domingo, 16 de julho de 2017

Bom Domingo do Senhor!

Cheios de fé limpemos a nossa alma para sermos boa terra para a Palavra do Senhor como Ele nos explica no Evangelho de hoje (Mt 13, 1-23) e assim Lhe possamos oferecer os frutos que na Sua bondade nos conceder.

Louvado seja Deus Nosso Senhor pelo seu infinito e misericordioso amor por todos nós!

Evangelho em modo comunicação

Morreu Joaquín Navarro Valls, o médico dedicado ao jornalismo que João Paulo II convidou para chefiar o Gabinete de Imprensa do Vaticano. Como vivia no mundo dos jornalistas, a imprensa internacional destacou a notícia com abundância de testemunhos pessoais. Uns recordaram a relação de amizade que incluía conselhos médicos; muitos referiram a maneira eficiente de transmitir a informação, o domínio das novas tecnologias; outros lembraram o bom humor, a capacidade de expressar ideias em fórmulas soantes.

Praticamente todos consideraram que ele revolucionou a comunicação vaticana e marcou uma época irrepetível. Até ele chegar, em 1984, o gabinete de imprensa do Vaticano era o «guichet» que distribuía os textos lidos pelo Papa e dava conta de algumas nomeações na Santa Sé. Navarro Valls redefiniu completamente a função.

Navarro Valls tinha aprendido do Fundador do Opus Dei que todas as ocasiões profissionais são oportunidade para evangelizar. No seu caso, o Papa não o tinha chamado a distribuir comunicados mas a participar na missão evangelizadora da Igreja. Lançar uma campanha publicitária? Ele reagiu ao desafio como um homem de fé: antes de mais, confiou na oração pessoal e na Eucaristia. Esta atitude impressionou vivamente muitos jornalistas e os seus colaboradores no gabinete de imprensa, por lhes ter feito sentir que, qualquer que fosse o seu trabalho, eram protagonistas de uma missão maior, de dimensão divina e universal.

Outra mudança cósmica na «Sala Stampa» foi o contacto humano. Navarro Valls era particularmente culto, fluente em várias línguas, divertido. No entanto, o clique na relação humana foi ele contar activamente com a lealdade e o profissionalismo dos jornalistas. O habitual clima de desconfiança justificava-se, porque poucos jornalistas acreditados no Vaticano eram católicos e vários tinham uma aversão notória à Igreja. Descreviam qualquer nomeação como indício de manobras ocultas ou sintoma de corrupção; traduziam as homilias do Papa em categorias políticas de apoio ou oposição a partidos ou a países; ampliavam qualquer pequeno escândalo e a mensagem de Cristo ficava fora desse ruído mediático. Em vez do Evangelho, a notícia era o escândalo e sobretudo o boato associado, geralmente maior que o facto original. Navarro Valls – que não tinha nada de ingénuo – em vez de esconder, adiantava-se a informar os pormenores desagradáveis de modo que mesmo os jornais mais hostis ganharam em objectividade.

O trabalho fundamental, no entanto, não era a gestão das catástrofes. O foco era transmitir o Evangelho em modo Comunicação. Os media estão condicionados pela espuma dos dias, o impacto da novidade, vivem da emoção e do conflito: como conciliar esta lógica de superfície com a coerência e a profundidade da mensagem de Cristo?

Por um lado, Navarro Valls percebeu que muitas distorções provêem da ignorância. Porque é que um jornalista gasta duas páginas a comentar um arranjo floral e ignora os aspectos fundamentais de uma Missa? Preconceito? Má vontade? Se ele não tiver ideia do que é a Eucaristia, é escusado esperar que fale do importante. Assim, a primeira função do gabinete de imprensa é investir na catequese, explicar tão profundamente quanto possível o essencial. Depois, transmiti-lo fica a cargo do jornalista. Se ele percebeu e é competente, a qualidade da notícia está garantida.

Um outro aspecto prático tem a ver com as parábolas. Jesus ensinava com histórias e o jornalismo também precisa de histórias e de imagens. Se as soubermos interpretar, as pequenas incidências da vida cristã podem competir com a actualidade dos cataclismos e transmitir verdades profundas. Graças à inteligência de Navarro Valls, passaram pelo gabinete de imprensa da Santa Sé milhares de histórias. A grande biografia que George Weigel escreveu sobre João Paulo II alimenta-se de uma grande quantidade desses episódios. O mesmo aconteceu no pontificado de Bento XVI e ainda a propósito de outras situações. Um dia, Navarro Valls contou à jornalista Ima Sanchís: «Em Calcutá, visitei aqueles imensos pavilhões cheios de moribundos, hindus, muçulmanos, que ela recolhia pelas ruas. “A irmã converte-os?” – perguntei-lhe. “Não – respondeu –, só pretendo que pessoas que viveram como animais possam morrer como filhos de Deus, isto é, lavados, penteados, alimentados”».  Qual foi a lição?, pergunta-lhe Ima Sanchís: «Que nunca se pode instrumentalizar o outro por um fim maior, porque não existe nada mais importante que um ser humano». Está tudo na conclusão, mas talvez o jornal a tivesse despachado numa nota de rodapé. Assim, explicada com uma história, a frase «não existe nada mais importante que o ser humano» fez manchete e o desenvolvimento do artigo ocupou uma página inteira.

Transformar o Evangelho em comunicação não é um problema de comunicação, é questão de transformar o Evangelho em vida e em oração. Parece-me que foi isso, sob várias perspectivas, que os jornalistas recordaram de Navarro Valls, a propósito da sua morte.

José Maria C.S. André
16-VII-2017
Spe Deus

«Ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem»

Arrancada uma árvore, cortada até pela sua base e depois feito o transplante — o salgueiro, por exemplo —, ela rebenta e volta a florir; e não voltará à vida um homem arrancado ao solo? Colhidas as sementes, repousam e descansam nos celeiros e voltarão a viver depois da primavera; e não voltará à vida o homem depois de ceifado e lançado aos celeiros da morte? Cortado e transplantado um ramo ou um rebento de vide, ganha vida e dá fruto; e não há-de voltar a levantar-se o homem que caiu, para quem tudo foi criado?

Considerai agora o que se passa à nossa volta. Contemplai o panorama deste vasto universo: é semeado o trigo ou outro cereal, cai ao chão, apodrece, e já não serve para moer. Mas renasce desse apodrecimento, e cresce, e multiplica-se. Foi semeado um só grão e dá vinte, ou trinta, ou mais. Ora, para quem foi ele criado? Não foi para nosso uso? Não é para si próprias que as sementes saem do nada. Por isso, aquilo que foi criado para nós morre e renasce, e nós, para quem este prodígio acontece todas as vezes, seríamos nós excluídos deste benefício? Como deixaremos então de crer na ressurreição?

São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
Catequeses Baptismais, n.º 18, 6; PG 38, 1021

'Ah, estavas aí, Senhor!'

Onde estás Tu, Senhor?
Procuro-te e não Te encontro! Escondeste-te, por acaso, de mim?

Como queres Tu que eu caminhe, se não vejo a tua luz, se não me iluminas o caminho?
Não vês os meus olhos abertos, tentado perscrutar a escuridão? Não vês os meus braços estendidos, tentado detectar os obstáculos? Não vês os meus ouvidos atentos, tentando ouvir a tua voz? Não vês os meus passos incertos, que quase me fazem tombar?

Onde Te escondes, Senhor, que me deixas assim sozinho percorrer os caminhos da vida?
Tenho medo, Senhor, não percebes? Não vês a minha intranquilidade, a minha angústia?

Procuro-te em todo o lado, Senhor, sirvo-me de tudo, da minha inteligência, da minha racionalidade, de tudo o que aprendi, e nada, Senhor, não Te encontro!

Procuro-te no cimo das montanhas, no fundo dos oceanos, na brisa leve e no forte vento, no tempo e no espaço, e não Te encontro, Senhor!
Mas não estavas Tu em todo o sítio, em todas as coisas, sempre e em cada momento?
Porque não Te encontro, então, Senhor?

Tacteio a escuridão, tento afastar com as mãos as trevas que me envolvem, abro desmedidamente os olhos, grito com toda a minha força, e nada, Senhor, não Te encontro, não me respondes!

Sento-me à beira da estrada da vida, inclino-me e coloco a minha cabeça entre as mãos.
Calo-me, faço silêncio e lentamente envolvo-me com um novelo, e entro dentro de mim.
Já nada me interessa, não quero ouvir mais nada, não quero olhar mais nada, quero apenas conhecer-me, entrar no meu coração e deixar que ele me acalme, com os restos de amor que ainda nele são pobre bálsamo.

Uma calma, uma paz, uma tranquilidade tomam conta de mim. 

Parece-me agora que sou todo coração. Já não são os meus olhos que vêem, nem os meus ouvidos que ouvem. Já não são as minhas mãos que se estendem, nem os meus pés que caminham. Já não é a minha cabeça que pensa, nem a minha boca que fala. 
Sinto, cada vez mais, que agora sou todo e apenas coração.

Ouço então uma voz que me chama:
Joaquim, Joaquim, Joaquim, Eu estou aqui! Vive-me no teu coração!

A vida que não se encontrava, retoma cor e alegria, porque a Vida verdadeira, se faz vida na minha vida, e eu exclamo num grito imenso:

Ah, estavas aí, Senhor!

Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2011/07/ah-estavas-ai-senhor.html