domingo, 29 de março de 2020

ESTADO DE EMERGÊNCIA CRISTÃ

Uma proposta diária de oração pessoal e familiar.

11º Dia. V Domingo da Quaresma, 29 de Março de 2020.

Meditação da Palavra de Deus

Vede como o amava!

O longo episódio da ressurreição de Lázaro foi, por assim dizer, a gota de água que exasperou o Sinédrio: foi depois de um tão portentoso milagre que a autoridade religiosa de Israel se decidiu pela eliminação de Jesus de Nazaré.

A ressurreição de Lázaro foi particularmente surpreendente, porque as outras duas que os Evangelhos narram aconteceram com dois jovens recém-falecidos: a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim. Nestes dois casos, talvez se pudesse pensar que não tinham chegado a morrer e que, portanto, a sua ressurreição teria sido apenas uma cura. Mas, em relação a Lázaro, que estava há já quatro dias no sepulcro, uma tal explicação não era possível. Obviamente, um tal milagre só podia ter uma explicação lógica: Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus vivo.

Nem Lázaro, nem as suas irmãs Marta e Maria, faziam parte daquele ‘núcleo duro’ de homens e mulheres que habitualmente acompanhavam Jesus: os doze apóstolos e as santas mulheres. Mas eram amigos de Jesus e, por isso, não só Marta e Maria mandaram chamar o Mestre quando o seu irmão adoeceu, como o próprio Senhor chorou diante do sepulcro de Lázaro. Os judeus que O acompanharam naquela circunstância, comentaram: Vede como Ele o amava!
Também nós não somos, certamente, pessoas importantes na Igreja, como é o Santo Padre, os Cardeais e Bispos, sucessores dos apóstolos. Também não somos, seguramente, como as santas mulheres, como Maria Madalena, apóstola dos apóstolos. Mas somos, sem dúvida, amigos de Jesus e, por isso, temos o direito de O chamar para junto daqueles que agora estão doentes: Senhor, aqueles que Tu amas, estão doentes!

Mais importante do que nos sabermos e sermos, de facto, amigos de Jesus, é que Ele é nosso amigo, como o foi e é de Lázaro, Marta e Maria. Ele ouve sempre a nossa oração, como ouviu a prece daquelas duas irmãs; vem ao nosso encontro, como foi ter com Lázaro, mesmo pondo em risco a sua própria vida; e chama-nos para o seu amor, mesmo na forçosa imobilidade desta nossa temporária quarentena quaresmal.

Intenções para os mistérios gloriosos do Santo Rosário de Nossa Senhora:

1º - A Ressurreição de Nosso Senhor. Ante a surpreendente ausência do Corpo de Cristo, Maria Madalena vai ter com Pedro, a quem reconhece como Vigário de Cristo na terra. Rezemos este mistério pela pessoa intenções do nosso querido Papa Francisco.

2º - A Ascensão de Jesus aos Céus. Para além da Igreja triunfante, dos Anjos e santos no Céu, e da Igreja militante, dos fiéis que ainda peregrinam na terra, há a Igreja purgante, das almas do purgatório. Por intercessão de Maria, peçamos a Deus que lhes conceda a graça de ascenderem, quanto antes, ao Céu, para de lá intercederem por nós.

3º - A vinda do Espírito Santo. Quando, sobre os apóstolos, desceu o Espírito Santo, poisaram sobre eles como que umas línguas de fogo. Nunca Maria maldisse ninguém porque, esposa do Espírito Santo, só sabia bem dizer, ou seja, dizer bem. Imitemo-la!

4º - A Assunção de Nossa Senhora. Jesus não prescindiu da sua Mãe, na hora da sua morte. Peçamos por todos os agonizantes e moribundos, para que Nossa Senhora os ajude, ‘agora e na hora da (sua) morte’.

5º - A coroação de Maria Santíssima. A mais importante das graças é a da conversão final. Rezemos por todos os pecadores, sobretudo os mais necessitados, para que na sua última hora, tenham o arrependimento e esperança do bom ladrão.

Para ler, meditar e partilhar! Obrigado e até amanhã, se Deus quiser!

Com amizade,
P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Não te assustes ao veres-te tal como és

Não necessito de milagres; bastam-me os que há na Escritura. – Pelo contrário, faz-me falta o teu cumprimento do dever, a tua correspondência à graça. (Caminho, 362)

Repitamos com a palavra e com as obras: Senhor, confio em Ti, basta-me a tua providência ordinária, a tua ajuda de cada dia. Não temos por que pedir a Deus grandes milagres. Temos de lhe suplicar, pelo contrário, que aumente a nossa fé, que ilumine a nossa inteligência, que fortaleça a nossa vontade. Jesus está sempre junto de nós e permanece fiel.

Desde o começo da minha pregação, preveni-vos contra um falso endeusamento. Não te assustes ao veres-te tal como és: assim, feito de barro. Não te preocupes. Porque, tu e eu somos filhos de Deus, – este é o endeusamento bom – escolhidos desde a eternidade, com uma vocação divina: escolheu-nos o Pai, por Jesus Cristo, antes da criação do mundo, para que sejamos santos diante dele. Nós, que somos especialmente de Deus, seus instrumentos apesar da nossa pobre miséria pessoal, seremos eficazes se não perdermos o conhecimento da nossa fraqueza. As tentações dão-nos a dimensão da nossa própria fraqueza.

Se sentimos desalento ao experimentar – talvez de um modo particularmente vivo – a nossa mesquinhez, é o momento de nos abandonarmos por completo, com docilidade, nas mãos de Deus. Conta-se que, certo dia, um mendigo saiu ao encontro de Alexandre Magno, pedindo uma esmola. Alexandre parou e ordenou que o fizessem senhor de cinco cidades. O pobre, confundido e atordoado, exclamou: eu não pedia tanto! E Alexandre respondeu: tu pediste como quem és; eu dou-te como quem sou. (Cristo que passa, 160) 

São Josemaría Escrivá

CORAÇÕES AO ALTO!

Tive hoje uma longa conversa com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor que me encheu de esperança nestes tempos particularmente sombrios. Sobretudo por ver que, no meio do caos, há quem consiga ter visão e esteja a tirar partido daquilo que Portugal tem de melhor nos campos da Ciência e Tecnologia. Manuel Heitor está a envolver activamente a comunidade científica e tecnológica portuguesa – que tem enormes capacidades, como ontem descrevi – para a mobilização geral nesta guerra.

Vou tentar descrever algumas das frentes nesta batalha muito menos visível, mas talvez não menos importante, do que a frente estritamente médica. São notícias desta frente de batalha que trago hoje.

Manuel Heitor, em estreita colaboração com outros membros do Governo e líderes de instituições científicas, está a proceder à identificação e valorização de um conjunto de iniciativas e projectos de base científica e tecnológica com implementação imediata e eficaz para entrarem em acção nesta guerra. Serão as nossas “armas secretas” para esta guerra. Eis os exemplos mais impressionantes.

1. O teste de diagnóstico por PCR implementado pelo Instituto de Medicina Molecular (IMM) (que ontem descrevi no post “Testes: a solução está em Portugal”) está certificado e validado pelo Instituto Ricardo Jorge e está pronto para entrar em acção. Usa reagentes produzidos em Portugal pela empresa de biotecnologia NZYTech. O teste do IMM permitirá ainda estimar a carga viral, que poderá ser relevante na avaliação do prognóstico clínico.

2. Um dos materiais em falta para a implementação dos testes tem sido a falta de zaragatoas. A Iberomoldes, da Marinha Grande, sob a liderança de Joaquim Meneses, reconverteu a sua linha de montagem no espaço de um dia de forma a produzir zaragatoas. Na próxima segunda-feira deverá dispôr de 40.000 para entrega imediata.

3. O teste do IMM vai ser produzido em grande quantidade e o objectivo é que seja aplicado em unidades próprias por todo o País. A aplicação dos testes aos lares de idosos é muito importante e particularmente critica e urgente. Está a ser implementada em coordenação directa com a Ministra do Trabalho e Segurança Social (MTSS), Ana Mendes Godinho, e com a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) em articulação com a Segurança Social. Exige uma operação muito sensível de logística, para recolher amostras e aplicar as medidas necessárias de isolamento dos idosos contagiados. Estão a ser recolhidos apoios de mecenas e voluntários pelo MTSS.

4. A tradição portuguesa nas Biociências está mais ligada à área da Imunologia, não da Virologia. No entanto, outras unidades de investigação de excelência (IGC, ITQB, CEDOC) estão a reorientar a sua investigação com efeitos imediatos para poder ajudar nesta luta.

5. A Biosurfit, empresa portuguesa de Biotecnologia sediada na Azambuja, em particular dispositivos médicos e testes PCR, reorientou a sua actividade para o desenvolvimento de novo processo de triagem “SMART”, que está já em implementação Hospital de campanha instalado na Cruz Vermelha Portuguesa e arrancará na segunda-feira. Este sistema permite antecipar a detecção dos processos de maior risco ainda antes de o paciente ter marcados problemas respiratórios, facilitando a prevenção da propagação do COVID: um dos grandes problemas deste vírus são os pacientes “invisíveis”, que estão espalhados pela população sem noção de que estão infectados e contagiosos.

6. O CEIIA, centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produtos sediado em Matosinhos e virado para a indústria aeronáutica, onde trabalha mais de uma centena de engenheiros aeroespaciais, foi reconvertido para realizar o desenvolvimento de ventiladores invasivos, em estreita colaboração com a Escola de Medicina da Universidade do Minho e a indústria. A capacidade de produção é de 100 ventiladores até ao final de Abril, 400 até ao final de Maio e, caso seja necessário, 10.000 até ao final do ano. (Da próxima vez que me vierem dizer “mas para que é que Portugal precisa de engenheiros aeroespaciais?”, já sei o que responder). Para o transporte dos materiais necessários está a ser mobilizada a linha logística da SONAE.

7. Embora a indústria têxtil e de vestuário seja forte em Portugal, ela está virada para a moda. Em particular, em regime normal Portugal não produz material para utilização médica (luvas, batas, máscaras, fatos isolantes) tendo de o importar. O CITEVE (Centro de Centro Tecnológico Indústrias Têxtil Vestuário de Portugal) reorientou a sua actividade para o desenvolvimento e produção destes Equipamentos de Protecção Individual, estando em estrita colaboração com a indústria, estando toda a operação a ser conduzida em estreita articulação com o Ministro da Economia

8. Finalmente, é muito bom saber que a FCT está a apoiar a DGS na preparação de uma plataforma de dados de acesso aberto. A DGS não tem neste momento os dados organizados e codificados de uma forma que permita o seu tratamento com as ferramentas da Ciência de Dados, permitindo extrair toda a informação relevante. E sem informação sobre o inimigo dificilmente poderemos ganhar a guerra.

É este o caminho. Temos competências em Portugal, temos inteligência em Portugal, temos Ciência e Tecnologia em Portugal, temos indústria em Portugal. Temos tudo! Falta apenas colocar as rodas em movimento.

Foi muito repetido que este é um estado de guerra; mas ainda não construímos uma economia de guerra. Mobilizemos tudo o que o País tem de melhor, recrutemos cientistas, inventemos tecnologias, reorientemos indústrias. Este é uma guerra que o Estado sozinho não pode ganhar. Temos de mobilizar a sociedade civil e saber aproveitar tudo o que ela tem para dar.

No meio do caos, há algumas razões para esperança. O tempo urge.

Corações ao alto!
Jorge Buescu, 28/3/2020
Nota: o texto pode ser partilhado fazendo copy+paste

Bom Domingo do Senhor!

Tenhamos também nós a doçura de coração do Senhor imitando-o, sempre que for o caso, chorando pelos que nos são caros como Ele fez pelo Seu amigo Lázaro (Jo 11, 1-45). As nossas lágrimas não serão de desespero ou revolta, mas de amor certos do Seu Reino.

Que o Senhor nos dê a Paz e a Vida Eterna!

Entrar no interior para ter vida interior...

Hoje, pensei e rezei muito sobre a vida, exterior e interior.

O homem não é como uma moeda, com duas faces, mas como semelhança de Deus, que em Cristo, no Batismo assume duas naturezas: humana e divina.

A natureza humana sem Deus, fica confinada a um valor limitado, que serve apenas para aquela “quantia” que o mundo a olha: se é bonita, vale muito, se é normal, vale pouco; se é pequenina, dependente, ou muito velha, não vale nada; se é esperta, depende... mas se é inteligente e justa, não se consegue dar valor;

Por outro lado a natureza humana unida à natureza divina, toma uma forma como que 3D; é possível observar por muitos ângulos e perspectivas e encontrar sempre uma beleza única. Um homem que vive a sua vida respirando Deus, torna-se grande, livre, bom e cheio de “saúde”.

Não interessa o que o mundo lhe quer oferecer para ficar com ele, como o ser fotografado (a troco de torturas físicas, como dietas, ginásios em excesso), ou ofuscado pelas luzes da ribalta, ou ainda pago por ser aquilo que não foi obra sua.

É a vida interior que temos que descobrir, que nos completa, nos dá liberdade. Esta é a vida que está em cada um de nós e que só nós vamos descobrir, para a trazer à luz e partilhar com o mundo que anda no escuro.

Se olharmos à nossa volta, parece que andamos sempre de noite! Parece!!! Parece!!! Porque na realidade é na Luz que fomos criados para viver. É na Luz que conseguimos saber para onde vamos, que Alguém nos espera, que Alguém caminha ao nosso lado. É na Luz que os outros nos vão realmente conhecer e amar.

Este é o caminho que devemos percorrer neste últimos dias da Quaresma. São o “sprint” final para chegarmos à Páscoa, com vontade de entrar e reconhecer que afinal essa Luz é Cristo!!! Que já morreu uma vez por todas, para nos dar a Vida e a Vida em abundância. Ver o que verdadeiramente interessa!

Sofia Guedes na sua página no Facebook em 2014

«San Gennaro» (ou S. Januário)

Próculo nasceu na Calábria (Sul de Itália) no ano 272, numa época em que matar cristãos era um desporto habitual do império romano. O primeiro nome deste rapaz atlético (tinha 1,90 m) era Próculo, o apelido é o mês em que nasceu, Janeiro. Ainda muito novo, foi bispo na Itália do Sul. Morreu com 33 anos no dia 19 de Setembro de 305, decapitado, juntamente com bastantes outros cristãos, leigos, padres e diáconos.

Januário era estimadíssimo pelo povo, razão pela qual houve uma hesitação na sua condenação às feras, para evitar sublevações populares. Afinal, as autoridades ganharam coragem e cortaram-lhe a cabeça. Logo depois da decapitação, os cristãos conservaram o sangue, como era hábito. Compreende-se que os documentos cristãos tivessem guardado a memória da senhora cristã corajosa que se encarregou de recolher o sangue do bispo em duas ampolas: chamava-se Eusébia.

Três vezes por ano, o sangue de S. Januário, já com 17 séculos de história, volta a liquefazer-se, como sangue vivo. Desde há muitos anos, o milagre repete-se numa cerimónia soleníssima presidida pelo Cardeal Arcebispo de Nápoles e, no final, durante uma semana, as ampolas ficam à disposição dos fiéis, que as podem ver de perto e beijar.

O sangue liquefaz-se no início de Maio, aniversário da trasladação das relíquias, em Setembro, no aniversário do martírio, e no dia 16 de Dezembro, em memória de um rio de lava a escorrer do vulcão Vesúvio, que estacou à entrada de Nápoles, depois de o povo ter invocado S. Januário, no ano de 1631.

Geralmente, o sangue de S. Januário liquefaz-se nestas ocasiões mas, nalguns anos, isso não acontece, por razões que não se conhecem. Os devotos de S. Januário notam que esses casos têm coincidido com desgraças que acontecem à cidade. Existe na catedral um livro em que estão apontados todos os casos, ao longo dos séculos, em que o sangue não se liquefez, ou em que esse fenómeno ocorreu fora das datas habituais.

Muitos Papas peregrinaram a Nápoles mas nenhum se pronunciou sobre o eventual carácter milagroso da liquefacção do sangue contido nas duas ampolas. Paulo VI disse em 1966: «…tal como este sangue palpita em cada festa, assim a fé do povo de Nápoles possa palpitar, reflorir e afirmar-se». Comprometer-se, nada. Mesmo assim, em Nápoles e em toda a Itália, as pessoas gostam de olhar com devoção para aquelas ampolas e lembrar-se de que Deus cuida de nós, rodeado santos, de multidões de santos que foram fiéis e se interessam por nós.

Vem isto a propósito de algo que aconteceu pela primeira vez na passada festa de S. José, no dia 19 de Março de 2015. Nunca na história o sangue de S. Januário se tinha liquefeito durante a visita de um Papa a Nápoles: nem no século XIX com Pio IX, nem mais recentemente com João Paulo II, ou Bento XVI. Liquefez-se agora, no final das palavras que o Papa Francisco dirigiu aos fiéis e ao clero.

O Papa Francisco, falando sem discurso escrito, insistiu no amor à Igreja, «porque não se pode amar Jesus sem amar a sua Igreja», e na missão de evangelizar, «a Igreja existe para levar Jesus à gente». Falou também do amor a Nossa Senhora: «Jesus e Nossa Senhora são o ponto de partida». Lembrou o perigo da mundanidade, o exagero no conforto e nos gastos, «o espírito do mundo», que Jesus não queria. Falou a seguir do testemunho de vida dos cristãos: «isso é que atrai vocações!». Depois, referiu um aspecto característico do testemunho cristão, a alegria: «se há tristeza, qualquer coisa não funciona, na relação com Deus». Finalmente, alertou para o «terrorismo da murmuração»: «as críticas destroem, as diferenças discutem-se frente a frente».

Quando o fenómeno se começou a notar, a seguir ao discurso do Papa, o Cardeal de Nápoles disse ao microfone, entusiasmado: «é sinal de que S. Januário gosta de Nápoles e do Papa Francisco: metade do sangue liquefez-se!». A multidão aplaudiu longamente e o Papa comentou com o seu humor espontâneo: «Se se liquefez a meias, quer dizer que temos de nos esforçar mais, temos que ser melhores. O Santo só gosta de nós a meias». Um minuto depois, o sangue das ampolas liquefazia-se completamente.

José Maria C.S. André
«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC Portuguese Canadian Newspaper», 30-III-2015

«Eu sou a Ressurreição e a Vida»

Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja 
Comentário do Evangelho concordante, 17, 7-10


Quando perguntou: «Onde o pusestes?», as lágrimas vieram aos olhos de Nosso Senhor. As suas lágrimas eram como a chuva, Lázaro como a semente e o sepulcro como a terra. Ele clamou com voz retumbante, a morte tremeu à sua voz, Lázaro germinou como a semente e, tendo saído, adorou o Senhor que o tinha ressuscitado.

Jesus […] devolveu a vida a Lázaro e morreu em seu lugar, pois quando o tirou do sepulcro e tomou lugar à sua mesa, foi Ele próprio amortalhado simbolicamente, com o óleo que Maria derramou sobre a sua cabeça (cf Mt 26,7). A força da morte, que tinha triunfado durante quatro dias, foi esmagada […] para que a morte soubesse que era fácil ao Senhor vencê-la ao terceiro dia […]; a sua promessa é verdadeira: Ele prometera ressuscitar pessoalmente ao terceiro dia (cf Mt 16,21) […]. O Senhor devolveu, portanto, a alegria a Maria e a Marta ao arrasar o inferno para mostrar que Ele próprio não seria retido pela morte para sempre. […] Agora, quando se disser que é impossível ressuscitar da morte ao terceiro dia, bastará que se olhe para aquele que ressuscitou ao quarto dia. […]

«Tirai a pedra». Então aquele que ressuscitou um morto e lhe deu a vida não poderia ter aberto o sepulcro e virado a pedra? Ele, que disse aos seus discípulos: «Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se» (Mt 17,20), não teria podido deslocar a pedra que fechava a entrada do sepulcro? Claro que Ele também poderia ter tirado a pedra com a sua palavra, Ele, cuja voz, quando suspenso da cruz, fendeu as pedras e os sepulcros (cf. Mt 27,51-52). Mas, como era amigo de Lázaro, disse: «Abri para que vos sintais atingidos pelo cheiro da podridão e desligai-o, vós que o haveis envolto no seu sudário, para que possais reconhecer aquele que amortalhastes.»