terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CONTO DE NATAL 2017

Faltavam dois dias para o Natal.

Ao pensar nisso uma tristeza imensa tomou conta dele, porque sabia que seria já o segundo Natal sem o seu filho.
A última discussão por causa da vida de drogas sem sentido que o filho levava, tinha chegado a um tal extremo, que o filho tinha saído de casa, e ele, pai, nada tinha feito para o impedir.
Queria convencer-se de que fora melhor assim, porque o filho tinha que ser confrontado com a realidade da vida, e, se ele continuasse a sustentar-lhe aquele vício, o fim, com certeza, não estaria longe.

Mas vivia atormentado pela ausência do filho, (nunca mais o tinha visto ou falado com ele desde há cerca de dois anos), pelo medo de ter errado na sua decisão, e também porque via a sua mulher definhar em tristeza todos os dias, com a ausência total daquele seu filho único.

Absorto nos seus pensamentos, guiava como um autómato, e por isso só deu conta no último momento, daquela mulher que atravessava a rua na passadeira de peões.
Deu uma guinada repentina com o volante e foi bater com grande violência num poste de iluminação na berma da rua.
Apercebeu-se de imediato que o acidente tinha sido muito grave, sobretudo para ele, porque sentiu-se coberto do seu sangue, perdendo rapidamente a consciência.

Um estranho vazio tomou conta dele e percebeu que ouvia umas vozes, mas nada conseguia entender e também não conseguia abrir os olhos, não conseguia acordar, enfim, era mesmo um vazio imenso que ele sentia profundamente em todo o seu ser.

Neste espaço de tempo, sem tempo, (para ele), ouviu a certa altura, nitidamente, a palavra Natal, e percebeu que já conseguia abrir os olhos, que estava agora “acordado”!

Abriu então os olhos e encontrou logo à sua direita a cara sorridente da sua mulher, que lhe agarrava numa mão, e percebeu-se deitado numa cama de hospital.
Achou no entanto muito estranho aquele sorriso tão rasgado da sua mulher.
Com o seu olhar perguntava-lhe insistentemente a razão de tal sorriso, e reparou então que ela olhava para si e logo de seguida para o seu lado esquerdo.

Voltou a cabeça com alguma dificuldade, e o seu olhar encontrou o olhar do seu filho, que, com lágrimas nos olhos e inclinando-se para ele, lhe disse ao ouvido: Desculpa, pai, desculpa.

Respondeu-lhe com a voz sumida, carregada de emoção: Não te preocupes, meu filho. Que dia é hoje?

O filho olhou para ele e respondeu: É noite de Natal, pai, e estás no hospital há dois dias!

Fechou os olhos e interiormente disse com o coração: Obrigado Jesus, pela mais bela prenda de Natal que me podias dar.

Depois, apertando com mais força a mão da sua mulher, pediu ao seu filho que se inclinasse para ele, e dando-lhe um beijo terno na testa, disse: Feliz Natal, meu filho, Feliz Natal!

Marinha Grande, de 19 Dezembro de 2017

Joaquim Mexia Alves

(seleção de imagem 'Spe Deus')

São Josemaría Escrivá nesta data em 1937

“Dia 19 de Dezembro. “O que devo eu a Deus, como cristão! A minha falta de correspondência a essa dívida tem-me feito chorar de dor: de dor de Amor. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!...”, anota durante o retiro que faz em Pamplona.

Natal. É Deus que nos pede esmola. (2017)

Neste Natal em que tanta gente tem de recorrer à esmola e tanta outra procura atender generosamente essa dolorosa necessidade, é bom ver Nosso Senhor também a pedir esmola e a agradecer a esmola que Lhe dermos, a Ele directamente, pelo amor, e a todos os que passam fome e com quem Ele se identificam: «Porque tive fome e me destes de comer, sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes…», enfim, porque «tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes…» (Mt 25, 35 e 40).

Grande mistério, que a todos nos comove: o próprio Deus, Deus Criador e Omnipotente, a pedir e a agradecer esmolas das suas criaturas!

É uma verdade estranha, mas evidente; e quanto mais evidente, mais estranha parece. Mas não veio Ele pedir-nos licença de entrar neste nosso mundo? Ele, que é o Senhor do mundo; Ele, «em Quem nós nos movemos, existimos e somos» (Act 17, 28); Ele que nos criou e nos mantém na existência; Ele, Deus todo-poderoso; não envia porventura um embaixador insigne, um Príncipe celestial, a pedir a uma menina de Nazaré a esmola de O receber no seu seio?
Mistério maravilhoso! Estabelece-se um diálogo diplomático; ela pergunta em que condições o Senhor deseja ser concebido; é esclarecida; e, com a maior simplicidade, responde que sim. - Sim, Senhor Embaixador, aceito Deus como meu Filho. Pode entrar no meu seio desde já. «Faça-se em mim, segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

Porque é que o Senhor é tão cerimonioso e delicado? Porque precisa de nos pedir licença para encarnar?

Reparemos na diferença entre a filiação humana e a procriação animal: a mesma que há entre o homem e o animal - a consciência e a liberdade. A geração humana é consciente e livre; a procriação animal é inconsciente e fatal.

Nosso Senhor quis ser verdadeiramente «filho do homem», isto é, verdadeiro homem, entrando no mundo segundo uma autêntica e plena geração humana. Podia ter assumido natureza humana sem mãe nem pai, mas nesse caso seria para nós um extra-terrestre; teria uma natureza igual à nossa, mas não faria parte da nossa natureza. Não faria parte da humanidade que vinha salvar. Ou podia nascer de uma mulher, sem lhe pedir licença, mas, nesse caso, não teria verdadeira mãe, não seria verdadeiro filho nosso, da nossa raça; seria um intruso; a sua entrada no mundo seria uma violência divina.

Nosso Senhor fez-Se verdadeiro pedinte. Pediu primeiro um coração e um seio maternos. As crianças não pedem a sua própria concepção, porque só existem a partir dela; mas Cristo é anterior à sua própria concepção, e pediu-a expressamente. E continuou a pedir: pediu para vir ao mundo dentro de uma família, e isso já foi mais difícil, porque José demorou a compreender o pedido. Foi preciso explicar-lhe que, embora Ele não fosse filho seu pela carne, queria ser Filho seu por vontade divina… E também José acabou por aceitá-Lo como verdadeiro pai. Como dizia Santo Agostinho, «à piedade e caridade de José nasceu o Filho da Virgem Maria, que é o mesmo Filho de Deus». (Sermo 51, 30). Quem afirma que Ele não é filho de José por não ter sido gerado carnalmente, explica o santo doutor, dá mais importância à libido do que ao amor, quando o amor é que determina a paternidade humana (Cf. idem, 26). Enfim, assim como Maria não O gerou pela carne, mas pelo Espírito Santo, também José O recebeu do Pai pelo seu Espírito de Amor.

Pediu um pai, pediu uma família, pediu toda uma parentela, como qualquer homem recebe desde o primeiro momento; pediu que O deixássemos nascer e uma casa onde vir ao mundo… Essa foi a primeira esmola que Lhe recusámos. Fechámos-Lhe todas as portas. E teve de vir à luz na escuridão de uma toca de animais!

«Coitadinho de Nosso Senhor!», dizemos nós agora, como os Pastorinhos em Fátima, ao contemplá-Lo agora no presépio. Tem algum sentido esta exclamação? Sim, é a expressão da nossa misericórdia; misericórdia é a virtude que consiste na compaixão pelas carências alheias e nos leva a socorrer quem padece alguma necessidade; é a virtude que nos leva a partilhar a miséria dos outros e a procurar remediá-la; da misericórdia é que procede a esmola; e a primeira esmola é precisamente a compaixão, a companhia de outrem no seu sofrimento. Mas isto remedeia alguma coisa? Com certeza, sobretudo quando uma das coisas de que o próximo mais necessita é o nosso amor.

Ora, o que buscava Jesus Cristo no mundo não eram certamente as coisas materiais, porque d’Ele é tudo o que existe; o que buscava e continua a buscar é o nosso coração, o nosso amor. Isso era o que mais queria e vinha pedir-nos. Se lho damos agora, estamos a remediar, de facto, o que de nós esperava nessa altura e continua a esperar.

H.A (em «Celebração Litúrgica» 1 /2017-2018)
(Publicado nesta data na sua página do Facebook, seleção de imagem 'Spe Deus')

A humildade engrandece-nos

"Não sou um santo, a menos que vejam um santo como um pecador que continua a tentar."

Nelson Mandela

O Evangelho do dia 19 de dezembro de 2017

Houve no tempo de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias; a sua mulher era da descendência de Aarão e chamava-se Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, caminhando irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e ambos se achavam em idade avançada. Sucedeu que, exercendo Zacarias as funções de sacerdote diante de Deus na ordem do seu turno, segundo o costume sacerdotal, tocou-lhe por sorte entrar no templo do Senhor a oferecer o incenso. Toda a multidão do povo estava a fazer oração da parte de fora, à hora do incenso. Apareceu-lhe um anjo do Senhor, de pé ao lado direito do altar do incenso. Zacarias, ao vê-lo, ficou perturbado e o temor o assaltou. Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; tua mulher Isabel dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. Será para ti motivo de júbilo e de alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento; porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem outra bebida inebriante; será cheio do Espírito Santo desde o ventre da sua mãe; e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá adiante de Deus com o espírito e a fortaleza de Elias, “a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos”, e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto». Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso? Porque eu sou velho e a minha mulher está avançada em anos». O anjo respondeu-lhe: «Eu sou Gabriel que estou diante de Deus; fui enviado para te falar e te dar esta boa nova. Eis que ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas sucedam, visto que não acreditaste nas minhas palavras, que se hão-de cumprir a seu tempo». Entretanto, o povo esperava Zacarias e admirava-se de ver que ele se demorava tanto no templo. Quando saiu, não lhes podia falar, e compreenderam que tinha tido alguma visão no templo, o que lhes dava a entender por acenos; e ficou mudo. Aconteceu que, depois de terem acabado os dias do seu ministério, retirou-se para a sua casa. Alguns dias depois, Isabel, sua mulher, concebeu, e durante cinco meses esteve escondida, dizendo: «Isto é uma graça que me fez o Senhor nos dias em que me olhou para tirar o meu opróbrio de entre os homens».

Lc 1, 5-25