ás do resultado. (Caminho, 558)

Nas nossas relações com a nossa Mãe do Céu, existem também essas normas de piedade filial, que são modelo do nosso comportamento habitual com Ela. Muitos cristãos tornam seu o antigo costume do escapulário; ou adquirem o hábito de saudar (não são precisas palavras; o pensamento basta) as imagens de Maria que há em qualquer lar cristão ou que adornam as ruas de tantas cidades; ou dão vida a essa oração maravilhosa que é o Terço, em que a alma não se cansa de dizer sempre as mesmas coisas, como não se cansam os enamorados, e em que se aprende a reviver os momentos centrais da vida do Senhor; ou então habituam-se a dedicar à Senhora um dia da semana – precisamente este em que estamos reunidos: o sábado – oferecendo-lhe alguma pequena delicadeza e meditando mais especialmente na sua maternidade...

Há muitas outras devoções marianas que não é necessário recordar aqui neste momento. Nem todas têm de fazer parte da vida de cada cristão – crescer em vida sobrenatural é algo de muito diferente de ir amontoando devoções – mas devo afirmar ao mesmo tempo que não possui a plenitude da fé cristã quem não vive alguma delas, quem não manifesta de algum modo o seu amor a Maria. (Cristo que passa, 142)

São Josemaría Escrivá

Santo Rosário - Segundo Mistério Glorioso




















Ascensão de Jesus ao Céu

Os onze mais íntimos do teu Filho apressaram-se em vir contar-te o que se passou: Elevou-se ao Céu, à vista de todos e desapareceu da sua presença.

Volto a afirmar, sem receio algum de ser desmentido, que Ele te avisara previamente, talvez dizendo-te que chegara ao termo a Sua missão na terra e pedindo-te que “olhasses” pelos onze e os conduzisses com mão segura e terna nos primeiros tempos de desorientação e perplexidade.

O teu Filho voltava “à sua casa”, ao “lugar” que desde sempre fora o Seu.

No teu coração amantíssimo aninha-se o desejo quase incontrolável de te juntares a Ele quanto antes mas sabes bem que a tua missão na terra ainda não terminou.

Há tanto para fazer!
Tantos para guiar e conduzir com mão terna de Mãe!

A cada instante a tua casa fica repleta com esses amigos ainda inconsoláveis e algo desnorteados. Há que sossegá-los, dar-lhes apoio, esperança e, sobretudo, confiança que tudo se cumprirá como o teu Jesus dissera.

O teu Filho partiu para o Céu mas está sempre presente junto de ti numa união tão completa e cúmplice como sempre foi e, por isso mesmo, não estás triste, bem ao contrário tens de mostrar-te alegre para que possas transmitir a todos a alegria dos Filhos de Deus.

A MÃE

Seguia cabisbaixo para casa.
As coisas não estavam a correr lá muito bem neste inicio de semana!
Tinha na mochila um teste com uma negativa muito “feia” e já receava pelas consequências desse facto.
Nos últimos tempos o seu comportamento na escola e as suas notas deixavam muito a desejar, e o seu pai já cansado de tanto o avisar tinha-lhe dito da última vez que tinha trazido para casa uma nota baixa:
«Aparece-me em casa com outra negativa e nem sabes o que te faço!»
E ele não era para brincadeiras!
Era justo nos castigos que dava, mas tinha a mão pesada.
Não que lhe batesse, mas os castigos que dava eram sempre muito penosos de cumprir.
Ainda para mais, no fim de semana depois da Catequese, tinha tido aquela discussão estúpida com eles!
É pá, ele não compreendia aquela história da Virgem Maria, da Mãe do Céu, como Lhe chamavam!
Se havia Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e já eram orações que chegassem, para quê agora também Maria a Mãe de Jesus!
E tinha sido malcriado a ponto do pai se irritar e o mandar calar já de mão aberta!
Chegou à porta de casa e entrou em silêncio, dizendo apenas um, “boa tarde mãe”, e escapuliu-se para o quarto.
Tinha de pensar numa maneira de resolver as coisas com um mínimo de problemas.
A mãe entrou no quarto e perguntou-lhe o que se passava, pois não tinha ido dar-lhe um beijo como fazia sempre que chegava a casa.
Disse-lhe que não, que estava tudo bem, mas ela sentou-se a seu lado e disse-lhe:
«Eu conheço-te. A mim não podes mentir. Passa-se alguma coisa contigo.»
Ele pensou rapidamente e chegou á conclusão que se havia alguém que acalmasse o pai quando lhe desse as noticias, era de certeza a mãe.
Cabeça baixa, disse quase em surdina:
«Ó mãe, tive outra negativa.»
Ela pegou-lhe na cara e fê-lo olhá-la nos seus olhos.
Os olhos dela estavam tristes, mas cheios de uma ternura imensa, de tal modo que não resistiu e umas lágrimas correram-lhe pela cara.
Antes que ela dissesse alguma coisa, ele começou a falar com a voz embargada:
«Ó mãe, eu não sei o que se passa comigo! Quero portar-me bem, quero estudar, quero agradar-vos e só faço asneiras! Ajuda-me mãe!»
Ela olhou-o mais uma vez e disse com voz terna:
«Meu filho eu amo-te muito e estou aqui para te ajudar. Conta-me tudo e vamos arranjar uma maneira de encontrares um caminho diferente daquele que estás a seguir».
Abriu o coração à sua mãe e disse tudo o que lhe veio à cabeça, das suas dificuldades, das amizades não muito boas, do despertar da adolescência, de todas as coisas que parecia o impeliam a não ser aquilo que ele até gostaria de ser.
Ela ouvia-o cheia de atenção, enquanto ternamente lhe passava as mãos pelo cabelo.
«Eu compreendo-te meu filho e se confiares em mim, se me fores contando o que se vai passando na tua vida, eu ir-te-ei ajudando a corrigires comportamentos, a descobrires caminho.»
Agradecido pela sua mãe tão compreensiva, não esqueceu no entanto que ainda tinha de “enfrentar” o pai e disse pegando-lhe nas mãos:
«E o pai, mãe? E o pai?»
Ela fazendo-lhe uma festa, respondeu:
«Não te preocupes, eu falo com ele. Claro vais ter um castigo, mas eu vou dizer-lhe que já falaste comigo, que estás arrependido, que prometeste portar-te bem e que eu confio em ti. Vais ver que te vai ralhar certamente, mas como ele sabe que eu tomo conta de ti e confia em mim, vai dar-te um castigo com certeza, mas vai ficar à espera da tua mudança de vida».
Olhou-a profundamente nos olhos, agarrou-se a ela cheio de ternura agradecida e disse-lhe ao ouvido:
«Ó mãe, obrigado. O que é que eu faria sem ti, sem o teu amor, sem os teus conselhos, sem a tua ajuda junto do pai?»
Ela levantou-se e saiu do quarto com um sorriso.
Aquele sorriso que as mães têm quando sentem os filhos perto delas.
O resto foi mais fácil.
O pai chegou, a mãe falou com ele e depois foi chamá-lo ao quarto para falar com o pai:

«A tua mãe já falou comigo. Estou triste meu filho pelo modo como te comportaste, mas ao mesmo tempo contente pela conversa que tiveste com a tua mãe e as promessas que lhe fizeste, que nos fizeste. Vais ficar de castigo, mas eu confio que de agora em diante tudo vai melhorar. Agora dá-me um beijo e podes ir.»

Tranquilo deu um beijo ao pai, e quando ia a sair da sala ele chamou-o novamente dizendo-lhe:
«Percebes agora como nos faz falta a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe do Céu?»

Monte Real, 13 de Maio de 2008

Joaquim Mexia Alves

«Olham e não vêem...»

Senhor Santo Cristo
Assistimos ao «colapso das evidências». Princípios que, durante tantos séculos, pareceram óbvios deixaram de o ser. Habituámo-nos a considerar como «evidências» o respeito pela vida, a dignidade da pessoa, a importância da fidelidade familiar, a diferença entre o homem e a mulher... e tantas bases da civilização ocidental. O que está a acontecer?

Aproveitei a pausa do 1º de Maio para pensar no impacto do cristianismo na cultura, ouvindo e trocando ideias. Um ponto alto da conversa foi o contacto com o livro de Julián Carrón «A Beleza Desarmada» (editado em português pela Princípia), cheio das sugestões inspiradas de don Luigi Giussani, Fundador do movimento «Comunhão e Libertação». Uma delas diz justamente respeito ao «colapso das evidências» éticas e culturais.

Durante séculos, elas não tinham sido «evidentes», até o cristianismo iluminar o olhar dos povos que se converteram e hoje, com a derrocada do cristianismo nalguns âmbitos culturais, essas evidências obscureceram-se de novo.

Houve tempo em que se pensou que mostrar que o aborto mata um bebé, usando até fotografias claras, seria irrefutável mas, a certa altura, tornou-se claro que uma parte da sociedade já não partilha a «evidência» de que é preciso respeitar a vida humana. «A situação está de facto radicalmente mudada, diz Julián Carrón: não é que as pessoas vejam a evidência e a neguem – porque são más, ou são fechadas –; não a vêem mesmo, e isso faz parte da decadência do humano a que constantemente assistimos».

Don Luigi Giussani foi dos primeiros a aperceber-se deste obscurecer das evidências: «Parece-me haver agora uma maior fragilidade de consciência; não uma fragilidade ética, mas de energia da consciência. (...) É como se hoje não houvesse mais nenhuma evidência real a não ser a moda (...)». Outros testemunhos convergem. Por exemplo, Carrón cita o então Cardeal Ratzinger: «O colapso das antigas seguranças religiosas, que há 70 anos parecia ainda poder ser travado, tornou-se, entretanto, em grande parte realidade. O medo de uma derrocada do humano, inevitavelmente a isso associado, torna-se ainda mais forte e mais geral» («Fé Verdade e Tolerância», editado em português pela Universidade Católica).

O que se verificou foi uma «redução das capacidades fundamentais do homem», a ponto de ele perder um grande número de evidências acerca da própria natureza humana. «É a percepção da condição humana, no seu todo, do humano enquanto tal, que é reduzida. (...) O influxo [actualmente dominante] não reduz, em primeiro lugar, a nossa capacidade ética, de coerência, mas a capacidade de olhar», diz Julián Carrón.

O facto histórico de abundantes evidências éticas basilares só terem sido reconhecidas na sociedade europeia depois de ela ter sido permeada pelo cristianismo indica que a mensagem cristã é também uma mensagem poderosíssima acerca do homem. Nesse sentido, Carrón diz que «Cristo veio despertar a nossa capacidade de conhecer o real», porque a transformação do coração abriu os olhos a estes povos e despertou energias que mudaram completamente o horizonte. «Se nós podemos dizer que vemos, é só porque somos cristãos, (...) porque Cristo nos coloca na posição de ver».

Já no século XIX o Concílio Vaticano I lembrava que «os preceitos da lei natural não são percebidos por todos de maneira clara e imediata (...) tanto a graça como a Revelação são necessárias para que as verdades religiosas e morais [as tais “evidências”] possam ser conhecidas por todos». O «Catecismo da Igreja Católica» reproduz este texto. Um documento recente da Comissão Teológica Internacional vai na mesma linha: «é necessário ser modesto e prudente quando se invoca a “evidência” dos preceitos da lei natural». A colectânea recolhida por Carrón mostra como o esmorecer do cristianismo nalguns sectores da sociedade europeia confundiu o olhar de muitos acerca do sentido da própria condição humana. Apesar de toda a tecnologia, voltou-se à cegueira pagã dos séculos anteriores à conversão. Já nem se consegue distinguir um homem de uma mulher!

Pergunto-me o que fazer para ajudar tantas pessoas, boas e generosas, a captarem a diferença entre uma família e um par homossexual; a diferença entre apoiar quem está em dificuldade e matá-lo; a diferença entre estimarmos os outros e escondermos as nossas convicções; a diferença entre encarar o sexo com agradecimento e responsabilidade ou desvalorizá-lo como um capricho...

Depois deste livro, fiquei convencido de que as respostas racionais nunca serão suficientes. Sem uma cultura feita da surpresa concreta de se cruzar com Cristo, de testemunhos reais desse encontro, não se consegue ressuscitar esta Europa exausta, em fim de vida.

Recordei-me daquele olhar do Senhor Santo Cristo, em procissão neste Domingo pelas ruas de Ponta Delgada. Oxalá aquele olhar nos toque! Um por um! Porque, se isso acontecer, tudo muda.
José Maria C.S. André
06-V-2018
Spe Deus

Rezar à Virgem Maria revela amor e é sinal de confiança nela

Não se fica em sentimentos, que podem também abundar nessas preces. Mas não devemos preocupar­‑nos se, no princípio, existe apenas o bom empenho de rezar, quase maquinalmente, uma pequena oração a Nossa Senhora. Quando a oração sincera brota de um coração que, apesar dos pesares, não esqueceu os cuidados maternos, Santa Maria anima essa frágil brasa e leva a alma ao desejo de se formar na doutrina do seu Filho. Aquela breve oração – o frágil rescaldo coberto entre as cinzas – torna-se fogo que queima as misérias pessoais, capaz de atrair os outros à luz de Cristo [2].

[2]. S. Josemaria, La Virgen del Pilar, artigo póstumo publicado en 1976 ("Por las sendas de la fe", Ed. Cristiandad, p. 172).

(D. Javier Echevarría excerto da carta do mês de maio de 2016)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei

Mãe, acorda!

Amelia Bannan com o filho após haver acordado do coma
Há exemplos de mulheres bem-sucedidas na sua vida profissional, que não abdicaram da sua vida familiar, mas a regra continua a ser a de impor restrições à maternidade das mulheres trabalhadoras.

Todos os anos se festeja, no primeiro domingo do mês de Maio, o Dia da Mãe, que antigamente se comemorava no dia 8 de Dezembro, solenidade de Nossa Senhora da Conceição, Rainha e padroeira de Portugal. Quer esta data, quer a actual, em pleno mês de Maria, remetem de algum modo para a Mãe de Jesus e nossa mãe: o ícone perfeito daquele mesmo amor que o próprio Deus é. Felizmente, esta conotação religiosa ainda não foi advertida nem denunciada pela intolerante deputada socialista que tanto vociferou contra a tolerância de ponto durante a estadia do Papa Francisco em Portugal.

Embora muito exaltada, por estes dias, a maternidade, talvez mais por razões consumistas do que por apreço às mães, a verdade é que estas mulheres nem sempre gozam do favor da lei, nem da protecção social a que têm direito. Com efeito, não só a maternidade é muitas vezes, até legalmente, reduzida a um mero processo biológico da mulher – a gravidez – como também as mães são, por sistema, discriminadas na vida laboral, quer no que respeita às carreiras profissionais, quer ainda no que se refere à remuneração. Tende-se a pôr a mulher ante um angustiante dilema: se aposta numa carreira profissional, deve pôr de parte a possibilidade de engravidar; se escolher ter filhos, que renuncie à sua realização profissional.

É verdade que há exemplos de mulheres muito bem-sucedidas na sua vida profissional, que não abdicaram da sua vida familiar, como esposas e mães. É o caso de Carme Chacón, a recentemente falecida ex-ministra espanhola da Defesa, bem como de Isabel Mota, agora empossada como presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. Em Portugal, nenhuma mulher foi presidente – e não presidenta! – da República, mas já houve várias rainhas por direito próprio, a começar por D. Teresa, mãe do primeiro Rei de Portugal que, como condessa quase soberana, chegou a usar, segundo o historiador José Mattoso, o título de rainha, antecipando a independência nacional.

Outros exemplos de mulheres investidas das mais altas responsabilidades políticas e sociais, sem demissão das suas funções familiares, poderiam ser referidos, mas são sempre a excepção. A regra continua a ser a de impor restrições de natureza familiar às mulheres trabalhadoras.

Matrimónio e maternidade têm a mesma raiz etimológica: a palavra latina ‘mater’, ou seja mãe. Com efeito, o casamento natural é a instituição em que, pela via da união estável de uma mulher e um homem, aquela é promovida à condição de mãe, razão que fundamenta a improcedência de assimilar a este instituto outros tipos de uniões de que não pode proceder, naturalmente, geração.

A este propósito, foi muito emocionante o testemunho, no America Got Talent (https://www.youtube.com/watch?v=g72ujStgUE4), de um jovem de Oklahoma City, Campbell Walker Fields, adoptado à nascença por dois homens que o criaram. Não obstante o seu muito agradecimento a estes seus dois benfeitores, nunca conseguiu superar a ausência da sua mãe, porque um segundo ‘pai’ não substitui uma mãe, como outra ‘mãe’ também não pode fazer as vezes de pai. O superior interesse da criança exige que tenha um pai e uma mãe, naturais ou adoptados, mas não quaisquer duas pessoas, por óptimas que possam ser.

Outro tanto se diga de Cristiano Ronaldo, o certamente muito talentoso jogador de futebol, que indemnizou a mãe de seu filho para que ela prescindisse de todos os seus direitos maternais. Mesmo que essa mulher tenha concordado com essa cedência, resta saber se há preço que pague a infelicidade de não ter mãe. Ou se alguém perguntou ao filho se aceitava um tão injusto e desumano negócio, de que ele foi, sem dúvida, a principal vítima.

É comovedora a história de Amélia Bannan, a polícia argentina que, no passado dia 1 de Novembro, sofreu um grave acidente de viação que a deixou em coma. Grávida, o seu filho viria a nascer, por cesariana, na noite de Natal. Três meses e meio depois de ter dado inconscientemente à luz, acordou do coma e conheceu, finalmente, o seu filho. As visitas do bebé são agora, segundo um irmão de Amélia, o maior estímulo à recuperação da mãe. Ao colo materno, o pequeno Santino ainda não consegue palrar, mas os seus vagidos são já uma manifestação de amor filial. Como que retribuindo-lhe o dom recebido, é agora ele quem a chama para a vida que dela recebeu: ‘Acorda, mãe!’

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador AQUI
(seleção de imagem do blogue)