segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Que vos saibais perdoar

Com quanta insistência o Apóstolo S. João pregava o "mandatum novum"! "Amai-vos uns aos outros!". Pôr-me-ia de joelhos, sem fazer teatro – grita-mo o coração –, para vos pedir, por amor de Deus, que vos estimeis, que vos ajudeis, que vos deis a mão, que vos saibais perdoar. Portanto, vamos banir a soberba, ser compassivos, ter caridade; prestar-nos mutuamente o auxílio da oração e da amizade sincera. (Forja, 454)

Jesus Cristo, Nosso Senhor, encarnou e tomou a nossa natureza, para se mostrar à humanidade como modelo de todas as virtudes. Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, convida-nos Ele.

Mais tarde, quando explica aos Apóstolos o sinal pelo qual os reconhecerão como cristãos, não diz: porque sois humildes. Ele é a pureza mais sublime, o Cordeiro imaculado. Nada podia manchar a sua santidade perfeita, sem mácula. Mas também não diz: saberão que se encontram diante de discípulos meus, porque sois castos e limpos.

Passou por este mundo com o mais completo desprendimento dos bens da terra. Sendo Criador e Senhor de todo o universo, faltava-lhe até um sítio onde pudesse reclinar a cabeça. No entanto, não comenta: saberão que sois dos meus porque não vos apegastes às riquezas. Permanece quarenta dias e quarenta noites no deserto em jejum rigoroso, antes de se dedicar à pregação do Evangelho. E também não afirma aos seus: compreenderão que servis a Deus, porque não sois comilões nem bebedores.

A característica que distinguirá os apóstolos, os cristãos autênticos de todos os tempos, já a ouvimos: nisto – precisamente nisto – conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. (Amigos de Deus, 224)

São Josemaría Escrivá

O grande bem da amizade

«Podemos viver sem um irmão, mas ninguém pode viver sem um amigo», diz um provérbio árabe.
Nascemos para amar e ser amados. A amizade que temos com as outras pessoas é uma manifestação disso. Não é a única, mas é fundamental na vida de todos nós.
A amizade é uma relação terna e livre, recíproca e exigente, desinteressada e benéfica. Nasce de uma inclinação natural, mas alimenta-se do saber conviver compartilhando.
Se uma pessoa não sabe conviver ou não sabe compartilhar, nunca terá amigos. Pode ter colegas no seu local de trabalho, mas não tem amigos.
Só aqueles que nada possuem – no seu interior, na sua alma – não podem compartilhar nada. São os superficiais. Acham que possuir bens materiais torna os possíveis amigos desnecessários. Olham para a amizade com um profundo sentido utilitarista – coisa que, por definição, destrói a própria amizade.
Como diz F. Mendiola, fatores como saber ouvir, esquecer-se de si mesmo e ser humilde são muitíssimo mais importantes para termos amigos do que sermos uma pessoa divertida que, com facilidade, “arranca” gargalhadas à sua volta.
Também é de especial valor para a amizade sabermos inspirar confiança. A falta de confiança é uma explosão garantida que faz desmoronar o edifício da amizade.
Qual o exemplo máximo da amizade?
Talvez seja aquele que aparece nos Evangelhos: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).
Em geral, nota-se como a amizade tende a expandir-se quando se compartilha a mensagem cristã. Talvez porque não exista um tesouro mais valioso que se possa compartilhar nesta vida.
Neste mundo actual onde a solidão está tão presente, é bom voltarmos a meditar com calma no grande bem insubstituível que é a amizade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

A primeira escola dos filhos

Em certa ocasião, um pai de família começou uma conferência com a seguinte pergunta ao auditório: «Sabem qual é a primeira escola que os filhos devem ter?». As respostas foram muito variadas: um infantário, uma creche, um jardim-escola.

«Nada disso» ― respondeu o conferencista. «A minha experiência de pai de uma família numerosa ― lá em casa somos dez: a minha patroa, oito filhos e este seu servidor ― é que a primeira e fundamental escola dos filhos é o amor entre os pais. De todas as escolas que conheço é a que melhor ensina a matéria mais importante: ensina a amar. Dessa “cadeira” depende a felicidade dos nossos filhos nesta vida e na futura».

É do amor mútuo entre os pais que procedem os filhos. No entanto, esse amor não pode permanecer somente no acto gerador inicial. Demonstra-se, sobretudo, nessa geração não biológica que é tão fundamental na vida de qualquer um de nós: a educação.

E é o amor entre os pais ― que se transmite aos filhos ― a primeira “escola” que educa lá em casa. Não só educa, mas dá coesão, transmite segurança e permite aos filhos crescerem e desenvolverem-se num ambiente saudável. Como alguém disse ― e com razão ― a família é sempre o melhor ministério da educação, da saúde e da segurança social.

Se há amor entre o pai e a mãe ― amor que se manifesta em detalhes de espírito de serviço todos os dias ― a atmosfera que os filhos respiram é de entrega e de generosidade. E estes dois conceitos possuem uma estreita relação com a capacidade de amar de cada um de nós. Sem entrega e sem generosidade não há amor ― há palavras bonitas, eflúvios sentimentais e nada mais.

Para se construir um lar amável, acolhedor e formativo é necessário o seguinte “material” fundamental: um pai, uma mãe, o amor entre eles e aos filhos. E o amor manifesta-se ― entre outras coisas ― na dedicação de tempo tanto ao cônjuge como aos filhos. Essa dedicação complementar é responsabilidade dos dois ― não só ou sobretudo da mãe. É bom não esquecer que os filhos, para crescerem harmonicamente, necessitam também da presença, amizade e carinho do pai.

É verdade que, por motivos graves, Deus dá a sua graça para suprir a forçada ausência de um dos dois progenitores na educação dos filhos. No entanto, o que não está correcto é a inibição ou a renúncia voluntária de um deles por comodismo, excesso de trabalho ou pouca paciência.

Como dizia S. Josemaria, o primeiro e o melhor negócio dos pais é a educação dos seus filhos. Ser pais é a primeira ocupação das suas vidas e é, ao mesmo tempo, um desafio maravilhoso. Por isso, o amor genuíno leva a antepor a família ao trabalho. Estas duas realidades são importantes na vida de uma pessoa ― mas não estão ao mesmo nível!

Pe. Rodrigo Lynce de Faria