sábado, 30 de novembro de 2019

Deus costuma procurar instrumentos fracos

– Estamos gostosamente, Senhor, na tua mão chagada. Aperta-nos com força!, espreme-nos!, de modo que percamos toda a miséria terrena!, que nos purifiquemos, que nos inflamemos, que nos sintamos empapados no teu Sangue! E depois, lança-nos longe!, longe, com fome de messe, para uma sementeira cada dia mais fecunda, por Amor de Ti. (Forja, 5)

Sem grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros – para não me referir já ao imenso panorama do mundo – tantas pessoas mais dignas do que nós de receber o chamamento de Cristo. Mais simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais gratas, mais generosas...

Eu, ao pensar nisto, fico envergonhado. Mas compreendo também que a nossa lógica humana não serve para explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar instrumentos fracos para que se manifeste com evidente clareza que a obra é sua. O próprio S. Paulo evoca com estremecimento a sua vocação; e por último, depois de todos, foi também visto por mim, como por um aborto. Porque eu sou o mínimo dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Assim escreve Paulo de Tarso, homem de uma personalidade e de um vigor que a história não fez mais do que engrandecer.

Fomos chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia-vos. Realmente, na base da nossa vocação está o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma – a fé – o amor com que amamos – a caridade – e o desejo que nos mantém – a esperança – são dons gratuitos de Deus. Por isso, não crescer em humildade significa perder de vista o objectivo da escolha divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.

Agora, tomando como ponto de partida essa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina. A mão de Cristo colheu-nos num trigal: o semeador aperta na sua mão chagada o punhado de trigo; o sangue de Cristo banha a semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de oiro. (Cristo que passa, 3)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho de Domingo dia 1 de dezembro de 2019

Assim como aconteceu nos dias de Noé, assim será também a segunda vinda do Filho do Homem. Nos dias que precederam o dilúvio os homens comiam e bebiam, casavam-se e casavam os seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não souberam nada até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. «Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e o outro será deixado. De duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será tomada e a outra deixada. «Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso estai vós também preparados, porque virá o Filho do Homem na hora em que menos pensais.

Mt 24, 37-44

A carta de Greccio

S. Francisco de Assis foi pela primeira vez a Greccio por volta de 1209, numa altura em que a pequena cidade sofria o ataque de lobos ferozes, que dizimavam rebanhos, destruíam vinhedos e chegavam a atacar pessoas. Com a chegada do santo, o flagelo acabou e, sobretudo, deu-se uma profunda conversão de toda a cidade. S. Francisco costumava dizer aos seus confrades que «não existe nenhuma cidade grande em que se tenha convertido tanta gente a Nosso Senhor do que nesta terra tão pequenina».

Os habitantes de Greccio entregaram-se de alma e coração a Francisco e imploravam-lhe que ficasse com eles para sempre. Giovanni Velita, o castelão do lugar, tornou-se um dos maiores amigos de Francisco e visitava-o frequentemente na cabana em que ele vivia, no alto da montanha. Foi em atenção à dificuldade do seu amigo Giovanni Velita para fazer aquelas subidas que S. Francisco concordou em mudar-se para perto da cidade.

Poucos anos depois, mais precisamente no dia 29 de Novembro de 1223, o Papa Honório III aprovou a Regra da Ordem fundada por S. Francisco. A criatividade desconcertante do santo ficou patente na audiência que o Papa lhe concedeu nessa ocasião, quando manifestou que o projecto que o entusiasmava era representar em tamanho grande a cena do Natal. A viagem à Terra Santa tinha-o impressionado tanto, em particular a visita a Belém, que queria reproduzir em Greccio o Presépio de Belém. Aliás, parecia-lhe ver uma certa parecença entre as encostas de Belém e as montanhas de Greccio.

Animado pela benevolência do Papa, Francisco chegou a Greccio disposto a realizar o plano. Convocou imediatamente o seu amigo Giovanni Velita para que arranjasse uma gruta que fizesse lembrar a de Belém, com um burro a sério e um boi. Alticama, a mulher de Giovanni, preparou com as próprias mãos a imagem do Menino. Em 15 dias de intenso trabalho, estava completado o presépio. Dizem as crónicas antigas que, depois das canseiras, «veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação!».

Francisco manda arautos pela comarca a convocar os habitantes. Numerosos frades acorrem de vários locais. Naquela noite santa de Natal de 1223, a multidão caminha em procissão piedosa rumo à gruta. Francisco fala-lhes emocionado de Deus feito Homem reclinado numa manjedoura. Comove-se com aquela pobreza divina e com a ternura de Jesus por nós, pega no menino e beija-o, dança com ele ao colo. Diz a crónica antiga – fosse propriamente milagre ou devoção do povo – que o bebé que Francisco apertava ao peito estava vivo e que, naquela noite, dormiu realmente um bebé lindíssimo nas palhinhas da manjedoura.

Esta cena, ocorrida há quase 800 anos atrás, repete-se hoje nos cinco continentes em presépios de todos os estilos e tamanhos, convidando-nos a contemplar Jesus Menino.

Há 2000 anos, os Anjos anunciaram aos pastores da região de Belém que iriam encontrar um bebé envolto em panos, reclinado numa manjedoura, e os pastores foram a correr contemplá-Lo. Para nos dar exemplo, S. Lucas sublinha que foram a correr e que, depois de O verem, regressaram cheios de alegria e glorificavam a Deus por aquilo que tinham visto e ouvido.

Se os cristãos se deixassem surpreender pela pobreza do Natal, se corressem um pouco e compreendessem a estratégia divina do presépio...

Hoje, Domingo, dia 1 de Dezembro, o Papa Francisco vai a Greccio rezar no local em que S. Francisco montou o primeiro presépio. Já tinha ido lá em 2016, numa viagem que só se soube depois. Desta vez, é uma viagem anunciada e com um ingrediente especial: o Papa vai assinar no santuário de Greccio uma Carta, dirigida a todo o povo cristão, acerca do significado do presépio.
José Maria C.S. André

O Evangelho do dia 30 de novembro de 2019

Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. «Segui-Me, disse-lhes, e Eu vos farei pescadores de homens». E eles, imediatamente, deixando as redes O seguiram. Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca juntamente com seu pai Zebedeu, consertando as suas redes. E chamou-os. Eles, deixando imediatamente a barca e o pai, seguiram-n'O.

Mt 4, 18-22