segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Ao esquecimento de si mesmo chega-se pela oração

A maior parte dos que têm problemas pessoais, "têm-nos" pelo egoísmo de pensar em si próprios. (Forja, 310)

Cada um de vós, se quiser, pode encontrar o caminho que lhe for mais propício para este colóquio com Deus. Não me agrada falar de métodos nem de fórmulas, porque nunca fui amigo de espartilhar ninguém; tenho procurado animar todas as pessoas a aproximarem-se do Senhor, respeitando cada alma tal como ela é, com as suas próprias características. Pedi-lhe vós que meta os seus desígnios na nossa vida: e não apenas na nossa cabeça, mas no íntimo do nosso coração e em toda a nossa actividade externa. Garanto-vos que deste modo evitareis grande parte dos desgostos e das penas do egoísmo e sentir-vos-eis com força para propagar o bem à vossa volta. Quantas contrariedades desaparecem, quando interiormente nos colocamos muito próximos deste nosso Deus, que nunca nos abandona! Renova-se com diversos matizes esse amor de Jesus pelos seus, pelos doentes, pelos entrevados, quando pergunta: que se passa contigo? Comigo... E, logo a seguir, luz ou, pelo menos, aceitação e paz.

Ao convidar-te para fazeres essas confidências com o Mestre, refiro-me especialmente às tuas dificuldades pessoais, porque a maioria dos obstáculos para a nossa felicidade nascem de uma soberba mais ou menos oculta. Pensamos que temos um valor excepcional, qualidades extraordinárias. Mas, quando os outros não são da mesma opinião, sentimo-nos humilhados. É uma boa ocasião para recorrer à oração e para rectificar, com a certeza de que nunca é tarde para mudar a rota. Mas é muito conveniente iniciar essa mudança de rumo quanto antes. (Amigos de Deus, 249)

São Josemaría Escrivá

“A beleza da virtude da temperança”

«Oxalá tudo aquilo que eu tocasse se transformasse em ouro» ― desejou ardentemente um rei mitológico. E o “maravilhoso” dom foi-lhe concedido pelo génio. Porém, a vida não correu como o velho monarca tinha sonhado. Tudo o que tocava se convertia em ouro ― também a comida e a bebida que, desesperadamente, tentava engolir. Assustado, tomou nos braços a sua pequena filha e ela transformou-se numa estátua dourada. Os seus empregados fugiam dele a sete pés com medo de terem a mesma “sorte”.

Era o homem mais rico do mundo... e o mais desgraçado. «Que infeliz sou! Por amor ao ouro, perdi tudo aquilo que na minha vida tinha mais valor». Ao ouvir isto, o génio apiedou-se do “pobre” Midas e mandou-o submergir-se nas águas do rio para purificar-se do malefício. E tudo voltou à normalidade. A partir de então, o rei nunca mais se deixou “cegar” pelo afã de riquezas: tinha aprendido que na vida havia coisas com mais valor.

Esta velha história sempre se interpretou como um convite a viver a virtude da temperança. Só aquele que vive com uma certa exigência pessoal ― sem se deixar escravizar pelos desejos de possuir e acumular muitas coisas ― aprende a usar correctamente aquilo de que necessita e é capaz de alcançar uma felicidade verdadeira nesta vida. Sendo isto tão óbvio, porque é que a temperança é vista por muita gente como algo negativo? Fundamentalmente, porque exige esforço. E o esforço é, para muitos, o inimigo número um da felicidade.

Não é possível vivermos de um modo temperado se não estivermos dispostos a dizer que não a algumas das nossas tendências. A beleza da virtude da temperança só se pode compreender quando percebemos que vale a pena. Ela não é uma simples negação daquilo que nos atrai. Vê-la desse modo seria um reducionismo! A temperança põe ordem na sensibilidade e na afectividade, nos gostos e nos desejos. No fundo, nas tendências mais íntimas que cada um de nós possui. E possuir ordem nessas tendências é o único caminho para sermos felizes de verdade.

Como qualquer virtude, a temperança é, antes de mais nada, uma afirmação do bem e, só como consequência, uma negação a deixar-se arrastar pelo mal. Convém recordar que o mal não estava no ouro, mas no coração desordenado do rei Midas. Necessitamos das nossas tendências, mas elas não podem ter sempre a última palavra no nosso actuar. Porquê? Porque, como reconheceu o rei mitológico, há coisas na nossa vida que possuem mais valor.

Um cristão, que vive na graça de Deus, sabe que leva um tesouro no seu coração. A consciência desse tesouro ― no qual encontra verdade, felicidade e sentido para a vida ― leva-o a viver com delicadeza a virtude da temperança.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Evangelho do dia 28 de outubro de 2019

Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus. Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote, Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.  Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia, que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados. Todo o povo procurava tocá-l'O, porque saía d'Ele uma virtude que os curava a todos.

Lc 6, 12-19