Participa num encontro com centenas de pessoas em Miralba, Lima (Peru). Começa por pedir desculpa, porque a sua voz não estava `nas melhores condições’. “Não sei se me poderão ouvir bem, porque estou constipado: Estou meio afónico. Mas S. Paulo, que não está afónico, escreveu aos de Éfeso: in novitate vitae ambulemus. E não só aos de Éfeso, mas a todos nós, diz-nos que temos de caminhar com uma vida nova. Para não haver dúvidas, escreve aos Romanos: induimini Dominum nostrum Iesum Christum; revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo: A vida do cristão é isto: vestir e tornar a vestir um fato e outro, cada vez mais limpo, cada vez mais belo, cada vez mais cheio de virtudes que agradem ao Senhor, cheio de superações, de pequenos sacrifícios, de amor. A vida do cristão é feita de renúncias e de afirmações. A vida do cristão é começar e recomeçar”.
sexta-feira, 14 de julho de 2017
O jobel, o jobil e o jobal
A mensagem que o Papa Francisco
escreveu com antecedência à juventude das Jornadas Mundiais (leia AQUI) que estão a
decorrer em Cracóvia (2016) tem várias palavras em hebreu, algumas em grego, mas uma
proposta muito clara.
A introdução da mensagem fala
de uma trombeta. Ou corneta (feita de um corno). Os eruditos pensam que este
corno se chamava «jobel» por influência árabe, porque há grande proximidade
linguística entre o hebreu e o árabe. O certo é que este jobel ressoou há
vários milhares de anos na Terra Santa para convocar (jobil) o povo inteiro
para o grande momento da reconciliação (jobal).
A Igreja, diz Francisco, toca
este ano o jobel – por isso este ano se diz jubilar – para convocar todos os
homens a reconciliar-se entre si e com Deus.
Agora, surpresa! Que acontece
quando as pessoas se reconciliam com Deus? O Papa cita várias parábolas de
Jesus: «impressiona a alegria de Deus, a alegria que Ele sente quando
reencontra o pecador e o perdoa. Sim, a alegria de Deus é perdoar! Aqui está a
síntese de todo o Evangelho».
Sejamos realistas: «Cada um de
nós é aquele filho que esbanjou a própria liberdade, seguindo ídolos falsos,
miragens de felicidade, e perdeu tudo».
Mas o realismo completo inclui
que «Deus não Se esquece de nós, o Pai nunca nos abandona. (...) Espera-nos
sempre! Respeita a nossa liberdade, mas permanece fiel. E, quando voltamos para
Ele, acolhe-nos como filhos na sua casa (...). Nem sequer por um momento, deixa
de esperar por nós com amor. E o seu coração fica em festa por cada filho que
volta para Ele. Fica em festa, porque Deus é alegria. Vive esta alegria, cada
vez que um de nós, pecadores, vai ter com Ele e Lhe pede perdão».
Aos 2 milhões de jovens que agora
enchem os relvados de Cracóvia, o Papa explica que a misericórdia de Deus é
muito concreta e propõe-lhes que se confessem.
Este tem de ser um momento
decisivo de reinício. Ontem, dizia-lhes que tinha pena da gente nova «que parece
“reformada” antes de tempo. Preocupa-me ver jovens que “atiram a toalha” antes
de começar o jogo». Ou «que se “rendem” sem começar a jogar». «São uns jovens essencialmente enjoados ...e enjoativos. Custa (...) ver jovens que largam a vida à procura da
“vertigem” ou daquela sensação de se sentir vivos por caminhos obscuros que
acabam por “pagar”, e pagar caro, correndo atrás de vendedores de falsas
ilusões».
Neste momento, várias dezenas
de milhares de padres estão a confessar os 2 milhões de jovens, de línguas tão
diferentes, alguns vindos da América, da África ou da Ásia. Aparentemente, a
juventude presente nas Jornadas Mundiais correspondeu ao apelo do Papa e
Francisco fez-lhes o elogio de dizer que «toda a Igreja está a aprender com
eles».
Na mensagem que lhes escreveu
com antecedência, o Papa entrou em aspectos muito pessoais. «Quando tinha
dezassete anos, num dia em que devia sair com uns amigos, decidi passar antes
pela igreja. Ali encontrei um sacerdote que me inspirou particular confiança e
senti o desejo de abrir o meu coração na Confissão. Aquele encontro mudou a
minha vida». A descrição alonga-se em mais pormenores e desemboca num desafio.
«Talvez algum de vós sinta um peso no coração e pense: Fiz isto, fiz aquilo…
Não temais! Ele espera-vos. É pai; sempre nos espera. Como é belo encontrar no
sacramento da Reconciliação o abraço misericordioso do Pai, descobrir o
confessionário como o lugar da Misericórdia, deixar-nos tocar por este amor
misericordioso do Senhor que nos perdoa sempre!».
Não ficam muitas alternativas.
«Gostaria aqui de lembrar o episódio dos dois malfeitores crucificados ao lado de
Jesus: um deles é presunçoso, não se reconhece pecador, insulta o Senhor. O
outro, ao contrário, reconhece ter errado, volta-se para o Senhor e diz-Lhe: “Jesus,
lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino”. Jesus fixa-o com infinita
misericórdia e responde-lhe: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Com qual dos
dois nos identificamos? Com aquele que é presunçoso e não reconhece os próprios
erros? Ou com o outro, que se reconhece necessitado da misericórdia divina e
implora-a de todo o coração?»
O Papa quase inverte as posições, porque afinal quem
implora é Cristo, que «deu a vida por nós na cruz». Vamos resistir àquele «amor
sempre incondicional, que reconhece a nossa vida como um bem e nos dá sempre a
possibilidade de recomeçar»?
José Maria C.S. André
Spe Deus
31-VII-2016
O Evangelho do dia 14 de julho de 2017
«Eis que Eu vos envio como ovelhas entre lobos. Sede, pois, prudentes como serpentes e simples como pombas. Acautelai-vos dos homens, porque vos farão comparecer nos seus tribunais e vos açoitarão nas sinagogas. Sereis levados por Minha causa à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho diante deles e diante dos gentios. Quando vos entregarem, não cuideis como ou o que haveis de falar, porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que falará em vós. O irmão entregará à morte o seu irmão e o pai o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a morte. Vós, por causa do Meu nome, sereis odiados por todos; aquele, porém, que perseverar até ao fim será salvo. Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem.
Mt 10, 16-23