quarta-feira, 15 de abril de 2020

Vazio de todo o meu eu, enche-o de Ti

Pede ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, e à tua Mãe, que te façam conhecer-te e chorar por esse montão de coisas sujas que passaram por ti, deixando – ai! – tanto depósito... E ao mesmo tempo, sem quereres afastar-te dessa consideração, diz-lhe: – Dá-me, Jesus, um Amor como fogueira de purificação, onde a minha pobre carne, o meu pobre coração, a minha pobre alma, o meu pobre corpo se consumam, limpando-se de todas as misérias terrenas... E, já vazio de todo o meu eu, enche-o de Ti: que não me apegue a nada daqui de baixo; que sempre me sustente o Amor. (Forja, 41)

É a hora de clamar: lembra-Te das promessas que me fizeste, para me encher de esperança; isto consola-me no meu nada e enche o meu viver de fortaleza. Nosso Senhor quer que contemos com Ele para tudo: vemos com evidência que sem Ele nada podemos e que com Ele podemos tudo. E confirma-se a nossa decisão de andar sempre na Sua presença.

Com a claridade de Deus no entendimento, que parece inactivo, torna-se-nos indubitável que, se o Criador cuida de todos – mesmo dos inimigos –, quanto mais cuidará dos amigos! Convencemo-nos que não há mal nem contradição que não venham por bem: assim assentam com mais firmeza, no nosso espírito, a alegria e a paz que nenhum motivo humano poderá arrancar-nos, porque estas visitas deixam sempre em nós algo de Seu, algo divino. Louvaremos o Senhor Nosso Deus que efectuou em nós coisas admiráveis e compreenderemos que fomos criados com capacidade de possuir um tesouro infinito.

Tínhamos começado com orações vocais, simples, encantadoras, que aprendemos na nossa meninice e que gostaríamos de não perder jamais. A oração, que começou com essa ingenuidade pueril, desenvolve-se agora em caudal largo, manso e seguro, porque acompanha a nossa amizade com Aquele que afirmou: Eu sou o caminho. Se amarmos Cristo assim, se com divino atrevimento nos refugiarmos na abertura que a lança deixou no Seu peito, cumprir-se-á a promessa do Mestre: qualquer que me ame observará a minha doutrina e meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos morada(Amigos de Deus, 305–306)

São Josemaría Escrivá

ESTADO DE EMERGÊNCIA CRISTÃ

Uma proposta diária de oração pessoal e familiar.

28º Dia. Quarta-feira da oitava da Páscoa, 15 de Abril de 2020.

Meditação da Palavra de Deus (Lc 24, 13-35)

Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho?

São Lucas conta a história de dois discípulos, Cléofas e outro que, desanimados pela morte de Jesus na Cruz, decidem regressar a Emaús, de onde provavelmente eram naturais, ou tinham a sua residência.

Quando vão a caminho da sua terra, aparece-lhes Jesus, mas não são capazes de O reconhecer. O Senhor, vendo-os tão tristes e chorosos, interroga-os sobre a razão daquele seu abatimento e ouve, dos lábios deles, o relato da sua própria paixão e morte. Depois, com infinita paciência, explica-lhes as Escrituras, para que se deem conta de que tudo o que acontecera não fora nenhuma desgraça mas, pelo contrário, o cumprimento cabal de todas as profecias messiânicas.

Porque Jesus nunca se nos impõe, ao fim do dia os dois discípulos fazem tenção de pernoitar nalguma pousada, mas o Senhor só se detém quando eles O forçam a ficar com eles. É então que, ao partir do pão, O reconhecem, mas nesse mesmo momento Jesus desaparece da sua vista. E eles, animados por aquela tão extraordinária e consoladora revelação, regressam a Jerusalém, para dar aos apóstolos conta do que lhes tinha acontecido.

Jesus podia ter abandonado à sua sorte aqueles dois discípulos tão pouco perseverantes, mas prefere caminhar com eles, ouvi-los pacientemente e explicar-lhes as Escrituras. Que exemplo para nós, sempre tão apressados quando se trata de servir o próximo! Que lição para nós, sempre tão impacientes quando não nos ouvem ou obedecem à primeira!

Jesus, que não se impõe aos dois discípulos, no entanto disponibiliza-se para ficar com eles, porque lho pedem. E eu, quando me pedem mais algum do meu tempo, alguma da minha atenção, alguma ternura minha, que faço? Faço como Jesus, ou despacho os outros como quem se desfaz de uma companhia maçadora e inconveniente?!

Se o faço, pode ser que me esteja a desfazer … de Jesus! Não é verdade que Ele quis parecer apenas mais um viajante, para que também eu O encontre em todos os transeuntes com que me cruzo todos os dias? Se O não souber encontrar neles, pode ser que nunca O encontre, porque é nos nossos irmãos que Ele quer ser por nós reconhecido e amado.

Anoitecia quando Jesus se revelou aos discípulos de Emaús, ao partir do pão, mas, não obstante a hora adiantada e a escuridão, foi naquele momento que partiram para Jerusalém. Outra luz os iluminava e aquecia: a fé em Cristo vivo; real, verdadeira e substancialmente presente na Santíssima Eucaristia!

Intenções para os mistérios gloriosos do Santo Rosário de Nossa Senhora:

1º - A Ressurreição de Nosso Senhor. O mesmo Cristo que nasceu em Belém, viveu e trabalhou em Nazaré e morreu em Jerusalém, está vivo no Sacrário. Adoremos Jesus sacramentado!
2º - A Ascensão de Jesus aos Céus. Cristo subiu aos Céus, sem nos deixar. Procuremos nós também estar sempre com Ele, sem deixarmos os nossos irmãos.
3º - A vinda do Espírito Santo. Jesus tinha prometido a vinda do Paráclito ou Defensor. Nunca consintamos na murmuração e procuremos sempre defender os ausentes.
4º - A Assunção de Nossa Senhora. Quanto mais Maria se humilhou, mais foi exaltada também. Peçamos a Nossa Senhora que nos ensine a viver a virtude da humildade.
5º - A coroação de Maria Santíssima. Nossa Senhora não teria sido coroada, senão tivesse lutado. Que Maria nos alcance a graça da vitória nas nossas lutas interiores.

Para ler, meditar e partilhar! Obrigado e até amanhã, se Deus quiser!

Com amizade,
P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Somos todos chamados a ter Alma Sacerdotal

«De todos os regenerados em Cristo, o sinal da cruz faz reis, a unção do Espírito Santo consagra sacerdotes, para que, independentemente do serviço particular do nosso ministério, todos os cristãos espirituais no uso da razão se reconheçam membros desta estirpe real e participantes da função sacerdotal. De facto, que há de tão real para uma alma como governar o seu corpo na submissão a Deus? E que há de tão sacerdotal como oferecer ao Senhor uma consciência pura, imolando no altar do seu coração as vítimas sem mancha da piedade?»

(São Leão Magno - Sermão 4, 1)

Intima reflexão de Bento XVI sobre o sacerdócio e sobre a amizade especial que liga cada sacerdote a Cristo

Na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e no dia (29 de junho de 2011) em que se assinalam os 60 anos de ordenação sacerdotal de Bento XVI, o Papa hoje emérito, presidiu no altar da confissão da Basílica de S. Pedro a concelebração eucarística com 41 arcebispos metropolitas de todo o mundo, incluindo sete brasileiros e dois angolanos que receberam das mãos do Santo Padre o pálio, uma insígnia litúrgica de "honra e jurisdição" da Igreja Católica. Os dois angolanos foram os arcebispos de Malange e Saurimo, respectivamente D. Luís Maria Perez de Onraita Aguirre e D. José Manuel Imbamba.

Presente na Basílica de S. Pedro uma delegação do patriarcado ortodoxo de Constantinopla, enviada pelo patriarca Bartolomeu I.

Bartolomeu I, por seu lado, enviou uma mensagem em que diz partilhar o “ardor” de Bento XVI pelo restabelecimento da “plena comunhão” entre todos os cristãos.

Desde 1969, uma delegação do patriarcado de Constantinopla [Turquia] desloca-se anualmente ao Vaticano a 29 de junho, visita que é retribuída com a presença em Istambul de uma representação católica a 30 de novembro, data que os calendários litúrgicos do Oriente e do Ocidente dedicam ao apóstolo Santo André, um dos doze discípulos de Jesus e irmão de São Pedro.

Uma longa e intima reflexão sobre o sacerdócio, sobre a amizade especial que liga cada sacerdote a Cristo, filtrada através das recordações dos seus 60 anos de ministério que ocorrem precisamente neste dia 29. Este o percurso interior que Bento XVI seguiu na homilia da Missa.

Passados sessenta anos da minha Ordenação Sacerdotal, sinto ainda ressoar no meu íntimo estas palavras de Jesus, que o nosso grande Arcebispo, o Cardeal Faulhaber, com voz um pouco débil já mas firme, nos dirigiu, a nós novos sacerdotes, no final da cerimónia da Ordenação: «Já não sois servos, mas amigos»:

Bento XVI iniciou com estas palavras a extraordinária homilia proferida nesta quarta feira (29/06/2011), festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e portanto da Sede de Roma, mas também 60 aniversario da ordenação sacerdotal dos irmãos Ratzinger.

Nesta frase – explicou comentando a citação que no contesto da ordenação sacerdotal é referida á faculdade de perdoar os pecados - está encerrado o programa inteiro duma vida sacerdotal. O que é verdadeiramente a amizade? Perguntou o Papa citando a resposta dos antigos: querer as mesmas coisas e não querer as mesmas coisas.

A amizade – explicou - é uma comunhão do pensar e do querer. A amizade não é apenas conhecimento; é sobretudo comunhão do querer. Significa que a minha vontade cresce rumo ao «sim» da adesão à d’Ele. De facto, a sua vontade não é uma vontade externa e alheia a mim mesmo, à qual mais ou menos voluntariamente me submeto ou então nem sequer me submeto. Não! Na amizade, a minha vontade, crescendo, une-se à d’Ele: a sua vontade torna-se a minha, e é precisamente assim que me torno de verdade eu mesmo.

Além da comunhão de pensamento e de vontade, o Senhor – recordou depois o Papa - menciona um terceiro e novo elemento: Ele dá a sua vida por nós.

E com voz comovida Bento XVI implorou:
“Senhor, ajudai-me a conhecer-Vos cada vez melhor! Ajudai-me a identificar-me cada vez mais com a vossa vontade! Ajudai-me a viver a minha existência, não para mim mesmo, mas a vivê-la juntamente convosco para os outros! Ajudai-me a tornar-me sempre mais vosso amigo!

E a concluir a sua homilia, pensando nos 60 anos de ministério sacerdotal o Papa disse:

“Nesta hora, senti-me impelido a olhar para aquilo que caracterizou estes decénios. Senti-me impelido a dizer-vos – a todos os presbíteros e Bispos, mas também aos fiéis da Igreja – uma palavra de esperança e encorajamento; uma palavra, amadurecida na experiência, sobre o facto que o Senhor é bom. Mas esta é sobretudo uma hora de gratidão: gratidão ao Senhor pela amizade que me concedeu e que deseja conceder a todos nós. Gratidão às pessoas que me formaram e acompanharam”.

Durante a missa, os participantes rezaram por Bento XVI, pedindo que “seja confirmado pela força do Espírito Santo” e agradecendo “pelo dom dos 60 anos do seu sacerdócio.

Em português foram lembradas “todas as pessoas que vivem na solidão e na amargura, na doença e na angústia, nas malhas do vício e do pecado”, com um apelo à “solidariedade dos irmãos”.

(Fonte: Rádio Vaticano)