sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Orar é o caminho para atalhar todos os males

Orar é o caminho para atalhar todos os males que padecemos. (Forja, 76)

A oração – recorda-o – não consiste em fazer discursos bonitos, frases grandiloquentes ou que consolem...

Oração é, às vezes, um olhar a uma imagem de Nosso Senhor ou de sua Mãe; outras, um pedido com palavras; outras, o oferecimento das boas obras, dos resultados da fidelidade...

Como o soldado que está de guarda, assim temos de estar nós à porta de Deus Nosso Senhor: e isso é oração. Ou como se deita o cãozinho aos pés do seu dono.

Não te importes de lho dizer: Senhor, aqui me tens como um cão fiel; ou melhor, como um burrinho que não dá coices a quem lhe quer bem. (Forja, 73)

A tua oração não pode ficar em meras palavras: há-de ter realidades e consequências práticas. (Forja, 75)

A heroicidade, a santidade, a audácia requerem uma constante preparação espiritual. Darás sempre, aos outros, só aquilo que tiveres; e, para dares Deus, hás-de ter intimidade com Ele, viver a sua Vida, servi-Lo. (Forja, 78)

São Josemaría Escrivá

Eutanásia. etc.

O principal argumento em defesa do aborto livre, da mudança de sexo e da eutanásia é o direito de fazer o que quero daquilo que é meu: o meu corpo. «O corpo é meu; eu sou eu livre; logo, tenho o direito de fazer dele o que quiser».

Ninguém pode negar que o meu corpo é meu, que minha vida é minha, que o feto é da mulher que o concebeu. Tal como ninguém negará que a minha casa é minha, o meu campo é meu, e que sou livre de mobilar a casa e cultivar no campo como me apetecer. Terei por isso o direito a modificar a casa à minha vontade ou destruí-la, cultivar o campo ou queimá-lo, conforme me apetecer? O Estado não tem direito a impedir-me de destruir em certos casos o que é «meu»? E quando digo «o meu pai», «a minha mãe», «o meu filho», estou dizendo que posso fazer deles o que quiser? Não são «meus»?

Que significa «ser meu»? O domínio absoluto de algum bem? De alguma pessoa? O que é meu não pode ser de outros também? Eu não pertenço também aos outros? Não sou da minha família, da minha terra, do meu país? Será cada um de nós um ser isolado, independente de todas as outras pessoas? Não sou responsável perante ninguém? Quando digo «isto é meu», quer dizer que fui eu que o criei do nada? Sem ajuda de ninguém?

A chamada «propriedade privada» só se justifica precisamente porque «tudo é de todos»: só porque «tudo é de todos» é que eu tenho direito a «possuir» - usar, administrar - uma parte: a minha parte. Mas nem essa parte é absolutamente minha; foi-me concedida para que eu possa desenvolver-me livremente, o que inclui usá-la para o que serve e respeitá-lo como bem comum.

Um exemplo corriqueiro: em cada família cada um tem a sua cama, os seus fatos, o seu espaço à mesa. Terá direito a partir a cama, a rasgar os fatos, a sentar-se no chão? Pelo facto de ser livre, tem direito a fazer de si o que quiser? Não é responsável perante os pais, a mulher, os filhos? Não deve nada a ninguém? Não o deve à sociedade em que subsiste? À família que o criou? Aos amigos que o ajudaram?

Sou só meu? Não sou ao mesmo tempo dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus amigos, dos meus concidadãos, da Humanidade? E de Deus, meu Criador, meu Redentor e meu Pai?

Que resta, então, da minha liberdade? podia perguntar-se. Tudo! Não só podemos escolher o que quisermos (o que não significa obtê-lo sempre), mas nem sequer podemos deixar de ser livres. Todos somos «pro-choice» por natureza. É mesmo o que nos distingue dos animais, dos vegetais e dos minerais.

Em tudo somos «pro-choice». Não há no homem «instintos fatais»; só tendências, apetites, que podemos controlar – melhor ou pior - ou deixar que nos controlem, mais ou menos. Quando dizemos «eu cá faço o que me apetece» habitualmente significa que não faço o que quero, mas o que o apetite me pede. Serei mais livre por me deixar levar pelos apetites, ou mais escravo? O drogado, quantas vezes gostaria de ser senhor de si, mas já não o consegue! Só pode fazer «o que lhe apetece».

Os heterossexuais também são «pro-choice»; não por imposição fatal da natureza, mas porque o acham bem e o querem. Nesse sentido, é verdade que se trata de uma opção «cultural», ou seja, intelectual, racional. Por sinal, correcta. Qualquer decisão voluntária, livre, é um acto «cultural». Contudo, basta-nos um descuido para fazermos «o que nos apetece» e cair nos piores vícios. Sempre «pro-choice», evidentemente. Com uma liberdade cada vez mais fraca, também é certo. A caminho de a perdermos totalmente.

- Mas não será justo eliminar-me quando sou um peso para os outros? - Não. Cada um de nós é um peso para os outros desde a concepção: começamos logo por pesar na barriga da mãe, e depois no orçamento da casa e nas despesas do Estado. Sem esse «peso» não haveria Humanidade.

- Então sou obrigado a aguentar as dores de uma doença fatal ou insuportável? Além do direito aos cuidados paliativos, isso depende da capacidade de suportá-las, capacidade que depende, por sua vez, dos motivos que tenhamos para isso. Habitualmente, o simples amor à vida basta para aguentar quaisquer dores, mas são frequentíssimos os casos de resistência heroica ao sofrimento por amor aos filhos, à fé, à pátria, etc.

A desistência de viver não provém do sofrimento, mas da falta de sentido da vida. Se a vida não tem mais sentido do que gozar, qualquer incómodo seria suficiente para desistir dela, pois a vida é inseparável do sofrimento; da insatisfação, pelo menos. Nada nem ninguém nos satisfaz plenamente nesta vida.

O desejo de não dar mais despesas ou cuidados à família – que é lícito e até louvável – só serve para não prolongar desnecessariamente os tratamentos; não para fugir das incapacidades permanentes, visto que, como já dissemos, todos nós somos um «peso» para os outros desde a concepção. Incapazes de viver sem apoio alheio. E que espécie de família aceitaria esse «favor» de um ser querido? E quem poderia dar ao doente essa «licença», senão quem fosse seu dono? Que é só Deus.

- Mas assim sou um inútil! - Não és inútil para quem te ama; não és inútil para os médicos e enfermeiros que tratam de ti; não és inútil para os companheiros de sofrimento, que lutam contigo pela vida. És o primeiro trabalhador da Saúde: enquanto os profissionais trabalham muitas horas pela tua saúde, tu trabalhas 24 horas por dia (se fores bom doente e não impedires os tratamentos devidos).

Aliás, ninguém é inútil, porque traz ao mundo uma experiência e uma visão do mundo únicas, diferentes, irrepetíveis. Pode ser prejudicial por malvadez, mas inútil, nunca. Muito menos para o seu Criador: «Pode a mulher esquecer o filho do seu seio? Pois, ainda que ela o esquecesse, eu nunca me esquecerei de ti» (Is 49, 15).

Mons. Hugo de Azevedo na sua página no Facebook em 2017

Conciliar trabalho e família, em versão masculina

Segundo um estudo, nem aos homens é facilitada tanta flexibilidade como às mulheres nem eles a pedem

Conciliar profissão e vida de família pode ser tão difícil para os homens como para as mulheres. A principal diferença é que para elas as dificuldades consistem mais em suportar a carga da dupla ocupação, enquanto os maridos, perante os obstáculos e o trabalho, optam claramente por este. De certo modo, dizem os autores de um estudo publicado pelo Boston College, os homens com filhos enfrentam uma luta semelhante à que travaram as mulheres, mas ao contrário. O papel das mães no lar era dado como certo, e tiveram que lutar por um trabalho fora de casa. Agora os pais precisam que se lhes reconheça na prática que as suas obrigações familiares exigem muito mais do que levar dinheiro para casa.

O estudo, The New Dad: Exploring Fatherhood Within a Career Context, é de Brad Harrington, director do Center for Work and Family do Boston College, e dois colegas. Foi elaborado a partir de entrevistas a pais inexperientes: casados, com esposa que também trabalha fora de casa, um filho de três a 18 meses, título universitário e pelo menos cinco anos de percurso profissional. Tratava-se de averiguar como a paternidade lhes altera a vida.

Todos se mostraram contentes com a sua nova experiência e conscientes de que um filho requer muita atenção da sua parte. Estão dispostos a dedicar-se à família, pelo menos tanto como as suas esposas. Contudo, quase 60% dizem ter dificuldades sérias para conciliar lar e trabalho, segundo outra sondagem anterior do Families and Work Institute (2008). E o mais notável é que essa percentagem é maior do que a das mulheres, 42%. Em 1997 era ao contrário: 35% dos homens e 40% das mulheres.

A solução radical seria tornar-se dono de casa. Mas muito poucos pais questionados pensaram a sério nessa possibilidade, e descartaram-na, porque a família não poderia manter-se apenas com o ordenado da mãe. Isto contribui para que na grande maioria (70%) dos lares com pai, mãe e filhos nos Estados Unidos, os dois trabalhem fora, e quando não é assim, em quase todos os casos (97%), é ela que fica em casa. De qualquer modo, o motivo económico vai-se atenuando, pois já em quase um de cada quatro casais com dois ordenados, a mulher ganha mais do que o marido.

Menos flexibilidade laboral para os homens
Em todo o caso, para os que foram questionados ter um filho afectou claramente as suas atitudes. Ao sentir mais forte a chamada do lar, já não estão tão dispostos a exceder-se pela empresa. Ainda que digam que não houve uma mudança drástica nas suas aspirações profissionais, manifestam ter agora outra ideia do êxito, mais global e equilibrada. Também o ambiente profissional respondeu favoravelmente. A notícia do nascimento foi bem recebida por chefes e colegas; muitos dizem, inclusive, que têm superiores muito compreensivos com as maiores exigências domésticas que supõe a recente paternidade.

Mas as boas intenções de todos não têm muita repercussão prática. Os empregados com filhos pequenos, observam os autores da sondagem, sofrem uma subtil discriminação, porque de facto se supõe que as suas responsabilidades paternas não os afectarão muito nem tomarão muito do seu tempo, ao contrário do que se aceita no caso das mães. E mesmo os que dizem ter mais facilidades por parte dos chefes, confessam que muitas vezes não se atrevem a aproveitá-las, e quando utilizam algum tempo para atender uma emergência familiar, costumam fazê-lo de modo "extra-oficial", sem um pedido formal.

Em suma, há muito menos flexibilidade laboral por razões familiares para os pais do que para as mães, e a diferença deve-se em parte à mentalidade dominante. Assim, as mulheres consideram com naturalidade pedir licenças ou suspender a carreira profissional por algum tempo para cuidar dos filhos pequenos; os homens, pelo contrário, não. Quando regressam ao trabalho depois da maternidade, as mulheres costumam pedir um horário reduzido ou flexível, coisa que poucos homens fazem quando têm um filho.

Repartição desigual das tarefas domésticas
Não é estranho, pois, que não se tenha alcançado a igualdade entre os sexos quanto à ocupação nas tarefas do lar, apesar das ideias igualitárias dos novos pais. Na sondagem do Families and Work Institute, 49% dos homens disseram que se ocupavam a cuidar dos filhos pelo menos tanto quanto as suas mulheres; mas delas, só 31% deram tão boas informações dos seus maridos. Se se fizerem as contas, conclui-se que, nos casais em que ambos trabalham fora, a mulher ocupa em média 28 horas semanais nas tarefas domésticas e o marido 12 horas menos, em boa parte porque os homens têm, em média, uma semana laboral mais longa (dados da U.S. National Survey of Families and Households).

Tal desigualdade não é exclusiva dos Estados Unidos. O mesmo demonstra o estudo Growing Up in Australia, que desde 2004 segue o percurso de 10 000 crianças - e suas famílias - naquele país. Além disso, examina separadamente cada progenitor, e mostra que o pai dedica aos filhos metade do tempo dedicado pela mãe.

Por exemplo, as crianças de 4-5 anos passam 12,1 horas diárias com a mãe e 6,1 horas com o pai (incluindo o tempo nocturno). O que não significa que a mãe esteja sozinha com o filho durante 6 horas por dia, mas mais, pois o pai sozinho ocupa-se do filho apenas 30 minutos nos dias de trabalho e quase 90 minutos aos fins-de-semana.

Também no caso australiano, o dia de trabalho se mostra decisivo. Com efeito, a disparidade diminui muito se a mulher tem um emprego de 35 horas ou mais por semana; nesse caso, ela passa com o filho 9,2 horas por dia e o marido 7,7 horas. Contrariamente, a maior diferença acontece quando a mulher não tem emprego (7,2 horas mais ela do que ele) ou o marido trabalha 55 horas ou mais por semana (6,9 horas). Mais uma vez se constata que conciliar emprego e família é um problema a dois.

Aceprensa

O valor do trabalho

Se considerássemos o trabalho um objectivo em si mesmo, e não um meio para alcançar o fim último da existência humana – a comunhão com Deus e, em Deus, com os outros homens –, a sua natureza ficaria desvirtuada e perderia o seu mais alto valor. Converter-se-ia numa actividade fechada à transcendência na qual a criatura não tardaria a situar-se no lugar de Deus. Um trabalho feito assim não poderia ser um meio para colaborar com Cristo na obra redentora, que Ele começou nos seus anos de artesão em Nazaré e consumou na Cruz, entregando a Sua vida pela salvação dos homens.

São ideias que Bento XVI expôs recentemente (2009) na encíclica Caritas in Veritate, apresentando a Doutrina social da Igreja no actual contexto de globalização da sociedade. Ao afirmar, nas circunstâncias actuais, que o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade [*], o Papa sublinha, como já o fez o Concilio Vaticano II, que o homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida económico-social [**]. Assim, colocando no núcleo do debate actual a pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, e elevada à dignidade da filiação divina, o Santo Padre pronuncia-se decididamente contra o determinismo que está subjacente a muitas concepções da vida política, económica e social.

[*] Bento XVI, Carta Enc. Caritas in Veritate, 29-VI-2009, n. 25
[**] Bento XVI, Carta Enc. Caritas in Veritate, 29-VI-2009, n. 25. Cfr. Const. Past. Gaudium et spes, n. 63

(Excerto carta de Outubro 2009 de D. Javier Echevarría)

Evangelho do dia 11 de outubro de 2019

Mas alguns disseram: «Ele expulsa os demónios pelo poder de Belzebu, príncipe dos demónios». Outros, para O tentarem, pediam-Lhe um prodígio vindo do céu. Ele, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: «Todo o reino dividido contra si mesmo será devastado, e cairá casa sobre casa. Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como estará em pé o seu reino? Porque vós dizeis que por virtude de Belzebu é que lanço fora os demónios. Ora, se é pelo poder de Belzebu que Eu expulso os demónios, os vossos filhos pelo poder de quem os expulsam? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu, pelo dedo de Deus, lanço fora os demónios, certamente chegou a vós o reino de Deus. Quando um, forte e armado, guarda o seu palácio, estão em segurança os bens que possui; porém, se, sobrevindo outro mais forte do que ele, o vencer, tira-lhe as armas em que confiava, e reparte os seus despojos. Quem não é comigo é contra Mim; e quem não colhe comigo desperdiça. «Quando o espírito imundo saiu de um homem, anda por lugares áridos, buscando repouso. Não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. Quando vem, encontra-a varrida e adornada. Então vai, toma consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, ali se instalam. E o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro».

Lc 11, 15-26