sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Rezar pelos governantes

Na homilia de 16 de Setembro, o Papa convidou-nos a rezar pelos governantes, sem excluir nenhum, como diziam as leituras da Missa. Por exemplo, S. Paulo escreveu na primeira carta a Timóteo: «pede a todo o povo de Deus que reze pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com piedade e dignidade» (I Tim 2, 1-2). Passados 2 mil anos, esta epístola ainda se aplica? Segundo o Papa, continua plenamente em vigor e por isso é preciso rezar «por todos aqueles que dirigem alguma instituição política, uma administração nacional ou local».

Aquela ordem de S. Paulo tinha uma abrangência mais universal – «mando que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens» – mas a verdade é que, entre as várias pessoas por quem manda rezar, S. Paulo destaca particularmente os políticos.

Francisco lembrou várias vezes que Paulo VI considerava o serviço dos bons políticos à sociedade como «a mais alta forma de caridade». O trabalho sacrificado dessas pessoas merece que rezemos por elas. Contudo, também sabemos de governantes menos bons... «Tenho a certeza – comentou o Papa – de que não rezamos pelos governantes. (...) Porque “eu não gosto do que eles fazem”, porque “eles são corruptos”». E exemplificou, para os italianos presentes: «Há pouco tempo tivemos uma crise governamental: qual de nós rezou pelos governantes? Qual de nós rezou pelos parlamentares? Para que pudessem chegar a um acordo e fazer avançar o país? Parece que o espírito patriótico não chega à oração!».

Quem não entende o papel da oração não entende a tarefa mais importante da vida humana. A nossa principal missão é rezar. Queremos melhorar o país, corrigir o mundo? «Quero que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras» – era a solução que Paulo dava nessa carta a Timóteo.

– «Pensemos um pouco sobre isto: eu rezo pelos governantes? “Não, não por aquele, porque é demasiado comunista!” – E rezas por este? – “Não, não gosto dele porque dizem que é corrupto!” – Rezas para que se converta?». A resposta é clara: «A oração pelos governantes é a primeira coisa que devemos fazer, inclusive pelos políticos».

– «Alguém –acrescentou Francisco– pode queixar-se: mas, padre, a “política é suja!”. No entanto, Paulo VI considerava que era a forma mais alta de caridade»! A política «pode ser suja como qualquer profissão, todas... Somos nós que as sujamos, elas não são sujas». Por isso, «devemos converter-nos e rezar por todos os políticos, por todos! Rezai pelos governantes».

O Papa acrescentou uma reflexão: «Enquanto escutava a Palavra de Deus, lembrei-me deste belíssimo episódio do Evangelho: o governante que reza por um dos seus, aquele centurião que reza por um dos seus». Significa que «também os governantes devem rezar pelo seu povo», também «os governantes são responsáveis pela vida do país». Portanto, «é bom pensar que se o povo reza pelos governantes, estes também podem rezar pelo povo, como aquele centurião rezava pelo seu servo».

– «Hoje seria bom que cada um de nós fizesse um exame de consciência sobre o que pensa da política». «Eu não pergunto se tu “discutes política”, pergunto se rezas pelos governantes, pelos políticos, para que possam realizar a sua vocação com dignidade».

Três dias depois desta homilia, o Parlamento Europeu aprovou por 82% de votos (com 8% de abstenções) uma resolução a lamentar claramente os crimes cometidos pelos regimes comunista e nazi, responsáveis por «genocídios e deportações e perda de vidas humanas e de liberdade numa escala até agora nunca vista na história da humanidade».

Perante as tragédias terríveis do comunismo e do nazismo, qual é a opinião de Deus? Em Fátima, Nossa Senhora pediu insistentemente que rezássemos e oferecêssemos sacrifícios.

Pelos vistos, é preciso rezar pelos governantes, não só pelos bons.

José Maria C.S. André

Em que devemos esperar?

Ante um panorama de homens sem fé e sem esperança; ante cérebros que se agitam, à beira da angústia, buscando uma razão de ser para a vida, tu encontraste uma meta: Ele! E esta descoberta injectará permanentemente na tua existência uma alegria nova, transformar-te-á e apresentar-te-á uma imensidão diária de coisas formosas que te eram desconhecidas, e que mostram a jubilosa amplidão desse caminho amplo que te conduz a Deus. (Sulco, 83)

Dado que o mundo oferece muitos bens, apetecíveis para este nosso coração, que reclama felicidade e busca ansiosamente o amor, talvez alguns perguntem: nós, os cristãos, em que devemos esperar? Além disso, queremos semear a paz e a alegria às mãos cheias, não ficamos satisfeitos com a consecução da prosperidade pessoal e procuramos que estejam contentes todos os que nos rodeiam.

Por desgraça, alguns, com uma visão digna mas rasteira, com ideais exclusivamente caducos e fugazes, esquecem que os anelos do cristão se hão-de orientar para cumes mais elevados: infinitos. O que nos interessa é o próprio Amor de Deus, é gozá-lo plenamente, com um júbilo sem fim. Temos comprovado, de muitas maneiras, que as coisas da terra hão-de passar para todos, quando este mundo acabar; e já antes, para cada um, com a morte, porque nem as riquezas nem as honras acompanham ninguém ao sepulcro. Por isso, com as asas da esperança, que anima os nossos corações a levantarem-se para Deus, aprendemos a rezar: in te Domine speravi, non confundar in æternum, espero em Ti, Senhor, para que me dirijas com as tuas mãos agora e em todos os momentos pelos séculos dos séculos. (Amigos de Deus, 209)

São Josemaría Escrivá

Não acertar no alvo

Deus criou o homem para que ele seja feliz. Feliz aqui na Terra e feliz depois na Vida eterna.

No entanto, como alguém disse, «parece que a maioria dos homens que passam por este mundo nasce, cresce, casa-se, tem filhos, envelhece e morre sem nunca encontrar a verdadeira felicidade».

Porque é que isto é assim?

A fé diz-nos claramente que o único inimigo verdadeiro da felicidade é o pecado. Além disso, diz-nos também que herdamos dos nossos primeiros pais uma natureza humana que está inclinada para o mal devido ao pecado das origens.

Não somos maus – mas estamos misteriosamente inclinados para o mal. E a reposta mais humana para esta realidade palpável é a doutrina católica sobre o pecado original.

O problema é que, hoje em dia, perdeu-se a noção do que significa a palavra “pecado”.

Alguns pensam que é um simples “tabu” inventado com o fim de que nos portemos bem. Outros pensam, erradamente, que Deus não deseja a nossa felicidade nesta Terra. Somente depois na Vida eterna. Por isso, resolveu decretar que é pecado tudo aquilo que gostamos de fazer. Só para nos aborrecer!

Em grego, língua original do Novo Testamento, pecado diz-se “hamartia” que significa, entre outras coisas, “falhar na meta” ou “não acertar no alvo”. Não compreenderemos bem a realidade do pecado enquanto não soubermos detectar o desejo de felicidade insatisfeito que o gera.

A nossa verdadeira felicidade encontra-se somente em Deus. Se não enchemos o nosso coração de amor a Ele e ao próximo por Ele, o coração vai procurar encher-se de coisas que não são capazes de o saciar.

Isso é a essência do pecado: procurar a felicidade onde ela não está.

Podemos encontrar no pecado uma “felicidade passageira”, efémera. No entanto, logo a seguir, vem a amargura de não termos acertado no alvo para o qual fomos criados.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

«Resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente [...], expô-los a ti por escrito» (Lc 1,3)

Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática «Dei Verbum» Sobre A Revelação Divina, § 18-19

Ninguém ignora que, entre todas as Escrituras, mesmo as do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador.

A Igreja defendeu e defende sempre e em toda a parte a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Com efeito, aquelas coisas que os Apóstolos, por ordem de Cristo, pregaram foram depois, por inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por varões apostólicos como fundamento da fé, ou seja, o Evangelho quadriforme, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.

A Santa Madre Igreja defendeu e defende, firme e constantemente, que estes quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, durante a Sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu (cf At 1,1-2). Na verdade, após a ascensão do Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que eles, instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade (Jo 14,26) gozavam, as coisas que Ele tinha dito e feito.

Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro Evangelhos escolhendo algumas coisas, entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das igrejas, conservando finalmente o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas autênticas e verdadeiras acerca de Jesus. Com efeito, quer relatassem aquilo de que se lembravam e recordavam, quer se baseassem no testemunho daqueles «que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra», fizeram-no sempre com intenção de que conheçamos a «verdade» das coisas a respeito das quais fomos instruídos (cf Lc 1,2-4).

Evangelho do dia 18 de outubro de 2019

Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por todas as cidades e lugares onde havia de ir. Disse-lhes: «Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a Sua messe. Ide; eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e não saudeis ninguém pelo caminho. Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.

Lc 10, 1-9