No dia 7 de Novembro (2017), reuniu-se em Roma o conjunto de cardeais que tinha de decidir em última instância se se propunha ao Papa a beatificação de João Paulo I.
Antes da magna assembleia, trabalharam durante anos muitos consultores, historiadores e peritos de várias especialidades. Habitualmente, os documentos destes processos totalizam milhares de páginas impressas mas, quando se trata de uma personalidade de grande relevo, como um Papa, o volume de documentação multiplica-se. Quando essa fase preparatória está pronta, o processo tem de ser aprovado no conselho alargado dos consultores teólogos. Finalmente, passa à reunião dos Cardeais, muitos dos quais têm de se deslocar expressamente a Roma para participar na decisão. Se o parecer dos Cardeais é positivo, a proposta é apresentada ao Papa. Assim, reunidos no passado dia 7, os Cardeais decidiram, por unanimidade, que as provas tinham demonstrado cabalmente a santidade de João Paulo I.
Percebe-se que Francisco aguardava o desfecho, porque aprovou o processo no próprio dia, mal o recebeu. Segundo o procedimento habitual, a aprovação pontifícia consiste em autorizar o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos a publicar o decreto que reconhece as virtudes heróicas. Tudo isto se fez imediatamente.
Agora, terá de ser examinado cuidadosamente um milagre ocorrido por intercessão de João Paulo I e a conclusão dos peritos terá de ser validada novamente por sucessivas instâncias, até chegar às mãos do Papa. No caso de João Paulo I, prevê-se que a demora não seja grande, porque existem milagres significativos atribuídos à sua intercessão. As provas terão de ser examinadas com grande rigor, mas a parte substancial – que é são os milagres em si – já aconteceu.
A etapa preparatória de um processo de beatificação é a que dá mais trabalho, porque é preciso coligir documentos e numerosos testemunhos para reconstruir com pormenor a biografia do candidato. A forma como a pessoa viveu cada uma das virtudes é especialmente investigada e, para isso, é preciso ouvir e comparar uma grande quantidade de testemunhas. Porque a biografia que interessa para um processo de beatificação não é apenas a história pública, externa, mas sobretudo os episódios pessoais, que revelam a pessoa no seu íntimo.
João Paulo I com o então Cardeal Ratzinger mais tarde Bento XVI |
Entre muitas fontes documentais e testemunhais, o processo de João Paulo I contou com um contributo insólito, o de Bento XVI. Pela sua posição de instância suprema, os Papas nunca participam nas fases instrutórias de um processo. No entanto, Bento XVI colaborou com esta investigação porque já não exercia a função de Papa. Não participou nas decisões dos Cardeais, apenas prestou o seu testemunho pessoal na fase inicial, como muitos outros, quando se estava a elaborar a biografia.
Paulo VI com o então Cardeal Albino Luciani que viria a ser seu sucessor na Cátedra de Pedro |
As próximas etapas devem ser breves, porque Francisco é «parte envolvida». Embora não tenha querido ultrapassar nenhuma formalidade do processo, a verdade é que o primeiro milagre atribuído a João Paulo I ocorreu há anos ...na cidade de Buenos Aires. Embora, depois disso, já tenham chegado ao Vaticano outros milagres atribuídos a João Paulo I, aquele primeiro deve ter deixado uma recordação especial no anterior Cardeal de Buenos Aires, actual Papa Francisco.
Outro processo em curso na Congregação para as Causas dos Santos é o milagre relativo à canonização de Paulo VI. Faltam poucas etapas para se chegar a uma conclusão.
José Maria C.S. André
19-XI-2017
Spe Deus