quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Não me soltes, não me deixes

Recordaremos a Jesus que somos crianças. E as crianças, as crianças pequenitas e simples, muito sofrem para subir um degrau! Aparentemente, estão ali a perder tempo. Por fim, sobem. Agora, outro degrau. Com as mãos e os pés, e com o impulso do corpo todo, conseguem um novo triunfo: outro degrau. E voltam a começar. Que esforços! Já faltam poucos..., mas, então, uma escorregadela... e ei-lo!... por aí abaixo. Toda dorida, num mar de lágrimas, a pobre criança começa, recomeça a subida. – Assim acontece connosco, Jesus, quando estamos sozinhos. Pega-nos Tu nos teus braços amáveis, como um Amigo grande e bom da criança simples; não nos deixes enquanto não chegarmos lá acima; e então – oh então! –, saberemos corresponder ao teu Amor misericordioso com audácias infantis, dizendo-te, doce Senhor, que, fora de Maria e de José, não houve nem haverá mortal – e houve-os muito loucos – que te queira como te quero eu. (Forja, 346)

Eu vou continuando a minha oração em voz alta e vós, cada um de vós, por dentro, está confessando ao Senhor: Senhor, que pouco valho! Que cobarde tenho sido tantas vezes! Quantos erros! Nesta ocasião e naquela... nisto e naquilo... E podemos exclamar também: ainda bem, Senhor, que me tens sustentado com a tua mão, porque eu sinto-me capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes; trata-me sempre como um menino. Que eu seja forte, valente, íntegro. Mas ajuda-me, como a uma criatura inexperiente. Leva-me pela tua mão, Senhor, e faz com que tua Mãe esteja também a meu lado e me proteja. E assim, possumus!, poderemos, seremos capazes de ter-Te por modelo!

Não é presunção afirmar possumus! Jesus Cristo ensina-nos este caminho divino e pede-nos que o apreendamos porque Ele o tornou humano e acessível à nossa fraqueza. Por isso se rebaixou tanto: Este foi o motivo porque se abateu, tomando a forma de servo aquele Senhor que, como Deus, era igual ao Pai; mas abateu-se na majestade e na potência; não na bondade e na misericórdia.

A bondade de Deus quer tornar-nos fácil o caminho. Não rejeitemos o convite de Jesus; não Lhe digamos que não; não nos façamos surdos ao seu chamamento; pois não existem desculpas, não temos nenhum motivo para continuar a pensar que não podemos. Ele ensinou-nos com o seu exemplo. Portanto, peço-vos encarecidamente, meus irmãos, que não permitais que se vos tenha mostrado em vão exemplo tão precioso, mas que vos conformeis com Ele e vos renoveis no espírito da vossa alma. (Cristo que passa, 15)

São Josemaría Escrivá

O valor do tempo livre

Chegam as férias escolares e os pais encontram-se com uma situação nova: os filhos passam a ter imenso tempo livre!

Por um lado é bom, porque isso lhes dá a oportunidade de realizar actividades não possíveis durante o tempo de aulas. Por outro é um risco, porque existe o perigo real de perder o tempo e destruir em poucos dias os hábitos de trabalho adquiridos durante o ano.

Que fazer?

Existem, na minha opinião, duas atitudes que se devem evitar. A primeira é não preocupar-se e deixar que os filhos façam tudo aquilo que lhes apeteça. É uma atitude populista mas muito perigosa. Pode “dinamitar” em pouco tempo todas as virtudes conquistadas com esforço durante o ano lectivo.

A segunda é encher esse tempo com actividades programadas pelos pais. É uma atitude que pode parecer eficaz, mas que priva os filhos de aprenderem uma lição indispensável na vida: que faço com o meu tempo livre?

Educar é sempre ajudar a usar bem a liberdade. E o tempo livre é, por definição, um tempo em que experimentamos que somos protagonistas da nossa vida. Podemos fazer o que quisermos. Temos o destino nas mãos.

Penso que a atitude correcta é saber programar com eles o seu tempo livre. Fazê-los reflectir: que fazer quando não tenho nada que me obrigue? Deixar-me levar pelo mais fácil? Será que é por aí o caminho da minha verdadeira felicidade?

Ensinar a aproveitar o dom do tempo livre é também uma escola para se aprender a ser agradecido e generoso. É uma oportunidade para viver a gratuitidade: dar sem esperar nada em troca. Para crescer na amizade. Para contemplar a beleza da Criação. Para dedicar tempo aos outros.
São atitudes que não parecem fundamentais para sobreviver, mas sem as quais tudo o que fazemos perde o seu sentido.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria