terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Eu confio em Ti, sei que és meu Pai

Jesus ora no horto: Pater mi (Mt XXVI, 39), Abba, Pater (Mc XIV, 36)! Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo quando me bate. Jesus sofre, para cumprir a Vontade do Pai... E eu, que também quero cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me, se encontro por companheiro de caminho o sofrimento? Constituirá um sinal certo da minha filiação, porque me trata como ao Seu Divino Filho. E, então, como Ele, poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsemani; mas, prostrado por terra, reconhecendo O meu nada, subirá ao Senhor um grito saído do íntimo da minha alma: Pater mi, Abba, Pater, ... fiat! (Via Sacra, 1ª Estação, n. 1)

Por motivos que não vem a propósito referir – mas que são bem conhecidos de Jesus, que aqui temos a presidir no Sacrário – a vida tem-me levado a sentir-me de um modo muito especial filho de Deus. Tenho saboreado a alegria de me meter no coração de meu Pai, para rectificar, para me purificar, para o servir, para compreender e desculpar a todos, tendo como base o seu amor e a minha humilhação.

Por isso, desejo agora insistir na necessidade de nos renovarmos, vós e eu, de despertarmos do sono da tibieza que tão facilmente nos amodorra e de voltarmos a entender, de maneira mais profunda e ao mesmo tempo mais imediata, a nossa condição de filhos de Deus.

O exemplo de Jesus, toda a vida de Cristo por aquelas terras do Oriente ajuda-nos a deixarmo-nos penetrar por essa verdade. Se admitimos o testemunho dos homens – lemos na Epístola – de maior autoridade é o testemunho de Deus. E em que consiste o testemunho de Deus? De novo fala S. João: Considerai o amor que nos mostrou o Pai em querer que nos chamemos filhos de Deus, e que o sejamos... Caríssimos, agora já somos filhos de Deus.

Ao longo dos anos, tenho procurado apoiar-me sem desfalecimento nesta feliz realidade. Em todas as circunstâncias, a minha oração tem sido a mesma com tonalidades diferentes. Tenho-lhe dito: Senhor, Tu colocaste-me aqui; Tu confiaste-me isto ou aquilo, e eu confio em Ti. Sei que és meu Pai e tenho visto sempre que as crianças confiam absolutamente nos pais. A minha experiência sacerdotal tem-me confirmado que este abandono nas mãos de Deus leva as almas a adquirir uma piedade forte, profunda e serena, que impele a trabalhar constantemente com rectidão de intenção. (Amigos de Deus, 143)

São Josemaría Escrivá

Viver juntos não ajuda a preparar o casamento

Viver juntos, antes do matrimónio, contribui para que o casamento seja muito mais frágil. Esta afirmação está bem estudada, documentada e certificada.

Qual é o motivo dessa maior fragilidade? Não existe no ambiente hodierno a ideia de que juntar-se é o melhor modo de preparar-se para o casamento?

Budziszewski, professor de filosofia da Universidade do Texas, recorda que existe uma diferença essencial e radical entre casar-se e juntar-se.

«O que procuram as pessoas que se casam é precisamente isso: adquirir um compromisso para sempre. Pelo contrário, o que procuram as pessoas que se juntam é diametralmente oposto: não ter nenhum compromisso, pelo menos para já».

Ora, como pode a ausência de compromisso ser uma boa preparação para um compromisso definitivo?

O facto de que o futuro de uma relação provisória seja incerto – dado que se dá por assente que não é para toda a vida – faz com que os dois tenham muito menos incentivos para “investir” nessa relação. O que, por sua vez, aumenta o grau de “fragilidade” desse relacionamento.

A insegurança dessa relação experimental acaba por cristalizar num estilo de vida calculista: «Porque é que me vou dar totalmente a alguém que não tem intenção clara de se comprometer comigo para sempre?».

Se, no final, decidem que a sua relação experimental chegue ao casamento – coisa que, na maioria dos casos, não acontece – o hábito calculista pode-se manter de um modo subtil.

Também existe um grau diferente de consciência com que uns e outros chegam ao casamento.

Para os que não vivem juntos, casar-se costuma ser uma decisão muito pensada e ponderada.

Pelo contrário, entre aqueles que vivem juntos, é muito frequente o tender a “deslizar” para o casamento, mais como fruto de uma certa inércia – porque surgiu um filho, ou porque os familiares insistem – do que de uma decisão consciente e livre.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Verdades mentirosas

O principal ‘interesse nacional’ é a verdade: nenhum interesse económico, partidário ou pessoal pode legitimar ‘esquemas’ contrários à lei e aos mais elementares princípios éticos da governação.

A propósito da Caixa Geral dos Depósitos, muito se tem falado, nestes últimos tempos, sobre a verdade. Sem entrar na análise do caso concreto, nem em questões de natureza bancária ou partidária, vem a propósito tecer algumas breves considerações sobre a verdade e a mentira na política, sem fazer, como é óbvio, quaisquer julgamentos pessoais.

Em tempos de relativismo, tende-se a crer que a verdade não existe, porque não é mais do que uma mera narrativa. Contudo, segundo a clássica definição de Tomás de Aquino, a verdade existe e é a própria realidade enquanto presente ao entendimento. Assim sendo, é algo objectivo e real, não subjectivo nem virtual. A verdade é consubstancial ao conhecimento e o erro advém da falta de correspondência entre a realidade e o que dela se diz. Afirmar, consciente e voluntariamente, como verdadeiro o que é falso, com o intuito de enganar, é mentir.

A verdade é tão essencial à justiça que o juiz, só depois de proceder ao apuramento dos factos, pode deles deduzir a responsabilidade civil ou criminal. Também na política a verdade é relevante: um poder não fundado na verdade não pode ser legítimo, nem justo, como Cristo fez saber a Pôncio Pilatos (Jo 18, 28-39). Não é pois de estranhar que todos os regimes totalitários, como o nazismo e o comunismo, se fundem na mentira e impeçam o conhecimento da verdade, nomeadamente através da censura.

A mentira, como os chapéus, pode ser de muitos tipos. Pode-se mentir com meias-verdades e, até, com verdades inteiras. Foi o caso do imediato que, zangado com o comandante, escreveu no diário de bordo: hoje, o capitão não se embebedou. Era verdade, mas uma verdade mentirosa, porque levava a crer que todos os dias se embebedava aquele que, não só naquele dia como também nunca antes o fizera, ao contrário do que o imediato mentirosa e maliciosamente insinuara. Portanto, não mente apenas quem, consciente e voluntariamente, afirma algo contrário à verdade, mas também quem, pelas suas palavras ou silêncios, dá a entender alguma coisa falsa.

Não vale a pena cair no ridículo dos eufemismos, como “erro de percepção” ou outros, nem derivar para minudências casuísticas. Centrar a questão na natureza da mensagem – carta, telefonema, e-mail, sms, etc. – ou no tipo de documento – informático, material, etc. – é um preciosismo farisaico, que indicia artes e manhas daquele que é “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Também a este propósito, o ensinamento evangélico é claro: “a vossa linguagem deve ser: ‘sim, sim; não, não’. O que passa disso vem do maligno” (Mt 5, 37).

Outra questão é a da responsabilidade moral pelos actos próprios e alheios. Quem faz uma afirmação contrária à verdade é responsável por essa mentira, mas também devem ser responsabilizados, em termos éticos e políticos, os que, sabendo, deram cobertura a essa falsidade.

Conta-se que, em tempos que já lá vão, num país europeu que não o nosso, um ministro não sabia se devia permitir que alguns jornalistas estrangeiros tivessem acesso a dados do seu departamento. Para esse efeito consultou o chefe do governo, que lhe disse, laconicamente, que fizesse o que quisesse. Os repórteres foram admitidos, mas a reportagem que publicaram, depois de regressarem ao seu país, foi muito negativa. Na seguinte reunião do governo, como era de esperar, choveram as críticas sobre o ministro em causa, até que o primeiro-ministro pôs termo à discussão, dizendo que fora ele que autorizara a investigação jornalística. Poder-se-ia ter remetido a um cómodo e cobarde silêncio, deixando o ministro a arder, mas teve a dignidade de assumir que era sua a responsabilidade política e moral pelo acto do ministro, uma vez que lhe dera o seu aval.

Se alguém mentiu, deve ter a coragem de o reconhecer e de assumir as consequências óbvias. Se é grave faltar à verdade, grave é também ser cúmplice da mentira: se alguém lhe deu cobertura política, deve também aceitar a inerente responsabilidade, em nome da verdade e da dignidade do Estado. O principal ‘interesse nacional’ é a verdade: nenhum interesse económico, partidário ou pessoal pode legitimar ‘esquemas’ contrários à lei e aos mais elementares princípios éticos da governação.

Na vida, há senhores … e chicos-espertos. Na política, há estadistas … e os outros.

PS. Uma jornalista do DN, em artigo de opinião, insurgiu-se recentemente contra a presença de padres nas comissões de ética dos hospitais e na imprensa, como comentadores de temas da sua especialidade, como é o caso da presente crónica. Mais despropositado é, contudo, que jornalistas, sem especial formação em questões éticas, opinem sobre assuntos que não são do seu conhecimento. De uma jornalista generalista, ou seja não especializada em temas de religião e moral, esperam-se artigos de informação, porque os de opinião devem ser da exclusiva competência de quem recebeu uma formação específica sobre a matéria correspondente.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador AQUI
(Seleção de imagem 'Spe Deus')

Abraçar (oração)

Pode-se abraçar a família, os amigos e o amor
Pode-se abraçar uma causa, uma vontade
Mas, sem Fé, nada se pode abraçar
Abraça Deus e deixa-te abraçar pelo mundo, seu reino
Abraça a derrota e lembra-te dela quando sentires a vitória
Abraça te a ti, a ela, a ele e a eles
Abraça esta mensagem, também
E nunca dês um ultimo abraço, mas oferece muitos primeiros
Abraça as memórias para abraçares o teu presente
Abraça a vida
E agora, abracemos este pão que partilhamos com Jesus, o Cristo

Sebastião R. Bugalho