terça-feira, 17 de março de 2020

Sabendo-me pescador de homens... não pesco?

O Senhor quer de ti um apostolado concreto, como o da pesca daqueles cento e cinquenta e três grandes peixes apanhados à direita da barca, e não outros. E perguntas-me: "Como é que, sabendo-me pescador de homens, vivendo em contacto com muitos companheiros e podendo discernir a quem deve ser dirigido o meu apostolado específico, afinal não pesco?... Falta-me amor? Falta-me vida interior?". Escuta a resposta dos lábios de Pedro, naquela outra pesca milagrosa: – "Mestre, cansámo-nos de trabalhar toda a noite, e não apanhámos nada; apesar disso, sob a Tua palavra, lançarei a rede". Em nome de Jesus, começa de novo. Revigorado. – Fora com essa moleza! (Sulco, 377)

O apostolado, essa ânsia que vibra no íntimo do cristão, não é coisa separada da vida de todos os dias; confunde-se com o próprio trabalho, convertido em ocasião de encontro pessoal com Cristo. Nesse trabalho, ombro a ombro com os nossos colegas, com os nossos amigos, com os nossos parentes, lutando pelos mesmos interesses, podemos ajudá-los a chegar a Cristo, que nos espera na margem do lago... Antes de ser apóstolo, pescador. Também, pescador depois de ser apóstolo. Antes e depois, a mesma profissão. (…)

Passa ao lado dos seus Apóstolos, junto daquelas almas que se lhe entregaram... E eles não se dão conta disso!. (…)Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis. Lançaram a rede e já não a podiam tirar por causa da grande quantidade de peixes. Agora compreendem. Recordam o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: pescadores de homens, apóstolos!... E compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca. (…)

Os outros discípulos foram com a barca, porque não estavam distantes de terra, senão duzentos côvados, tirando a rede cheia de peixes. Em seguida põem a pesca aos pés do Senhor, porque é sua, para que aprendamos que as almas são de Deus, que ninguém nesta terra pode atribuir a si mesmo essa propriedade, que o apostolado da Igreja – a palavra e a realidade da salvação – não se baseia no prestígio de algumas pessoas, mas na graça divina. (Amigos de Deus, 264–267)

São Josemaría Escrivá

Deus e o físico de um físico ateu

Da vida e a obra de Stephen Hawking destacam-se o seu ateísmo militante e as circunstâncias penosas em que decorreu quase toda a sua vida.

Morreu Stephen Hawking, um dos mais famosos físicos da actualidade. Sobre a sua obra científica, outros certamente ajuizarão, mas há dois aspectos da sua vida que merecem um breve comentário: o seu ateísmo militante e as penosas circunstâncias físicas em que decorreu toda a sua vida adulta.

É verdade que abundam os cientistas crentes e católicos, como o Padre Georges Lemaitre, autor da teoria do Big Bang. Mas também os há ateus, como o agora desaparecido Stephen Hawking que, como outros descrentes e fiéis de outras religiões, foi membro da Pontifícia Academia das Ciências. Quatro papas receberam-no e estimaram-no: o Beato Paulo VI, que lhe concedeu a medalha de ouro Pio XI; São João Paulo II; Bento XVI e Francisco.

O ateísmo de Hawking não prova uma inexistente incompatibilidade entre a fé católica e a ciência, porque essa sua opção ideológica não tinha fundamento científico, como ele próprio reconheceu ao chanceler da Pontifícia Academia das Ciências. Se, pela razão, não chegou a reconhecer a existência de Deus, também nunca provou cientificamente o contrário, pela simples razão de que Deus, em termos epistemológicos, é uma realidade transcendente e, por isso, metacientífica. A ciência estuda o que é experimental: o que ultrapassa essa ordem não pode ser objecto do seu conhecimento. Por isso, certas realidades, como Deus e a alma, não são susceptíveis de conhecimento científico.

Quer isto dizer que Deus e a alma não existem?! De modo nenhum, apenas que não são realidades cognoscíveis pelo método científico que, embora verdadeiro, não esgota o conhecimento da realidade: há mais saberes para além da ciência! A filosofia, que é também verdadeiro conhecimento, vai mais longe do que as ciências experimentais: é neste sentido que se diz que é ‘metafísica’, ou seja, um saber que está para além da física. Por sua vez, a teologia sobrenatural é uma sabedoria revelada, que transcende os conhecimentos meramente humanos e pressupõe, necessariamente, o dom da fé.

Há um preconceito racional, ou pressuposição pré-científica, comum a todos os cientistas, sejam crentes ou ateus: tudo tem uma razão de ser. Nenhum cientista admite que alguma coisa acontece por acaso, porque o acaso é a negação da razão e do conhecimento. O apelo à casualidade não é científico, mas expressão de ignorância: invoca-se o acaso quando se desconhece a causa. A causalidade exclui a casualidade: se se admite que algo pode acontecer sem razão suficiente, há que concluir que o mundo pode não ter sentido, o que é absurdo.

Se para tudo há, conhecida ou não, uma razão, como firmemente a ciência crê, é forçoso reconhecer que existe uma inteligência superior, uma razão suprema que governa o universo e determina as suas leis. Ou seja, Deus. A sua existência, embora não possa ser provada cientificamente, pode contudo ser demonstrada racionalmente. Assim o fez Tomás de Aquino: as suas cinco vias, que não obstante o tempo entretanto decorrido continuam irrefutáveis, provam racionalmente a existência de Deus.

Stephen Hawking não chegou a essa conclusão lógica, muito embora os seus modelos especulativos tendessem também para a afirmação de uma ordem universal e, portanto, apontassem para a necessidade de uma inteligência criadora, ou seja, de Deus. Mas é de crer que, agora, já ultrapassou esse impasse, como alguém escreveu, com apurado sentido de humor: “Depois de uma vida a tentar decifrar os grandes enigmas do universo, Stephen Hawking consulta agora a página de soluções”!

Para além de uma mente brilhante, Stephen Hawking era também um corpo doente, muito doente até: desde os 21 anos que sofria de esclerose lateral amiotrófica. Quando lhe foi diagnosticada esta doença, deram-lhe apenas três anos de vida mas, surpreendentemente, viveu até aos 76! Como são falíveis os diagnósticos médicos e como seria temerário deles fazer depender uma sentença de vida ou morte!

A sua doença foi inexoravelmente cruel: perdeu, progressivamente, todas as suas faculdades físicas, até a fala. Nos seus últimos cinco anos, só conseguia comunicar através de sofisticados meios técnicos, que supriam com eficácia essa sua incapacidade.

Não obstante as inúmeras limitações impostas pela sua precária condição física, Stephen Hawking foi protagonista de uma vida cheia de sentido, não só do ponto de vista intelectual, como físico brilhante que foi, mas também na perspectiva emocional: casou, teve filhos, etc. Tanto quanto é possível dizê-lo, Stephen Hawking foi uma pessoa feliz.

Para os defensores da eutanásia, Hawking era o exemplo perfeito da pessoa a eliminar: era escassa a sua esperança de vida, incurável o seu mal e aparentemente impossível a sua realização pessoal. A sua doença não só implicava uma crescente perda de autonomia, como também lhe proporcionava dores cada vez mais constantes e fortes, para além de uma progressiva dependência dos seus cuidadores, até para as tarefas mais simples. A dificuldade em se exprimir, sobretudo na fase final da sua doença, aconselharia também a antecipação da sua morte: para quê manter viva uma mente brilhante se já não pode comunicar?! O elevado custo económico da sua subsistência também obrigaria a concluir que era mais rentável – e, talvez, justo! – canalizar esses recursos para doentes mais novos, ou com maior esperança de vida. Ele próprio, em alguma ocasião, chegou a admitir a hipótese da eutanásia e do suicídio assistido mas, felizmente, mais pôde a sua insaciável vontade de saber, de sonhar e de viver!

Não obstante o que cada um possa pensar sobre o valor da vida humana, decerto ninguém nega que valeu a pena manter vivo aquele espírito brilhante, mesmo que encarcerado num corpo desfeito: a humanidade ficou a ganhar, não obstante tudo o que ele sofreu e tudo o que custou, em termos humanos e financeiros, manter a sua vida até ao fim. A sua luta pela sobrevivência, até ao momento da sua morte natural, é um hino à vida e a sua última e mais brilhante lição: vale sempre a pena viver!

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador (2018)
(seleção de imagem 'Spe Deus')

RESET (reiniciar / recomeçar)

RESET: retorno à configuração original de um sistema ou às definições de fábrica. Se depois de executar diversas tarefas desejamos voltar ao estado inicial, basta-nos carregar na tecla RESET para reiniciar o sistema operativo.

O botão RESET apenas é usado quando um computador fica bloqueado. Caso um programa apresente falhas e faça que o equipamento não responda, RESET reinicia o computador.

Na nossa vida existem momentos em que ela parece estar bloqueada , emaranhada … fruto de uma decisão errada ou de um passo em falso… quem não desejaria de ter a possibilidade de começar do zero? Essa possibilidade existe.

(Texto traduzido a partir do site do Opus Dei – Espanha com tradução e adaptação deste blogue)

São Patrício, patrono da Irlanda

"Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11,28).

Todos já ouvimos falar da Catedral de São Patrício (Saint Patrick), de Nova York. Mas poucos se lembram que ele está profundamente ligado à Irlanda. E a Irlanda toda fala deste Santo.

São Patrício viveu no começo do século V. Tornou-se apóstolo, como padre e bispo, de toda a Irlanda. Além de converter os chefes dos diversos clãs, ele ainda criou os mosteiros, como centros de irradiação do cristianismo e da cultura. Até hoje, não se conhece país no mundo inteiro, que tenha tanta irradiação missionária, como a Irlanda. É uma bela tradição, atribuída a São Patrício, o Santo de hoje.

Ninguém é tão feliz quanto o missionário, que espalha a Palavra de Cristo e toca os corações dos homens.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

Nota: o trevo de três folhas, símbolo nacional da Irlanda representa a Santíssima Trindade