sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Evangelho do dia 31 de agosto de 2018

«Então, o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. Cinco delas eram néscias, e cinco prudentes. As cinco néscias, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo; as prudentes, porém, levaram azeite nas vasilhas juntamente com as lâmpadas. Tardando o esposo, começaram todas a cabecear e adormeceram. À meia-noite, ouviu-se um grito: “Eis que vem o esposo! Saí ao seu encontro”. Então levantaram-se todas aquelas virgens, e prepararam as suas lâmpadas. As néscias disseram às prudentes: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas apagam-se”. As prudentes responderam: “Para que não suceda que nos falte a nós e a vós, ide antes aos vendedores, e comprai para vós”. Mas, enquanto elas foram comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele a celebrar as bodas, e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras virgens, dizendo: “Senhor, Senhor, abre-nos”. Ele, porém, respondeu: “Em verdade vos digo que não vos conheço”. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

Mt 25, 1-13

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Evangelho do dia 30 de agosto de 2018

«Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso estai vós também preparados, porque virá o Filho do Homem na hora em que menos pensais. «Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor colocou à frente da sua família para lhe distribuir de comer a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo, a quem o seu senhor, quando vier, achar a proceder assim. Na verdade vos digo que lhe confiará o governo de todos os seus bens. Mas, se aquele servo mau disser no seu coração: “O meu senhor tarda em vir”, e começar a bater nos seus companheiros, a comer e beber com os ébrios, virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera, e na hora que não sabe, e mandará açoitá-lo e dar-lhe-á a sorte dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Mt 24, 42-51

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Viagem Apostólica à Irlanda (audiência)

Locutor: A minha viagem Apostólica à Irlanda teve por fim confirmar as famílias cristãs que participavam no Encontro Mundial das Famíliasna sua vocação de dar testemunho da alegria e da fecundidade do amor de Deus, sem esmorecer na missão de colaborar com a transmissão do dom divino da vida, de educar os jovens na fé e nos valores autênticos e de construir uma cultura mais solidária. Neste sentido, lembrei às Autoridades Civis que a Igreja, por ser uma família de famílias, deve ajudar as famílias a realizarem o seu papel insubstituível na sociedade. Já o encontro com casais na Pro-catedral de Santa Maria foi um testemunho de como o amor é um dom de Deus que deve ser cultivado diariamente na família que é uma igreja doméstica. Depois, com os padres Capuchinhos, encontrei algumas famílias que enfrentam dificuldades. O ponto alto do Encontro foi a festa da família e a Missa solene no Phoenix Park, com um belo testemunho sobre a importância da comunicação entre as gerações para transmitir a fé. Por fim, no Santuário Mariano de Knock, confiando à proteção de Nossa Senhora as famílias do mundo, pedi perdão pelos abusos contra menores perpetuados por membros da Igreja e animei os Bispos irlandeses a avançar nos esforços para remediar os erros do passado e, com coragem evangélica e confiança no Senhor, inaugurar uma nova etapa de renovação para a Igreja na Irlanda.


Santo Padre:
Rivolgo un cordiale saluto ai pellegrini di lingua portoghese, in particolare ai fedeli di Viseu, Aveiro e ai brasiliani di Rio de Janeiro. Cari amici, grazie per la vostra presenza e soprattutto per le vostre preghiere! Chiediamo allo Spirito Santo, artefice dell’unità nella Chiesa e nelle famiglie, che ci aiuti a cercare sempre il dialogo, il perdono e la riconciliazione nelle famiglie, affinché possiamo costruire un mondo di pace e di solidarietà. Dio benedica voi e quanti vi sono cari!


Locutor: Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, particularmente aos fiéis de Viseu, Aveiro e aos brasileiros do Rio de Janeiro. Queridos amigos, obrigado pela vossa presença e sobretudo pelas vossas orações! Peçamos ao Espírito Santo, artífice da unidade da Igreja e na família, que nos ajude a buscar sempre o diálogo, o perdão e a reconciliação nas famílias, para que possamos construir um mundo de paz e solidariedade. Que Deus vos abençoe a vós e aos vossos entes queridos!

Evangelho do dia 29 de agosto de 2018

Porque Herodes tinha mandado prender João, e teve-o a ferros numa prisão por causa de Herodíades, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual tinha casado. Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter a mulher de teu irmão». Herodíades odiava-o e queria fazê-lo morrer; porém, não podia, porque Herodes, sabendo que João era varão justo e santo, olhava-o com respeito, protegia-o e quando o ouvia ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Chegou, porém, um dia oportuno, quando Herodes, no seu aniversário natalício, deu um banquete aos grandes da corte, aos tribunos e aos principais da Galileia. Tendo entrado na sala a filha da mesma Herodíades, dançou e agradou a Herodes e aos seus convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei». E jurou-lhe: «Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino». Ela, tendo saído, perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?». Ela respondeu-lhe: «A cabeça de João Batista». Tornando logo a entrar apressadamente junto do rei, fez este pedido: «Quero que me dês imediatamente num prato a cabeça de João Batista». O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis desgostá-la. Imediatamente mandou um guarda com ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi degolá-lo no cárcere, levou a sua cabeça num prato, deu-a à jovem, e esta deu-a à mãe. Tendo sabido isto os seus discípulos, foram, tomaram o corpo e o depuseram num sepulcro.

Mc 6, 17-29

terça-feira, 28 de agosto de 2018

DIÁLOGOS COM O DIABO

Diz ele: Já fizeste as tuas orações? Já rezaste o teu rosário?

Digo eu: Estás muito preocupado com as minhas orações!

Diz ele: É só para tu veres como essas obrigações são aborrecidas, e ver se percebes que não precisas delas assim todos os dias.

Digo eu: Dou-te razão pelo menos em parte, ou seja, as obrigações são aborrecidas.

Diz ele: Vês, eu não te dizia?

Digo eu: O problema é que estás enganado. É que as orações, o rosário, não são obrigações, não são imposições, são amor em diálogo com Deus.

Diz ele: Sê verdadeiro e não me digas que rezas sempre cheio de amor e que algumas vezes não tens que te obrigar a rezar?

Digo eu: Um mentiroso a dizer a outrem para ser verdadeiro, tem graça. Mas sim, é verdade que algumas vezes tenho que me obrigar a rezar. Mas faço-o com alegria porque a oração é sempre alimento divino e sem ele não posso viver.

Diz ele: Olha que Ele, se calhar, não gosta dessas orações “obrigadas”!

Digo eu: Aí é que te enganas! Dá-lhes o valor imenso de quem não se deixou levar por ti e não desistiu da oração.

Diz ele: És um chato! Não se pode falar contigo que interpretas tudo à tua maneira.

Digo eu: E querias que interpretasse como? À tua maneira? Em tudo tento interpretar não à minha maneira mas sim à maneira d’Ele e é isso que te incomoda.

Diz ele: A mim não me incomoda nada! Tu é que tens sempre essas obrigações, porque eu não tenho nenhuma.

Digo eu: Já te disse e repito que não são obrigações. E já agora só para te incomodar, (não és só tu que incomodas), agradeço-te estas conversas porque me fazem estar mais atento à vontade d’Ele.

Diz ele: Chega! Vou-me embora!

Digo eu: Vai, mas infelizmente sei que hás-de voltar! Mas as minhas orações vão-me preparando para não te dar ouvidos e viver apenas para Ele.

Monte Real, 28 de Agosto de 2018

Joaquim Mexia Alves

Evangelho do dia 28 de agosto de 2018

«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã e do endro e do cominho, e descuidais as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! São estas coisas que era preciso praticar, sem omitir as outras. Condutores cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais o que está por fora do copo e do prato, e por dentro estais cheios de rapina e de imundície! Fariseu cego, purifica primeiro o que está dentro do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.

Mt 23, 23-26

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A viagem para toda a vida – apontamentos sobre a visita de Francisco à Irlanda

Em muitos momentos desta viagem pastoral à Irlanda, para participar no Encontro Mundial das Famílias, em vez de ler um discurso, Francisco respondeu a perguntas de famílias. Deste modo, a mensagem focou-se em temas concretos.

Falou-se muito de amor, com o realismo e a frescura da vida. Houve poesia, como houve humor e ideais sublimes, mas sem conotações românticas. Por vezes, o Papa contou pequenas experiências da sua família na Argentina. É difícil resumir estes dois dias tão intensos.

Na pró-catedral de Dublin, a pergunta dos noivos Denis e Sinead foi a ocasião para o Papa lhes dizer que «iam embarcar numa viagem de amor com um compromisso para toda a vida, segundo o projecto de Deus. (...) O casamento não é simplesmente uma instituição, é uma vocação, uma vida que singra, uma decisão consciente e para toda a vida de cuidar, de ajudar e se protegerem um ao outro».

«Vivemos numa cultura do provisório (...). Se tenho fome ou sete, alimento-me, mas não fico saciado sequer um dia completo. Se tenho um trabalho, sei que o posso perder (...). É difícil acompanhar o mundo, quando tudo muda à nossa volta. (...) Não haverá algo precioso que possa durar?».

«(...) Há a tentação de que aquele “para toda a vida” que direis um ao outro se transforme e, com o tempo, morra. Se não se faz o amor crescer com o amor, dura pouco. Aquele “para toda a vida” é o compromisso de fazer crescer o amor, porque não há provisório no amor. Se não se chama entusiasmo, chama-se, sei lá, encantamento, mas o amor, o amor é definitivo, é um “eu e tu”».

«(...) É fácil ficarmos prisioneiros da cultura do efémero, que corrói as próprias raízes dos nossos caminhos de amadurecimento, do nosso crescimento na esperança e no amor».

«(...) Entre todas as formas da fecundidade humana, o casamento é único. É um amor que dá origem a uma vida nova. Implica a responsabilidade de transmitir o dom divino da vida e oferece um ambiente estável no qual a nova vida pode crescer e florir. O matrimónio na Igreja, isto é, o sacramento do matrimónio, participa de modo especial no mistério do amor eterno de Deus. Quando um homem e uma mulher cristãos se unem no vínculo do matrimónio, a graça de Deus habilita-os a prometerem-se livremente um ao outro um amor exclusivo e duradouro. Assim, a sua união torna-se um sinal sacramental – isto é importante: o sacramento do matrimónio –, torna-se sinal sacramental da nova e eterna aliança entre Nosso Senhor e a sua esposa, a Igreja. Jesus está sempre no meio deles. Sustenta-os no curso da vida, no recíproco dom de si, na fidelidade e na unidade indissolúvel. O amor de Jesus é uma rocha para o casal, é um refúgio nos tempos de prova, mas sobretudo é fonte de crescimento constante num amor puro e para sempre. Fazei apostas fortes, para toda a vida. Arriscai! Porque o casamento também é um risco, mas um risco que vale a pena. Para toda a vida, porque o amor é assim».

«Sabemos que o amor é o sonho de Deus para nós e para toda a família humana. Por favor, não o esqueçais nunca! Deus tem um sonho para nós e pede-nos que o façamos próprio. Não tenhais medo desse sonho! Sonhai em grande! Guardai-o como um tesouro e sonhai-o juntos todos os dias, novamente».

«(...) Que coisa diz Deus ao seu povo, na Bíblia? Escutai-o bem: “não te deixarei e não te abandonarei”. E vós, como marido e mulher, ungi-vos um ao outro com estas palavras de promessa, cada dia, para o resto da vida. E nunca deixeis de sonhar! Repeti sempre no coração: “não te deixarei, não te abandonarei”».

Os irlandeses acolheram o Papa com imenso entusiasmo e ficaram com horas inesgotáveis de conversa para meditar – a vida inteira.

José Maria C.S. André

Evangelho do dia 27 de agosto de 2018

«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais aos homens o Reino dos Céus, pois nem vós entrais, nem deixais que entrem os que quereriam entrar. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que devorais as casas das viúvas a pretexto de longas orações! Por isto sereis julgados mais severamente. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que correis o mar e a terra para fazerdes um prosélito e, depois de o terdes feito, o tornais filho do inferno duas vezes pior do que vós. «Ai de vós, guias cegos, que dizeis: “Se alguém jurar pelo templo, isso não é nada, mas o que jurar pelo ouro do templo, fica obrigado!”. Insensatos e cegos! Pois que é mais, o ouro ou o templo, que santifica o ouro? E dizeis também: “Se alguém jurar pelo altar, isso não é nada, mas quem jurar pela oferenda que está sobre ele, fica obrigado”. Cegos! Qual é mais: a oferta ou o altar que santifica a oferta? Aquele, pois, que jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele, e quem jura pelo templo, jura por ele e por Aquele que habita nele, e quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por Aquele que está sentado sobre ele.

Mt 23, 13-22

domingo, 26 de agosto de 2018

Homilia Santa Missa no Phoenix Park de Dublin

«Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6, 68).

No termo deste Encontro Mundial das Famílias, reunimo-nos como família ao redor da mesa do Senhor. Agradecemos ao Senhor pelas inúmeras bênçãos recebidas nas nossas famílias. Queremos empenhar-nos a viver plenamente a nossa vocação, para sermos, segundo as comoventes palavras de Santa Teresa do Menino Jesus, «o amor no coração da Igreja».

Neste momento precioso de comunhão de uns com os outros e com o Senhor, é bom fazer uma pausa e considerar a fonte de todas as coisas boas que recebemos. Jesus revela a origem destas bênçãos no Evangelho de hoje, quando fala aos seus discípulos. Muitos deles estavam perplexos, confusos e até irados, hesitando se aceitar ou não as suas «palavras duras», tão contrárias à sabedoria deste mundo. Em resposta, o Senhor diz-lhes diretamente: «As palavras que vos disse são espírito e são vida» (Jo 6, 63).

Com a sua promessa do dom do Espírito Santo, estas palavras aparecem transbordantes de vida para nós que as acolhemos na fé. Indicam a fonte última de todo o bem que experimentamos e celebramos aqui nestes dias: o Espírito de Deus, que sopra constantemente nova vida sobre o mundo, nos corações, nas famílias, nos lares e nas paróquias. Cada dia novo na vida das nossas famílias e cada nova geração trazem consigo a promessa dum novo Pentecostes, um Pentecostes doméstico, uma nova efusão do Espírito, o Paráclito, que Jesus nos envia como nosso Advogado, nosso Consolador e Aquele que verdadeiramente nos dá coragem.

Quanta necessidade tem o mundo deste encorajamento que é dom e promessa de Deus! Que vós possais, como um dos frutos desta celebração da vida familiar, regressar às vossas casas e tornar-vos fonte de encorajamento para os outros, para partilhar com eles «as palavras de vida eterna» de Jesus. Na verdade, as vossas famílias são quer um lugar privilegiado quer um meio importante para difundir estas palavras como «boas notícias» para cada um, especialmente para quantos desejam deixar o deserto e a «casa da escravidão» (cf. Js 24, 17) a fim de irem para a terra prometida da esperança e da liberdade.

Na segunda Leitura de hoje, São Paulo diz-nos que o matrimónio é uma participação no mistério da fidelidade perene de Cristo à sua esposa, a Igreja (cf. Ef 5, 32). Mas esta doutrina, embora magnífica, pode aparecer a alguém como uma «palavra dura». Porque viver no amor, como Cristo nos amou (cf. Ef 5, 2), implica a imitação do próprio sacrifício de Si mesmo, implica morrer para nós mesmos a fim de renascer para um amor maior e mais duradouro: aquele amor, o único que pode salvar o mundo da escravidão do pecado, do egoísmo, da ganância e da indiferença às necessidades dos menos afortunados. Este é o amor que conhecemos em Jesus Cristo. Encarnou-Se no nosso mundo por meio duma família, e em cada geração, através do testemunho das famílias cristãs, tem o poder de romper todas as barreiras para reconciliar o mundo com Deus e fazer de nós aquilo que desde sempre estamos destinados a ser: uma única família humana que vive conjuntamente na justiça, na santidade e na paz.

A tarefa de dar testemunho desta Boa Nova não é fácil. Mas, de certo modo, os desafios que hoje enfrentam os cristãos não são mais difíceis do que aqueles que tiveram de enfrentar os primeiros missionários irlandeses. Penso em São Columbano, que, com o seu pequeno grupo de companheiros, levou a luz do Evangelho às terras da Europa numa época de obscuridade e decadência cultural. O seu extraordinário sucesso missionário não se baseara em métodos táticos ou planos estratégicos, mas numa humilde e libertadora docilidade às sugestões do Espírito Santo. Foi o seu testemunho diário de fidelidade a Cristo e entre eles que conquistou os corações que desejavam ardentemente uma palavra de graça e que contribuiu para fazer nascer a cultura europeia. Tal testemunho permanece uma fonte perene de renovação espiritual e missionária para o povo santo e fiel de Deus.

Naturalmente, haverá sempre pessoas que se oporão à Boa Nova, que «murmurarão» contra as suas «palavras duras». Todavia, como São Columbano e os seus companheiros que enfrentaram águas geladas e mares tempestuosos para seguir Jesus, não nos deixemos jamais influenciar ou desanimar pelo olhar gelado da indiferença ou pelos ventos borrascosos da hostilidade.

Contudo reconheçamos humildemente que, se formos honestos com nós mesmos, poderemos também nós achar duros os ensinamentos de Jesus. Como permanece difícil perdoar àqueles que nos magoam! Que grande desafio continua a ser o acolhimento do migrante e do estrangeiro! Como é doloroso suportar a desilusão, a rejeição ou a traição! Como é incómodo proteger os direitos dos mais frágeis, dos nascituros ou dos mais idosos, que parecem estorvar o nosso sentido de liberdade!

Mas é precisamente em tais circunstâncias que o Senhor nos pergunta: «Também vós quereis ir embora?» (Jo 6,67). Com a força do Espírito que nos encoraja e com o Senhor sempre ao nosso lado, podemos responder: «Nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus» (v. 69). Com o povo de Israel, podemos repetir: «Também nós serviremos o Senhor, porque Ele é o nosso Deus» (Js 24,18).

Com os sacramentos do Batismo e da Confirmação, cada cristão é enviado para ser um missionário, um «discípulo missionário» (cf. Evangelii gaudium, 120). A Igreja, no seu conjunto, é chamada a «sair» para levar as palavras de vida eterna às periferias do mundo. Que a nossa celebração de hoje confirme cada um de vós – pais e avós, crianças e jovens, homens e mulheres, frades e freiras, contemplativos e missionários, diáconos e sacerdotes – na partilha da alegria do Evangelho! Possais partilhar o Evangelho da família como alegria para o mundo.

Ao preparar-se cada um para retomar a própria estrada, renovemos a nossa fidelidade ao Senhor e à vocação a que chamou cada um de nós. Fazendo nossa a oração de São Patrício, repita cada um com alegria: «Cristo dentro de mim, Cristo atrás de mim, Cristo ao meu lado, Cristo debaixo de mim, Cristo acima de mim». Com a alegria e a força conferidas pelo Espírito Santo, digamos-Lhe confiadamente: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68).

Bom Domingo do Senhor!

Imitemos Pedro como nos narra o Evangelho de hoje (Jo 6, 60-69) e com total confiança e fé sigamos o Senhor, pois só Ele nos oferece palavras de vida eterna e Ele é o verdadeiro e único Filho de Deus Pai.

Louvado seja Deus Nosso Senhor pela Encarnação do seu amado Filho que é Deus com Ele em unidade com o Espírito Santo!

«Tu tens palavras de vida eterna!»

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo, doutor da Igreja
Comentário sobre o evangelho de João, 4, 4; PG 73, 613


«A quem iremos nós, Senhor?» pergunta Pedro, querendo dizer: «Quem nos ensinará como Tu os mistérios divinos?», ou ainda: «Junto de quem encontraríamos melhor?  Tu tens palavras de vida eterna!» Não são palavras intoleráveis, como dizem outros discípulos. Pelo contrário, são palavras que conduzem à realidade mais extraordinária de todas, a vida sem fim, a vida imperecível. Estas palavras mostram-nos realmente que devemos sentar-nos aos pés de Cristo, tomando-O como nosso único mestre, e mantendo-nos constantemente junto dele. […]

O Antigo Testamento também nos ensina que é preciso seguir Cristo, sempre unidos a Ele. Com efeito, no tempo em que os israelitas, libertos da opressão dos egípcios, se apressavam a ir para a Terra Prometida, Deus não permitiu que avançassem desordenadamente. Aquele que lhes deu a sua Lei não lhes permitiria ir a qualquer lado, à sua vontade; com efeito, sem guia, ter-se-iam dispersado completamente. […] Os israelitas encontraram a salvação permanecendo com o seu guia. Também nós fazemos hoje o nosso caminho recusando-nos a separarmo-nos de Cristo, pois foi Ele que Se manifestou aos antigos sob as aparências duma tenda, da nuvem e do fogo (cf Ex 13,21; 26,1ss) […]

«Se alguém Me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo» (Jo 12,26). […] Ora o caminho em companhia e no seguimento de Cristo Salvador não se faz num sentido material, mas através de obras de virtude; nelas se empenharam firmemente e de todo o coração os discípulos mais sábios […], que com razão diziam: «A quem iremos ?» Por outras palavras: «Ficaremos sempre contigo, apegar-nos-emos aos teus mandamentos, acolhendo as tuas palavras, sem nunca recalcitrar. Não acharemos, como os ignorantes, que os teus ensinamentos sejam difíceis de entender. Pelo contrário, diremos: “Como são doces ao meu paladar, as tuas palavras! Mais doces do que o mel para a minha boca”» (Sl 119,103).

sábado, 25 de agosto de 2018

O Evangelho de Domingo dia 26 de agosto de 2018

Muitos dos Seus discípulos ouvindo isto, disseram: «Dura é esta linguagem! Quem a pode ouvir?». Jesus, conhecendo em Si mesmo que os Seus discípulos murmuravam por isto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos? Que será quando virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes? É o Espírito que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não crêem». Com efeito Jesus sabia desde o princípio quais eram os que não acreditavam, e quem havia de O entregar. Depois acrescentou: «Por isso Eu vos disse que ninguém pode vir a Mim se não lhe for concedido por Meu Pai». Desde então muitos dos Seus discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. Por isso Jesus disse aos doze: «Também vós quereis retirar-vos?». Simão Pedro respondeu-Lhe: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus». 

Jo 6, 60-69

Evangelho do dia 25 de agosto de 2018

Então, Jesus falou às multidões e aos Seus discípulos, dizendo: «Sobre a cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Observai, pois, e fazei tudo o que eles vos disserem, mas não imiteis as suas acções, porque dizem e não fazem. Atam cargas pesadas e impossíveis de levar, e as põem sobre os ombros dos outros homens, mas nem com um dedo as querem mover. Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens. Trazem mais largas as filactérias, e mais compridas as franjas dos seus mantos. Gostam de ter os primeiros lugares nos banquetes, e as primeiras cadeiras nas sinagogas , das saudações na praça, e de serem chamados rabi pelos homens. Mas vós não vos façais chamar rabis, porque um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. A ninguém chameis pai sobre a terra, porque um só é o vosso Pai, O que está nos céus. Nem façais que vos chamem mestres, porque um só é o vosso Mestre, Cristo. Quem entre vós for o maior, seja vosso servo. Aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado. 

Mt 23, 1-12

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Natanael-Bartolomeu reconhece o Messias, Filho de Deus

Bento XVI
Audiência geral de 04/10/2006

O evangelista João refere-nos que, quando Jesus vê Natanael aproximar-se, exclama: «Aí vem um verdadeiro Israelita, em quem não há fingimento» (Jo 1, 47). Trata-se de um elogio que recorda o texto de um Salmo: «Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano» (Sl 32, 2), mas que suscita a curiosidade de Natanael, o qual responde com admiração: «Donde me conheces?» (Jo 1, 48a). A resposta de Jesus não é imediatamente compreensível. Ele diz: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» (Jo 1, 48b). Não sabemos o que aconteceu debaixo desta figueira. É evidente que se trata de um momento decisivo na vida de Natanael. Ele sente-se comovido com estas palavras de Jesus, sente-se compreendido e compreende: este homem sabe tudo de mim, Ele sabe e conhece o caminho da vida, a este homem posso realmente confiar-me. E assim responde com uma confissão de fé límpida e bela, dizendo: «Rabi, Tu és o filho de Deus, Tu és o Rei de Israel!» (Jo 1, 49).

Nela é dado um primeiro e importante passo no percurso de adesão a Jesus. As palavras de Natanael sublinham um aspecto duplo e complementar da identidade de Jesus: Ele é reconhecido, quer na Sua relação especial com Deus Pai, do qual é Filho unigénito, quer na relação com o povo de Israel, do qual é proclamado rei, qualificação própria do Messias esperado. Nunca devemos perder de vista nenhuma destas duas componentes, porque se proclamarmos apenas a dimensão celeste de Jesus, corremos o risco de O transformar num ser sublime e evanescente, e se ao contrário reconhecermos apenas a Sua situação concreta na história, acabamos por negligenciar a dimensão divina que propriamente O qualifica.

Evangelho do dia 24 de agosto de 2018

Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos Aquele de Quem escreveu Moisés na Lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José». Natanael disse-lhe: «De Nazaré pode porventura sair coisa que seja boa?». Filipe disse-lhe: «Vem ver». Jesus viu Natanael, que vinha ter com Ele, e disse dele: «Eis um verdadeiro israelita em quem não há fingimento». Natanael disse-lhe: «Donde me conheces?». Jesus respondeu-lhe: «Antes que Filipe te chamasse, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira». Natanael respondeu: «Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel». Jesus respondeu-lhe: «Porque te disse que te vi debaixo da figueira, acreditas?; verás coisas maiores que esta». E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do Homem».

Jo 1, 45-51

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Evangelho do dia 23 de agosto de 2018

Jesus, tomando a palavra, voltou a falar-lhes em parábolas, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um rei, que preparou o banquete de bodas para seu filho. Mandou os seus servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram ir. Enviou de novo outros servos, dizendo: “Dizei aos convidados: Eis que preparei o meu banquete, os meus touros e animais cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às núpcias”. Mas eles desprezaram o convite e foram-se, um para a sua casa de campo e outro para o seu negócio. Outros lançaram mão dos servos que ele enviara, ultrajaram-nos e mataram-nos. «O rei, tendo ouvido isto, irou-se e, enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas, e incendiou-lhes a cidade. Então disse aos servos: “As bodas, com efeito, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e a quantos encontrardes convidai-os para as núpcias”. Tendo saído os seus servos pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala das bodas ficou cheia de convidados. «Entrando depois o rei para ver os que estavam à mesa, viu lá um homem que não estava vestido com o traje nupcial. E disse-lhe: “Amigo, como entraste aqui, não tendo o traje nupcial?”. Ele, porém, emudeceu. Então o rei disse aos seus servos: “Atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas lá de fora, aí haverá choro e ranger de dentes. Porque são muitos os chamados mas poucos os escolhidos”».

Mt 22, 1-14

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Respeitar o nome do Senhor (audiência)

Locutor: Dando continuidade às catequeses sobre os Dez mandamentos, hoje trataremos do segundo mandamento que nos ensina: “não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”. Não pronunciar o nome em vão significa não se apropriar do nome de Deus de um modo superficial, vazio ou hipócrita. Na Bíblia, o nome representa a verdade íntima das coisas e das pessoas. Alguns personagens bíblicos recebem um novo nome ao serem chamados por Deus para realizar uma missão. E, em concreto, conhecer o nome de Deus significa experimentar a transformação da própria vida: pensemos no Batismo, onde recebemos uma vida nova, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Invocar o Seu nome é, portanto, manifestar a nossa íntima união de Amor com Ele, santificando o nome de Deus, como rezamos no Pai Nosso, sem fingimento, e dando um testemunho mais autêntico da nossa fé cristã.

Santo Padre:
Rivolgo un cordiale saluto ai pellegrini di lingua portoghese, in particolare ai giovani lusitani di Lijó e ai marinai brasiliani della Nave scuola Brasile. Cari amici, nel battesimo siamo stati santificati nel nome della Santissima Trinità. Chiediamo la grazia di poter vivere i nostri impegni battesimali come veri imitatori di Gesù, il Figlio di Dio, guidati dallo Spirito Santo, per la gloria del Padre. Grazie.


Locutor: Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, particularmente aos jovens lusitanos de Lijó e aos marinheiros brasileiros do Navio Escola “Brasil”. Queridos amigos, no batismo fomos santificados no nome da Santíssima Trindade. Peçamos a graça de poder viver os nossos compromissos batismais como verdadeiros imitadores de Jesus, o Filho de Deus, guiados pelo Espírito Santo, para a glória do Pai. Obrigado.

Evangelho do dia 22 de agosto de 2018

«O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para a sua vinha. Tendo ajustado com os operários um denário por dia, mandou-os para a sua vinha. Tendo saído cerca da terceira hora, viu outros, que estavam na praça ociosos, e disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo”. Eles foram. Saiu outra vez cerca da hora sexta e da nona, e fez o mesmo. Cerca da undécima, saiu, e encontrou outros que estavam sem fazer nada, e disse-lhes: “Porque estais aqui todo o dia sem trabalhar?”. Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou”. Ele disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha”. «No fim da tarde, o senhor da vinha disse ao seu feitor: “Chama os operários e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros”. Tendo chegado os que tinham ido à hora undécima, recebeu cada qual um denário. Chegando também os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; porém, também eles receberam um denário cada um. Mas, ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: “Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualaste connosco, que suportamos o peso do dia e o calor”. Porém, ele, respondendo a um deles, disse: “Amigo, eu não te faço injustiça. Não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu, e vai-te. Eu quero dar também a este último tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer dos meus bens o que quero? Porventura o teu olho é mau porque eu sou bom?”. Assim os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos».

Mt 20, 1-16a

Evangelho do dia 21 de agosto de 2018

Jesus disse a Seus discípulos: «Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. Digo-vos mais: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, que entrar um rico no Reino dos Céus». Os discípulos, ouvidas estas palavras, ficaram muito admirados, dizendo: «Quem poderá, então, salvar-se?». Porém, Jesus, olhando para eles, disse-lhes: «Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível». Então Pedro, tomando a palavra, disse-Lhe: «Eis que abandonámos tudo e Te seguimos; qual será a nossa recompensa?». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo que, no dia da regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da Sua glória, vós, que Me seguistes, também estareis sentados sobre doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos ou irmãs, ou o pai ou a mãe, ou os filhos, ou os campos, por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros.

Mt 19, 23-30

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

IMPORTANTE: Carta do Papa Francisco ao Povo de Deus

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.

1. Um membro sofre?

Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.

Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!... A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)» (Nona Estação).

2. Todos os outros membros sofrem com ele.

A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque trata-se duma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).

Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam à integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Juntamente com esses esforços, é necessário que cada batizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor1, que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.

É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas2. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo»3. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.

É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 11).

É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.

Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.

Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 1).

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.

Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.

Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018.

FRANCISCO
1 «Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum» Mt 17, 21.
2 Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018.
3 Carta do Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, 19 de Março de 2018.

Evangelho do dia 20 de agosto de 2018

Aproximando-se d'Ele um jovem, disse-Lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu-lhe: «Porque me interrogas acerca do que é bom? Um só é bom. Porém, se queres entrar na vida eterna, guarda os mandamentos». «Quais?» , perguntou ele. Jesus disse: «Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, e ama o teu próximo como a ti mesmo». Disse-Lhe o jovem: «Tenho observado tudo isso. Que me falta ainda?». Jesus disse-lhe: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-Me». O jovem, porém, tendo ouvido estas palavras, retirou-se triste, porque tinha muitos bens.

Mt 19, 16-22

domingo, 19 de agosto de 2018

Bom Domingo do Senhor!

Aceitemos com alegria e humildade a oferta do Senhor de que nos fala o Evangelho de hoje (Jo 6, 51-58) e recebamo-Lo com frequência na Sagrada Eucaristia e sigamos a Sua Palavra, pois dessa forma estaremos saboreá-Lo na nossa alma e o nosso coração exultará de alegria.

Senhor Jesus, Pão da Vida obrigado por nos deixares reter dentro de nós e de morarmos dentro de Ti, sejamos nós merecedores de tal!

«… comer a sua carne e beber o seu sangue»

O evangelho do domingo 19 de agosto de 2012 que é também o de hoje seis anos volvidos, foi o tema da alocução de Bento XVI, ao meio-dia, no encontro com os fiéis, para a recitação da oração do Angelus. No pátio interior da residência de Castel Gandolfo, o Santo Padre comentou a última parte do longo discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, capítulo sexto do Evangelho segundo São João.


Jesus revela aos seus auditores o sentido da multiplicação dos pães para os alimentar, apresentando-se Ele próprio como Pão de vida eterna, na sua “carne” – a sua vida, oferecida em sacrifício por todos. “Trata-se, portanto, de O acolher com fé, sem se escandalizar da sua humanidade; trata-se de comer a sua carne e beber o seu sangue, para ter em si mesmo a plenitude da vida. É evidente que este discurso não é feito para suscitar consensos”.

Jesus sabe-o bem, e é intencionalmente que pronuncia estas palavras, num momento para ele crítico, uma viragem na sua vida pública. A partir daí, depois do entusiasmo suscitado pelos milagres, muitos começarão a abandoná-lo, incapazes de aceitar que Jesus não seja um “messias” como o queriam: potente, triunfante. Escutando este discurso, perceberam que Jesus não era um Messias com aspirações a um trono terreno. Não procurava consensos para conquistar Jerusalém. Iria, sim, à Cidade Santa, mas sim para partilhar a sorte dos profetas: dar a vida por Deus e pelo povo. “Aqueles pães, partilhados por milhares de pessoas, não queriam provoca ruma marcha triunfal, mas preanunciar o sacrifício da Cruz, em que Jesus se torna Pão repartido, corpo e sangue oferecidos em expiação”.

O Papa concluiu convidando todos a deixarem-se surpreender de novo pelas palavras de Cristo: “Ele, grão de trigo semeado nos sulcos da história, é a primícia da nova humanidade, libertada da corrução do pecado e da morte. Redescubramos a beleza do Sacramento da Eucaristia, que exprime toda a humildade e a santidade de Deus: o seu fazer-se pequeno, fragmento do universo, para reconciliar todos no seu amor. A Virgem Maria, que deu ao mundo o Pão da vida, nos ensine a viver sempre em profunda união com Ele”. 

Rádio Vaticano