quinta-feira, 12 de março de 2020

Deus está junto de nós continuamente

É preciso convencermo-nos de que Deus está junto de nós continuamente. – Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos – ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando. Quantas vezes fizemos desanuviar a fronte dos nossos pais, dizendo-lhes, depois de uma travessura: não torno a fazer mais! – Talvez naquele mesmo dia tenhamos tornado a cair... – E o nosso pai, com fingida dureza na voz, de cara séria, repreende-nos..., ao mesmo tempo que se enternece o seu coração, conhecedor da nossa fraqueza, pensando: pobre rapaz, que esforços faz para se portar bem! É necessário que nos embebamos, que nos saturemos de que é Pai e muito Pai nosso, o Senhor que está junto de nós e nos Céus.  (Caminho, 267)

Descansai na filiação divina. Deus é um Pai cheio de ternura, de amor infinito. Chama-lhe Pai muitas vezes durante o dia e diz-lhe – a sós, na intimidade do teu coração – que o amas, que o adoras, que sentes o orgulho e a força de seres seu filho. Tudo isto pressupõe um autêntico programa de vida interior, que é preciso canalizar através das tuas relações de piedade com Deus – poucas, mas constantes, insisto – que te permitirão adquirir os sentimentos e as maneiras de um bom filho.

Devo prevenir-te, no entanto, contra o perigo da rotina – verdadeiro sepulcro da piedade – a qual se apresenta frequentemente disfarçada com ambições de realizar ou empreender gestas importantes, enquanto se descuida comodamente a devida ocupação quotidiana. Quando notares essas insinuações, põe-te diante do Senhor com sinceridade. Pensa se não te terás aborrecido de lutar sempre nas mesmas coisas, porque na realidade não estavas à procura de Deus. Vê se não terá decaído a tua perseverança fiel no trabalho, por falta de generosidade, de espírito de sacrifício. Nesse caso, as tuas normas de piedade, as pequenas mortificações, a actividade apostólica que não produz fruto imediato parecem-te tremendamente estéreis. Estamos vazios e talvez comecemos a sonhar com novos planos, para calar a voz do nosso Pai do Céu, que exige de nós uma lealdade total. E, com um pesadelo de grandezas na alma, lançamos no esquecimento a realidade mais certa, o caminho que sem dúvida nos conduz direitos à santidade. Aí temos um sinal evidente de que perdemos o ponto de vista sobrenatural, a convicção de que somos meninos pequenos, a persuasão de que o nosso Pai fará em nós maravilhas, se recomeçarmos com humildade. (Amigos de Deus, 150)

São Josemaría Escrivá

Inclemência

Por razão de uma inoportuna gripe, que me arredou destas lides por várias dias, já cheguei tarde à polémica desencadeada pela nota pastoral do Patriarca de Lisboa sobre a aplicação, nesta diocese, da exortação apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco. Ainda bem: poupou-me muita asneira que por aí se escreveu e disse sobre este tema. Contudo, já em plena convalescença, li o editorial de David Dinis, director do Público, sobre “Os três ‘pecados’ de D. Manuel Clemente”, o texto “Porque insiste a Igreja em meter-se na nossa cama?”, de João Miguel Tavares e, por último, a crónica que Vicente Jorge Silva dedicou, no passado dia 11, ao Cardeal Patriarca de Lisboa, que trata por D. Clemente, talvez por ignorar que, em bom português, o ‘dom’ nunca se usa antes do apelido, mas só do nome próprio (por isso, não se diz que o primeiro rei de Portugal foi D. Henriques, ou que o santo condestável foi D. Pereira).

Não sei que bicho mordeu o Público para assim atacar o Senhor Patriarca, nem por que carga de água um jornal laico se manifestou tão interessado por um assunto exclusivamente eclesial. É curioso notar que, aqueles que fazem muita gala em criticar a Igreja a partir do seu agnosticismo, apregoam a sua própria ignorância: agnóstico quer dizer, etimologicamente, ausência de saber (‘gnose’ significa conhecimento e o prefixo ‘a’ indica negação).

Sejamos claros: ninguém é obrigado a ser católico e só se pode ser católico na Igreja e na comunhão com os seus legítimos pastores. Quem não é católico, não tem porque discutir umas normas que o não afectam e que se baseiam em princípios que não conhece, nem reconhece como divinamente revelados. Quem é católico, em qualquer momento pode deixar de o ser, se porventura não concordar com as normas que a Igreja propõe aos seus fiéis. Contudo, os avençados do politicamente correcto querem que a Igreja católica baile ao compasso da sua moral relativista e hedonista, ou seja, que legitime tudo o que eles, os ‘donos’ do pensamento, acham que é moderno, progressista, avançado, inteligente e precursor.

O mais preocupante nestes ataques, que por vezes raiam o insulto pessoal, por sinal todos na mesma linha e sem contraditório, é a atitude totalitária que evidenciam. Um democrata diria: ‘O Senhor D. Manuel Clemente pensa que a abstinência é uma boa solução – nem sequer é a única que propõe, ao contrário do que certa imprensa tem dito – para alguns católicos ‘recasados’, mas eu não concordo’ e não havia nenhum problema. Mas os autores destes textos não se ficam por aí, porque não admitem qualquer divergência em relação ao seu pensamento dogmático: quem não pensa como eles, ou como eles acham que se devem pensar certas questões que não são sequer da sua competência profissional, é ‘retrógrado’, ‘absurdo’, ‘estúpido’ e ‘ridículo’, para usar, pela mesma ordem, os mesmos qualificativos com que foi publicamente referida a declaração do Senhor Patriarca, no Público do passado dia 11. É preocupante, porque na base desta arrogante intolerância, há um espírito totalitário, que ameaça a liberdade de pensamento e de expressão religiosa em Portugal.

Nem sempre o parecer das multidões é o mais avisado, sobretudo em questões éticas. Com efeito, muitas vezes as massas cedem facilmente ao fascínio do poder, ou ao medo: recorde-se o entusiasmo com que alemães e austríacos apoiaram o nazismo. Mas há sempre alguma voz que se levanta e é expressão de uma maior lucidez. Foi o caso de Winston Churchill que, quando todos, talvez por cobardia, queriam pactuar com Hitler, manteve-se firme no propósito de manter a guerra até à vitória final. Foi o caso também de Milada Horokawa, a resistente checa que, depois de perseguida e detida pela Gestapo durante a ocupação nazi do seu país, veio a ser torturada e morta pelo regime comunista instaurado na Checoslováquia, depois da segunda Guerra Mundial.

Talvez, em termos mediáticos, a declaração do Senhor D. Manuel Clemente não tenha sido um êxito. Mas, foi, sem dúvida, um grande sucesso evangélico: “Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam” (Mt 5, 11-12).

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Voz da Verdade (2018)

O autor de Missão Cumprida falou sobre D. Álvaro del Portillo

Mons. Hugo de Azevedo, autor de uma biografia em português sobre o primeiro sucessor de S. Josemaria à frente do Opus Dei, deu no passado dia 15 de fevereiro (2018), no Auditório Carvalho Guerra, da Universidade Católica (Porto), a segunda conferência de preparação do Centenário do nascimento de D. Álvaro del Portillo. Comentando o seu trabalho de pesquisa para esta obra, salientou a formação profissional de engenheiro como um dom para ser fiel ao que recebia do Fundador, elencando, em tom jocoso, outras profissões mais “criativas”, como a de filósofo, teólogo, jurista, advogado, romancista… Ao seu lado, o Dr. António Lobo Xavier, jurista, que apresentara o orador, divertia-se, com uma cumplicidade que contagiava os assistentes.

Referiu o título Missão Cumprida como boa definição do que foi a vida de D. Álvaro del Portillo, levando a termo alguns dos sonhos de S. Josemaria. Com um temperamento muito diferente do do Fundador do Opus Dei, cultivou sempre o estilo de família unida, que o fazia falar a multidões à medida que o Opus Dei ia crescendo, sem reparar no seu natural mais tímido. Recusou mesmo a profissão de advogado, à semelhança do seu pai, por não se sentir dotado para falar em público. Ao longo das sessões do Vaticano II, a sua bondade e capacidade de criar consensos, tornou possíveis muitas redações de textos no termo das sessões de trabalho. Daí resultou um estudo muito interessante: “Fiéis e leigos na Igreja”, também editado em Portugal.

Com a consciência de que é necessário criar obras evangelizadoras que perdurem, deu vida à Universidade Pontifícia da Santa Cruz para a formação de sacerdotes, leigos e religiosos de todo o mundo em Roma. Atualmente, esse é um dos projetos que Harambee pretende apoiar no ano da sua beatificação, que terá lugar a 27 de setembro próximo em Madrid. Outros especialmente ligados à saúde e à educação, serão também visados no agradecimento dos participantes na sua beatificação.

A primeira sessão para preparar o Centenário do nascimento de D. Álvaro (11 de março de 1914) teve lugar em Lisboa, no dia 18 de janeiro.

Nas duas ocasiões, foram apresentados em detalhe os quatro projetos Harambee especialmente ligados ao impulso de D. Álvaro, nas suas viagens pastorais a África, por duas das promotoras da iniciativa em Portugal.