sábado, 22 de fevereiro de 2020

Estou com Ele no tempo da adversidade

Ainda que tudo se vá abaixo e se acabe; ainda que os acontecimentos se sucedam ao contrário do previsto, com tremenda adversidade; nada se ganha perturbando-se. Além disso, recorda a oração confiante do profeta: "O Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei; Ele é quem nos há-de salvar". Reza-a devotamente, todos os dias, para acomodar a tua conduta aos desígnios da Providência, que nos governa para nosso bem. (Forja, 855)

E quando a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca –violenta –, o salmista põe-nos nos lábios e na inteligência aquelas palavras: estou com Ele no tempo da adversidade. Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a minha; perante as Tuas feridas, os meus arranhões? Perante o Teu Amor imenso, puro e infinito, que vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus ombros? E os vossos corações e o meu enchem-se de uma santa avidez, confessando-Lhe – com obras – que morremos de Amor.

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as Suas lágrimas; de ver o Seu sorriso, o Seu rosto... Julgo que o melhor modo de o exprimir é voltar a repetir, com a Escritura: como o veado deseja a fonte das águas, assim a minha alma te anela, ó meu Deus! E a alma avança, metida em Deus, endeusada: o cristão tornou-se um viajante sedento, que abre a boca às águas da fonte.

Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia – pegando esta ânsia aos outros – porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.

Falava antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício pareça insuportável. (Amigos de Deus, 310–311)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho de Domingo dia 23 de Fevereiro de 2020

«Ouvistes que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. Eu, porém, digo-vos que não resistais ao homem mau; mas, se alguém te ferir na tua face direita, apresenta-lhe também a outra; e ao que quer chamar-te a juízo para te tirar a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém te forçar a dar mil passos, vai com ele mais dois mil. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem deseja que lhe emprestes. «Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Deste modo sereis filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre maus e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios gentios? Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.

Mt 5, 38-48

Os sociólogos são levados da breca!

Não assisti ao programa, mas os meus colegas na universidade contaram-me. Foi um debate de banalidades, dedicado a horóscopos, adivinhações e magias desse tipo. Os convidados eram todos adivinhos «profissionais», excepto um professor da universidade que eu conhecia muito bem. Um homem com muitas qualidades e um defeito: não resistia a um convite para falar na televisão, nem que fosse para tratar de horóscopos.

Contaram-me aquela conversa surrealista, em que ele estava completamente deslocado. Não concordava com nada do que os outros diziam e o seu desagrado ia crescendo, até que uma «medium» teve o descaramento de declarar, referindo-se possivelmente à presença dele: «sinto que há aqui uma energia negativa»! O aludido explodiu em directo na televisão, com grande veemência: «Minha senhora! A sua energia nem tem unidades!».

É difícil arrasar mais completamente uma «medium»! Por definição, as grandezas materiais são mensuráveis e podem estudar-se experimentalmente. Por vezes, ainda hoje me divirto quando algum colega da universidade, mais dotado para imitações, reproduz o episódio.

Por definição, as realidades espirituais são o oposto. Imateriais, impossíveis de medir e, por isso, sem unidades. A justiça é real, mas não se podem comparar duas situações, uma 34% mais justa que a outra; tal como não há uma liberdade 73% mais livre que outra. É assim com todas as dimensões espirituais e por isso a sociologia tem um desafio curioso quando procura avaliar estas realidades intrinsecamente não mensuráveis. Uma investigação séria e interessante – que não ofende a inteligência, como os horóscopos –, baseada em indicadores indirectos que nos fazem pensar.

Esta semana, a jornalista Helena Oliveira, do boletim electrónico «VER», apresentou os resultados de um estudo do Pew Research Center sobre a relação da prática religiosa com o grau de felicidade, o envolvimento cívico e a saúde (www.ver.pt/pessoas-activamente-religiosas-sao-mais-felizes/). O trabalho de campo abrangeu um universo estatístico de milhares de adultos de 35 países.
As observações são sugestivas. Estatisticamente, os que vão regularmente à igreja declaram mais frequentemente que são felizes, votam mais nas eleições e estão mais envolvidos na vida comunitária, por exemplo colaborando com associações cívicas, para além da actividade religiosa. No que respeita à saúde, quem pratica uma religião tem menos tendência para fumar, para cair no alcoolismo e adoptar comportamentos de risco. Pelo menos nalguns países, as pessoas que participam regularmente em actividades religiosas vivem mais tempo, sofrem menos de algumas doenças e, em geral, lidam melhor com o «stress» da doença. Em contrapartida, não se não encontraram diferenças significativas no que respeita ao exercício físico e à obesidade.

Porta do Paraíso - Duomo de Florença - Gilberto Ghiberti
Os próprios autores do estudo reconhecem que fica por explicar o porquê destas correlações estatísticas e que não se consegue excluir a influência de outras variáveis. Dentro de alguns anos, o resultado poderá ser diferente?

Este estudo corrobora análises anteriores, de âmbito mais local. Todos concluem que há mesmo uma correlação, mas ela expressa uma relação causal directa? Há quem defenda que o número de amigos explica os níveis de felicidade e quem vai à igreja tem geralmente um maior número de amigos. Por sua vez, isso cria uma rede de apoio, que ajuda a lidar com os problemas da vida. Outros argumentam que são as virtudes promovidas pela religião, como a compaixão, o perdão e o desejo de ajudar os outros, que contribuem para melhorar os níveis de felicidade e até a saúde física. Seja como for, a correlação tem interesse prático.

Alguns estudiosos de ciência política observaram que, se a frequência religiosa diminuir numa determinada sociedade, as iniciativas de voluntariado ficam comprometidas a prazo e o nível de criminalidade tende a aumentar. Pelos vistos, convém ser feliz.
José Maria C.S. André

As rochas

“Pela sua fé, Abraão, o pai dos crentes, é visto como a rocha que sustenta a criação. Simão, o primeiro que confessou Jesus como o Cristo e também a primeira testemunha da ressurreição, torna-se agora, com a sua fé renovada, a rocha que se opõe às forças destruidoras do mal.”

(Bento XVI - Homilia da Santa Missa de 19.02.2012)