segunda-feira, 16 de março de 2020

É preciso que sejas homem de vida interior

É preciso que sejas "homem de Deus", homem de vida interior, homem de oração e de sacrifício. – O teu apostolado deve ser uma superabundância da tua vida "para dentro". (Caminho, 961)

Vida interior. Santidade nas tarefas usuais, santidade nas coisas pequenas, santidade no trabalho profissional, nas canseiras de todos os dias...; santidade para santificar os outros. Numa certa ocasião, um meu conhecido – nunca hei-de chegar a conhecê-lo bem – sonhava que ia a voar num avião a uma grande altura, mas não dentro da cabine; ia montado nas asas. Coitado do desgraçado: como sofria e se angustiava! Parecia que Nosso Senhor lhe dava a conhecer que assim andam pelas alturas – inseguras, inquietas – as almas apostólicas que não têm vida interior ou que a descuidam: com o perigo constante de caírem, sofrendo, incertas.

E penso, efectivamente, que correm um sério risco de se extraviarem os que se lançam à acção – ao activismo – prescindindo da oração, do sacrifício e dos meios indispensáveis para conseguir uma piedade sólida: a frequência dos Sacramentos, a meditação, o exame de consciência, a leitura espiritual, a convivência assídua com a Virgem Santíssima e com os Anjos da Guarda... Tudo isto contribui, além disso, com uma eficácia insubstituível, para que o caminho do cristão seja tão agradável, porque da sua riqueza interior jorram a doçura e a felicidade de Deus como o mel do favo.

Na intimidade pessoal, na conduta externa, no convívio com os outros, no trabalho, cada um há-de procurar manter-se numa contínua presença de Deus, com uma conversa – um diálogo – que não se manifesta exteriormente. Melhor dito, não se exprime normalmente com ruído de palavras, mas há-de notar-se pelo empenho e pela diligência amorosa com que acabamos bem as tarefas, tanto as importantes como as insignificantes. Se não procedêssemos com essa constância, seríamos pouco coerentes com a nossa condição de filhos de Deus, pois teríamos desperdiçado os recursos que Nosso Senhor colocou providencialmente ao nosso alcance, para chegarmos ao estado de homem perfeito, à medida da idade perfeita segundo Cristo. (Amigos de Deus, 18–19)

São Josemaría Escrivá 

Existe alguma educação que seja neutra?

«Quero para o meu filho uma educação neutra, livre de influências que são sempre perniciosas. Ele tem de descobrir por si mesmo o que está bem e o que está mal. Desse modo, nunca será manipulado por ninguém. Nem pela Igreja, que continua a ensinar hoje em dia umas ideias passadas de moda. Que exagero! Estamos em pleno século XXI! Abertura, compreensão, cedência nos ensinamentos que, se foram úteis no passado, agora têm de se adaptar aos novos tempos. Senão, ficam obsoletos. A doutrina da Igreja ― desculpe a minha sinceridade ― é composta por uns princípios que já ninguém entende, já ninguém acredita, já ninguém vive».

São palavras de um pai de família quando lhe perguntaram se queria ou não que o seu filho tivesse aulas de religião na escola. Penso que contêm uma grande quantidade de chavões muito comuns hoje em dia.

Comecemos com uma pergunta: existe alguma educação que seja neutra? Não. Não existe. A neutralidade educativa é uma ilusão. Se os pais não educam, outros o farão no seu lugar: a sociedade, o ambiente, os meios de comunicação. E atenção: esses “educadores” possuem uma influência enorme que nunca ― absolutamente nunca ― é uma influência neutra.

Então, isso quer dizer que os pais devem transmitir valores cristãos aos filhos? Claro que sim. A fé e a moral cristã não estão nada obsoletas ― muito pelo contrário! Renovam o ser humano porque lhe revelam a sua autêntica grandeza e o seu verdadeiro destino. São a chave da sua verdadeira felicidade já nesta Terra. Libertam os filhos da amargura de uma existência sem Deus. Uma existência sem sentido. Uma existência de ir andando não se sabe muito bem para onde nem porquê.

Uma existência que acaba por absolutizar o momento presente procurando satisfazer todos os desejos ― é impossível ― hoje e agora. É o encontro com o amor de Deus ― diz o Papa Francisco ― que nos resgata da nossa autorreferencialidade. De vivermos centrados em nós próprios como se fôssemos o centro do Universo. E se os filhos são conscientes desse amor, entendem a temperança, a veracidade, a lealdade, a pureza, a honestidade não como valores obsoletos, mas como respostas ao amor de Deus por nós.

Se os pais transmitem valores que vivem, os filhos entenderão que o amor de Deus por nós pode ser exigente ― mas nunca é opressivo! É sempre libertador. Como diz J. Lorda, “nós admiramos aquilo que tem perfeição, serenidade, domínio, força. Maravilhamo-nos pelo voo majestoso de uma águia, mas não pelo voo desajeitado de uma galinha”.

Deus, quando nos exige, revela-nos que fomos criados para voar alto, como as águias. Não como as galinhas. É uma exigência que procede do Seu amor, não do desejo de nos roubar a felicidade. É uma exigência ― aprendemos isso com os nossos pais ― que nos faz felizes.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

O egoísmo religioso

«Há, em primeiro lugar, uma falsa forma de tomada de consciência moral, numa perene busca de perfeição pessoal, concentrando toda a atenção no próprio eu, nos seus pecados e nas suas virtudes. Chega-se assim a um egoísmo religioso que impede a pessoa em questão de se abrir simplesmente ao olhar de Deus e de desviar a atenção de si para Ele. A pessoa religiosa e piedosa toda ocupada consigo própria não tem tempo para procurar o rosto de Deus e para ouvir o Seu sim libertador e redentor»

(Joseph Ratzinger - Olhar para Cristo)