sábado, 23 de setembro de 2017

O milagre do Papa Francisco

Há quem deseje que a Igreja católica se converta numa espécie de organização não-governamental, dedicada a causas sociais e ecológicas. No fundo, uma Igreja sem Deus.

Ainda é cedo para saber como é que a História irá recordar o Papa Francisco, mas uma coisa é certa: já se lhe pode reconhecer um grande milagre. Com efeito, graças ao actual vigário de Cristo, alguns teólogos, que sempre maldisseram os papas, questionaram a pertinência evangélica da sua jurisdição eclesial e criticaram o seu magistério, são agora, por obra e graça de Francisco, mais papistas do que o papa! Pena é que, para o louvável propósito de enaltecer o romano pontífice, se sintam obrigados a criticar a Igreja, nomeadamente nas pessoas de alguns dos seus bispos e sacerdotes.

Os eternos profetas da reforma da cúria romana vêem no Papa Francisco o esperado messias, que há tanto aguardavam. Querem que Bergoglio empunhe o azorrague com que Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo, para arremeter com fúria contra as vaidades eclesiásticas, o carreirismo dos prelados e as mesquinhas ambições clericais de poder. É, sem dúvida, uma excelente intenção, mas convém não esquecer que, se Francisco é hoje papa e antes foi cardeal, arcebispo e bispo, também fez uma ‘carreira’ que, por sinal, o levou ao topo da organização eclesial. E, como ele, muitos outros cardeais e bispos ascenderam, por graça de Deus e mérito da sua competência e dedicação pastoral, aos lugares que hoje ocupam, sem qualquer ambição de poder, nem desejo de protagonismo pessoal. Será que têm essa ambição e desejo os ressabiados que tanto criticam essas dignidades?! Como se costuma dizer, quem desdenha quer comprar…

Desenganem-se os que pensam que o Papa Francisco vai converter a Igreja católica numa espécie de comuna, sem diversidade de funções, porque a hierarquia eclesial é de origem sobrenatural: não é uma opção política historicamente ultrapassada, mas expressão da vontade do divino fundador da Igreja. Jesus Cristo não só constituiu os apóstolos como príncipes da Igreja – não no sentido nobiliárquico do termo, mas como seus primeiros servidores – como também instituiu o papa como cabeça do colégio episcopal e da comunhão eclesial, a que preside na caridade, precisamente porque é o servo dos servos de Deus.

Na realidade, há quem, embora elogiando a reforma da cúria romana, no fundo deseje a sua extinção: mais do que uma reforma, quer uma revolução, que converta a Igreja numa espécie de organização não-governamental, dedicada a causas sociais e ecológicas, mas sem dogmas nem moral; sem normas nem tribunais; sem sacramentos nem oração. No fundo, uma Igreja sem Deus, que se confunda com a ONU, a Cruz Vermelha, a UNICEF, a Greenpeace ou a FAO, totalmente entregue a questões socio-económicas, mas de todo esquecida da missão salvífica de que foi incumbida por Cristo.

Quem, em pleno século XXI, fala de “bispos ambiciosos e vaidosos”, que não têm o “cheiro das suas ovelhas”, decerto ainda vive na corte dos Médicis, ou dos Bórgias, porque os bispos são, sobretudo, pastores e, até, pastores de pastores, que cheiram às ovelhas que continuamente procuram, com grande zelo, e guiam com o seu fecundo ministério episcopal. Quantas visitas pastorais, até às paróquias mais distantes! Quantas horas gastas pelos nossos prelados nos hospitais, nas creches, nos centros de dia, nos lares da terceira idade, nos infantários e nas escolas! Quanta disponibilidade em acolher os mais velhos, tantas vezes rejeitados pelas próprias famílias, e os mais novos, que os políticos desprezam, porque não votam, e os poderosos negligenciam, porque não têm importância económica!

O mesmo se diga da quase totalidade dos padres: se, em tempos idos, talvez a ordenação sacerdotal pudesse significar uma promoção e garantir um certo estatuto social e económico, há muito que já assim não é. Nenhum padre há, decerto, em Portugal, que ambicione estar “acima dos fiéis”, porque todos sabem que o seu lugar, que gostosamente ocupam, é “ao serviço dos últimos”. Destes presbíteros, é certo, a imprensa não fala, mas são os que estão presentes quando há incêndios, como recentemente se viu, quando há desemprego, quando há solidão, quando há doenças, quando falta a esperança, etc.

Se alguém tem o “cheiro das suas ovelhas”, são mesmo os bispos e párocos do nosso país, incansavelmente entregues ao seu esgotante ministério pastoral. Mas talvez alguns teólogos tenham perdido o contacto com a realidade da Igreja, de tão fechados nos seus assépticos laboratórios de sociologia eclesial, onde não há lugar para a transcendência do Espírito, nem esperança sobrenatural. Por isso, ainda se imaginam numa Igreja pré-conciliar, não apenas anterior ao Vaticano II, mas também ao Concílio de Trento… Não cheiram às ovelhas porque as não têm, nem procuram, tão entretidos andam com os seus solilóquios teológicos, em que é difícil encontrar algum amor a Deus ou desvelo pastoral.

Quando, em tempos de São Bernardo, a sede petrina ficou vacante, três cardeais eram tidos pelos mais ‘papáveis’: um era muito devoto, outro era sapientíssimo e o terceiro destacava-se pela sua prudência. Interrogado o santo de Claraval sobre qual dos três deveria ser escolhido, disse: “O piedoso, que reze por nós; o sábio, que nos ensine; e o prudente que nos governe”.

São João Paulo II, o grande, é o santo que por todos nós, no Céu, agora intercede. O sábio Bento XVI é um dos maiores teólogos contemporâneos e uma fecundíssima fonte de inspiração teológica. E o Papa Francisco? Ainda é cedo para caracterizar o seu pontificado, mas queira Deus que, dado o seu salutar ânimo reformista, a História o venha a recordar pela sua prudência como bom pastor.

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador 23.09.2017

(seleção de imagem 'Spe Deus')

O Evangelho de Domingo dia 24 de setembro de 2017

«O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a contratar operários para a sua vinha. Tendo ajustado com os operários um denário por dia, mandou-os para a sua vinha. Tendo saído cerca da terceira hora, viu outros, que estavam na praça ociosos, e disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo”. Eles foram. Saiu outra vez cerca da hora sexta e da nona, e fez o mesmo. Cerca da undécima, saiu, e encontrou outros que estavam sem fazer nada, e disse-lhes: “Porque estais aqui todo o dia sem trabalhar?”. Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou”. Ele disse-lhes: “Ide vós também para a minha vinha”. «No fim da tarde, o senhor da vinha disse ao seu feitor: “Chama os operários e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros”. Tendo chegado os que tinham ido à hora undécima, recebeu cada qual um denário. Chegando também os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; porém, tam eles receberam um denário cada um. Mas, ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: “Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualaste connosco, que suportamos o peso do dia e o calor”. Porém, ele, respondendo a um deles, disse: “Amigo, eu não te faço injustiça. Não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu, e vai-te. Eu quero dar também a este último tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer dos meus bens o que quero? Porventura o teu olho é mau porque eu sou bom?”. Assim os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos».

Mt 20, 1-16

São Josemaría Escrivá nesta data em 1942

Morre o Pe. José Miguel. No Inverno de 1917-1918, em Logronho, São Josemaría tinha sentido a chamada de Deus enquanto contemplava as pegadas na neve dos pés descalços deste religioso carmelita. Recordando aquele momento comentaria anos mais tarde: “Comecei a pressentir o Amor, a aperceber-me de que o coração me pedia alguma coisa de grande e que fosse amor”.

Netos

Os Netos!
A esperança!
A visão amorosa do futuro!
A certeza da continuidade!

Alguns dos nove preocupam-me um pouco, ou não estudam ou deixam-se ir numa vida que não parece ter objectivos concretos.

Claro que, esses, receberam um fortíssimo golpe nas suas jovens vidas, golpe esse que os marcou - e continua marcar - como se estivessem atordoados, as bases caíram e não conseguiram ainda recuperá-las.

Peço-te, Anjo da Minha GUARDA que fales com os Anjos da Guarda deles para que se empenhem ainda mais em assistir às suas vidas, endireitar os caminhos, orientar as escolhas.

Eu sei muito bem que é isso que constantemente fazem mas deixa-me insistir, eles precisam.

Mas no que me respeita que compete fazer? Que devo fazer?

Ser exemplo, âncora, refúgio, segurança, braço forte e seguro...

É o que me dirás, estou certo, mas sabes como sou tão pouca coisa!
Seria possível tornares-me um super-homem com capacidades e recursos ilimitados para que me olhassem e pretendessem imitar-me?

Digo disparates? Argumentos tontos?
Não quero saber!
A minha intimidade contigo permite-me.
Sinto-me perfeitamente à-vontade, não sinto nem pruridos nem vergonha, sei que me conheces no meu mais íntimo e que o que move é o amor.

Sim o que move é o amor.
Este sentir-me continuamente sob um foco de luz que escrutina as minhas acções e as minhas reacções.

(ama, Malta, 23 de Maio 2016)

Abrir o coração à Palavra de Deus

Aqueles que escutam a Palavra de Deus, colocam-na em prática". Estas são as duas condições para seguir Jesus: ouvir a palavra de Deus e colocá-la em prática. Esta é a vida cristã, nada mais. Simples, fácil. Talvez nós fizemo-la um pouco difícil, com muitas explicações que ninguém entende, mas a vida cristã é isto: Escutar a Palavra de Deus e praticá-la.
(...)
Cada vez que abrimos o Evangelho e lemos uma passagem e perguntamo-nos: 'Com isto Deus fala-me, diz-me qualquer coisa? E se diz alguma coisa, o que me diz? ‘- isto é escutar a Palavra de Deus, escutar com os ouvidos e escutar com o coração. Abrir o coração à Palavra de Deus. Os inimigos de Jesus ouviam a Palavra de Jesus, mas estavam perto dele para tentar encontrar um erro, para fazê-lo escorregar para que perdesse a autoridade. Mas nunca se perguntavam: "O que diz Deus para mim com esta Palavra?' E Deus não fala só para todos: sim, fala para todos, mas fala para cada um de nós. O Evangelho foi escrito para cada um de nós.

Papa Francisco - excertos homilia Casa de Santa Marta 23.09.2014

O Evangelho do dia 23 de setembro de 2017

Tendo-se juntado uma grande multidão de povo e, tendo ido ter com Ele de diversas cidades, disse Jesus esta parábola: «Saiu o semeador a semear a sua semente; ao semeá-la, uma parte caiu ao longo do caminho; foi calcada e as aves do céu comeram-na. Outra parte caiu sobre pedregulho; quando nasceu, secou, porque não tinha humidade. A outra parte caiu entre espinhos; logo os espinhos, que nasceram com ela, a sufocaram. Outra parte caiu em terra boa; depois de nascer, deu fruto centuplicado». Dito isto, exclamou: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!». Os Seus discípulos perguntaram-Lhe o que significava esta parábola. Ele respondeu-lhes: «A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos outros ele é anunciado por parábolas; para que “vendo não vejam, e ouvindo não entendam”. Eis o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são aqueles que a ouvem, mas depois vem o demónio e tira a palavra do seu coração para que não se salvem crendo. Os que estão sobre pedregulho, são os que, quando a ouvem, recebem com gosto a palavra, mas não têm raízes; por algum tempo acreditam, mas no tempo da tentação voltam atrás. A que caiu entre espinhos, representa aqueles que ouviram a palavra, porém, indo por diante, ficam sufocados pelos cuidados, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não dão fruto. Enfim, a que caiu em terra boa, representa aqueles que, ouvindo a palavra com o coração recto e bom, a conservam e dão fruto com a sua perseverança.

Lc 8, 4-15