Lealdade! Fidelidade! Honradez! No grande e no pequeno, no pouco e no muito. Querer lutar, mesmo que às vezes pareça que não conseguimos querer. Se chega o momento da debilidade, abri a alma de par em par, e deixai-vos conduzir suavemente: hoje subo dois degraus, amanhã quatro… no dia seguinte, talvez nenhum, porque ficámos sem forças. Mas queremos querer. Temos pelo menos o desejo de querer. Filhos, isso já é combater [14].
É preciso governar, temperar o coração e os sentimentos, através da razão iluminada pela fé. «Eles podem ajudar-nos a ser generosos com Deus, escreveu D. Álvaro, mas não devem ser o único nem o principal motor da nossa fidelidade, porque isso seria sentimentalismo, uma deformação do amor realmente perigosa. Muita gente dá excessiva importância aos estados de ânimo. Contam muito com o coração e menos com a cabeça. Se gostam, se lhes apetece, acham-se capazes de tudo, fiados no seu entusiasmo. Se não, desanimam. Mas temos de estar prevenidos contra esta armadilha (…). Só assim teremos consciência, nos momentos de prova, que a infidelidade nunca se baseia num motivo razoável» [15].
Antes de mais nada, D. Álvaro seguiu muito de perto o chamamento do Senhor. Deus tinha-o dotado de notórias qualidades humanas e sobrenaturais, e tudo isso ele pôs ao serviço da missão recebida. É conhecida a resposta que deu ao Bispo de Madrid, pouco antes de receber a ordenação sacerdotal. D. Leopoldo comentou que, com os seus títulos civis e académicos tão relevantes, D. Álvaro era muito apreciado e respeitado no ambiente eclesiástico, onde teve que gerir muitos assuntos, por encargo do nosso Padre. Mas – previa o Bispo – depois da ordenação sacerdotal, perderia essa consideração da parte de muitos. D. Álvaro respondeu-lhe que não se importava: já tinha entregado a Deus tudo o que era seu – prestígio humano, projetos, oportunidades profissionais –, desde que respondera ao convite de Deus para se santificar no Opus Dei. Não se importava com o juízo dos homens mas sim com o desejo de amar a Deus e de cumprir a Sua Vontade. Quis ocultar-se e desaparecer, como S. Josemaria, para ser instrumento idóneo no serviço à Igreja.
O seu desejo de se identificar com o espírito do Opus Dei manifestou-se de forma gráfica quando foi designado primeiro sucessor de S. Josemaria. Disse então que não tinham eleito Álvaro del Portillo mas sim, de novo, o nosso Fundador que, do Céu, continuava a dirigir a Obra. E não via neste modo de falar e de proceder nada de especial ou fora do normal, pois estava profundamente convicto de que Deus o tinha procurado para ser a sombra do nosso Padre na Terra e, em consequência, ser o canal condutor para comunicar grande parte das Suas graças aos fiéis do Opus Dei e a tantos outros homens e mulheres de todo o mundo.
[14]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, fevereiro de 1972 (“Em diálogo com Deus”, p. 154).
[15]. D. Álvaro, Carta, 19-III-1992, n. 31 (“Cartas de família”, vol. III, n. 321).
(D. Javier Echevarría na carta do mês de março de 2014)
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