sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O Vaticano e as divindades pagãs

A ideia de construir um museu nasceu há mais de cinco séculos na cabeça de alguns Papas. A palavra «museu» não existia e, menos ainda, o conceito.

A ocasião surgiu por causa da abundância de obras de arte da época do império romano que os donos deitavam fora e corriam o risco de se perderem. Como se tratava sobretudo de uma colecção de divindades pagãs, o povo chamou à colecção «Casa das musas», ou «Museu». As musas eram as nove deusas gregas inspiradoras da arte e da ciência.

A intenção dos Papas não foi organizar um depósito fechado, onde só os eruditos fossem admitidos, o objectivo foi reunir uma colecção que pudesse ser visitada por qualquer cidadão e fomentar as visitas. Organizar todo aquele acervo deu imenso trabalho e exigiu a construção de um edifício invulgarmente grande, uma espécie de enorme palácio aberto a todos os visitantes. Calcula-se o entusiasmo dos arquitectos a quem coube inventar o tipo novo de edifício que correspondia àquele programa arquitectónico diferente de tudo o que se tinha feito até antão.

Apolo Belvedere - Estátua trazida para Roma pelo
Papa Júlio II em 1508
A proposta de reunir uma colecção tão vasta e construir pavilhões tão gigantescos não foi bem recebida por todos. Alguns criticavam o que consideravam ser a promoção do luxo, do supérfluo, em contraste com a austeridade da vida de Cristo. Vários bispos eram desta opinião e inclusivamente um Papa interrompeu as visitas e mandou cobrir com tapumes algumas estátuas que decoravam as fachadas exteriores. Outra objecção tinha a ver com o conteúdo maioritariamente pagão das obras de arte, porque o Museu do Vaticano tinha algumas peças cristãs, sobretudo pinturas, mas a maioria das obras eram representações de divindades pagãs. Estas pessoas temiam que o museu se tornasse uma espécie de templo de uma religião sincrética.

Claro que os Papas que idearam o Museu do Vaticano não queriam favorecer o luxo mas o apreço pela beleza. Foi Deus quem criou paisagens deslumbrantes, carregadas de beleza, desde o pormenor da borboleta pousada na flor até ao brilho cintilante das constelações longínquas. Foi Deus quem impregnou o universo de beleza. A cor, a luz, o fogo, a música, até a eloquência do discurso e a emoção do amor. As obras de arte realmente belas participam na sinfonia cósmica da beleza. Segundo os Papas, toda a beleza tem origem em Deus e conduz as almas a Deus.

Também é evidente que o Museu do Vaticano não se destinava a ser um novo templo pagão e, de facto, a preocupação dos que temiam que isso acontecesse não correspondia a um perigo real. Tanto quanto se sabe, nenhum visitante do museu se tornou pagão no final da visita.

Nesta semana, um grupo de individualidades de todo o mundo interpretou a presença de um fetiche amazónico no Vaticano como atitude idolátrica do Papa Francisco e dos bispos que estavam com ele. O teor violentíssimo com que condenaram o Papa mostra o profundo sofrimento que aquela cena lhes suscitou. O tom exaltado do manifesto reflecte certamente um genuíno amor a Deus mas talvez aquela agressividade seja interpretada por alguns como falta de respeito e de amor ao Romano Pontífice. De certa maneira, a história repete-se. Não nos compete julgar ninguém. Rezamos por todos.

José Maria C.S. André

A castidade não é um peso incómodo

Contra a vida limpa, a pureza santa, levanta-se uma grande dificuldade à qual todos estamos expostos: o perigo do aburguesamento, na vida espiritual ou na vida profissional. O perigo – também para os chamados por Deus ao matrimónio – de nos sentirmos solteirões, egoístas, pessoas sem amor. Luta radicalmente contra esse risco, sem nenhumas concessões. (Forja, 89)

Com o espírito de Deus, a castidade, longe de ser um peso incómodo e humilhante, torna-se uma afirmação gozosa, porque o querer, o domínio e a vitória não são dados pela carne nem vêm do instinto, mas procedem da vontade, sobretudo se está unida à do Senhor. Para ser castos e não simplesmente continentes ou honestos, temos de submeter as paixões à razão, por uma causa elevada, por um impulso de Amor.

Comparo esta virtude a umas asas que nos permitem levar os mandamentos, a doutrina de Deus por todos os ambientes da terra, sem receio de ficar enlameados. Essas asas, tal como as das aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar. Gravai isto na vossa mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável. Ânimo! Subi até ao sol, em busca do Amor!

Tenho de vos dizer que para esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, a maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se homem. E que não se sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas limitações e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura! Ele não se rebaixa com o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos o corpo e a alma. Responder afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado, isso é a virtude da castidade. (Amigos de Deus, 177–178)

São Josemaría Escrivá

O Evangelho do dia 15 de novembro de 2019

Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do Homem. Comiam e bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, que exterminou a todos. Como sucedeu também no tempo de Lot; comiam e bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou a todos. Assim será no dia em que se manifestar o Filho do Homem. Nesse dia quem estiver no terraço e tiver os seus móveis em casa, não desça a tomá-los; da mesma sorte, quem estiver no campo, não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; quem a perder, salvá-la-á. Eu vos digo: Nessa noite, de duas pessoas que estiverem num leito, uma será tomada e a outra deixada. Duas mulheres estarão a moer juntas, uma será tomada e a outra deixada!». (Omitido na Neo-Vulgata). Os discípulos disseram-Lhe: «Onde será isso, Senhor?». Ele respondeu-lhes: «Onde quer que estiver o corpo, juntar-se-ão aí também as águias».

Lc 17, 26-37