quinta-feira, 26 de março de 2020

A luta contra a soberba há-de ser constante

“Grande coisa é saber-se nada diante de Deus, porque é assim mesmo” (Sulco, 260)

O outro inimigo, escreve S. João, é a concupiscência dos olhos, uma avareza de fundo que nos leva a valorizar apenas o que se pode tocar. Os olhos ficam como que pegados às coisas terrenas e, por isso mesmo, não sabem descobrir as realidades sobrenaturais. Podemos, portanto, socorrer-nos desta expressão da Sagrada Escritura para nos referirmos à avareza dos bens materiais e, além disso, àquela deformação que nos leva a observar o que nos rodeia - os outros, as circunstâncias da nossa vida e do nosso tempo - só com visão humana.

Os olhos da alma embotam-se; a razão crê-se auto-suficiente para compreender todas as coisas, prescindindo de Deus. É uma tentação subtil, que se apoia na dignidade da inteligência, da inteligência que o nosso Pai, Deus, deu ao homem para que O conheça e O ame livremente. Arrastada por essa tentação, a inteligência humana considera-se o centro do universo, entusiasma-se de novo com a falsa promessa da serpente, sereis como deuses, e, enchendo-se de amor por si mesma, volta as costas ao amor de Deus.

(...) A luta contra a soberba há-de ser constante, pois não se disse já, dum modo tão gráfico, que essa paixão só morre um dia depois da morte da pessoa? É a altivez do fariseu, a quem Deus se mostra renitente em justificar por encontrar nele uma barreira de auto-suficiência. É a arrogância que conduz a desprezar os outros homens, a dominá-los, a maltratá-los, porque, onde houver soberba aí haverá também ofensa e desonra(Cristo que passa, 6).

São Josemaría Escrivá

Uma Mãe que nunca nos abandona

Não estás sozinho. Nem tu nem eu podemos encontrar-nos sozinhos. E, menos ainda, se vamos a Jesus por Maria, pois é uma Mãe que nunca nos abandona. (Forja, 249)

É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.

Quantas mães conheceste como protagonistas de um acto heróico, extraordinário? Poucas, muito poucas. E contudo, mães heróicas, verdadeiramente heróicas, que não aparecem como figuras de nada espectacular, que nunca serão notícia – como se diz – tu e eu conhecemos muitas: vivem sacrificando-se a toda a hora, renunciando com alegria aos seus gostos e passatempos pessoais, ao seu tempo, às suas possibilidades de afirmação ou de êxito, para encher de felicidade os dias dos seus filhos. (Amigos de Deus, 134–135)

São Josemaría Escrivá

ESTADO DE EMERGÊNCIA CRISTÃ

Uma proposta diária de oração pessoal e familiar.

8º Dia. Quinta-feira, 26 de Março de 2020.

Meditação da Palavra de Deus (Jo 5, 31-47)

Uma lâmpada que ardia e brilhava

“Vós mandastes emissários a João Baptista e ele deu testemunho da verdade […] João era uma lâmpada que ardia e brilhava e vós, por um momento, quiseste alegrar-vos com a sua luz.”

Houve alguém que desde sempre, inspirado pelo Espírito Santo, reconheceu que Jesus é o Filho de Deus que veio a este mundo: o seu primo, João Baptista. Ele foi o profeta que fez a transição entre o tempo da promessa e a vinda do Messias, que anunciou ser Jesus Cristo Nosso Senhor. Fê-lo, certamente, com a sua palavra, mas sobretudo com a sua vida e o seu glorioso martírio.

Jesus Cristo, que disse que João era o maior entre os nascidos de mulher, também o compara a uma luz ardente e luminosa. Brilha, porque ensina a verdade, e arde porque está inflamada no amor que Cristo veio trazer à terra.
Assim deve ser o apostolado cristão: coerente com a verdade, como João que teve a coragem de denunciar a situação escandalosa em que vivia Herodes que, por isso, o mandou decapitar. Mas também ardente como amor que o Baptista devotava aos seus discípulos, nomeadamente João, filho de Zebedeu, e André, irmão de Pedro, que depois Jesus ‘pescou’ para seus apóstolos.

Mas o maior testemunho a favor de Cristo não é o de João, mas o das suas próprias obras. “Mas eu tenho um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai Me deu para consumar – as obras que Eu realizo – dão testemunho de que o Pai me enviou.”

Que também a nossa coerência com a verdade do Evangelho e a realidade da nossa caridade deem testemunho da nossa fé em Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Intenções para os mistérios luminosos do Santo Rosário de Nossa Senhora:

1º - O Baptismo de Jesus no Jordão. Jesus nunca está só, porque com Ele estão sempre o Pai e o Espírito Santo. Sintamo-nos sempre acompanhados por Deus e proporcionemos aos outros o consolo desta certeza e da nossa proximidade.

2º - A auto-revelação de Jesus nas bodas de Caná. Podia ter sido mais prudente converter o vinho em água, do que a água em vinho. Mas mais pôde o amor e alegria de Jesus: saibamos ser, em todas as circunstâncias, instrumentos de paz e de felicidade.

3º - O anúncio do Reino de Deus como convite de Jesus à conversão. Jesus nunca obriga, nem ameaça, nem castiga. Mas a todos chama e convida à alegria da conversão, na liberdade gloriosa dos filhos de Deus.

4º - A Transfiguração de Jesus. No alto do monte Tabor, Pedro fez uma confissão surpreendente: Que bom é estar aqui! Agradeçamos ao Senhor o dom de estarmos com Ele na sua Igreja, pedindo-lhe a graça da perseverança final.

5º- A instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal. Consolemos o Senhor presente na Sagrada Eucaristia, esquecido em tantos sacrários da terra, repetindo comunhões espirituais e actos de desagravo.

Para ler, meditar e partilhar! Obrigado e até amanhã, se Deus quiser!

Com amizade,
P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Não sejamos crianças (pueris) na Fé?

Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste ser crianças na Fé? Responde São Paulo: significa ser "batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina..." (Ef 4, 14). Uma descrição muito actual!

Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao colectivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades

(Cardeal Joseph Ratzinger em Homilia da Missa Pro Eligendo Pontífice, Vaticano, 18.04.2005)

Fidelidade

Recentemente, houve uma sondagem num país europeu sobre a questão da fidelidade matrimonial. De acordo com os resultados, 35% dos homens e 26% das mulheres reconheceram ter sido infiéis ao menos em alguma ocasião ao seu cônjuge.

A sondagem terminava dizendo que a fidelidade no matrimónio parece ter os dias contados.

Serão estes dados fidedignos?

Não sei.

Mas o que parece claro é que muitas pessoas deixaram de acreditar na fidelidade até ao fim. Não deixou de ser considerada um ideal grande, mas para muitos passou a estar reservada a seres extraterrestres, super-homens ou super-mulheres.

É possível, hoje em dia, propor este ideal a pessoas “normais”?

É claro que sim.

Não só é possível, como continua a ser essencial a presença da fidelidade para que o amor matrimonial cumpra a sua grande vocação de ser, de verdade, “para sempre”.

Ser fiel é a resposta que cada um de nós está chamado a dar diariamente à realidade mais grandiosa da nossa vida: o Amor de Deus por nós.

Deus é sempre fiel. «Ele está sempre presente junto ao seu povo para o salvar», diz-nos, com frequência, a Sagrada Escritura. A nossa fidelidade apoia-se na fidelidade de Deus.

Como diz São Paulo aos cristãos de Tessalónica, “Deus é fiel: Ele vos manterá firmes e vos guardará do maligno” (2 Tes 3, 3).

A nossa vida não é um “mar de rosas”. Também não é um “vale de lágrimas”. Deus conta com as normais dificuldades como parte integrante de todo o caminho de fidelidade. As dificuldades têm a utilidade de fazer amadurecer a nossa fidelidade.

Quando a decisão de sermos fiéis é firme, indiscutível e inegociável (também no mundo da imaginação), as dificuldades têm os dias contados e são superadas com alegria.

Porque existe, na entrega e na doação, uma alegria genuína que a mentalidade mundana não consegue compreender.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria